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domingo, 21 de março de 2010
A Guerrreira - III (A história de Lívia)
Lívia
Lívia nasceu na capital das Alterosas: Belo Horizonte,
em 1925.Filha de Manoel e Benedita e irmã de outras 12
pessoas (sete homens e cinco mulheres).
Lívia sempre foi precoce em tudo, e muito cedo saiu de
casa para trabalhar. A vida dura dos pais a levou a se
virar ainda na adolescência. Não teve oportunidade de
estudar, já que logo na primeira infância teve uma le-
são séria no olho esquerdo que a levou a cegueira qua-
se total. Verdade que no outro enxergava bem, mas na-
quela época, isso era motivo suficiente para abandonar
os estudos no primeiro ano do primário (ou fundamental,
ou seja lá como era chamado).
Mas ela foi trabalhar em casa de família e se saiu mui-
to bem na função, a ponto de uma família de americanos
se encantar por ela e querer levá-la para o exterior com
eles, e aí, dona Benedita, sua mãe, interferiu e lógico,
não permitiu que a filha voasse por outro continente.
Lívia era esguia, morena de cabelos negros cacheados
e brilhantes. Dona de um par de olhos verdes que mais pa-
reciam duas pedras de jade cintilantes! E apesar de não ter
estudado, não era analfabeta, e um de seus prazeres era a
leitura. Lívia lia muito e consequentemente, falava muito
bem.
E foi por essa época, em que a mãe a tirou da casa dos ame-
ricanos que Lívia conheceu Jorge, amigo de um dos seus irmãos,
e eles se apaixonaram. A família logo tomou gosto, o rapaz era
trabalhador e frequentava a igreja protestante. Partido bom na
opinião dos pais da moça bonita e faceira. O rapaz também era
garboso, formariam um belo casal e gerariam belos filhos com
certeza. E isso era o máximo que os pais sonhavam para a filha.
Então, aos 21 anos Lívia se casou com Jorge. Mas ele logo após a
lua de mel foi para o Rio de Janeiro (Volta Redonda) em busca de
trabalho numa cidade que nascia as margens do rio Paraíba do Sul.
Era o El Dourado na década de 40, pois a Usina Presidente Vargas
se instalara alí e emprego bom não faltava.
Após um pequeno período, Jorge foi buscar a mulher em Minas e
eles começaram de fato, a viver a nova vida de casal.
Eram felizes! Lívia ajudava o marido como podia. Ele também fazia
fotos para ajudar nas despesas e era ela quem as revelavam. Logo
a primeira gravidez apareceu e eles exultaram de felicidades. Mas
quis o destino que após nove meses, os gêmeos nascessem mortos...
Lívia sofria a primeira grande decepção da sua vida de casada.
O marido foi solícito, e eles superaram. Um ano depois, tiveram
enfim o primeiro rebento, fruto desse amor: nasceu Luís!
Jorge, que sempre fora um homem tranquilo, começava a mudar um pouco.
Andava em novas companhias e quase não acompanhava a esposa mais ao
culto de domingo. Lívia reparava mas não reclamava. O marido trabalha-
va tanto...
No ano seguinte foi a vez de Léia nascer! Menina linda! Loirinha e deli-
cada...Lívia era alegria pura com os filhos! E quando veio a terceira,
Lia, era seu nome, ela agradeceu a Deus tantas bençãos! O marido já não
precisava mais de "bicos" fora do serviço, seu salário era suficiente pa-
ra o sustento da família, que aumentava a cada ano.
Vieram seguidas Linda e Luma (cada uma em um ano respectivos, rsrs), e aí
os problemas começaram a se agravar...Lívia tinha que continuar com seus
trabalhos manuais em casa, pois o marido gastava muito com farras e bebidas.
O pior de todos os momentos, foi quando a pequena Lia, então com dois anos,
em pleno carnaval, adoeceu seriamente. Lívia pediu ao marido que a levasse
ao hospital no carro que comprara, mas ele se recusou. Disse já ter assumido
compromisso com amigos e estava atrasado. Ele saiu e Lívia tentou baixar a fe-
bre da pequena com compressas e comprimidos. Temia sair e deixar os filhos pe-
quenos para levar a doentinha no hospital. Mas quando percebeu que era mais
grave do que achava, Lívia pediu socorro a vizinhança e na madrugada saiu cor-
rendo para o hospital. A pequena foi atendida, mas não resistiu e faleceu na-
quela madrugada mesmo. O pai...estava num baile de carnaval.
(Nane-21/03/2010)
*Continua...
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Ainda sem conhecer Livia, posso admirá-la e dizer em palavras sem nunca conseguir dar as elas a intensidade necessária...Livia uma mulher de uma força que nos alerta!!!
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