quinta-feira, 22 de setembro de 2016

ATORMENTADA


Atormentada
Na treva interior
Tremilicando
No submundo gélido
Enraizado num inverno
Que não acaba nunca

Gritar não adianta mais
A voz sumiu e a garganta estourou
A noite é longa e fria
O sol de primavera se extinguiu
Só um corvo agourento
Faz um barulho melancólico

Danem-se todos os certinhos
A vida é uma loucura
O mundo um hospício
A mágoa, sepultura
Se abrindo lentamente
Sob os pés se quem a cava

Atormentada sem perspectiva
Minha cova quase pronta
Aquecendo com o exercício
Esse inverno constante
Vindo da mais profunda entranha
Da minha mente adoecida

E de que flores vou falar...

(Nane-22/09/2016)




terça-feira, 20 de setembro de 2016

RUMO AO HORIZONTE

Olha resoluto o horizonte
Caminhe sempre ao seu encontro
Mesmo sabendo que ele é mais além
Do que possas, de fato alcançar

Persista em seu encalço
Para que não corras o risco de parar
Na caminhada a ti destinada
Na missão que tens por obrigação

Transforma em troféus as tuas dores
Faça ouvidos de mercadores
Se entregue com todas as tuas forças
Caminhe em riste com teus pés sangrentos

Teu horizonte se aproxima
Ainda que não real
Mas como um oásis no deserto
Onde por certo descansarás

Desnude-se de todos os demais desejos
Mantendo seu foco principal
As dores logo se aplacarão
Na caminhada terminada

Faça do teu avesso, tua alma
Respire teu pouco ar
Prensado e pesado em teu corpo
Já tão debilitado e cansado

Fixe-se no teu horizonte
Onde levitarás sem peso nenhum
E teus pés não mais sangrarão
Nem teu corpo, peso nenhum, terá

Agora falta pouco
A linha se aproxima
Não se preocupe com a despedida
Vá, sem olhar para trás

Desfaça-se de teus outros desejos
De todos os teus amores
Desapegue dos teus pesos
E voe livre rumo ao teu horizonte

(Nane-20/09/2016)



quinta-feira, 15 de setembro de 2016

VIDA BREVE


Vida breve
Breve vida

Hoje sou
Amanhã não mais estou
Levado pelas águas
Encantado nas profundezas
Vida breve
Breve vida

Hoje rabisco
Amanhã me calo
Restará o quê
Nas poesias emudecidas
Que talvez serão rabiscadas
Nalgum lugar obscuro
Ou quem sabe, iluminado


Poesias que não mais terão eco
E ninguém mais lerá
Além dos vermes vociferados
No banquete de minhas carnes
Dos dedos desnudados
E da garganta mutilada
Por eles, esfomeados

Vida breve
Breve vida

Que hoje observa sem saber
Seu final apoteótico
Podendo ser na madrugada
Ou no amanhã ensolarado
Nas profundezas de um rio
Ou na boca de um vulcão

Resta o vazio da incógnita
Que reserva o futuro
Bebo e brindo à vida
Que me resta no agora
Sem me preocupar se meus olhos se abrirão
No amanhã...ou nunca mais
Nesta nossa vida breve

Nesta nossa breve vida

(Nane-15/09/2016)


PÁSSARO MIGRANTE

Te fiz luz dos meus dias
Sol que me aquece
Lua que me me ilumina
Estrela que brilha e me conduz

Te vejo assim, além daqui
Em planos que tracei pra mim
Em outras vidas, outros tempos
Pagando o preço da minha solidão

Pouco importa meu desassossego
Posto que a fé remove montanhas
E sei que nada ou ninguém
Vai tirar você de mim

No voo de um pássaro migrante
Te vejo distanciando de mim
Em abraços e afagos constantes
Sabendo que sou eu seu pouso final

Corrói-me o ciúme lacerante
Acalmado na sua ausência
Num tempo de profunda reflexão
Acarinhado por sua volta triunfante

Brilha então, intensa a sua luz
Feito o sol que me aquece o coração
Esqueço toda a minha desventura
E sorrio simplesmente por te ver sorrir

Sou eu assim sem você

Perdida e sem rumo
Observando seus voos
Aguardando seu pouso final

(Nane-15/09/2016)





quarta-feira, 14 de setembro de 2016

NÁUSEAS

Vomito palavras
Reviradas em meu âmago 
Sem me importar com as rimas
Ou com algum nexo

Saem de mim
Feito vermes das feridas
Expulsos por glóbulos  brancos
Incomodados com a infecção 

Latejam em minhas têmporas 
Como pancada em tamborim
Em noite de desfile
Da bateria de uma escola (de samba)

Fervem meus sentidos
Feito lava de vulcao
Resfriada e empedrada
Pelo tempo inócuo e incólume 

Estragos só em mim
Que sinto o fervor escaldante
Da lava do vômito  lacerando minhas entranhas
Petrificando meus sonhos

Vomito todo o fel contido
E me afogo em meu próprio  vômito 
Azedo e por mim incontido
Nas entranhas do meu ser

São palavras sem nexo nenhum
É  poesia sem prosa nenhuma
É  tempo perdido com coisa alguma
São  dores sem remédio  que cura

(Nane- 14/09/2016)



POESIA DE GARRAFA

Dê-me um copo de cerveja
E um cigarro entre os lábios
Para que a poesia se derrame
E se funda com meu sangue

Dê-me uma música qualquer
Que mexa com minha emoção
E eu viaje em suas notas
Refazendo sua letra

Dê-me o tempo de sonhar
Sem importar se é noite ou se é dia
Para que eu possa transformar
Utopia em poesia

Dê-me só o seu sorriso
Nessa noite quente e enluarada
Para que eu durma embriagada
Em versos compostos na madrugada

Dê-me o perdão dado aos poetas
Que insistem em rimas pobres
No afã de se fazerem notar
Aos olhos cansados de os lerem

Dê-me um copo de cerveja
Que se nada disso adiantar
O cigarro vai me acalmar
E eu, vou dormir com certeza

Seja noite ou seja dia
Nos braços da minha...poesia

(Nane-13/09/2016)


sábado, 3 de setembro de 2016

HARRY

Hoje sonhei com o Harry, um sujeito que imaginei parecido com o Christian Grey, e no entanto, em meu sonho, seu sotaque, seus traços, estavam mais para um cabra da peste nordestino. Sua lábia de poeta lascivo me seduziu e fez da minha noite, a noite dos sonhos de toda mulher que, recatada, enrusti em si a puta depravada, capaz de enlouquecer o mais fodão dos homens.
Harry bem que tentou fazer de mim a própria Anastasia, mas me pegou num dia (ou noite) de possessão e fiz eu, dele, objeto de minhas frustrações sexuais, atiçadas pela libido acesa e pulsante.
E pensar que eu só queria, naquele bar de beira de estrada, tomar uma cerveja...
- A moça ta sozinha?
- Ta vendo mais alguém?
O cabra nordestino, pouco ligou para o meu mal humor e se "aboletou" na cadeira de frente com a minha, desatando a falar em versos e prosas...
A cerveja, que a princípio seria só uma, se multiplicou e quando dei por mim, havia cascos entulhados por toda a extensão (debaixo) da mesa. O filho da puta me enrolou com sua conversa mole e me levou para um quarto de motel.

Ri, já completamente embriagada, do seu nome de estrangeiro e do seu sotaque de nordestino (e o que é pior, sua cabeça chata também é de nordestino). Ri, como nunca houvera rido antes, com seu palavriado flutuando entre o chulo e o culto, e seu olhar esbugalhado e fulminante, me despindo e me comendo sem nem mesmo me tocar.
Tremi, com suas mãos habilidosas, me enlaçando e me apertando num abraço que me pôs de encontro à dureza de seus desejos, que também já eram os meus...
Dissipou-se a fumaça dos cigarros relaxantes, enquanto sorrisos se extinguiam em mais uns goles de cerveja (quente). Harry não era Christian Grey, nem eu Anastasia. Mas a noite...ah, a noite!
Em meu quarto ainda escuro, despertei com o suor que ensopava meu corpo e encharcava o lençol...quem é Harry???

(Nane - 03/09/2016)