terça-feira, 31 de março de 2015

A MORTE DE UM SONHO



Meu sonho adormeceu
No seu silêncio devastador
E entorpecido liberou
A realidade que me compete

Pede coragem a vida
E outros sonhos vislumbram
Enquanto no limiar da loucura
Descansa o principal

Pedem passagem os novos
Para alimentar a vida
Enquanto adormecido o fatal
Não liquida com a mesma

É briga de foice
Da ilusão com a realidade
E não só adormecer
Um é preciso morrer

Ou o sonho mata a vida
Ou a vida mata o sonho
Deixá-lo apenas adormecido
É transformá-lo em pesadelo

E sonho que não pode ser sonhado
Pede adaga afilada
Cravada com força nas entranhas
Enquanto entorpecido

(Nane-31/03/2015)

segunda-feira, 30 de março de 2015

O DESABROCHAR DE UMA FLOR

Um dia te vi
Flor mulher
Sem saber
Que era botão
À desabrochar
Ledo engano
Por duas vezes
Era menina
Pitonisa
Em corpo de mulher
Me assustando
E me dizendo
Nas entrelinhas
O que fazer
Um dia adotei
A Flor menina
Pensando proteger
O que me protegia
E embalando
O que me embalava
Sem que eu percebesse
Flor nordestina
Brotada no Ceará
Perfumando o Maranhão
Orgulhando uma nação
Enfeitando o sudeste
Com raízes esparramadas
Um dia fui adotada
Pela Flor mulher
Que mesmo à distância
Cuida de mim
Ainda que eu não queira
Sem se preocupar
Se eu vou reclamar
Flor tão sublime
Menina mulher
Mulher menina
Te quero comigo
Enfeitando meu caminho
E com todo o carinho
Te ofereço esse mimo
*Parabéns Florzinha!!!

(Nane - 30/03/2015)

sábado, 28 de março de 2015

ALUCINAÇÃO



Cheira a morte o recinto
Num odor agridoce agradável
Seduz meu olfato já pouco apurado
Pelo vício da fumaça inalada

Embriaga meus sentidos já embriagados
Pela cevada gélida na garganta
Rompendo sinapses no corpo inteiro
Relegado ao estado entorpecido

As paredes borradas de cores
Confundem e atraem os meus olhos
Num redemoinho em espiral
Num mergulho perene...caindo

Paulatinamente figuras
Se formam na minha mente
Vou mais fundo na embriaguez
Quase num êxtase lacônico

Nada me é conhecido
Além do cheiro inebriante
Dançam espectros sombrios
Como num ritual fúnebre

A escuridão se confunde com a luz
Que cega do mesmo jeito
O estrondo ensurdecedor se faz
E o suor frio escorre molhando a cama

Por hoje acabou o mergulho
Os olhos esbugalhados revelam
Que o pesadelo não tem fim
Foi só mais um capítulo...

(Nane-28/03/2015)


sexta-feira, 27 de março de 2015

PASSAPORTE PARA A ETERNIDADE



Ah, se tivesses noção
Do estrago causado
Pela ausência tua
Virias à mim

Ah, se tivesses
A noção da dor
Que esmaga o peito
E escorre nos olhos

Ah, se sentisses
Um mínimo que fosse
Da saudade opressora
Que sufoca o ar

Ah, se pudesses
Me ver agora
Entenderias melhor
O que fizestes

Ah se entendesses
Do amor verdadeiro
Saberias que a morte
Não me mete medo

Ah, se tivesse sobrado
Só um pouco de verdade
Entenderias que a eternidade
Sou eu e é você...

(Nane-27/03/2015)


*Arte de: Luiz Eduardo Lomba Rosa



É PRECISO CONTAR ESTÓRIAS



Surreal estória
Nascida no bastidor
Onde um homem é mulher
E uma mulher finge um amor

Surreais vidas
Onde admira o amante
O marido não traído
Mas corno manso

Surreal loucura
De gente que se diz sã
E por baixo do "pano"
Se mostra louca

Surreal romance
De sereia e caramujo
Num Reino Unido
Com sotaque nordestino

Surreal relacionamento
De vidas inventadas
Vividas dentro da tela
De um computador ligado

Surreal sentimentos
Que evaporam ao vento
Quando a tomada é puxada
E a bateria descarregada

Surreal musa
Surreal escritor
Surreal marido
Surreal amante

(Nane-27/03/2015)

*Arte de: Fátima Ayche


quinta-feira, 26 de março de 2015

DANÇA CONTURBADA



Toca Pearl Jam
Enquanto eu olho o céu
Danço
Conforme a música
Envolta no branco
Da folha vazia

A alma tatuada
Traz lavas cuspidas
E cinzas espalhadas
Tapando o sol
E o céu em mim
Enegrecido

O furacão no vulcão
Faz em mim insensatez
No amálgama entupido
Disposto a explodir
E mandar tudo às favas
Num surto desequilibrado

Toca Pearl Jam
Enquanto eu escuto
E danço
A dança destilada
Que evapora de mim
Enquanto eu me acalmo

O céu ainda está negro
O amor não é brinquedo
Tem estrelas lá em cima
Não no meu céu
Mas estão lá
E eu me recolho

(Nane- 26/03/2015)

Arte de Henrique Dias - "Dança"



MAZINHO

Homem menino
De tantas histórias
E brincadeiras

Parceiro e companheiro
De tantos sorrisos
E lágrimas

Velho garoto
De um sorriso torto
E maroto

Fiel escudeiro
Do nosso grande amor
Pelo Tricolor

Irmão camarada
De abraços e beijos
Em troca de nada

O dia agora
É todo seu
E você, nosso

Pai e filho
Amigo e irmão
De um grande coração

Te quero feliz
Feito um menino
Eterno aprendiz...

*Feliz aniversário meu irmão!

(Nane-26/03/2015)

quarta-feira, 25 de março de 2015

SINA DE MÃE



Rasga teu ventre ensanguentado
Cuspindo a semente germinada
Entre amnióticos líquidos
Jorrados de tuas entranhas

Beija a cabeça coroada
Pelos dejetos abençoados
No instante supremo
Do teu grito lacerante

Aconchega em teus braços
Fazendo silenciar
O choro de estranheza
Do despejado de teu ventre

Sirva-lhe ainda quente
O néctar da vida
Da glândula em flor
Desabrochada em teus seios

Cortaram-lhe o cordão
E já não mais está em ti
Paristes teu filho
Mas não o teu destino

Proteja-o sob as tuas asas
Até quando puder
Mas quando aprender a voar
Entregue-o ao Criador
E reze...

(Nane-25/03/2015)


segunda-feira, 23 de março de 2015

TELHADO DE VIDRO



Chamam de mentira
A verdade inventada
E tão acreditada
Que foi vivida
E feita verdade

Mas tão cobrada e vingada
Por nascer mentira
Contorcida na metamorfose
De aparência horrenda
Que a transformou em verdade

E sobreviveu
Pelo tempo determinado
Na durabilidade
Da vingança ou piedade
Pelo ser que a pariu

Pouco importa a verdade
Vade retro Satanás
Posto que serás mentira
Enquanto viva for
E ao inferno não sucumbir

O fato é que morreu
Sem ser prematura
Ainda que verdade
Nasceu mentira
E morreu sem velório

A pedra atirada
Matou a verdade
Vingou a mentira
Da alma limpa
Que a lançou

Sem telhado de vidro
Nada quebrou
Apenas a verdade
Deixou de ser verdade
Por não mais interessar

(Nane-23/03/2015)




ENTRANHAS EM DESASSOSSEGO



Quisera ser indiferente
À tua indiferença
Mas esse desassossego na alma
Incomoda...

Quisera arrancar você de mim
Como a um dente careado
Que faz falta por instantes
E depois é esquecido e substituído

Quisera tanta coisa impossível
Que já nem sei se quero mais
Já que nada mais faz sentido
Nos quereres que eu quisera

Quisera não ter um passado
E começar tudo do zero
Apagar todas as letras
E reescrever minha poesia

Resta-me apenas o ato
De amassar os meus papéis
E jogar fora minhas rimas
Nos versos que te  fiz

Resta matar a poesia
Antes que ela me mate
Num surto desesperado
Das entranhas que quisera...

(Nane - 23/03/2015)





ÁRVORE



Mascaro a brandura
Na casca dura que me reveste
Por não saber me entregar
Por não querer me estragar

Cada escolha é minha
E a consequência também
O sorriso represa a lágrima
Que afoga sonhos natimortos

Quando ousei sonhar
Vi o pesadelo tomar forma
Recolhi meus sonhos
E me vesti de casca

Feito árvore cascuda
Que pinga seiva na ferida
Fincada por sobre raízes
Assumo escolhas

O fruto nem sempre é bom
E a semente nem sempre frutifica
Árvore exposta aos raios
Que a tempestade trás

Mascaro a madeira de lei
No coração forjado à canivete
Na casca grosa de um tronco
Carapaça dos meus anseios

(Nane-23/03/2015)


ACENO DO ADEUS



Caminho só
Sem o toque da sua mão
Segurando a minha
Trêmula

Mas não parei
É preciso seguir
Ainda que sem o esteio
Da sua mão

O caminho é turbulento
Cheio de pedras e espinhos
Mas caminho
Sem a sua mão

Não por querer
Mas por ser preciso
Caminhar até chegar
A hora de parar

A estrada é longa
Sem parada para o descanso
Mas agora estou calçada
E sigo andando só

Ainda sinto no tato
O calor da sua mão
Que se soltou da minha
Sem me avisar

Meus passos ainda trôpegos
Vão se firmando aos poucos
Nesse caminhar solitário
Mas preciso

Chegará o dia
Em que o meu caminhar
Não mais precisará
Da sua mão

Mas levarei comigo
A eterna gratidão
Do aprender a andar
Que começou com a sua mão

E passado todas as dores
Olharei o caminho percorrido
E acenarei com a minha mão
À sua mão deixada lá atrás...

(Nane-23/03/2015)


domingo, 22 de março de 2015

ETERNO MENINO DEUS (DE ÉBANO)

Menino deus
De um corpo negro e moldado
Nas rimas sem nexo do meu sexo
Que te decanta em versos

Sonhando com o breu dos teus braços
Abraçando meus anseios e desejos
De correr ao teu encontro
E sentir o teu calor

Menino deus
De tantos planos refeitos
Nas viagens alucinógenas
Dos hormônios ululantes

Quando nos amamos num instante
Eternizado na memória
Da nossa história
Bonita e nostálgica

Menino deus
Que pena não ser
Menino do Rio
Mas ainda (me) provoca arrepios

Coração
De eterno flerte
Adoro ver-te
Menino deus (de ébano)

*Parabéns!





O PIADO DA CORUJA




Cansada no meu cansaço
Surto a cada anoitecer
Quando pia a coruja
Um piado de mau agouro
O copo ainda cheio
Espuma acima do dourado
Subindo bolinhas borbulhantes
Embora quentes, num canto
Os dedos estalados a todo instante
Dançando num teclado sem grafite
Sabendo o lugar exato de tocar
Sem ser preciso olhar
Ouvindo o lamento no quarto ao lado
Enquanto as palavras salpicam na tela
Buscando um sentido qualquer
Na cabeça aparvalhada de cerveja
A brasa consome o dorso
Enquanto os dedos seguem inquietos
Aguardando o comando
Pensante e desordenado
Misturam-se as dores
Cabeça e tronco
Na frente e atrás
Enquanto os dedos deslizam
Ditam as palavras
A cerveja e o cigarro
Interrompe o pensamento
O triste lamento
Poesia inacabada
Nascida na hora errada
Abortada no peito inflado
De tanta inquietude
Nem a merda do futebol
Dá vazão a pressão
De como acabar as estrofes
Engasgadas nos gargomilos
E esses dedos inquietos
Teclando a esmo
Tentando poetizar
O que a cabeça não consegue rimar
Cansada no meu cansaço
Sem conseguir descansar
Ouvindo a coruja piar
E tendo que ir deitar
É hora de parar...
(Nane-22/03/2015)

sábado, 21 de março de 2015

LINDA ME GUIA



Linda, lá vem você
Me lembrar o que esqueci
Linda, no seus trejeitos
Lindos de baiana

No céu o seu sorriso
Ilumina a noite escura
Num eclipse iluminado
De um sol da meia noite

Linda mulher de inspiração
Tão cedo recolhida
De São Salvador
Pelas mãos do criador

Linda a presença que sinto
A me cobrar entre lembranças
Um rabisco nesta data
Que me acostumei a rabiscar

Linda sem nunca te ver
E tanto te admirar
Por ser mãe e amiga
Sem nunca parir

Linda no sonho de tanto brilho
Enfeitada por teus quereres
Miçangas e balangandãs
Terços e guias

Linda me guia
Nas minhas poesias
E onde quer que esteja
Linda...sorria

(Nane - 21/03/2015)

sexta-feira, 20 de março de 2015

DEIXEM EM PAZ O FLUMINENSE

Todos os meus amigos de fato, sabem o quanto torço e amo 
o Fluminense Futebol Clube. O que não sabem é que já não
tenho mais disposição (deve ser a idade) para "brigar" e 
discutir futebol com mais ninguém. Nem ao estádio eu vou
mais. As vz me arrisco a assistir a uma partida pela TV, mas
sinceramente...ando cochilando.
Os persistentes ataques ao meu time (como o que vem ocorrendo
agora pela FERJ e o Senhor Eurico Miranda), a fragilidade e até
incapacidade de gestão de seus presidentes, a pirraça do Senhor 
Celso Barros (ainda quando eu escrevia no L!Activo falei muito
sobre essa intervenção da UNIMED, e sempre fui contra [nao
ao patrocínio, mas à interferência], A lenga, lenga de que somos
o time das viradas, embora, comprovadamente nada se tem como
prova, ao contrário, em todas as vc que houve uma virada de mesa
havia clubes e federações bem mais interessada nela [virada] que
o próprio Fluminense).
Essa matéria do Globo Esporte resume bem as viradas de mesa,
culminando nessa última, em que o todo poderoso e protegido 
Clube de Regatas do Flamengo é quem deveria, de fato ter
caído para a segundona:http://globoesporte.globo.com/futebol/times/fluminense/noticia/2013/12/pague-serie-b-frase-que-ganhou-fama-entre-os-rivais-e-persegue-o-flu.html

Enfim, deixo aqui o aviso aos navegantes que simplesmente
perdi o "tesão" pelo futebol. Talvez aquele 7X1 tenha alguma
influência, embora já tivesse perdido a algum tempo.
Aliás, deixei uma sugestão ao jornalista e amigo João Garcez

para que desenvolva com a sua competência comprovada uma
matéria sobre isso.
O Flu e a Portela são dois amores fiéis que irão comigo por onde

eu for.
Então fica assim...que venham as poesias.

(Nane-20/03/2015)


                    

HISTÓRIAS DE MINHA MÃE III (TRAQUINAGENS)



Dos livros que li na minha infância, 
dois foram os que mais me chamaram 
a atenção: O meu pé de laranja lima
e O feijão e o sonho. Respectivamente
de autorias de José M. de Vasconcelos e
Orígenes Lessa. 
O problema era que nessa época eu lia
e mergulhava de tal maneira nos livros
que assumia as personalidades dos
personagens dos quais gostava.
Pobre da minha mãe...vivia de cinta
na mão correndo atras de mim. Pobre
das minhas pernas...viviam marcadas
de correadas.
Eu era meio que líder da molecada na 
rua, e vivia convencendo-os a me ajudarem
nas minhas traquinagens. Verdade seja dita,
apanhávamos unidos, cada um na sua casa
e da sua mãe.
Eu via minha mãe como a Maria Rosa, do 
"Feijão e o sonho". Aquela mulher prática,
sempre tendo uma solução para os problemas
que apareciam, sem saber o que isso custava à ela.
E me punha no lugar do "Lara". Um homem bom,
sonhador e sem limites. Esquecendo das responsa-
bilidades que tinha.
Desde bem pequena que minha cabeça vivia nas
nuvens (como dizia e temia minha mãe).
Mas era o Zezé o meu personagem preferido!
Eu não tinha um pé de laranja lima para chamar de
meu. Mas tinha uma "castanheira"na frente da 
minha casa, árvore frondosa e alta, que eu tomei
posse e chamei de minha.
A princípio eu subia e não sabia descer. Chorava
até que alguém me retirasse de lá. Mas depois, com
a teimosia que sempre me foi peculiar, aprendi a
subir e a descer. Na verdade eram duas árvores,
mas eu tinha a minha preferida.
Até casinha na árvore nós (eu e meu irmão)
fizemos. E uma vez, ele sumiu e deixou a mãe
e os irmãos mais velhos doidos de preocupação.
Até que eu disse que ele estava dormindo na casinha
da árvore.
Mas de todas as traquinagens do Zezé, a que mais
martelava na minha cabeçam era a da cobra morta e
amarrada pela cabeça para assustar os transeuntes.
Um dia (ou melhor, uma noite), pus em prática a idéia
e amarrei um barbante numa cobra de brinquedo.
Aguardei por detrás da árvore. Nem me lembro de quem
eu assustei, mas lembro da minha mãe gritando por meu
nome com a correia na mão, sabendo de antemão a autoria
da traquinagem.
De uma outra vez, eu aguardava meu cunhado (que estava
trabalhando) para que ele me levasse, de carro, para casa.
Então achei que podia "faturar" um pouquinho, e desandei

a contar para as pessoas que havia perdido meu dinheiro
de passagem (eu havia saído da aula). Piedosamente
várias pessoas me deram dinheiro para que eu pagasse
o ônibus. Eu ía até o carrinho de churrasquinho e comia
quantos pudesse comprar. Até que um senhor, piedoso
e sem maldade alguma, me deu um bocado de moedas.
Eu, num momento de precipitação, fui guardar e deixei cair
um punhado de outras moedas que já havia "arrecadado".
Ele me olhou muito sério, me pegou pelo braço e disse:
_Quem é o seu responsável mocinha? Justo no momento

em que meu cunhado apareceu.
Resumindo: Minha mãe ficou sabendo e eu...levei mais 
uma surra homérica.
Será que ler na infância faz bem?

(Nane-20/03/2015)

quinta-feira, 19 de março de 2015

HISTÓRIAS DE MINHA MÃE II



Eu era bem pequena quando pela primeira vez
vi e experimentei um pudim de leite "moça".
Foi na casa de uma amiguinha (minha vizinha),
lá rua em que eu morava. Fiquei tão maravilhada
e fascinada que até hoje, quase cinco décadas
depois, ainda sou completamente apaixonada
pelo "dito cujo".
Enquanto eu me deliciava com a iguaria, 
desatei a falar sobre o "pudim de macarrão"
que minha mãe sempre fazia para nós. A
dona da casa, uma senhora austera e de nariz
em pé, logo quis saber como era esse pudim
de que nunca ouvira falar. Eu disse que era
gostoso (não como o dela, de leite "moça"),
e que minha mãe fazia com a água em que 
cozinhava o macarrão. A senhora sorriu
(um sorriso debochado) e disse: _Deve mesmo 
ser muito gostoso. rsrsrs
Quando cheguei em casa, corri e contei para
minha mãe que havia comido o tal pudim de
leite "moça", e que havia contado para a mãe
de minha amiga sobre o pudim de macarrão
que ela fazia tão bem.
Minha mãe quase teve um "treco"! Suas faces
se avermelharam numa rapidez que me surpre-
endeu, e ela vociferou para mim: _Quem mandou
você falar demais? Agora a outra vai contar para
a rua inteira que faço pudim de macarrão.
Eu, na minha inocência, não entendia a razão
de tanta "brabeza".
Hoje, relembrando isso, fico imaginando a 
cabeça dela (minha mãe) ao ter que usar de 
tanta imaginação para que seus filhos, sustentados
por seus braços fortes, pudessem ter um doce
de sobremesa!
O pudim de macarrão nada mais era do que o
reaproveitamento da água com amido, adoçado
com açúcar e colorido com corantes comestíveis
e caramelizado.
Ah, e foi dito e feito, a tal Senhora, além de espalhar 

para a vizinhança inteira, teve a cara de pau de ir
até a minha casa pedir a receita do pudim de macarrão
para a minha mãe, que respondeu de uma forma que
só ela responderia: _É só pegar a água do cozimento,
acrescentar açúcar, corante e caramelizar com muito,
muito amor pelo seus filhos.

(Nane-19/13/2015)

quarta-feira, 18 de março de 2015

PASSEANDO À BEIRA MAR



As estrelas estão lá
Apesar do céu nublado
Escondidas sobre as nuvens
Com vergonha de você

Salpicam a areia da praia
Tentando se duplicarem
Para verem se ofuscam
O brilho do seu olhar

Algumas mais afoitas
Fingem cair adentro ao mar
Só para desviar a atenção
Quando te veem passar

A lua se rendeu e te serviu
De holofote na ribalta
Focando seu caminhar
Na noite à beira mar

O sol vem todo dia
Dourar sua pele macia
E resplandecer quando você
Escancara seu sorriso

Rendem-se astros e estrelas
Aos seus encantos de sereia
Desfilando na areia
E banhando-se no mar

Rende-se o próprio mar
Que amansa suas águas bravias
Só para fingir ser rio a desaguar
E de alguma forma te abraçar

Se mulher ou entidade
Curvam-se às suas vontades
O céu, a terra e o mar
Odoyá Yemanjá

(Nane-18/03/2015)

O CORVO E A COTOVIA



O atrito notável
Corrói peça por peça
Entre lamentos e xingamentos
Da máquina psíquica

Relevantes sensações
De irrelevantes razões
Destroçam no encéfalo
A inteligência da hora

Pretextos inverossímeis
Transformando em débeis
Lamúrias e queixas
Cobranças envenenadas

Patativa sem asas
Presa no leito
Enquanto deixa voar
Lembranças soltas

Corvo cansado
Espreita no topo
De um tronco qualquer
O voo da patativa

Sensações diversas
De culpas e fadigas
De dois seres estagnados
Ceifados da liberdade

No horizonte brilha o sol
Escondido sob as nuvens
Patativa voa baixo
Enquanto o corvo observa

Um dia voarão
Numa mesma direção
E se unirão num só ponto
Sem nenhuma distinção

É fábula sem final feliz (?)
De pássaros inversos
Estereotipados pela massa
Do que é bom e do que é  mau

(Nane- 18/03/2015)


O SILÊNCIO DE UMA SAUDADE




Quase uma criança
Num remoto anoitecer
Feito uma bomba atômica
Você partiu...

Eu nunca havia experimentado
A estranha sensação
De ver alguém sair
Da minha vida assim

A dor foi amortecida
Pelo conformismo do tempo
Que se não causou o esquecimento
Aplacou o desespero

As lembranças ainda permitem
O desenho na retina
Na sua face juvenil
Do seu sorriso sem graça

A voz se apagou da (minha) memória
Restaram algumas palavras
Sem o timbre usado
Guardadas na saudade

Não me furto a imaginar
Como seria hoje
Te olhar face a face
Envelhecido

Décadas se passaram
Você foi o primeiro
Veio um segundo
Veio um terceiro

Não sei onde está
Mas saiba que está aqui
Onde bate meu coração
E ainda, por você, chama

(Nane-18/03/2014)

LEVADA POR UM VENDAVAL



Me deixei levar no vendaval
Sem eira e nem beira
Levada por sentimentos
Revirada pelo avesso
Perdida num temporal

Mas foram tão intensos
Cada um dos segundos
Eu vi brilho no seu olhar
E fiz de cada um (dos segundos)
A nossa eternidade

É verdade que acabou
E sequer a poeira restou
Mas nas estrelas
Ainda vivem os rastros
Em fachos coloridos

Me deixei levar no vendaval
Mas vivi como poucos um amor
Que deixou marcas no universo
Do meu céu e do meu inferno
Vividos intensamente

Hoje passou o vendaval
E te levou para outro lugar
Mas deixou em forma de brisa
Um carinho na lembrança
De um amor adormecido

Outros ventos vão soprar
E trazer outros amores
Também inesquecíveis
Mas perder-me num temporal
Não vou mais...

(Nane-18/03/2015)



DO CASULO AO VOO LIVRE



Como num sonho
Te vi assim
Num casulo presa
Em versos reprimidos
Enclausurada

Como num pesadelo
Te vi metamorfoseando
Descascando conflitos
Com os olhos marejados
E os lábios silenciados

Como num anoitecer
Te vi adormecer
No teu próprio ser
Esmiuçado e resguardado
De você mesma

Como num alento
Vi surgir asas
Do alvéolos envolventes
Que pareciam sufocar
Teu ser vivente

Como numa magia
Te vi resplandescente
Sobrevoando meu sonho
Com a beleza suprema
De uma majestosa borboleta

Como envaidecida
Agradeci e sorri
Por te ver sobrevoando
O jardim em que plantei
A flor da nossa amizade

(Nane-18/03/2015)


terça-feira, 17 de março de 2015

O RABISCO DO UIRAPURU



Rabisco meu canto escrito
E não ouvido
Canto de lamento
Por muitos lido
Mas para ti...invisível

Canto de ave notívaga
Perdida na floresta densa
Escondida no dia claro
Por não poder cantar o dia
E por todos ser ouvida

Canto rabiscado de melancolia
Revestido de beleza
Que por ironia
Não se faz ser ouvido (lido)
Por quem deveria

O uirapuru esmorecido
Segue a sua sina de cantor
Enquanto eu rabisco a minha dor
Que em comum com a dele
Se perde numa mesma solidão

(Nane-17/03/2015)

SHE(YLA)

She é ela
Na penumbra
No mistério
De cores únicas

Seu olhar rebrilha
Resplandecendo a tela
No mistério da penumbra
De cores únicas

Cores do sol
Das flores
Do mar

Do mistério

Enigma de tons
Tão dúbios, ambíguos
Esfinge de Zeus
Em pose helênica

She
Tão nua e crua
Na simplicidade dos tons
Preenchendo de cores
A íris de quem vê
Toda a sua beleza
Em preto e branco

She
É a própria palheta
Que na mão do artista
Inspira tela viva
E também...poesia
Em preto e branco
No lápis do poeta

(Nane-17/03/2015)


O QUE FICOU DE NÓS



O que ficou em mim
É o que me basta de nós
E irá comigo até o fim
(Meu fim)

O que ficou na réstia
De mágoas e detritos
É restrito à mim
(Finito)

Vivemos de lirismo
Por um bom tempo
Sem deixar resíduos
(Destintos)

Apagada a lousa
Foi intensa a aula
E o aprendizado, perene
(Infindo)

Durou uma eternidade
Finita como tantas
Decantada em poesia
(E rimas)

O luar por testemunha
Calou-se nublado
Por nuvens escuras
(Escondido)

Mas o que ficou em mim
É o que me basta de nós
E irá comigo até o fim
(Meu fim)

(Nane-17/03/2015)




segunda-feira, 16 de março de 2015

DIVISÃO

Destoo de mim
Do que fui
E não mais sou

Faço e refaço
Os caminhos traçados
Em busca de mim

Em que esquina da vida
Me repliquei
E não me achei

O espelho me diz
É você mesma
Envelhecida

A razão me dita
As regras a serem seguidas
Ainda que em mão única

O coração embriagado
Destoa da razão
Batendo descompassado

Em que esquina da vida
Peregrina o meu outro eu
Nômade

Errante da vida
Dividida em duas
A certa e a errada

Destoada e perdida
Cética e tao crente
Refletida num espelho...quebrado

(Nane-16/03/2015)

domingo, 15 de março de 2015

O QUE É QUE ESSA BAIANA TEM



Te faz forte a tua fraqueza
E nela te transformas
Na leoa virginiana
Avizinhadas

Mostra tuas garras felinas
E cuida de cuidar dos teus
Defendendo o território
Que te pertence

Deixa fluir teus sentimentos
Sem incomodar com o "vão dizer"
Esparrama seu amar sem complicar
E colhe o que te é devido

Bate por vezes o cansaço
E te julgas fraca
Um "espinho" incomoda
E a baiana rodopia esbravejando

Ah mulher de Juazeiro
Tuas raízes te condena
Teu sorriso te ilumina
E teu santo te protege

Ah mulher da Bahia
Tens o encanto cantado
Que o poeta divulgou
E que Deus dá...

(Nane - 15/03/2015)




sábado, 14 de março de 2015

DALÍ AQUI



A arte de viver
Numa tela de Dalí
Onde o real é su
Sem mentiras e nem verdades

A arte de sorrir
Numa poesia de Dos Anjos
Onde o negro se faz branco
Num sentimento Augusto

A arte de cantar
O amor imorredouro
Disfarçado de mutante
Nos versos da beleza fundamental

A arte de chorar
Toda a dor que há no mundo
Quando no meu céu não brilha
A estrela que me guia

A arte de escrever
Todos os meus desassossegos
Nas entrelinhas do destino
Destilado no meu sangue

A arte do não saber
O que me vai pela cabeça
Enquanto escrevo o que sai
Sem perceber o que fica

A arte de existir
Quando já não mais importa
Viver só por viver
E continuar a escrever

A arte de preencher
De cores a tela em branco
No surrealismo delirante
De quem não precisa se fazer entender

A arte do arco-íris
Das sete cores e tons
Ironicamente perdido
No brilho do próprio ouro 

A arte da mentira
Transformada em verdade
Pagando o preço inflacionado
De ser uma eterna ilusão

A arte de ser só arte
Quando se é vida
Sem nenhuma arte
Mas ainda surreal

(Nane- 14/03/2015)




sexta-feira, 13 de março de 2015

FATO

Talvez hoje sejamos mais amigas
Do que fomos antes
Não que não o fôssemos
Mas agora, não me julgas mais

Já não posso esconder de ti
Os segredos que não podia te contar
E agora não tenho mais o que esconder

Quando, na minha solidão
É com você que falo
Talvez por covardia
E na certeza de não me responder

Imagino a tua resposta
E até a debato em meu silêncio
Escutando a tua voz
Que já não fala mais

O que te vai na mente
Posso até adivinhar
Ou não
Sei lá

Quando sórdidos atos
Ou mesmo pensamentos
Finjo não te ver
Procuro te esquecer

Daria a minha vida
Só para saber de você
Ainda não me acostumei
Com esse meu te perder

O fato é que se foi
O fato é que me deixou
O fato é que fiquei
O fato é que...é fato

(Nane - 13/03/2015)





DEPOIS DO FURACÃO

Soprou um vento brando
Levando consigo
A poeira deixada pelo furacão
Partículas de tantas coisas
Misturadas na areia fina
Indo embora...para longe
A brisa não move a folhagem
Sopra um carinho apenas
Enquanto inerte no chão
Os pássaros ainda cantam
E a vida continua intacta
Depois da tempestade
Crianças brincam e se divertem
Em meio a tanta confusão
Na vida virada do avesso
É a natureza se refazendo
No corpo e na alma da terra
Judiada e guerreira
É meu corpo despindo-se da alma
Purgando todos os seus pecados
Metaforizado numa poesia
O vento brando varre os vestígios
Como a querer deletar lembranças
Que ferem o corpo debilitado
É minha alma prisioneira
Como a querer romper cicatrizes
Em busca da porta de saída
De que nariz sou dona
Se do corpo ou da alma
Impossível saber
Talvez seja de um nada
E me perca num hiato
Vivendo sem nenhuma haste
Um terceiro ser inábil
Sem lugar certo nenhum
Esperando para nascer
Sentindo o carinho da brisa
Que sopra sem força nenhuma
Enquanto gesto inerte...
(Nane - 13/03/2015)






quinta-feira, 12 de março de 2015

A PEQUENA GRANDE ATRIZ

Então a menina
Se fez mulher
E virou Diva
Dos sonhos de tantos
Fantasias de outros

Nas telinhas de tantas
Deu asas à imaginação
E vidas na sua própria vida

Carregou em si
Histórias e tramas
De personagens inesquecíveis
Que se fizeram chorar
Ensinaram a sorrir

A pequena órfã cresceu
E  fez da ribalta
Seu espaço no mundo

Das três Marias
Herdou o brilho
E o direito de ser
Estrela eterna

E num facho de luz
Brilha seu legado em vida
Deixado aos fãs
Que jamais te esquecem

*Parabéns!



quarta-feira, 11 de março de 2015

SIMPLESMENTE VONTADES

Então me vem essa vontade louca
De não ter mais vontade nenhuma
Das vontades conflitantes
Que habitam sem vontade, em mim

E me vejo em desatino
Demente em demência
Num surto equilibrado
De uma insanidade sã

Então me lembro da pessoa
Que me acusa de mentirosa
Sem saber que na mentira
Vive a minha única verdade

Se é loucura a platonice
É normal minha sandice
E vou as vias de fatos 
Na minha cretinice

Melhor morrer essa vontade
E ficar sem vontade nenhuma
Da maior das minhas vontades
Que mora em mim, sem permissão

Então escuto suas vontades
De ver dizimada as minhas
Até o instante em que te der vontade
De sentir, de novo, as minhas vontades

E na minha sandice
Percebo o disparate
E o tamanho da minha tolice
De estar sempre sujeita às tuas vontades

(Nane - 11/03/2015)

terça-feira, 10 de março de 2015

NÃO SEI DE QUEM A AUTORIA



Batem minhas asas irresponsáveis
Me levando por ares impensáveis
Sem que eu queira me direcionar
Para um determinado lugar

Voa minha imaginação suprema
Conduzindo meus desejos de aventuras
Sem se preocupar com o pouso inerente
Se é que vai (vou) pousar

Admira minha consciência soberba
A beleza fugaz e tão fatal
Do brilho do sol, da lua e das estrelas
Voando no rastro da chama incandescente

Sente todos os meus sentidos em conluios
A "pena" deslizando no papel em branco
Enquanto meus dedos apossados
Redigem palavras endossadas

É só mais um rabisco nascido
Sem nenhuma pretensão
Escrito por tantos numa só
Que nem sei que nome assinar

(Nane-10/03/2015)

SAUDADES APENAS



Hoje senti saudades
Do cheiro da bala de coco
Que fervia na panela
Enquanto minha mãe limpava
A pedra de mármore
Onde seria esticada

Senti saudades
Dos meus tantos irmãos
Brincando e brigando
Nos quartos e no quintal
Onde vivíamos embolados
Sem perceber que era ali
A nossa raiz

Hoje senti saudades
De quando o maior dos meus problemas
Era esconder da minha mãe
A traquinagem que aprontei
E o medo do "coro"
Que por certo viria
Ao ser descoberto

Senti saudades dos bichos
Que cresceram comigo
E se foram tão cedo
Me fazendo chorrar em cada enterro
No jardim tão bem cuidado
Pelas mãos de minha mãe

Hoje senti saudades
Da comida e do tempero
Disputada quando se ouvia
A voz de minha mãe
Dizendo estar pronto
Chamando para almoçar

Senti saudades da união
Pela faixa etária dos irmãos
Que se agrupavam naturalmente
E de outros se distanciavam
Sem noção ou preocupação
Do que era o certo e o errado
Sendo só o natural

Hoje senti saudades
Dos dedos de minha mãe
"Tamborilando" minha cabeça
À procura dos piolhos
Trazidos do Grupo Escolar
E arrancados sem piedade
E num "tic' dos polegares esmagados

Senti saudades do banho bem dado
Quando os joelhos permaneciam encardidos
E minha mãe ameaçava lavá-los
Com um caco de telha 
E eu saía "branquinha" do chuveiro
Banhada por minha mãe

Hoje senti saudades
Da ansiedade pueril
De querer ser gente grande
Sem saber que eu já era
E que toda essa saudade
Vem só agora me dizer
Que a felicidade morou ali
E me abraçou com os braços da minha mãe

(Nane-10/03/2015)

segunda-feira, 9 de março de 2015

AS FLORES DE PLÁSTICO NÃO MORREM JAMAIS



As flores de plástico não morrem
Mas não perfumam
E nem crescem
E também não cheiram a morte

As flores de plástico não morrem
Mas também não vivem
Nem encantam
Os que cantam

As flores de plástico não morrem
Nem mesmo de ervas daninhas
Que insistem em sufocar
As flores naturais

As flores de plástico não morrem
E não se deixam molhar
Pelas lágrimas com gosto de soro
Que caem para as hidratar

As flores de plástico não morrem
E não sentem dores
Quando são arrancadas
Dos seus jardins

As flores de plástico não morrem
Por só serem beijadas
Pelo colibri enganado
Por sua beleza artificial

As flores de plástico não morrem
E nem velam o jardineiro
Quando ele vai embora
Levado pela morte

As flores de plástico não morrem
E nem se eternizam nas folhas de um diário
Por não se desidratarem
Com o final de um romance

As flores de plásticos são flores
Manipuladas pelas mãos
Do mais hipócrita dos artesãos
Que criam flores que não morrem jamais

(Nane-09/03/2015)




GAME OVER II



Metabolizo na mente
As palavras ditas
Os gestos feitos
O amor simulado
Fingido, falso
Venenoso...

Corroeu a ternura
Plantou a mágoa
A tristeza regou
E o jardim da solidão
Vingou...

Foi só vingança
Sórdida e mais vil
Do que qualquer mentira

De caso pensado
Matou a ilusão
Jogou fora o amor
Conseguiu se vingar

Acabou comigo
Como o planejado
O tempo todo

Me alimento das palavras
Proferidas e doloridas
Revistas todos os dias
Na minha memória

Provei do veneno
Que disse ser meu
E se não morri
Morreu o amor
De tristeza

(Nane-09/03/2015)

sexta-feira, 6 de março de 2015

EM DIREÇÃO AO ARCO ÍRIS



Submergindo do inferno
Respiro o ar sofregamente
Rompendo as asas doloridas
Completando a metamorfose

A liberdade ainda é desconhecida
E me arrisco aos poucos
Com medo da imensidão
Exposta e sem limites

Os grilhões rompidos
A clausura aberta
O halo em torno do sol
A visão ainda sem ver

São tantas as perspectivas
O tempo parece tão pouco
É preciso pressa no viver
É preciso aproveitar

Se pássaro ou barata
O fato é que á posso voar
E ninguém mais vai me prender
Nas garras maléficas

Fez-se enfim a metamorfose
E já não sou prisioneira
O arco íris me espera
E é para lá que vou voar

Acostumar-se com o que é bom
É tão fácil e prazeroso
Voar, voar, voar...
É esse o meu destino

(Nane-06/03/2015)


RODANDO O PIÃO

Já tive um amor
Não mais o tenho
Ele é dolorido
Triste
Já não o tenho mais

Sinto saudades de mim
Quando sorria do nada
E fazia sorrir também
Sem que motivo houvesse
Para sorrir e o fazer

Hoje amo o momento
E quem nele estiver
O amor dos poetas
É infinito enquanto dura
E assim se deve amar

Amar a quem não ama
É perder tempo de amar
A fila é grande e anda
Parar é suicídio
É preciso amar

Num mundo redondo
Sem começo e sem fim
A vida é cíclica
E todos são afins
De você, de alguém, de mim

Já tive um amor
Que julguei ser único
Mas o amor não me amou
E meu sonho se transformou
Em outros tantos amores

Agora aprendi
Que vale a pena amar
Sorrir e festejar
As voltas que o mundo dá
No cíclico ato de amar

(Nane-06/03/2015)





CALANDO NO GRITO

Grito
Meu grito calado
Dentro de mim
Sem eco externo
E tao ensurdecedor

Grito
Todas as minhas dores
Anestesiadas pela rotina
Lancinante e incontida
Na minha solidão

Grito
Veladamente em meu silêncio
Esperneando nas súplicas
Postas nas entrelinhas
Invisíveis às tintas

Calo então
Quando amanhece o dia
E se faz preciso calar
Para tocar a vida
Sem tempo para a dor

Calo então
Quando estendo a mão
Calejada e sem esmalte
Ao que me fez esteio
E se precipita ao precipício

Calo então
Quando percebo que meu grito
Nunca foi ouvido
Puro e simplesmente
Por (eu) não saber gritar

(Nane-06/03/2015)

quinta-feira, 5 de março de 2015

MEU IRMÃO CAMARADA

Um bate papo
Um afago
Um abraço
Um amigo

Conversa jogada fora
Sem pudor, sem obrigação
Simples saudades
De um bom bate papo

Poetas naufragados
Nos seus mares profundos
Vindo à tona no respiro
Das horas de encontros

Eu aqui e ele lá
Sul e sudeste tao pertinho
Amigos tão ligados
Separados pelas costas

Karma, passe, macumba ou heiki
Dane-se o nome dado
Gosto do nosso bate papo
E o resto que se ferre

Quando a gente se encontra
Forma-se a magia
E o que resta de tudo isso
Chama-se poesia

Descarada e derramada
Em palavras proferidas
Atravessadas pelo fio
De uma linha imaginaria

Poeta irmão e camarada
Te escuto, te falo e te abraço
Enquanto aguenta a bateria
Do celular a nos aproximar

Agora a hora é de deitar
E deixar fluir a poesia
Nao escrita, mas sentida
No âmago do nosso adormecer

Boa noite amigo

(Nane-05/03/2015)

terça-feira, 3 de março de 2015

A COTOVIA E O CORVO

Pra você, não mais
A poesia se despediu
E calou de vez

Meus devaneios vazios
Feito o canto da cotovia
Viveu um só amor
Desfeito no despertar

Talvez o corvo
Me deixando fria e roxa
Traduza mais o sentimento
Do final da poesia

Os sonhos desfeitos
Bicaram as palavras
Que eu julgava poemas

Misturas broncas
Cruzadas e desencontradas
Sem rimas e sem métricas
Pobres e deterioradas

Reflexos de dentro
Sem nenhuma beleza
Do meu momento
De maluquice

Canalha mentira
Desequilíbrio total
Doença fatal

Ainda que doa muito
Apague-se a poesia
Não mais se publique
Migalhas pedidas

Ainda que não seja
Mais nada do que fui
O gosto amargo
É o que me conduz

Pra você, não mais
A poesia se despediu
E calou de vez.

(Nane-03/03/2015)






A HORA DO ESPANTO

Essa é a hora
em que eu gosto de escrever
sem em nada pensar
e digitar tão somente
o que me vem na mente.

Às vezes só merda.
Às vezes algo de útil.
Às vezes o nada.

Não me preocupo com o conteúdo.
Importa o sentimento
meu, e não o seu.
Ler é consequência do que escrevo,
não obrigação.

Já li tanta merda por aí
e confesso, que às vezes
só pelo nome do(a) autor(a).

Ego e poesia são diversos.
Uns dizem tanto com tão pouco

e outros dizem nada com nada nenhum
(ou tanto).

Ah, não importa julgamentos.
Hoje eu quero mais dizer sem falar.
No fundo só queria ser ouvida
sem ter a necessidade da palavra
engasgada na garganta.
às vezes a poesia é sangue jorrado
sem conseguir ser estancado
e mata lentamente o autor
que teima em escrevê-la.

(Nane-03/03/2015)

LEVADA PELA MARÉ

Noventa são os anos
passados ligeiros
ou não.
Talvez arrastados
em toscas lembranças
de tempos tão idos.

O negrume dos cabelos
contrastando com o verdume
dos olhos tão vivos
num corpo longilíneo,
delgado, tão belo,
e desejado.

Ah se soubesses menina
o que te reservava a vida,
talvez mudasse o rumo
do barco em que embarcastes
num rio disfarçado de mansidão
e terminado em corredeiras.

Desaguado num mar de tormentas
bravamente remados pelas mãos
que enquanto duas, tiveram forças.
Cepada uma delas pelo destino,
embora presente e sem valia,
à deriva da boa vontade da maré.

Ah menina das Minas Gerais
perdida num Rio de Janeiro
eclodida em sementes várias
germinadas dos teus sonhos
de faz de conta que o teu escolhido
era um príncipe.

Ah senhora dos cabelos brancos,
prostrada na tua cama
sem brilho nos teus olhos
que vagueiam para o nada
ou mesmo para o tudo
do que possas enxergar.

Talvez seja eu a pior das sementes
que ao invés de te parabenizar
lamento o teu fardo
de carregar em tuas raízes
árvore de frutos fecundados
sem o devido adubo.

(Nane-03/03/2015)