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sexta-feira, 26 de março de 2010
A Guerreira - IX ( A história de Lívia)
Porque Jorge?
A vida de Lívia corria naturalmente, ela se dividia
entre as travessuras dos filhos e as bebedeiras do
marido. Lívia trabalhava desde a hora em que acor-
va, até quando deitava para dormir. Não tinha des-
canso, e as poucas horas de sono eram abençoadas.
O marido cada vez se entregava mais e mais a bebida
e isso a deixava completamente desgostosa.
Foi logo no começo da década de 70, que uma onda de
sarampo atacou a casa dos Silveiras, e só os três
( mas Léia já não morava lá ) mais velhos não pega-
ram a virose.
Linda separou as meninas doentes num quarto e os
meninos em outro.
Luma era a que se encontrava num estado mais grave.
A febre estava alta e não cedia, mas todos eles não
estavam bem. O sarampo incomodava e o corpo doía,
a choradeira era geral, mas Lívia pacientemente cui-
dava dos dez filhos adoentados e de cama.
Ela estava na cozinha preparando um banho de ervas,
que ajudaria na secagem das feridas que o sarampo
havia provocado nos corpos dos filhos, quando ouviu
uma das meninas gritar: - Mãeeee!!! Tá caindo água
da janela!!!! Lívia saiu correndo e ficou estarreci-
da com o que viu. A janela estava fechada, para que
as meninas não pegassem rajadas de vento, isso pode-
ria complicar o sarampo, sua janela era como uma es-
pécie de veneziana em baixo e com vidros em cima, e
por essa parte de madeira, entre as frestas da vene-
ziana, havia uma mangueira estratégicamente colocada
e a água jorrava quarto a dentro com pressão, que a
própria janela fazia ao esmagar a ponta da mangueira.
Todas as meninas estavam molhadas, juntamente com
seus colchões e roupas de cama. Luma, essa, estava
encharcada...- Valha-me Deus!!! Quem fez isso meu pai
eterno!!! Clamava Lívia desesperadamente, enquanto
corria para trocar as filhas e pedia a ajuda dos dois
mais velhos e livres da virose para que secassem o
quarto das irmãs....
A mente de Jorge já estava totalmente perturbada e to-
mada pelo álcool.
Ele agora ameaçava Lívia de morte quase sempre, e numa
noite, em que a família havia ido para a igreja, ao re-
tornar eles sentiram o cheiro forte do gás. Ele havia
saído e deixado o botijão vazar livremente, a casa es-
va pronta para voar pelos ares se alguém acendesse um
simples palito de fósforos. E como ele havia desligado
a luz elétrica, era o que esperava que fizessem. Dona
Gertrudes, da casa 20, colocou toda a família para dormir
na casa dela, e isso para a criançada, era uma festa!
Os pobres não entendiam o porque, mas gostavam da farra.
No começo do ano de 1973, saiu a ordem para a aposenta-
doria de Jorge, que seria no mês de julho.
Eles tinham uma chácara no bairro do Retiro, bem distan-
te do conforto. E era para lá que se mudariam. Jorge
estava terminando a reforma da casa que tinha na chácara.
Era uma casa velha e de pau a pique. Ele a refez quase que
totalmente, e estaria pronta para quando tivesse que en-
tregar a casa da 241. A criançada, 10 anos mais velhos, já
sentiam saudades dos amigos e da casa onde cresceram....
Vida que segue...e outa vez, mudança em cima de caminhão...
(Nane-26/03/2010)
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