sábado, 29 de julho de 2017

BEETHOVEN

Fui passear com minha mãe
E ela me levou numa casa de gente estranha
Minha mãe se foi com lágrimas nos olhos
E me deixou com aquele povo

Também eu chorei
Senti saudades e fiquei inseguro
E esse povo tentando me agradar...
Eu só querendo minha casa e minha mãe

Os dias se passaram
Um, dois, três e quatro

Por onde andará a minha mãe...
Vou me acostumando a sua ausência

O povo já não me parece tão estranho
Brincam e me dão o que comer
Passeio todo dia com um deles
Me canso e à noite vou dormir (na cama dele)

/Passam os dias e já me sinto bem
Gosto das pessoas e do quintal
Ganhei uma bolinha de barulho
E brinco o dia inteiro

Os dias vão passando lentamente
Cinco, seis, sete e oito
Tenho sim muitas saudades
Mas minha mãe se foi e me deixou

O povo "estranho" me conquistou
Gosto deles e eles de mim

Sou sapeca e bagunceiro
Virei rei desse reinado

Nove, dez, onze, doze
Eu não sei contar

Mas a poesia não pode parar
Treze, quatorze e...quinze

Minha mãe veio me buscar

Fiquei tão feliz ao vê-la
Matei minhas saudades
E entendi que não me abandonou

Agora, para a nossa casa me levou
Mas meu coração se inflou
Criando um pedacinho para o "povo estranho"
Nele agora habitar

Minha mãe fica brava comigo

Mas quando dá uma "bobeira"
Eu fujo sabendo que ela vai me buscar
E corro para o reino onde sou rei


(Nane-29/07/2017)


terça-feira, 25 de julho de 2017

DEIXA ACONTECER

Deixa o poeta beber
Deixa o poeta fumar
Não limite seus sentidos
Proibindo-o de rabiscar

Deixa o poeta em devaneios
Quieto em seu lugar
Onde a utopia se faz poesia
E seus sonhos se realizam

Deixa o poeta mergulhar
Em seu mar de imensidão
Sem nunca, sequer se molhar
Na brisa que vem de lá

Deixa o poeta beber
Nos bagos suculentos de Baco
Sem nenhuma perversão
Combustível etílico de suas emoções

Deixa o poeta fumar
Na efemeridade de seus sonhos
Dando formas à fumaça
Em rimas, prosas e versos

Deixa o poeta beber
Deixa o poeta fumar
Sua vida se resume
Ao ato de escrever

Se é preciso a bebida
Se é preciso o fumo
Que venha a inspiração
No brindar da mesa de um bar

Leia então na fumaça
Do cigarro de um poeta
A poesia contida
Nas formas de sua vida

Deixa o poeta beber
Deixa o poeta fumar...

(Nane- 25/07/2017)



BICHO BOBO


Um dia hei de te tirar
Serei eu mesma outra vez
Um dia deixarei de te amar
E você de mim sairá

Há de chegar o dia
Onde não mais haverá poesia
Nos versos que te dedico
A cada amanhecer

Talvez eu celebre esse dia
Ou talvez eu chore sem motivo
Mas esse dia há de chegar
Eu vou deixar de te amar

Essa tristeza que me invade
É só o que não deixa acontecer
Sina de poeta ensandecido
Por devaneios impossíveis

A poesia é a culpada
Por toda essa sina
Um dia deixo de escrever
E junto, de sofrer

Poeta é bicho bobo
Que sente o que escreve
Esquecendo de viver
O que de fato existe...

(Nane - 25/07/2017)

VULCÃO ADORMECIDO


Serena e sem pretensão
Faz fundir suas emoções
Entre o que quer e o que não pode
Sem perceber suas mentiras

O vulcão se agiganta
Ebulindo lavas cuspidas
Pretensos desejos castrados
Curtidos em raivas contidas

A boa moça se revela
No fel destilado de seu âmago
Em amalgamas de sentimentos distorcidos
Ao perceber que é apenas gente

Chora seus infortúnios voláteis
Apreendidos pela âncora de ferro
Mantida em seu cárcere privado
Do que a vida lhe reservou

Rasga seu verbo de inconstâncias
Na maior de suas pretensões
Induzindo leitores perplexos
Aos seus infames e desconexos versos

Serena e sem pretensão
Finge ser o que não é
Escreve sua própria perdição
Em seu mar de erupção

No fundo é só a cinza do vulcão
Soprada ao vento sem direção
Palavras, palavras, palavras
Sem teor e sem noção...
(Nane - 25/07/2017)


ANGUSTIANTE MADRUGADA

Notívago viajo
Na madrugada silenciosa
Onde todos os gatos são pardos
E a certeza se faz dúvida

Economizo o pensamento
Para que não me fuja a vontade
De rabiscar coisa nenhuma
Em palavras sem sentidos

O silêncio angustiante

Cobra o tempo perdido
Nos devaneios ainda mais perdidos
E sem retorno

Caminhada sem destino
Pelas horas que passam
No tic e tac de um remoinho
Pendurado na parede

Viajo sem sair de um mesmo lugar
Sem ir a lugar nenhum
Por caminhos tortuosos
E tão cheios de espinhos

Nas sombras da noite que passa
Mergulho no mais fundo precipício
Sem mão nenhuma para segurar
Deixando psiquê de mim, se perder

Onde vou, pouco importa
Já que o dia me trará de volta
E fará de mim, sensata persona
Pronta para seguir adiante

(Nane- 25/07/2017)


domingo, 16 de julho de 2017

A LISTA

As vezes repasso a lista
E pedagogicamente não escuto
O "presente" dos cinco
Que faltam no dia de hoje

Já não constam da lista de entrada
Sem o carimbo na carteira escolar
Que há tanto deixou de existir
São faltas sentidas e não constatadas

A lista é estática e taxativa
O tempo não pode apagá-la
Esse mesmo tempo que maltrata
Quando o silêncio se pronuncia

A presença dos que restam nem sempre se anuncia
Talvez se perca no dia a dia
E se torne ausência na lista cotidiana
De um futuro tão próximo

O passado tão presente
É forte e marcante
Mas o futuro se faz imponente
Deixando meras marcas do que passou

A lista incompleta
Insiste em permanecer
A lista que vale
Diz "presente" e faz viver

(Nane-16/07/2017)

SEM NOÇÃO

Vaga o pensamento etéreo
Por entre sombras e luzes dispersas
Buscando a certeza de um instante
Diluído em eternas lembranças

Viaja no tempo a saudade
Em busca de um abraço concreto
No aconchego do colo reconfortante
Do cafuné na cabeça pueril

Na voz firme e segura
A condução dos passos infantis
Em linha reta sem temer os obstáculos
Na direção certeira decretada

O tempo fez a confusão
Entre o certo e o errado
O que tinha que ser não foi
E o que era se perdeu no que ficou

Foi o que sobrou de nós
Entre tantos anos idos
Hoje, na renda da cerveja na tulipa
Me pergunto: onde foi que eu falhei

O desgaste de um martírio seu e meu
Degustado em noites de insônia
Passadas sob o fog da fumaça dos cigarros
Que por certo nos levará a um lugar comum

São meros pensamentos
De quem sente a sua falta
Deixando fluir palavras bêbadas
Inspiradas pelas rendas da tulipa

E agora
Sem o seu chamado

Sem minha irritação
Escrevo sem noção...

(Nane - 16/07/2017)

sábado, 15 de julho de 2017

RAZÃO DO MEU VIVER

Onde anda você
Razão maior do meu viver

Agora sem mais motivos para continuar
Na caminhada retirante
Feito alma penada e perdida

Ainda sinto o tato de sua mão
Que um dia segurou na minha
E agora, em passos rotos
Sinto o frio do vazio da mão a esmo

Num caminhar perdido, eu sigo
Sem compreender tantos porquês
Frutos de minha imaginação febril
Em doses de uma loucura senil

Onde anda você
Que se fez porto seguro para mim
E no entanto me deixou assim
Sem norte, sem sul, sem rota nenhuma a seguir

Nas noites escuras e frias
Tento me orientar pelas estrelas
Que teimam em se esconder de mim
Deixando explícita minha solidão

Onde anda você
Que já não se lembra de mim

E sequer se preocupa com o meu fim
E sequer se interessa em saber de mim

Razão maior do meu viver
Me apagou do seu viver
Deixou vazia a minha mão
De nada mais faço...questão

(Nane-15/07/2017)