ESCOLHAS

Que são essas vertentes
Em mim tão impregnadas
Tonteando minhas certezas
Cansando minha beleza

Mistura do certo e do errado
Repasto do bem e do mal
O dia e a noite fundidos
Num instante de profundo eclipse

De um lado o obstinado e protuso
Do outro o subjugado e contido
Rasgando as vísceras obtusas
Em seus côncavos absolutos

Vertentes incontidas e sedutoras
Dividindo o indivisível
Deixando culpado um destino
Inexistente, logrado em pensamento

Serve-se da certeza incerta
Vertendo sempre no rumo do horizonte
Onde o nunca se faz presente
E o nada se diz um tudo

São meros devaneios ululantes
Da mente doentia e inconstante
Obstinada, delirante à poesia
Destituída de rimas, regras ou autoria

Vertentes permeando metáforas
Contidas nas entrelinhas da vida
Revirando de cabeça para baixo
O equilíbrio que deveria haver

Vertentes que se impõem
Mas te deixam escolher
Se o certo ou o errado
A vida, com certeza vai dizer...

(Nane-30/11/2017)

DIZ PRA MIM

Diz pra mim o que é que eu faço
Nas noites vazias e tão sozinha
Em que ouço vozes de ninguém
Sem ouvir a voz que tanto me falou

Ah...essa confusão murmurante em meus ouvidos
Sem que eu consiga definir
Se gritos, lamúrias, lamentos
Se sarcasmo, delírio ou loucura

Esse silêncio todo me atordoa
A TV ligada no volume máximo
São vozes que não me dizem nada
Mas dizem que alguém, aqui ainda fala

Um programa qualquer, sem importância
Não sei se filme ou documentário
Melhor que o silêncio profundo 
Melhor que esse poço sem fundo

No fechar imposto dos meus olhos
Vejo sombras insinuantes à dançar
São silhuetas contornadas em minha mente
Fantasmas efêmeros do meu querer

Se contorcem, multiplicam-se, se transformam
São bons, são maus, são lúdicos, são cruéis
Vagam independentes pela madrugada
Insone em minha mente vazia (?)

Escondo-me por sob os travesseiros
No lúgubre espaço das quatro paredes
As vozes na TV dizendo nada
O sono que teima em não aparecer

Diz pra mim o que é que eu faço
Nas noites vazias e tão sozinha
Em que ouço vozes de ninguém
Sem ouvir a voz que tanto me falou...

(Nane-30/11/2017)

241, NÚMERO 20

Na 241, número 20
Vizinha à minha casa
Morava uma família
Guardada na lembrança
Da minha infância

Alda era a mocinha
Que com a gente brincava
Nós, um bando de pirralhada
Descanso à ela não dava

Aldo, um rapazinho
Noquinha, eu achava metidinho
Anãozinho, como fazia estripolias
Minhas amigas Cláudia e Brasilina

Na 241, número 20
Vizinha à minha casa
Morava uma família
Guardada na lembrança
Da minha infância

Até hoje não sei porquê
O pai era Sexta-feira
A mãe Dona Geralda
E tinha a avó
De quem eu tinha medo

Alda, a mocinha
Hoje aniversaria
De presente eu te dou
Lembranças que se são minhas
São tuas também

Se fosse naquela época
Cantaríamos os parabéns
Comeríamos um bolinho de fubá
Regado ao Qsuco de saquinho
Na 241, número 20

*Parabéns!

(Nane-28/11/2017)

CUIDA DE MIM

Não sei do teu paradeiro
Nem tão pouco dos teus compromissos
Egoisticamente só sei
O quanto preciso de você

Pedir é só o que eu posso fazer
E peço sem vergonha nenhuma
Esteja onde estiver (segura a minha mão)
E cuida de mim...

Não me deixe assim, tão ao relento
Sentindo toda a força da solidão
Perdida num caminho de tanta imaginação
Afundada em medos e sentimentos

Sou só uma criança envelhecida
No espaço de um tempo esquecido
Dedicados à devaneios entorpecidos
Por uma vida nem sempre (realmente) vivida

Cuida de mim
Como quem cuida de uma flor
Nascida num ensolarado alvorecer
Que fatalmente, no crepúsculo, irá adormecer

Ainda que por só um instante
Perpetuado na minha eternidade
Cuida de mim para que enfim
Eu saiba que você foi minha (única) verdade

É só da sua mão que eu preciso
Para seguir na minha caminhada
Estenda-a e segure na minha
E mesmo distante...cuida de mim

(Nane-28/11/2017)

ODE À MAESTRIA

Não levou nada a morte
Que bateu forte na porta
E quem diz que novela não é cultura
Perdeu, se deixou levar...

Eu mesma fui uma
Que pouco fiz e procurei (na net)
Rendo-me ao talento soberbo
Na humilde retratada

Monólogo que eu não disse
Na oração sangrada da alma
Em junção com o próprio corpo
Eclodindo na força da emoção

E quem diz que novela não é cultura
Perdeu, deixou de assistir
A maestria de um monólogo
Que o mundo todo deveria ouvir

Teatral, "felomenal" e magistral
Para os muitos que não podem além dali
Um "monstro" desse assistir
Nos palcos de um teatro (infelizmente) elitista


Me rendo de corpo e alma
Ao talento específico dessa Fernanda
Vibro, peço bis e bato palma
Na cena em que à própria morte ela comanda

A morte se recolhe
Me emociono e me alegro
Não assisto à novela
Mas é a Fernanda Montenegro...!

(Nane-27/11/2017)

A HORA É ESSA

Ah...não sei o que escrever
Então teclo aleatoriamente
O que me vem na mente
Sem mentiras, nem verdades

Passar a limpo desanuviando
Sonhos, desejos, fantasias
Deixando fluir a essência
Nos versos de uma poesia

A pergunta insistente num sibilo
Sufocada em meus gorgomilos
Tirando toda a tesão
Matando pouco a pouco a inspiração

A resposta que eu não quero ouvir
Por saber que irá restringir
Podando meus anseios de insistir
Na luta inglória de persistir

Lembranças retrogradas refletidas
No presente sem nenhuma evolução
Eu bem que te avisei
Nada existe além de uma ilusão

Assim como o próprio mar
Em seu eterno vai e vem
Deixo a onda me levar
Sem com mais nada (além) sonhar

Papo reto e sem noção
Rabiscando por rabiscar
Coisa de quem não tem o que fazer
É hora de parar...

(Nane-23/11/2017)

MEUS ESCRITOS

Escrevo meus medos
Meus anseios
Meus desejos
Minhas vontades...

Escrevo a solidão
A loucura
A insanidade de meus atos
Escrevo desabafos...

Escrevo saudades
Dos tempos idos e não vindos
Onde misturei realidade e ilusão
Do que fui e não vivi...

Escrevo na intenção de sobreviver
A tudo o que jamais poderei viver
Mas vivo cada vez que insisto em escrever
O que agora você está a ler...

Escrevo o que não estou
Mas sempre soube que sou
Deixando que seja tua a interpretação
Do que me vai na imaginação...

Escrevo apenas por escrever
Quando a inquietação vem provocar
Forçando-me a por no "papel"
Meu fel, meu inferno, meu céu...

Escrevo para você
Que mesmo sem saber
Divide comigo seu tempo
Quando vem aqui...me ler

(Nane-23/11/2017)

CHUVA FINA

Chuva fina caindo
Aumentando a estufa
Sensação de sauna ligada
Sem o fog característico

As estrelas adormeceram
No frio da serra celeste
A lua, se está nua, não apareceu
Condenando à escuridão a noite

Uiva a cachorrada desatinada
Sem saber que é melancolia
A falta da lua escondida
Por sobre as nuvens escuras

Os homens se resguardam por detrás da luz
Que ilumina as quatro paredes
É meio de semana sem grana
Adormece entorpecida a boemia

Na alcova aconchegante
O melhor é adormecer sob o lençol
No frio fabricado e imposto
De uma quinta (feira) incandescente

Sucumbe o sexo ao cansaço
Do meio da semana desgastante
Contenta-se adormecer em um abraço
Sonhando com um final de semana (ainda) distante

Chuva que chove marrenta
Sem lavar a alma ou a poluição
Apaga a luz e vem deitar
Nesse aconchego, escuta meu coração...

Boa noite!

(Nane-22/11/2017)

TEM DIAS

Tem dias que a gente pensa

Que basta escrever para aliviar

Todas as dores sentidas

Todas as  mágoas guardadas

Aí rolam as lágrimas

Que se não no papel

Por sobre o teclado

Inundando o fariseu

A cerveja já não entorpece

A poesia não encanta

A lua, à muito não brilha

A vida, essa segue em frente

Tem dias que a gente devia

Deitar e não acordar

De preferência, nem sonhar

Apenas descansar

Ver o dia assim sumir

Em brancas nuvens à passar

Dormir num latifúndio insosso

E só acordar para viver

(Nane-19/11/2017)

VÃO

É um cansaço assim
Que o corpo não condena
Então ninguém percebe
Que a vida passa em vão

Vão de torres inalcançáveis
Nas quimeras indescritíveis
De degraus infinitos
Levando um tudo à um nada

Cansaço que bate sem piedade
Fazendo do viço transição
Do novo ao velho imprudente
Do corpo à alma delirante

Vão tão próximo de um tudo
Tendo no nada um coeficiente
Subjugado à tantas vertentes
Sem razão nenhuma encontrada

Cansaço de quem sabe que é em vão
O vão de paralelas que não se cruzam
Pelo simples fato de seguirem sempre
Um caminho em linhas retas

Caminhos que decidimos sem perceber
Que nunca irão se encontrar
Por achar que caminhar lado à lado
Signifique juntos estar

Cansaço de quem decidiu se entregar
Sem com mais nada se preocupar
Deixando nas mãos do destino
A vida continuar...

(Nane-19/11/2017)

COBRANÇAS DA VIDA

Sentindo sentimentos
Indefinidos em definição
De erros e acertos
Tão certos quanto errados

Misturas sem sentidos
Perdidos no passar de um tempo
Onde o que devia não pagou
E a vida cobra ao devedor

O que fiz e o que deixei de fazer
Reflete nas luzes que piscam
Anunciando um tempo vindouro
Se do bem ou do mal...não sei

A promissória da vida vencida
Cobra o monte devido
Fiz o que achei ser o certo
Me diz o destino, está errado

Tento tanto por tanto tempo
Que nem percebo que passa o tempo
Surge um novo tempo para se tentar
E temo nesse novo tempo (outra vez) me perder

A vista cansada e já turvada
Não vê com precisão
Jogo fora todos os meus preceitos
Vencida pelo cansaço do tempo

O velho cajado torto
Já não me ampara mais
O tempo fez de um mesmo percurso
Caminho arriscado e aventurado

O vigor de quem fazia
Não faz mais nenhum sentido
Segue a vida seu destino
Sem que eu possa interferir

(Nane-19/11/2017)

CENAS DO COTIDIANO ll

Na mesa de um bar (ao ar livre)
pensava eu na vida, quando o vi passar.
Nossos olhos se cruzaram por um instante
e vi uma tristeza tão grande...
Foi puro reflexo, sem que eu saiba o porquê, num
impulso o convidei para sentar-se à mesa comigo.
Ele olhou-me assustado, sem saber se devia, eu
insisti. Sorriu um sorriso amarelo e por fim decidiu-se;
sentou e me olhou esperando que eu dissesse algo.
Sem saber o que fazer, chamei o garçom e pedi dois
chopes. esse se aproximou com a cara emburrada e antes
que tivesse a chance de alguma contestação, voltei a pedir
com educação e firmeza que nos trouxesse dois chopes.
Ele saiu contrariado, mas calado, retornando com dois copos 
cheios em sua bandeja.
          Meu acompanhante pegou o copo, como quem não 
acreditasse no que via, sentiu o vidro gelado em suas mãos
com satisfação e tomou um longo primeiro gole.
Havia interrogação e exclamação em seu olhar naquele instante!
Por fim, olhou-me bem dentro dos olhos e perguntou: - Porque
me convidou? Não me conhece e tão pouco eu a conheço?
Eu disse, sem pensar: - Não sei dizer, sei apenas que me deu vontade
de tomar um chope com você. Ele então, pausadamente, começou a 
falar: - Sabe moça, faz tanto tempo que não sou convidado para nada
que fiquei sem saber o que fazer ou responder para você.
Antes, me convidavam o tempo todo, eu não dava conta de tantos
convites. Eram jantares, bailes, inaugurações, coquetéis e tantos outros
eventos...hoje, só me convidam a sair de onde eu tento entrar.
          Percebi seu linguajar, que se não primoroso, era um tanto quanto
correto, e surpreendeu-me quando tirou do bolso de seu paletó surrado
um lápis e um caderno (também surrado) e começou a escrever.
Escrevia enquanto conversávamos. Pedi mais dois chopes, que ele tomou 
com gosto. Quando terminou seu escrito, arrancou a folha do caderno, me
entregou-a e disse sorrindo seu sorriso amarelo: - Olha, aqui está uma poesia
que fiz para você. É a forma que tenho para agradecer o convite e o chope.
Agora preciso ir, tenho que conseguir comida para o meu melhor amigo.
Boa noite e muito obrigado por tudo.
Ele se foi seguido de um cãozinho magrelo e muito feio...abri o papel
dobrado e li:

RATO DE SARJETA

Nojo e medo
Vejo nos olhares
Dos que passam por mim
E desejam o meu fim

Louco me julgam
Sem direito a explicação
Se afastam ou me afastam
Me acostumei à solidão

Um amor não correspondido
Mergulhou-me na depressão
Destruiu-me os neurônios
sangrou-me o coração

Por covardia me entreguei
E da família me afastei
Ganhei a rua por moradia
Perdi a dignidade que eu tinha

Do amor nada mais soube
Da família me escondi
Da vida que eu vivi
Restou o terno que vesti

Tanto tempo se passou
Que nem lembrava mais quem fui
Acredite, sentado aqui nesta mesa
Esqueci por um instante que sou rato de sarjeta

Teu nome não perguntei
O meu também não falei
Mas deixo contigo a certeza
De que eu nunca te esquecerei

     João Ninguém

          Levantei, paguei a conta, enxuguei com um 
guardanapo uma lágrima saliente, guardei meu "papel"
na bolsa e fui para casa.

(Nane- 15/11/2017)

É AMOR

Aí fico pensando
No que te vai na mente
Quando esse sorriso disfarçado
Escondido sob os óculos escuros
Induz à tantas coisas
Que só que te conhece...compreende

Aí bate aquela saudade
De um tempo em que tudo era permitido
Inclusive o próprio tempo
Em que tínhamos o malfadado tempo
Nas noites "perdidas" e encantadas
Que nos fazia sorrir para o nada

Aí te olho e volto atras
Lembrando da foto encantadora
Que de certa forma me atou
E que também, de certa forma me cativou
Do querer sereno e efusivo
De sempre estar contigo

Mulher amiga e irmã
De colo afetivo e aconchegante
Sempre pronto a me acolher
Musa de tantos rabiscos
E quem sabe, de tantos poetas
Mas minha, és certa

Teu sorriso imprudente
Reviravolta minha mente
Maliciosa e impertinente
Adivinhando intenções
Nas minhas imaginações
E suas elucidações

Aí fico pensando
Na beleza que te adorna
No tanto que me cativas
Aí entendo minha saudade
Que mesmo sem nunca ter te encontrado
Transformou-se em amor de verdade

(Nane-15/11/2017)

SEM MODÉSTIA

Escrevo sobre o quê
Ou sobre quem
Não sei
Foge-me a inspiração

Quem és tu que me vem à mente
Fantasma de meus devaneios
Sem rosto ou forma definida
Espectro redundante de um nada

Rever teus sinais alucinados
Em meus constantes delírios
Transforma em quimeras a realidade
Despenca em pesadelos, meus sonhos

Restaram efêmeros momentos
Perpetuados em meus sentimentos
Jogados e relegados na latrina
De um bar mal frequentado na madrugada

O mesmo guardanapo que me serve
De rascunho para uma poesia
Uso propositalmente no que me alivia
Para limpar a minha bunda

Te xingo, maldigo e expurgo
Me entrego, me dou e me exponho
Choro, me descontrolo e me afundo
Me perco, te perco e não entendo

Só mesmo o teu sorriso
Alivia e estranhamente me aquieta
Quando devia me fazer efervescer
E te mandar, sem modéstia, se f....

(Nane-14/11/2017)

SÓ LEMBRANÇAS

Lá vem as lembranças

De quando eu ouvia

Minha mãe gritar aos meus ouvidos

O que eu tinha que fazer

A vara de marmelo

Que de marmelo nada tinha

Era uma simples varinha

Retirada do quintal

Menina rebelde e deslumbrada

Com as coisas que a vida apresentava

Nas quimeras das folhas dos livros

Que lia sem compreender

Lá vem a minha mãe

Despejando o feijão nos sonhos meus

Ancorando meus voos

Me plantando no chão

Vou planando à deriva

Sem o colo e os braços

Insistindo nos sonhos

Desdenhando dos feijões

É que o tempo passou

E a semente não vingou

Fortaleza é capital (fundamental)

A mãe...vital

O sonho vislumbra

A realidade persiste

A vida continua

A poesia...me desnuda

(Nane-12/11/2017)

SURREALISMO

Não. Não sou eu quem te escreve

Subterfúgio desamparado

Escuto e reproduzo

Em despautérios o que produzo

Conversa fiada e sem propósito

Escrita em momentos irrelevantes

Para quem lê ou imagina

Final do poço para quem escreve

Desdêmona se cansa
Nem é tanto pueril

Mas Otelo é sempre inverrossímil

Se perde na razão

O fio da navalha afiada

Repousando sob o travesseiro

Retalhando a paz e o sossego

De um sono conturbado

Relevâncias e desatinos

Olhados por outro ângulo

Tão fácil resolver

Basta apenas saber viver

Só me digam onde esta o tutorial

Para não ser Otelo, nem passional

Ser quimera realizada

Utopia sem precisar de fantasia

Loucuras passadas pela mente
Que vaga vazia e sem precedentes

Enquanto o copo não se esvazia

E toda a merda vira poesia

Não. Não sou eu quem te escreve

São só meus dedos viciados
Nas teclas que "induzem-me" a escrever

Teu nome nas entrelinhas...

(Nane-11/11/2017)

NÃO PENSE

Aí você para pra pensar
E percebe que o pensar 
Não vale a pena
Sentir é o que basta

Onde ficou a rotina
De que tanto reclamamos
E agora nos faz falta
Por sermos o que somos

Então realizo
O mundo sob a nossa gerência
Trocando os pés pelas mãos
Olhando nosso próprio umbigo

Pobre das órbitas dos planetas
Sem o sol e sem a lua
Contidos em nossos rabiscos
Sem brilharem para mais ninguém

Posto que somos egoístas
A ponto de monopolizar a essência
Do perfeito que não vemos
Simplesmente por não senti-lo

Melhor não pensar
Melhor apenas admirar
Todo o sistema divino
Programado em nosso ínfimo

Sou meu próprio universo
Pronto a eclodir
Em novas constelações
Geradas em meus versos

Seca em meu seio o néctar
Que ostenta a própria vida
Germinada e fecunda
No acasalamento libidinal

Não pare para pensar
Se veio o cio, cruze
Embale sua cria nos braços
Esqueça toda a sua filosofia

Aí você para pra pensar
E percebe que o tempo é volátil
Melhor não pensar e agir
Antes que a vida se esvaia...

(Nane-11/11/2017)

NO APAGAR DAS LUZES

Apagam-se as luzes do dia
No crepúsculo se põe o sol
Rumo ao berço oriental
Onde há de brilhar

A lua
Minguada e acabrunhada
Escondida por entre as nuvens
Não ilumina e nem tem aura

Luna sem halo
Melancolia na noite escura
Refém da minha própria poesia
Rabisco disparates e heresias

Saudades que infla o peito
Vontades de não sei o quê
Mundo pequeno e rarefeito
Metáforas de vidas efêmeras

Puxa-me a vida à realidade
Lembrando-me das contas à pagar
Esvaem-se lembranças inócuas
De um tempo que já passou

Amanhã a realidade me aguarda
Sem se importar com nenhuma saudade
Cala a poesia efêmera
Grita a realidade nua e crua

É hora de me recolher
É hora de silenciar a poesia
Viver sem medo o meu dia a dia
Fechar os olhos e adormecer...

(Nane-10/11/2017)

ANEXO

Isso tudo sou eu
Velado e camuflado
Por uma rotina precisa
Prescrita no dia a dia

Lágrimas secadas ao sol
Refletindo um sorriso solícito
Num arco-íris metafórico
Em tons de cinza

Mexe meus neurônios
Com o timbre da voz repetida
Em meus ouvidos teimosos
Que ouvem mas não escutam

Sonho meu sonho incauto
Perdido na penumbra 
Estatelado no meu salto
Rumo ao nada que me vislumbra

Rima pobre e sem nexo
De quem nada diz enquanto fala
Bebe e se cala
Fazendo da vida um anexo

Danem-se todas as rimas
Escravizantes e escravizadas
Pensadas e insensibilizadas
Nas poesias programadas

Isso tudo sou eu
Poeta sem cabresto
Livre para voar nas palavras
Desordenadas em minha mente

(Nane-10/11/2012)

DIVAGANDO NA JANELA

Olho pela janela
Pessoas que vem e vão
Cada qual com sua vida
Cada qual com sua história

Penso e repenso no meu olhar
Tentando adivinhar
O que vai pelas mentes
Nas ruas à desfilar

É gente real
Com seus dilemas e soluções
O que não dá para ser, já é
O resto, só com o poder de orações

O que passará pelas mentes
Dos que passam à correr
Talvez o medo de morrer
Ou apenas a alegria por viver

Negros e brancos se misturam
Disputando espaços pelas vias
Entre os roncos e as buzinas dos motores
Programados no trânsito enlouquecido

A conta d'água atrasada
A luz que pode ser cortada
O médico ausente na consulta marcada
O pão na mesa desfalcada

O neon anunciando a noitada
Loucura em mais uma balada
Dinheiro para gastar, não falta
Vão juntos ver no que vai dar

Uma história, outras tantas
Misturadas e tão distintas
Uns morrem e outros nascem
Na vida como ela é

Fecho a janela
Apago a luz do quarto
Não vejo mais nada
No silêncio...adormeço

(Nane - 09/11/2017)

TIETANDO

Ah...a praia de Salvador
No meio, início e fim
Recebe as pegadas de Tieta
Marcadas por tua presença

O mar envaidecido as carrega
Para junto de Yemanjá
Só para provocar
A mãe do mar

Tieta, o teu lugar
Não é o Sul e nem o agreste
A saudade de São Salvador
Revela sua essência de calor

Voa, por onde quer voar
Mas um dia, eu sei, hás de voltar
E haverá, então mais poesia
Nas praias de Salvador e da Bahia

*Parabéns Tieta!

(Nane-08/11/2017)

GABI

A moça menina
De bate papo instigante
Com seu sorriso franco
Se fez amiga minha

Na sua correria
Por um pouco de tempo
Cuidou de mim
Sorriu para mim

Seu tempo escasso
Entre todos os seus limites
Do trabalho para a escola
Te fez ser assim

Hoje, o tempo passado
Te foi benéfico
Talvez tenha sido a maternidade
Que te fez mais bonita

A moça menina
Se fez mãe e mulher
Mas a menina persiste
No sorriso que te insiste

A mãe Maria à abençoou
Te dando por filha uma Maria
E eu venho te parabenizar
No seu dia com uma (reles) poesia

Obrigada por tudo Gabi
Esteja certa que nunca te esqueci
E se um dia a gente se encontrar
À nossa amizade (na Lapa) vamos brindar

(Nane-08/11/2017)

VERSOS E REVERSOS

No reverso de meus versos
Faço de concreto meu viver
Subjetivo nas entrelinhas
Tão direto na praticidade

Arrotando meu alter ego
Escondida em minhas brumas
Confusa entre dois mundos
Real e surreal

Brumas de uma psique
Ou da fumaça de uns cigarros
Entre versos e reversos
Do real e o surreal

Onde buscar o equilíbrio
Do escrever e do viver
Se o copo de cerveja esvaziou
E a venda já fechou

O banho me espera
O travesseiro me diz: confessa
Meus versos mostram o reverso
Me perco em meu próprio universo

Poeta maldito
Faço parte dessa corja
Que entre as brumas, acredito
Se esconde e forja

O reverso de meus versos
Fingindo reciclar
Meu tempo perdido
Do que foi e do que virá

(Nane - 07/11/2017)

É MADRUGADA

Escuto nesse silêncio absurdo
Os sons típicos da madrugada
Cachorro que late
Gato que goza
Buzina ao longe
Moto que ronca
Apito de um vigia
Pago pelo condomínio
Murmúrios de notívagos
Que andam sem rumo
Embriagados e extasiados
Na noite dúbia

A cerveja acabada
O cão arredio
O menino adormecido
O Bial gritando
Falando mais que os convidados
A lua estonteante
Iluminando a madrugada
De sons típicos
Me fazendo insone
Vendo raiar o dia
Sem conseguir dormir
Abraçada ao menino

Entrelaço meus dedos
Pondo-me a pensar
No que será o amanhã
Procuro ao lado
O maço que vi vazio
Vou em busca de um novo
Guardado numa gaveta
Paro por um instante
Me aguardem, já volto
A nicotina me inspira
Ou pelo menos me acalma
Finalizo meu escrito...

(Nane-04/11-2017)

ESCREVENDO

Escrever é se desnudar
Expor as vísceras
Virar do avesso
Se desequilibrar

Deixar à mostra
Tuas fraquezas
Dizer sem voz
O que não está escrito

Inventar um mundo
Onde o deus está no tato
Dos dedos inquietos
Dirigidos por pensamentos

Escrever é se contorcer
Nas dores advindas
Do que será escrito
Do que será vivido

Reza a lenda que o escriba
Vive a vida que inventa
Finge tanto que de tando
Acredita no que escreve

Por conta disso se esvai
Em metáforas desgrenhadas
Sem perceber que se desgasta
Em frases descompassadas

Escrever é isso
Ser sem nunca ter
Amar sem perecer (o amor)
Viver sem nunca morrer
(Ou morrer sem nunca viver)

(Nane-02/11/2017)

SENTIMENTOS EFÊMEROS

De que importância falo eu
Quando penso num passado
Em que tínhamos tanto à ver
E pouco importava a falta do tempo

Cai a ficha sombria
De que nada se faz sempre
E que o hoje como o ontem
Não fazem parte do amanhã

Efêmeros sentimentos
Talvez estejam certos
Nada dura para sempre
O agora é o presente

Pensei em teus carinhos
E nos meus também
Hoje já perdidos
Ou no mínimo esquecidos

Nas promessas de uma eternidade
Onde nada nos deteria
De vivermos nossa amizade
Diluída nessa imensidade

A noite hoje está cinzenta
O mar bravio e de ressaca
Impossível ver a lua
Restou o silêncio da rua

Escuta com atenção
São meus passos
Seguindo firmes numa direção
Sem você segurando a minha mão

Efêmeros sentimentos
Do nosso agora...presente

(Nane-02/11/2017)

EI MÃE

Ei mãe
Hoje fiz tudo como você mandava
Botei feijão no fogo
Fiz um arroz fresquinho

Troquei a sua cama
Lavei roupa enquanto não chovia
Não sei se o sol virá amanhã
Era assim que você me dizia

Doutor Fred está dormindo
E eu aqui escrevendo
A bicharada toda já tratada
Tudo pronto para mais uma noitada

Ei mãe
Fiz tudo direitinho
Dentro daquilo que eu podia
Mas que para você, eu nunca sabia

Sorri dos meus defeitos
Que você sempre camuflou
Quando dizia que "não nasci" para isso
Dona de casa não era o meu destino

O silêncio me incomoda
Como incomodava os teus gritos
Nas madrugadas em que interrompias
O pensar dos meus rabiscos

Ei mãe
Precisou eu te perder
Para enfim eu entender
O valor de não te ter

Fiz tudo como devia ser
Não deixei nada à fazer
Acho que você até aprovaria
E de mim se orgulharia

Mas não se iluda, minha mãe
Sou mesmo o que eu sempre fui
Foi só a vontade de te fazer se orgulhar
Que me fez movimentar

Ei mãe
Sou eu e sempre serei assim
Em vida te avisei
Não espere nada de mim

(Nane- ) 02/11/2017)

SÓ HOJE

Hoje, queria ir embora

Para além dos meus grilhões

Deixar fluir minhas vontades

Me perder em meus vazios

Viver meus sonhos delirantes

Em sons que me fazem viajar

Sem os medos claustros e reais

Torturantes e fantasmagóricos

Queria trilhar sublime

Sobre a linha paralela

Desbravando horizontes

Sonhados, idealizados

Feito a fumaça insinuante

Do cigarro consumido

Dissipada num instante

Sem cobrança de chegada

Hoje, a lua embaçada

Me diz que o tempo ofuscado

Silencia os rumores

Desencanta os amores

Manda que eu me resguarde

De todos os meus desejos

Para que no amanhã

Possam fluir sem retenção

Hoje, um vazio sem proporção

Me invade e me domina

Me deixa sem ação

Me falta inspiração

O que ser ou o que fazer

Melhor seria poder beber

Cada verso que me surge

Cada rima que não vem

Hoje, me findo no cansaço

Da retina já estragada

Por esse tempo desgraçado

Que não me deixa "rabiscar"

(Nane-01/11/2017)