quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Muro de arrimo

Murro de arrimo sem base
Sem nenhuma coluna
Amparando a terra batida
Em meio ao temporal

Rachaduras e fendas já visíveis
Ameaçam ruir a construção
Deitar nas águas do verão
O muro ferido pelo tempo

Mas é preciso conter
A terra batida no chão
Para que não pereça a estrutura
Falida desta terra

Enquanto força houver
O muro será de arrimo
Se não der mais para segurar
Será apenas um monte de entulho

(Nane - 27/02/2014)

O ébrio

Sorvi o último gole
Com a sede do primeiro
Espremi a garrafa
Mas nenhuma gota restou

A hora maldita
Em plena madrugada
Sem onde comprar
Outra cerveja

A boca ansiosa
Por mais um gole
As mãos tremendo
Feito soluço sem cura

Os olhos marejados
Embaçando os óculos
A cabeça girando
Delirium tremens

Madrugada aflita
Olhos esbugalhados
De novo a insônia
Não sei o que é dormir

O sono tranquilo
Quando chegar
Na lápide estará escrito
Aqui jaz um poeta...ébrio

(Nane - 27/02/2014)


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Lapidando

Sangue, refluxo
Bomba, estopim
Viagem maluca
Loucura sem fim

Alucinação comprimida
Necessária e incontida
Viagens de ida
Voltas de sorte


Disritmias noturnas
Descompassos diurnos
Clamores secretos
Bebidas quentes

Objetivos perdidos
Pasmaceiras seguidas
Tempo infinito
O tudo é o nada

Demora demais
A tosca verdade
Incomoda a roupa
Calor dos infernos

Ébrio sincero
Sem meias palavras
Desejos ocultos
Expostos e sangrentos

Um pedaço de chão
Sem escritura
Lavrada em cartório
Azar de quem fica

(Nane - 26/02/2014)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Primavera de uma quimera

Eu me lembro com carinho
De cada instante do passado
Quando podia sorrir
De nada, por nada, com você

Havia no seu olhar
Toda uma luz à brilhar
Dizendo sem falar
Tudo o que eu queria escutar

Mas veio o tempo da realidade
E a gente se perdeu
Em meios às verdades 
Que a vida nos exige

Perdemos a noção
Da doce ilusão
Transformamos fantasias
Em meros dias a dias

Fizemos da ficção
Que nos aquecia o coração
Cobranças inverossímeis
Perdas irreparáveis

Agora restaram as lembranças
De quando fomos felizes
Mesmo sabendo que era só quimera
Fizemos sim a nossa primavera...

(Nane - 25/02/214)

Complexidade

Pereço a cada dia, um pouquinho
Não por sofrer por um amor
Mas por ser humana
E ter por futuro, o perecer

Nascer e morrer, complexidade
Um e outro se confundem
Prisão e liberdade
Quem são, onde estão

O fato é que o sofrer está presente
No nascer e no morrer
Além da velha companheira
A solidão

Sorrio o sorriso dos velhos
Que vislumbram no horizonte
Quando sentem se aproximar
O sofrer imaginado, final

Choro a lágrima dos jovens
Que partem sem querer
Esperneando e se agarrando
Sem nada poderem fazer

Vivo intensamente a alegria
Que me é dada no dia a dia
Já que é o sofrer - quando se nasce e se morre -
Que há de sempre prevalecer

(Nane - 25/02/2014)




segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O que eu escrevo

Escrevo sem nenhum motivo
As vezes só por um carinho
Gosto de homenagear
Amigos, amores, vizinhos

Não tenho a intenção
De ser poeta de Academia
Apenas rabisco o que vai
Na cachola, no coração

Não faço métricas e nem rimas
Só quando fico abestada
Gosto mesmo é de um papo reto
Direto e sem desvios

As vezes escrevo com leveza
Mas me pesa essa doçura
Me perco e me embaralho nas palavras
E o fim nunca acompanha o começo

Escrevo só por escrever
Sem compromisso com mais nada
Leia quem quiser ler
Sou eu o que eu escrevo

(Nane - 24/02/2014)





Vem brincar


Deixa a batucada me levar
No ritmo da madrugada
Até o dia raiar

O sol é lume em meu olhar
Que arranca sorriso franco
De felicidade e êxtase

Vou sair no carnaval
Com o abadá do Dadau
E brincar até cansar

Sou baiana sangue bom
Que em pleno carnaval
Vira vendaval

Alegria, alegria
Deixa a vida me sorrir
E quem quiser...é só me seguir

(Nane - 24/20/2014)


L'amour

Passou o tempo
Não vimos
Não sentimos
Parou o tempo...em nós

Encontro marcado
Pelo destino
No além mar
De três continentes

A bela Isabel
Sem torre de babel
Falou com o olhar
Fez Ricardo se apaixonar

De brinde ao amor
Nasceu Catarina
Selando a aliança
Dos três continentes

Brasil, Angola e Portugal
Contam esta estória
Que de final não precisa
Posto que é feliz em vida

(Nane - 24/02/2014)


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Legião de raios

Raios me partam
Se tivesse eu
O brilho que emana do sol
Ou a claridade da lua

Talvez num lampejo
Me fariam luz
Por um único momento
De total claridão

Partam-me todos os raios
Por não poder enxergar
Além da minha pobre verve
Que nem sei contar

Hoje a noite não tem luar
E é nessa escuridão sombria
Que eu e o mar, de ressacas
Nos deixamos contaminar

Quando o sol surgir no alvorecer
Meus neurônios já serão meus
Talvez você nem mais exista
Além de aqui...dentro de mim

(Nane - 22/02/2014)

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Dúvidas

Deus, meu Deus! Donde estás que pareces não me ouvir?
Acaso sou a pródiga mencionada em teu livro?
Ou mera passageira na condução do limbo à ir?
Escritura talhada em pedras de alfarrábios...

Adianta ainda alguma coisa pedir?
Se sou arrancada dos sonhos em que lavro
Desejos, vontades, com que me apalavro
Sabendo desde já que não os irei sentir

De que mais valia foi ter nascido poeta
Se meus versos não falam em teus ouvidos
E gritam o tempo todo em meu coração?

Sei que esse amor não é mera ilusão
Mas acho que Deus está adormecido
Ou minha oração não está correta

(Nane - 21/02/2014)

Confetes e serpentinas

Todos os meus sonhos
Contidos num samba
De melodia melancólica
E letra pobre

Samba atravessado
Em plena avenida
Sem foliões
Sem estandarte

A porta bandeira
Sem o mestre salas
Rodopia bêbada
Beijando o asfalto

No batuque do surdo
O lamento ecoa
Na madrugada de cinzas
Entre confetes e serpentinas

Segue o cortejo 
Em pleno carnaval
Desfilando na avenida
Quimeras de um banal

Chora  a cuíca
Consolada pelo repique
Enquanto passa sem ser notada
A escola malfadada

(Nane - 21/02/2014)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Visagem

Lírica paisagem
Da bela morena
Na beira da praia

Levantando sua saia
Dançando na areia
Provocando o horizonte

Que se desalinha
Diante das ondas do mar
Só para te olhar

Vestida de branco
Um simplório pescador
Jura ter visto Iemanjá

Passeia a menina
Na beira do mar
Se deixando levar

Pela brisa que sopra
Pelo vento que a toca
Pela poesia que provoca

(Nane - 20/02/2014)





Minha vó tá maluca

Eu olho em seus olhos
E fico me perguntando
Se ela é normal

As vezes parece
Que a criança é ela
E eu chego até a me assustar

Me leva pra horta
Me faz plantar
E toma banho de lama para me incentivar

Anda de skate
Vive caindo
Pagando mico

E faz careta
Tentando me assustar
Só faço sorrir

Minha vó é um barato
Gosto de estar com ela
Enquanto não me canso

Diz que serei rockeiro
E bem que gosto do som
E das caretas que ela faz

Cheguei a conclusão
Tem mais jeito não
Minha vó tá maluca

(Nane - 20/02/2014)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Buraco negro

Um vácuo sem ar
Consumindo a razão
Embriagando as decisões
Perdendo a noção

Um aperto no peito
Prendendo a respiração
Uma agonia constante
Sem vontade nenhuma

Um adeus sem aceno
Um gosto salgado
Na boca amarga
Vertendo dos olhos

Um espelho quebrado
Por sua sinceridade
Ao mostrar a verdade
Do tempo cruel

Um amor sofrido
Por só ser infinito
Pela imagem espatifada
E no chão...esparramado

(Nane - 19/02/2014)


Poesia reta

De nada vale tantas palavras bonitas
Rimadas com todo o cuidado 
Se dizem só mentiras ou - no máximo conta- os desejos
Das venturas que o poeta não tem

Rasgo meus versos intrépidos
Sem - por vezes - me conter
Em busca, não do reconhecimento
Mas da ausculta do meu silêncio

Pesam meus versos cabisbaixos
Quase que enfurecidos
E no entanto ecoam ao meu redor
Feito açoite de feitor

Não posso adornar palavras
Com rimas de euforias
Triste, pesada ou sem nexo
Essa é a minha poesia

(Nane - 19/02/2014)



terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Soneto sem simetria



Dramaturgia Shakespeariano
Retalhando a vida real
Em seu malfadado e pobre cotidiano
De um mundo liberal e desigual

Sem nenhuma simetria
Um soneto arrancado da ignorância
De uma poeta que só quer fazer poesia
Sem se importar com sua deselegância

Seu drama à beira de ser tornar fatal
Escreve só verso profano
Maldizendo sua própria trajetória

Fraca e pobre poesia
Brindada num drink misturado com cicuta
Em busca do sossego da poeta ou da puta

(Nane - 18/02/2014)






Heresia

Leio nas entrelinhas
Dos poemas e canções
O que eu gostaria
De ouvir da sua boca

Interpreto ao meu querer
O que penso conter
Nas palavras e melodias
Que gostaria de te ouvir dizer

Interpretação só minha
Que não condiz com a realidade
E vem você com a verdade
Me despertar, me machucar

Juro por mim mesma
Não mais me enganar
Mas as malditas entrelinhas
Insistem em me fazer sonhar

E leio a poesia
Imaginando ser pra mim
Ignorando a heresia
De querer tanto você assim

(Nane - 18/02/2014)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ostracismo

Teimosos pensamentos
Que voam sem limites
Por sobre os oceanos
Cruzando os limiares
Da prisão e do ostracismo
Do corpo abaulado

Livre e sem amarras
Vai de encontro aos sonhos
Derramando sensações
Dos prazeres imaginados
Pela fertilidade de suas asas
Alegrando o corpo - quase - inerte

Asas de poeta
Que faz da dor inspiração
E bate cada vez mais forte
Alçando seus voos ao cume
Sem cuidar da derrocada
No abrir dos olhos do abaulado

Acordar não vale a pena
Poeta foi feito pra sonhar
Passarinho por essência
Precisa de liberdade
Para poder voar
Sem nunca mais pousar

O corpo...esse deixa estar
É mera prisão
Dia há de chegar
Em que a gaiola se abrirá
E o pensamento virará
Pássaro pleno de liberdade

(Nane - 17/02/2014)



Amormetria



um apoio (centro)
Num piscar de olhos me transformo em um compasso
Giro 90º, 180º, 270º, 360º graus

Volta completa na circunferência chamada vida.

Dê-me uma régua ou uma trena
Com ela conseguirei medir ou não nossa distância
Que parece infinita.

Dê-me um transferidor para medirmos os graus do nosso amor.
Um esquadro
Quem sabe ele possa nos enquadrar.

Dê-me um ponto
Por ele passarei infinitos segmentos de sentimentos
Paixão, amor, raiva, ressentimento, gratidão...

Só não me limite com dois pontos
Pois, não saberia que segmento de sentimento 
Passaria por eles.


(Um professor da rede municipal da Bahia)


 Edi Santana Barbosa.

Baskarando

Regras sem fim
Limitando meus sentidos
Se de três ou de seis
"Máskara" de minhas rimas

Matematicamente eu meço
Cada linha declamada
E ponho nas palavras
Toda a paixão declarada

No Compasso da ilusão
Des-compasso o coração
Que em Paralelas caminha
Sem nenhuma Hipotenusa

Me perco nos Catetos
Não Somam, Diminuem
Presa no meu Círculo sozinha
Sonho com o final da linha

A paixão me faz sonhar
Com o Denominador Comum
Mas cegou-me a Razão
Deixando-me in-Quociente

Tantas são as Grandezas
Frente a minha fraqueza
Que vejo na  Matemática
A minha verdade pragmática

(Nane - 17/02/2014)







domingo, 16 de fevereiro de 2014

O olhar

Olhar desafiador
Que me desnuda a alma
Num piscar do segundo
Eternizado

Olhos que fuzilam
Sem chances de defesa
Deixando paralisado
Meus pobres sentidos

Olhar que dita regras
Sem nenhum som
Na clarividência fulminante
De suas cores dúbias

Olhos que me olham por dentro
Transpassando a aura disforme
Rasgada pelo calafrio
Do saber estar sendo olhada

Olhar que se faz terno
Quando feito leito de rio
Percorre o curso do meu corpo
Sorrindo em seu fulgor

Olhos que gosto de olhar
E no entanto me acanha ao me olhar
Mas que se não vem me olhar
Me faz perder a visão - e a razão

(Nane - 16/02/2014)




Dama da noite

Ah...não me citem como exemplo
Posto que só de merda serviria

Ah...deixem que eu seja a dama
Que na noite exala odores
Nauseabundeante e estonteante
Que embriaga e faz vomitar

Ah...que a paz seja convosco
Pobres cafetões toscos

Que obrigam as messalinas
Aos amores proibidos
Pela falta dos prazeres
Das pudicas escolhidas

Ah...meretrizes domesticadas
Pela honra da sociedade

Fecham seus olhos lacrimejantes
Aos desvios maritais
Finjam um orgasmo inexistente
Trancafiem seus machos num papel

Ah...sintam o cheiro da flor
Que na noite exala o amor - proibido

(Nane - 16/02/2014)

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Só um tempo

Tempo que tenho tempo
Sem saber que tempo tenho
Vivendo o tempo que me tem
Fluindo eu e ele
Enquanto passamos juntos

Tempo sem tempo nenhum
Registrado no cartão de ponto
Batido quando é chegada
A hora da partida
Do tempo perdido

Tempo que cobra e não paga
As horas extras da vida
Perdidas nos contos de fadas
Dos livros lidos e relidos
Sem nunca terem sidos escritos

Tempo que consome o tempo
E faz do espelho inimigo
Num reflexo distorcido
Do que já não mais é aquilo
Que pensou ser

Tempo que diz que é tempo
De cair na real e viver
O que só é possível
Sem ousar sonhar com o impossível
Do tempo que já foi perdido

(Nane - 15/02/2014)




quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Incoerência

Urra dentro de mim
A fera indomada
Presa pelas amarras
Do corpo fatigado

Sopra palavras aos ouvidos
Que as mãos do corpo transcrevem
Dominado pela fera encarcerada
Fazendo-o assinar

A autoria pouco importa
A fera se liberta
A imagem não condiz
Com as palavras rabiscadas

Cada letra derramada
Se mistura com as lágrimas
Da fraca criatura
Carcereira dessa alma

Que sem piedade alguma
Vocifera seu desencanto
Por estar aprisionada
Num corpo desigual

A fera quer sair
Provar da liberdade
Sem ao menos se importar
Se o esquálido perecerá

(Nane - 05/02/2014)




Transmutando

Praticidade e perseverança
Sou eu no dia a dia
Sangrando meus sonhos
Rasgando meu avesso

Mulher determinada
De olho no futuro
Dos que me cercam
E necessitam

Menina perdida
Em meio a travessia
Com escafandros sem ar
Nos meus mares de tormentas

Mãe de minha mãe
Filha do meu filho
Estrofe sem rima
Na poesia perdida

Leoa transmutada
Em cordeiro imolado
Pedindo socorro com os olhos
Marejados e embaçados

Duas faces paralelas
Nuances despercebidas
Na dureza do dia a dia
Só reveladas em poesias

(Nane - 05/02/2014)




terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O olho do obscuro

Subterfúgios idílicos
Viram e reviram
Observam no obscuro
A cada instante
Refletindo seus reflexos
Subjugados à moralidade
Entorpecidos e nocivos

Escondem sob a altivez
Seus lixos empoeirados
Fétidos e asquerosos
No apresentável arquétipo
De cidadão respeitável
Nessa terra onde ninguém
Respeita a dignidade

Observam no obscuro
Por temerem a exposição
Se emproam da máscara cálida
Se alimentam dos dejetos
Apregoam civilidade
Tomam conta das verdades
E vivem nas mentiras

Rechaçam o preconceito
Qualquer que seja ele
Tomam conta das verdades
Chafurdam-se na lama
Brindam ao espetáculo
De cada recomeço
Viva a prosperidade

A sociedade alternativa
Vingadora, envelheceu
Não vingou
As ervas daninhas tomaram conta
O ciclo se completa
Tomar conta da vida alheia
Ainda é o melhor remédio

(Nane - 04/02/2014)







Acordando para a vida


Mãinha

Hoje o dia
Maltrata o coração
Que sente saudades
Da mãinha querida

Que por conta de Deus
Em missão maior
Partiu 
Mas ficou

Sua presença constante
Chega a ser palpável
Quando um vento macio
Vem beijar sua filha

Que relembrando seu colo
Sente o afago
Nos longos cabelos
Por ela - a mãe- cuidados

Hoje bem mais
Aperta a saudade
É o aniversário
Da mãinha amada

Difícil acostumar
Com a ausência dela
Mas Deus dá força
E a filha se agiganta

De onde estiver
A linda mãinha
Está contigo
E tu com ela

(Nane - 04/02/2014)


Dorme em paz

Adormeces
Enquanto inquieta
Te espero e invejo
A brisa que te acaricia a face

Adormeces
Entregues ao cansaço
Que te sugou a energia
E me deixou a ver navios

Entregas-te
Nos braços de Morfeu
Enquanto os meus
Abraça o vazio

Alta madrugada
Provavelmente despertarás
E eu, também esgotada
Estarei adormecida

Hoje a noite promete
Nada além do adormecer
Ternamente escuto o ressonar
E velo teu descansar

(Nane - 04/02/2014)






Orgulho despejado

Então me dizem os amigos
Para ter vergonha na cara
E gostar de mim

Então escuto da sua boca
Palavras que magoam
E decido que é hora de mudar

Então te mando embora
E parto em outra direção
Determinada ao desapego
(palavrinha feia)

Então passa o tempo lentamente
E decidida, te desdenho
Fingindo acreditar - em mim

Então mais um dia se passa
E eu insisto que sou forte
E sobrevivo sem você

Então você me diz
Que sou seu karma
E me manda voltar correndo

Então impõe as condições
E diz que assim será
Se eu quiser voltar

Então mando embora meu orgulho
Me atiro em seus braços
E vou ser feliz - enquanto você quiser

(Nane - 03/02/2014)

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Desconhecida

Sou só mais um
No meio de milhões
A espalhar lamentos
Em rimas simplistas

Sou só mais um
Poeta popular
Que se calado pela fatalidade
Falta alguma fará

Sou só mais um
Que diz sem pensar
E pensa fazer arte
Amontoando palavras

Sou só mais um
Perdida em devaneios
Ousando a alcunha
De poeta versador

Sou só mais um
Caindo na real
Que o vil metal
Manda...e nunca pede

Sou só mais um
A achar boa minha poesia
Culpando a insensibilidade
De quem teima em não me ler

Sou só mais uma
Soberbamente
Desconhecida...

(Nane - 02/02/2014)



Tanto faz

Tanta coisa engasgada
Na goela dilatada
O sapo não desce
Parece agarrado

Xingar, gritar, me descabelar
Tanto fiz e tanto fez
De nada adiantou
O encantamento acabou

Seu nome ressoando
Nos tímpanos perfurados
A imagem perpetuada
Na retina atrofiada

Deus ou o diabo
Aprisionado num copo de cerveja
Ri da minha cara
Sem me dizer quem é

Vomito no chão
Azedo o ambiente
Xingo o garçom
Levanto e vou embora

(Nane - 02/02/2014)




Sinal vermelho

Pouco me importa a porta
Que abrem e fecham
Nunca fui convidada a entrar
Nunca a usei

Meus caminhos faço eu
Desbravando com meus braços
Não pago pedágio
Arrombo e passo

Se não for possível
Estanco
Paro
Recomeço

Nada quero além
Do que tenho direito
A merda é diferenciar
O que posso do que quero

Na porteira arrombada
Passa boi, passa boiada
Mas o boi de piranha
Morre sem saber porquê

Sigo em frente
Enquanto não sou barrada
Caminho pela estrada
Fugindo das blitz

(Nane - 02/02/2014)


Sonhos descoloridos

Desculpa se meus sonhos
Já não sonham colorido
E frios
Tornaram-se práticos

Perdoa se não falo
Palavras adocicadas
E se cuspo o fel do fígado
Amargado por veneno

Releve o enegrecido
Do vômito derramado
Feito espectro das sombras
Nesse corpo enfraquecido

Forças medidas covardemente
Corpo e alma em discordância
O vencedor será vencido
Paga a conta quem vencer

A dor que dói no corpo
Ameniza a dor da alma
Que quando liberta
Queima sem anestesia

Desculpa se meus versos
Não rimam com o amor
Amanhã, talvez melhor
Os meus sonhos tenham cor

(Nane - 02/02/2014)





Rainha mãe

Vem do mar
Esse mistério
Mulher rainha
Mãe de todos nós

Perfumes e flores
Oferendas nos barcos
Surge esplendorosa
A bela senhora

São Salvador
Te rende homenagens
Nas ondas do seu  mar
Odoiá Yemanjá

Serena e calma
A benção Yemanjá
Toma em tuas mãos
Meus sonhos e planos

Santa Maria
Mergulho minha poesia
Nas águas sagradas
Da mãe Yemanjá

Salve a rainha do mar
Salve Yemanjá
A mãe suprema regozija
Nesse dia de alegria

Odoiá yemanjá!!!

(Nane - 02/02/214)

Flor Bela Imortal

Que Flor Bela é essa
Que Espanca seus espinhos
Sem deixar arranhões
No ego do poeta

Propriedade em cada pétala
Quando odoriza a poesia
Desvirginando as palavras
Nas entrelinhas da alma

Que Flor Bela é essa
Que espancando acarinha
Imortalizando a poesia
Sem murchar a flor

(Nane - 02/02/2014)

Papel em branco

Se tu não vens
Por que insistir
E persistir

Choram meus versos
Por não poderem
Rimar o amor

Poeta sem inspiração
É feito sangue sem coração
Estático à podridão

Deixar de escrever
Não consigo
Escrevo saudades

Triste a sina
De poeta ferido
Na alma

Se tu não vens
Escrevo o vazio
Do papel em branco

(Nane - 02/02/2014)



Orfeu e Capitu

Torna em mim a noite
Minguando a minguada lua
Que escura
Se esconde sem brilho

Torna em ti o dia
Derramando raios de sol
Feito purpurina colorida
Em pleno carnaval

Sou noite e madrugada
És dia ensolarado
Sou o drama do teatro
E tu a comédia do cinema

Choro e riso
Lua e sol
Encontros nos eclipses
Lua beijando o sol

Orfeu e Capitu
Num encontro surreal
Amor, eterno amor
Me chama que eu vou

(Nane - 02/02/2014)

sábado, 1 de fevereiro de 2014

A noite

Ah, essa companheira minha
Que faz do seu silêncio, palavras
Ditadas em meus ouvidos
E transcritas no papel

Traz além do seu silêncio
O frescor da brisa
Refrescando meus miolos
Cansados e impertinentes

Ela e o copo sempre cheio
Me reviram pelo avesso
Criando miragens na fumaça - do cigarro
Induzindo poesias na madrugada

Eu
Maquinalmente expresso
A inspiração demente
Do que bafeja o álcool - e a noite -
Em minha mente

(Nane - 01/02/2014)







Trevas da poesia

Perdido nas trevas
Da minha embriaguez
Refugo um refluxo
De sensatez

A ácida loucura
Na noite escura
Condiz com o reflexo
Do pensamento perplexo

A borracha não apaga
O desenho em desalinho
Que teima em dançar
Na retina embriagada

Contorna seus traços
Que quero esquecer
Pintando em poesias
A tela escrita

Poeta maldito
Que mesmo embriagado
Consegue escrever - ainda melhor
O tudo de você

(Nane - 01/02/2014)


Insônia

O amanhã não importa
É incerto e inseguro
Não vou dormir
Preciso estar atenta

Velo por mim
Na vida que vivo
Restrita e contida
Enquanto vida

Adormecer me amedronta
Por não saber
Se o amanhecer
Amanhecerá

Se meus olhos se abrirem
Viverei mais um dia
E quando chegar o anoitecer
Tentarei não dormir

Pardos gatos no telhado
Sem cores definidas
Altos gritos e miados
Acordada eu escuto...

(Nane - 01/01/2014)



Poesia simples

Por vezes me pego
Fugindo de mim
Misturando palavras
Que não são minhas
E tão pouco retratam
O meu eu lírico

Me deixo prender/e me perco
No sistema nocivo
Que teima em exigir
Poesias a quilo
Rimadas e metrificadas
Feito robôs de palavras

Mas grita alto o instinto
Vomito meus versos livres
Sem aceitar cabrestos
E o que sai de mim explícito
Prestando ou não
É só o que sinto

Rimas e rimas afins
Escrevo  meu sentir
E quando tento ser além
As palavras se rebelam
E o que eu escrevo
Não dizem nada

(Nane - 01/02/2014)



Mar de estrelas

Na noite quente
O mar murmura
Sem lua
Feito um lamento

Salpicada de estrelas
A areia esfria
Na escuridão silenciosa
Feito notas musicais

Sopra a brisa úmida
Molhando a face sulcada
Obrigando o fechar dos olhos
Que ardem de sal

O horizonte se esconde
Na penumbra da noite
E feito  o arco-íris
Não passa de analogia

Logo a alvora virá
Trazendo o astro rei
Ofuscando os pontos luminosos
Que piscam na areia

Seu veredito real
Calará a poesia
Entorpecerá o poeta notívago
Perante a a luz de mais um dia

(Nane - 01/02/2014)

Só por você

É para você que escrevo
Cada letra juntada
Formando palavras
Criando frases

É por você que aprendi
A rabiscar poesias
Na vã esperança
De te agradar

É por teu olhar
Que feito a cartilha do B-A-Bá
Fiz das letrinhas, poemas
Na esperança de que os leia

Foi só por - e para - você
Que me tornei poeta
E derramo o meu amor
Em ritmadas declarações

Foi tudo por você
Toda a minha inspiração
Escrevo o tempo inteiro
Só você...

(Nane - 01/02/2014)