terça-feira, 29 de março de 2016

NÃO QUERO ACORDAR

A doença não curou
O quadro se estabilizou
Não quero sua piedade
Nem preciso de caridade

Aliás, nem combina com você
A frieza te cai melhor
Foi e será sempre assim
Migalhas não mais fazem parte de mim

Deixa ficar como está
Eu aqui e você lá
No seu mundo encantado
De sonhos e faz de conta

Eu aqui
Deixo fluir meus sonhos

Vivendo como quero
Sem me importar se retorno
Ou se continuo a ser eu
Como nos os verso do Pessoa...

(Nane-29/03/2016)

UMA POESIA ALEGRE



Lembra?
Quando chegávamos pela manhã

E arrumávamos a sala
Cantarolando e contando "causos"
Rindo sem motivos
Brincando no plantão...

Nem sempre podíamos
Almoçar num mesmo instante
Já que nossas cirurgias
Diversas e distantes
Separava-nos em salas
De um mesmo corredor

Ao final do plantão
Quem primeiro acabava
Aguardava a outra
Para juntas caminharmos
De volta para casa
E um pouco, pelo caminho conversar

Foi tão bom te conhecer
E por um tempo contigo conviver
Saber que nossa amizade continua
Independente do nosso dia a dia
E te dizer que se poeta eu sou
És tu hoje a inspiração
Dessa minha "alegre" poesia
Que nasceu numa sala de cirurgia...

Te amo Marize!

(Nane-29/03/2016)

UM CONTO VIRTUAL



Conto um conto
De uma doce menina
Que virou gente grande
E se foi de mim

Enquanto menina
Brincava de precisar
Dos meus cuidados
Da minha paz

Não havia noite
Não havia dia
Estava presente
Em todos os instantes

Dormia e acordava
Comigo do lado
Sem nunca questionar
Se me perturbava

Ah...mas o tempo passou
E o que era doce se acabou
A realidade mostrou
Que distância é virtual

A menina cresceu
Seu tempo se rendeu
Aos compromissos reais
E a fábula se acabou

Seu nome eu esqueci
Seu rosto se apagou
O conto desencantou
E a nossa história terminou

Era só mais uma amizade
Curtida da internet
Que ficou pelo caminho
E virou lembrança de um carinho

(Nane - 29/03/2016)



segunda-feira, 28 de março de 2016

IM-PACIÊNCIA



Paciência, vinde à mim
Posto que te perdi
E não sei como te reencontrar
Pelos caminhos em que ando
Trôpega e sem rumo

Vinde paciência
Trazer o discernimento
Do certo e do errado
Em meus atos transloucados
Que de certo me serão cobrados

Ah minha paciência
Foges de mim sem perceber
O quão caro custará
Gestos e palavras proferidos
No âmago do meu ser

Se já não tenho paciência
Ao padre não vou confessar
Para que ele não venha me obrigar
À ladainha de um terço
Que eu não sei rezar

O amanhã não sei o que será
Me incomoda hoje não ter mais
A paciência que já tive
E juro, tento reencontrar
Mas não consigo

(Nane-28/03/2016)

LEMBRANÇAS



Vago
Sem rumo pelo espaço
E o abandono invade
Onde antes a vida imperou
Nas vozes caladas
Sepultadas

Observo inerte e triste
O posto de outrora observador
Vazio, sem a cadeira de madeira
Cruzando meu olhar com aquele outro
Na memória de minhas lembranças

No mármore polvilhado de farinha
A batata quente amassada
As mãos ligeiras enrolando tiras
A faca recortando pedacinhos
Na boca, o gosto de duas saudades

Vozes gritam em meus ouvidos
No silêncio envolvente desse dia
Espectros de vivos e mortos
Relembrando tempos idos
Que não voltam mais
Estampados onde não mais existe
O que um dia foi um lar

Algumas gotas frias
Fazem com que eu volte a realidade
Retiro roupas do varal, e corro
Meus fantasmas também se vão
A chuva cai mansa e misturada
Com lágrimas vertentes dos meus olhos

(Nane-28/03/2016)







A FORÇA DE UM AMOR



Foi teu amor que fez assim
Ao crescer dentro de mim
Causando revolução
Num emaranhado de emoção
Transformando a visão
Do meu interior

Hoje sei que o amor
Não cobra
Não exige
Não pede

Não, não te perdi
Você está em mim
Tal qual eu em você
Nos instantes eternizados
Pela memória que insiste
Em lembrar de vez em quando

Agora eu sei
Que o seu amor me fez crescer
E continuo te amando
Com a mansidão do meu carinho
Que ficou

Foi tanto o que aprendi
Com a força desse amor
Levado no ocaso
Vingado numa orquídea
Germinada entre as pedras
Eterna sobrevivente

Eis aí toda a beleza
Do verdadeiro amor
Que não pede
Não exige
Não cobra
E no entanto não se acaba

É amor
É amor
É amor...

(Nane-28/03/2016)

quinta-feira, 24 de março de 2016

SONHO REALIZADO

Sonhava a menina
Nos primórdios da infância
Com o que diziam ser utopia
Ou coisas de poesia

De tudo fazia rima
Colorindo seu mundo
Com a leveza da magia
Em ato persistente e profundo

Era só uma menina
Na visão estática e crítica
Que cairia das nuvens um dia
Quando acabasse sua utopia

Bonitinhos seus escritos
Diziam todos os seus entes
Mas ninguém acreditava
Que seria profissão

"Quem acredita cresce"
Pensava a menina
E cresceu acreditando
Que era esse o seu destino

São tão poucos os leitores
No país do "faz de contas"
Mas isso não importava
Só queria escrever

Tanto fez e acreditou
Que escreveu uma obra-prima
Achou quem a editou
Em escritora se transformou

O sucesso aconteceu
Poeta ela virou
Aclamada e pertinente
Da utopia fez sua realidade

Senhora de seus sonhos
A menina amadurecida
Entrou para a academia
Hoje é sinônimo de poesia

(Nane-24/03/2016)







MÚSICA DA CHUVA

Escuto os pingos da chuva lá fora
Batendo no telhado ritmadamente
Penso na lua escondida em algum lugar
Talvez chorando...ou sorrindo

Uma música ressoa em meus ouvidos
Não sei defini-la (e nem me interessa)
Apenas me deixo levar pelo ritmo
Enquanto meus olhos enxergam na escuridão

No pensamento tantas coisas proliferam
Enquanto a praticidade se perde na madrugada
Chuvosa, mas quente...
Feito fungos parasitas e promíscuos

Por onde andará teus pensamentos agora
Em mim, a certeza de que não estão
Mas isso já não mais importa
Se os meus estarão para sempre em ti

É noite de uma chuva teimosa e mansa
Gostosa de deitar e dormir
Mas se eu adormecer, não rabisco
E você insiste em me assombrar

Ternura, tesão,tortura e tensão
Tudo o que eu preciso é te esquecer
Mas no fundo não quero nada disso
Não posso remar contra a maré

Deixa a chuva cair
Do céu escuro e sem brilho
Feito lágrimas anunciadas
Numa noite de saudades

Serás sempre o último de tudo o que eu pensar
Quando a noite enfim, me derrubar
E o primeiro, quando o dia me despertar
Custe o que custar...

(Nane-24/03/2016)






terça-feira, 22 de março de 2016

UM MIMO DE GATINHA

Veio ela assim
Tão linda e charmosa
De tantos nomes arranjados

Elsa do Fred
Nefertari minha
Da Elieth, Branquinha
Mas a mãe decidiu
E Mimosa ficou

Era uma gatinha
Que parecia cachorrinha
Bastava eu chamar
"Vem neném"
Para ela me acompanhar

Um vírus infeliz
Levou a mãe e o tio
E a ela contaminou
Fazendo-a definhar
Até que não mais me atendeu

Chamei: vem cá neném
Ela até me respondeu
Num miado de adeus
Uma lágrima no olho azul
Lá se foi a minha neném

OBS: Aos donos de felinos,
muito cuidado com a PIF
(Peritonite Infecciosa Felina).
Chamada AIDS FELINA

(Nane- 22/03/2016)




O outono de Linda


No início de um outono
Linda se foi
Deixando para trás um verão
Na ensolarada Salvador
Baiana retada que foi
Escolheu a estação
Certa da transformação
Para no céu brilhar
Linda estrela na constelação
Do céu de São Salvador
Com seu sotaque de "Preta velha"
Sussurrando ao sabor da brisa
E enquanto caem as folhas
Ainda hoje, Linda levita
No espaço entre a terra e o céu
De encontro ao Criador
Velha menina senhora
Metamorfoseando seus encantos
Na terra bendita e querida
Que te viu nascer e viver
A Bahia agradece
Teus trejeitos e encantos
De quem viveu a vida
Como num conto de amor
Hoje, no céu da Bahia
Brilha mais que a constelação
A pequena estrela Linda
Iluminando São Salvador
*Axé Linda!
(Nane - 21/03/2016)

quinta-feira, 17 de março de 2016

TEU CHEIRO



E essa presença tão forte que vem
Como uma doce lembrança
Ou mesmo a sensação absoluta
De você aqui

A saudade é verdadeira
Mas a mente tão ocupada
Sequer pensava em ti
Quando tu vens, invade e fica

O menino brinca lá fora
E me grita por instantes
Dando-me o título que foi teu
Enquanto aqui, você me sorri

Vem esse cheiro característico
Soprado por uma brisa lá fora
Onde o menino brinca despreocupado
Na inocência do seu tempo

Eu, no egoísmo do meu concreto
Tento abraçar teu abstrato
Forçando o teu afastamento
Seguindo a minha rotina

Culpa da saudade
E da mente que se permitiu
Pensar em ti por um instante
Em que tu veio, invadiu...e foi

(Nane-17/03/2016)






quarta-feira, 16 de março de 2016

POESIA VITAL



Sejas tu criança
A poesia natimorta
Que habita minhas entranhas
Encarcerada e calada
Jamais publicada

Obra de arte
Que sempre persegui
Mas nunca escrevi
Por ser tão intensa
E só caber dentro de mim

Jamais será lida
Criticada ou elogiada
Posto ser incrustada
Na alma melancólica
De poeta parturiente

Efêmera e fugaz
Voa livre e sem porto
Na imensidão do meu pensar
Infinito e desmedido
Sem rastro e sem estribo 

É chama que arde e implode
Fazendo explodir outros versos
Construindo outras poesias
Deixando sob as cinzas
A brasa poética vital

Enjaulada em meu ser
Move todos os meus brios
Na busca da inspiração
Dos versos em que descrevo
Toda a minha emoção

Sejas tu criança
A poesia da minha vida
Que uma vez dita (em pensamento)
Jamais serás escrita
Para que eu possa ser poeta

(Nane-16/03/2016)







segunda-feira, 14 de março de 2016

UM BRADO RETUMBANTE



Escuta Brasil
A voz de teus filhos
Que clamam por justiça (social)
E exigem o banal

Tremeis ratos e urubus
Pois que a fênix sobrevive
Por sobre os escombros
E ameaça levantar voo

Que não seja em vão
O levante da plebe
E sirva de aviso
Aos infantes do rei (ou rainha)

Que entendam o repúdio
Os demais carniceiros
Do outro lado da cerca
Acerca do respeito

Que não se crie ídolos
Vingadores ou justiceiros
Incumbidos de valores
Sucumbidos aos podres poderes

Escuta Brasil
A voz de teus filhos
Erguendo seus braços fortes
Num único brado retumbante

Te transformando em nação enfim
Unidos num só propósito de te livrar
Dos ratos e urubus que sangram teu corpo
Adormecido em berço esplêndido

Escuta Brasil
O clamor contra a corrupção
Seja enfim a mãe gentil
Dos filhos que de fato, te amam

(Nane-14/03/2016)


sábado, 12 de março de 2016

GRANDE CIRCO BRASIL



Pintei a minha cara
E saí em campo
Empunhando armas
Que julguei libertadoras
Despindo colarinhos
Onde eu via o branco

Quis fazer uma prova
Pra varrer a minha rua
Mas me exigiram um diploma
Que eu não tinha
E elegeram um pinguim
Que decorou a assinatura

Sério, é o meu país
O gigante varonil
Que me mandou
Pra puta que o pariu
Ou foi um filho da puta
Que o descobriu

E eu aqui coberta
Por vergonha de viver
Onde é normal roubar
E ver o pau pagar
Enquanto a ladainha
Chora a mesquinharia

A pá cobre a sepultura
Com a terra tão pesada
Dos desvalidos e oprimidos
Que esperam numa fila
Por quase toda a existência
Extinta na saúde

Pintei a minha cara
Sem saber que o carmim
Era o sangue derramado
Dos ingênuos que acreditaram
E o Brasil abraçaram
Junto com os ursos do Planalto

Amanhã faço um churrasco
E comemoro sem educação
O resultado da "bandalha"
Do grande circo armado
No país do faz de contas
Orgulhoso e varonil

Deus salve o Brasil!

(Nane-12/03/2016)

VOS FALO DO AMOR



De que amor vos falo hoje
Senão do verdadeiro

Não que haja o falso
Mas esse não é o infinito

Vos falo do amor incondicional
Que sobressai à aparência,
Ao sexo e ao tempo,
À vida e à morte.
Entregue à resiliência
Em toda a plenitude
De sua beleza
Por apenas ser amor

Não vos falo da paixão
Insana e possessiva
Que cerce a liberdade
E cega a hombridade
Transformando valores
De mentiras e verdades
Em redes cerzidas
Nos atos complexos

Vos falo do amor
Que por ser o perfeito
Não pode ser real

Vos falo do amor
Que só nos sonhos vive
Impulsionando a própria vida

Quando em busca desse amor
Tentamos encontrar no ser amado
A junção platônica da carne com a alma
E por um tempo (indeterminado) acreditamos
Que vivemos o verdadeiro amor
Em toda a sua apologia
A ponto de fazermos...poesia

Resumindo
Viva intensamente o seu instante
De um amor eterno e pressuposto
Da perfeição na infinitude
De uma felicidade plena
Posto que a eternidade
Só dura enquanto não se acaba...

(Nane-12/03/2016)



sexta-feira, 11 de março de 2016

A FORÇA DE UM OLHAR



Como escapar desse teu olhar
Sem cor (definida)
Oscilando entre Deus e o Diabo
Mas contida nas amarras (de ambos)

Tão doce
Colorido
Acinzentado
Fatal

Melhor seria
O preto único
De dia ou de noite
No verão ou no inverno

Estúpida que fui
Ousei encarar
Me deixei hipnotizar
Pelo seu olhar

Olhos que sorriem
E me encantam
Enquanto zombam
Do que pensei ser um querer

Olhos que faíscam
Feito lavas incandescentes
Quando a ira os envolve
E torna-os gelados

Olhos que me olharam
Com a mansidão de uma ternura
Quando de encontro aos meus
Fingiam saber me ver

Olhos que assustam
Por seus tantos tons de cores
Que camuflam sentimentos
Debochados e infames

Escapar não posso
Mas fecho os meus
Na vã ilusão
De não encontrar os teus

(Nane-11/03/2016)

quinta-feira, 10 de março de 2016

LIMÍTROFE



Meus limites testados
Aos extremos de mim
Extenuados, esticados
Anestesiados...

A alma vagabunda
Tentando se reerguer
Esquece por instantes
Que é alma devedora

Talvez até mesmo
Esqueça que é alma
E deixa que sobressaia
A massa fragilizada

É alma solitária
Abandonada e sem rumo
Sem mais expectativas
Nesse mundo cão

E até por isso aceita
Expor os meus limites
Aos extremos do desígnio
Pedidos (talvez) por ela

A corda esticada
Aguenta o repuxo
Até quando for possível
Sem arrebentar

Mas é da anestesia
O temor dos meus extremos
Que por não sentir mais dor
Não sei dos meus limites

(Nane- 10/03/2016)

quarta-feira, 9 de março de 2016

HORIZONTE OBSCURO



Busco no horizonte
Ao entardecer
O brilho que me iluminava
Vindo do teu olhar

Mas teus olhos (para mim) se fecharam
Iluminam agora outras paragens
Deixando-me na escuridão
Do meu próprio olhar

Calo-me num grito desesperador
Dos que sentem sem sentir
A força de um olhar enigmático
Fechado num horizonte perdido

Escuto na força do mar
Meu próprio lamento contido
Na canção de um adeus
Sem prévia da mais profunda escuridão

O vento é brisa salpicante
Ferindo com areia meu olhar
Misturando os sais ardentes
Nos olhos marejados e perdidos

Lá longe uma luzinha
Veleja de encontro ao horizonte
Desaparecido na imensidão
Mergulhado na escuridão

Eis aí toda a questão
Já não procuro mais o teu olhar
Que ao se fechar me fez acostumar
A perder-me num horizonte infinito

(Nane-09/03/2016)






MINHA VIDA VIRTUAL



Cabem na minha tela (do computador)
Todos os meus sonhos
E quimeras
Todos os meus desejos
E anseios


E viajo nela ( a tela)
Por lugares e outros mundos
Onde nunca estarei
E no entanto, desbravei
E vislumbrei

E amei alguns amores
Que nunca toquei
E no entanto os beijei
E a todos eles me dei
E foram por instantes, meus reis

Vivi todos meus desassossegos
E por eles sofri feito cão sem dono
Quando não podendo mais sorri, chorei
E afoguei mágoas virtuais
Num copo (real) de cerveja

E fui chamada à atenção
Por vários intelectos da poesia
Que adoçaram a minha
Mas reclamaram do "cabresto"
Ao qual nunca me impus

E ganhei uma "família"
Fãs, irmãos, amigos e até inimigos
Que mesmo sem nunca tê-los vistos
Hoje são partes de mim
E adentram em minha "casa"

E perdi alguns pelo caminho
Por morte física e também psicológica
Que uma vez mortos, não voltam
E falta nenhuma fazem
Ao meu convívio virtual

E por enquanto sigo em paz
No meu viver silenciado
Gritado nas palavras
Que junto em frases reflexivas
Chamadas de poesia

E é assim que me expresso
Sem me importar com o que pensam
Agradecendo à quem gosta
Cagando e andando para quem desgosta
E escrevendo sem limites (alheios)

(Nane-09/03/2016)

segunda-feira, 7 de março de 2016

DOIS MENINOS

E o menino ganhou
Outro menino
Presente de Deus
Ao menino crescido

É pedra o Pedro
De base firme
Do menino homem
Meu afilhado

E misturam-se em brincadeiras
Os dois meninos
O pai e o filho
Na vida da gente

Que vimos um
E o outro chegar
Num curso de águas
De um eterno ir e vir

Agora se desdobra
Em responsabilidades
De ser o pai
A desbravar caminhos

Que sejam benditos
E  amigos
Mais que pai e filho
Os dois meninos

(Nane-07/07/2016)

*Parabéns Igor Flávio!


IN MEMORIAM



Houve um tempo
Em que eu tentei
E tantos outros tentaram
E teu filho tentou

Houve um tempo
Em que eu achei
Que era possível
Mas não foi

Houve um tempo
Em que o "se"
Tomou conta de nós
Mas nada mudou

Por uma fração apenas
De um só segundo 
Ou de um "se"
O curso seguiu sem direção

Houve um tempo
Em que as amarras de cordas
Te dariam mais tempo
No teu tempo jogado fora

E hoje seria o teu tempo
De comemorar e abraçar
Quem contigo passou por um tempo
E aprendeu a te amar

Houve um tempo
Em que era a mais fiel de todas
E quiçá, a primeira
Das minhas leitoras

Agora é o meu tempo
De agradecer e dizer
Que onde quer que esteja
Ainda faz parte do meu...tempo

(Nane-07/07/2016)

sexta-feira, 4 de março de 2016

PERSONAGEM DE QUIMERA



Ah...saudades de mim
Quando ao som da alvorada
Despertava inspirada
E escrevia uma poesia
Rebuscando minha alegria

E meu dia era feliz
Por saber que acordada
Você viria
E transformaria em realidade
Toda a minha vontade

Ah...saudades de mim
Quando por nenhum motivo
Eu sorria
Apenas por saber
Que você, comigo estaria

Sem se importar com o horário
E nem mesmo com o lugar
Ou com as pessoas à nossa volta
Que jamais entenderiam
O nosso jeito de amar

Hoje essa saudade
Fez de mim
Personagem de quimeras
Platônicas num sem fim
De melancólicas poesias

(Nane-04/03/2016)


quinta-feira, 3 de março de 2016

NOVE DÉCADAS E MAIS UM

Hoje mãe
Em teu olhar eu tento
Ver teu tempo
De outros tempos
Quando a menina lépida
Brincava de roda
Nas Minas Gerais

E a moça bonita
Fagueira e sem cabrestos
Que sonhava com o futuro
De um conto de fadas
Onde um príncipe a levasse
Para o castelo encantado

E a mulher decidida
Que casada se foi (ou veio)
Para o Rio de Janeiro
Criar teus filhos que chegavam
E em "bando" te precisavam
Roubando teu tempo
De viver a tua vida

E teus olhos me mostram
Tantas lutas inglórias
Com tamanha dignidade
Como um filme agraciado
Com o "Oscar" da saudade
Do teu tempo de mãe
Com os filhos sob as asas

Num misto de nostalgia
Teus olhos escorrem
Em lembranças confusas
De quem já não lembra
Com a mesma certeza
Dos momentos bastantes
Em que fostes a dona
Das tuas vontades

Hoje mãe
Teus anos completam
Nove décadas e mais um
E o que será do amanhã
Ainda que na tua confusão
Tu entregas nas mãos do Criador
Que te fez moldada com a massa do amor

*Parabéns MÃE!!!
(Nane-03/03/1925/2016)


SÓ UM BRINDE

Bebo
Na loucura de meus devaneios
Embriagantes de paixão
Meus desejos reprimidos
Explodindo implosões

Pedaços de mim
Jogados e espalhados
Por telhados e calçadas
Em meio à lama corrente
Das águas de março

Todos os meus sonhos
Desfeitos em palavras
Que ouvidas feriram
E o coração partiram
Em partículas miúdas

Patê de uma mentira
Servido de tira gosto
Num pires de louça fina
Num petit comité
Acompanhado de champagne

Então bebo
À minha loucura
Sem compostura
Abrindo mão de meus anseios
Em minha franca alienação

E que assim seja...

(Nane-03/03/2016)