sábado, 29 de março de 2014

Por um abraço mortal

Tem uma dor tão profunda dentro de mim
Que já não dói mais...
Estancou
Entorpeceu
Anestesiou
Doeu demais
Tornou-se insensível

Nada mais tenho a perder
Dor nenhuma me causa medo
Se alegria nenhuma me espera
Tristeza nenhuma me mata
A vida nua e crua me abraça
O tempo é soberano
Os dias se arrastam

Lá fora sopra um vento
Frio no calor
Um cansaço extra corpo me domina
Lágrimas secas ainda teimam em me salgar a face
A morte se faz de difícil
Exige que eu a conquiste
Implore e me ajoelhe...

(Nane- 29/03/2014)


segunda-feira, 24 de março de 2014

Algodão doce

Nos teus olhos não há tristezas
Talvez a sabedoria dos anos
Que transformou em algodão
A brancura dos teus cabelos

Lamentas sim
Mas as dores que o  raquítico corpo sente
Sem trégua nenhuma
Como a expurgar alguma culpa

Mas nos gestos continuas
A guerreira de tantos ventos
A mãe de tantos rebentos
Gentil, doce e invencível

O tempo não te dobrou
O espelho te assusta
Teus pensamentos vagueiam
Tuas lembranças continuam

Venha o que vier
Haja o que houver
De mim nada há de te tirar
Posto que sou um pedaço de ti

(Nane - 24/03/2014)

terça-feira, 18 de março de 2014

Seguindo em frente

Tive pena de mim
Chorei lágrimas de sangue
Senti todas as dores na pele
Amei sem nunca ser amada

Mas a droga do  mundo
Pouco se importou
Seguiu e segue em frente
Sem sequer notar que existo

Fui prisioneira dos meus desacertos
Me fiz de vítima o tempo inteiro
Dramatizei todos os meus sentidos
Mas o mundo não se apiedou de mim

Busquei o amor onde havia carinho
Fiz da dor minha bandeira
Me adaptei ao papel de coitadinha
Mas o mundo não ligou

A vida segue em frente
Estacionei numa estrada qualquer
Racionei minha própria existência
E nem por isso o tempo parou

O sol me convida para a luz
A lua vai brilhar à noite
Ainda me sinto parada na estrada
De novo, só uma pequena vontade de andar

O mundo vai sempre seguir em frente
Sem se importar com quem parou
É preciso caminhar
É preciso sorrir

(Nane - 18/03/2014)



sexta-feira, 14 de março de 2014

Além da morte

Joga meu calhamaço de versos
Dedicados uma vida inteira
Ao desamor do meu amor
Com suas próprias mãos
Na cova que me coube por morada

Se nunca te disseram nada
Jogue-os para que se calem
E me sirvam de coberta
Contra os vermes que me rondam
Ansiosos pela putrificação de mim

Morrer, não morrerei
Só meu corpo decomposto perecerá
E minha vingança será viver
Ainda que por ínfimas lembranças
No teu próprio viver

Forre com eles o ataúde
Que lacrará para sempre a imagem
De quem te deu o maior de todos os amores
E que mesmo morto o corpo
Levou consigo esse amor para a eternidade

(Nane - 14/03/2014)

Só uma poesia

Leia meus versos quem quiser
Assine a autoria quem sentir
Que a minha é uma poesia
Não faça troças dos meus versos
Posto que eles são pedaços de mim
Arrancados em cada palavra proferida
Sangrados em cada víscera usada
Para as rimas parcas, mas sentidas

Aos semideuses literários
Que levantam e torcem seus narizes
Para os versos que eu escrevo
Nada tenho a dizer e tão pouco a pedir

Plantei várias árvores e tive um filho
Um livro, não escrevi
Mas ele está escrito e contando a minha vida
Por isso ainda não morri

Passam por mim todos os dias
Vis criaturas soberbas
Se julgando azes da literatura
Deixando os poetas mortos no chinelo
Donos de covis da matilha
Onde só entram medalhões
Escolhidos dedo a dedo
Pelo soberbo líder literato

Fodam-se as academias
Os saraus da confraria
Os editores e editoras
O vil metal que abre as portas
Os achadores da pobreza alheia
Nos rabiscos que não são deles

Fodam-se as métricas
As vírgulas
Os pontos
O maiúsculo e o minúsculo
A simetria e a harmonia

Fodam-se os semideuses
Que insistem em não ver
Nos versos que eu escrevo
Poesia 
Mesmo porque
Meus versos não são para vocês

(Nane - 14/03/2014)


Solução

Mora em mim uma fera contida
Que grita seu desespero
Nos confins de mim
Enquanto sorri a minha face

Mora em mim a fera ferida
Despedaçada e desgraçada
Praguejando desencantos
Enquanto a fachada a encarcera

Mora em mim a fera que condiz
Com coisas que eu nunca fiz
E palavras que não se diz
E portanto mantida entorpecida

Mora em mim a fera ressentida
Pronta para explodir
Mandando às favas a docilidade
Que retrata a sociedade

Mora em mim a fera perdida
Sem saber que caminho seguir
Matar ou morrer, eis a questão
Na morte da uma...a solução

(Nane - 14/03/2014)











Marah Mendes

M aga da poesia
A miga dos poetas
R ima generosa do amor e da
A rte 
H abitat natural de Marah Mendes

M ulher, menina artista
E clética e dedicada
N a missão predestinada
D ivulgando e semeando
E m todos os cantos a
S ua e a nossa poesia
---------x----------



Queria te dizer tantas coisas
Mas de verdade, me faltam palavras
Agradecer seria pouco
Vontade mesmo é  de te abraçar
Nesse dia que de tão importante
Quis o destino por desígnio
Que você nascesse em pleno dia
Consagrado à poesia
Melhor dia não poderia...

*De coração e alma
Meus parabéns Fada da poesia!!!

(Nane - 14/03/2014)


quinta-feira, 13 de março de 2014

Prenúncio

Venta em mim uma brisa
E me assusta essa calmaria
Vou vivendo em sobressaltos
Esperando a tempestade

Uma inquietude sem paz
Um silêncio gritante
Ecoando em meus ouvidos
Um odor incomodando meu olfato

A brisa teima em soprar
Meu corpo teima em pesar
Asas me fariam voar
Mas foram podadas por Deus

Não estão em minhas costas
Cresceram em minha mente
Mas foram podadas por Deus
Asas me fariam voar

A sensação angustiante
Sufocando meus pulmões
Esfumaçados e negros
Continuo esperando a tempestade

Ela se aproxima
Posso antever
Essa brisa mentirosa
Prenuncia a tempestade

(Nane - 13/03/2014)


terça-feira, 11 de março de 2014

Gosto inexplicável

Ele me instiga
me faz pensar
brigar, discordar

Filósofo esquisito
propagador de bundas
bruxo

Deus e o diabo na tela
não curte MPB
não sei o que vi em você

Fã assumida
do oculto no moço de preto
que ousa desdizer a sagrada escritura

Ritos e magias
Sérgio Pacca para mim
É pura poesia

(Nane - 11/03/2014)

Seu brinquedo

Por quem me tomas, vil criatura
ao beijar-me a face já esquálida
derramando seu mel alucinógeno
tirando-me da mesmice tão minha

Por quem me tomas, vil criatura
ao partir sem um aviso
me afogando no seu fel
me atirando sem piedade nessa lama

Por quem me tomas, vil criatura
divertindo-se com seus arroubos
me fazendo seu brinquedo
me jogando num canto esquecida

Por quem me tomas, vil criatura
sabendo dos teus poderes
sabendo das minhas fraquezas
sorrindo dos meus intentos

Por quem me tomas, vil criatura
mexendo com o maior dos meus medos
num simples estalar dos dedos
me deixando na rua da amargura

Por quem me tomas, vil criatura...

(Nane - 11/03/2014)


Uma "Linda" noite

A noite se vestiu com seu manto negro
Salpicado de estrelas
Hoje especialmente, uma delas se destaca
Entre outras milhões

Linda!
Estrela maior na sua constelação
Veio "piscar" com seu jeito matreiro
De baiana iluminando o mar de Salvador

Sorri o seu sorriso iluminado
Deixando à entender que continua a olhar
Por aquela que tanto cuidou - e amou
Lá do seu posto de destaque

Hoje Linda está sorrateiramente linda
Com seus penduricalhos e brilho
Enfeitiçando a noite baiana
Com sua alegria inebriante

Deixa Linda brilhar
Deixa Linda dançar
Deixa Linda cantar
Deixa Linda te ninar (sem chorar)

(Nane - 11/03/2014)
*Pra vc Linda. em que parte do céu estiver...



segunda-feira, 10 de março de 2014

(Im) Possível

Sonho
nada menos que o impossível
o possível não me interessa
sonhar...

Com ele (possível) vivo e faço
com prazer ou com pirraça
com desejo e sem loucura
fazendo por viver

Com ele (impossível) sonho e tento
transbordando adrenalina
suspirando e soluçando
acertando e me arrebentando

Um penhasco assustador
me jogo sem amarras
quebro a cara, mas vou
sem nunca desistir

Nas horas de covardia
meço cada centímetro
recuo, e em segurança
sento no meu sofá

Dois lados, duas moedas
sou eu em dois instantes
de completa dualidade
sem meias verdades

(Nane - 10/03/2014)





sábado, 8 de março de 2014

Só uma prece

Senhor
Dai-me a sabedoria
De jamais usar as pessoas
Que digo amar
Para afirmar minhas fraquezas
Em chantagens pessoais

E se de tudo, pai
Eu fraquejar
Faça da minha imbecilidade
O espelho da dignidade
Para que os meus
Não repitam meus erros

Arranca-me a língua
Ou esmague-me os dedos
Antes que eu possa magoar
Por mera autoafirmação
Os que me são de fato caros
É o que peço e imploro
Senhor de todas as verdades

(Nane - 08/03/2014)

DISPARIDADES



A poesia liberta meu espírito
que preso ao corpo
vive entorpecido, acorrentado

Voa nas asas das palavras
e sorri do estático pesado
que julga ser seu dono

Olha com certo desprezo
o corpo que lhe serve de morada
ou será...prisão

Livre das amarras
poetiza na vã liberdade
que sabe ser efêmera

Então rompe todos os limites
e sobrevoa além dos horizontes
impostos e demarcados

Seu passaporte poético
liberta a imaginação
permitindo o impossível

Vivem em harmonia
corpo e espírito
díspares e - por enquanto - unidos

(Nane - 08/03/2014)


Happy hour

Ela olhou por olhar
pelas frestas dos edifícios
da avenida central
e viu, quase sem querer
aquele menino sujo e remelento
escondido por detrás dos latões de lixo
do restaurante de luxo.
Garimpava seu "ouro" comestível
e se assustou quando cruzou olhares com ela.
Mulher bonita e fina, cheirosa e misteriosa.
O que faria com ele, era só o que passava
na cabeça imunda e cheia de piolhos.
Pensou em correr, mas estava encurralado
nos fundos dos edifícios, e sua única saída
passava por ela...a mulher. Que falta de sorte
justo quando encontrou comida para tirar
a barriga da miséria, ela apareceu assim do nada.
Foram segundos que duraram uma eternidade
antes que pudesse ter uma ideia do que fazer:
correr, empurrá-la, gritar, chorar, implorar...
fechou os olhos, tornou a abri-los e ela continuava
ali, olhando nos seus olhos.

Droga, tinha tantas outras ruas por onde passar
que sairiam no mesmo lugar, porque fui entrar
justo aqui. Era só no que ela conseguia pensar.
E se ele resolve tirar uma faca da sacola suja e me
furar toda? Provavelmente está sob o efeito do crack
ou da cola, sei lá. Ela só conseguia olhar fixamente
para aqueles olhos frios na tentativa de adivinhar
os próximos atos. Pensava em como sair da situação
que idiotamente havia se colocado ao ceder a curiosidade
de olhar por aquelas frestas malditas.
Por certo ele iria querer seu dinheiro, suas joias, seus
celulares...o tablet com tantas informações profissionais.
Poderia recuar de mansinho, mas os olhos dele meio que
diziam a ela para não o fazer, pois iria atrás e certamente a
alcançaria.

Um relâmpago riscou o céu da cidade num estrondo ensurdecedor
e uma torrente de águas desabou numa só pancada.
Gente correndo pra todo lado, fugindo da chuva. Um menino assustado,
uma mulher aflita, mas aliviada...outro dia terminado na cidade grande.

(Nane - 08/03/2014)

Mulher (es)

Mãe e filha se confundem
e se fundem
misturam essências de um mesmo âmago
restaurando o ser primata da linhagem
de tantas e tantas gerações.

A mãe, a filha, a avó
quem são ou quem será
impossível separar.
Só o tempo é capaz de diferenciar
a mãe, a filha, a avó.

Mulheres tão iguais
transvestidas por modelitos
de épocas tão diversas
em constantes metamorfoses
de um só resultado
de um só molde.

Mulheres de analogias
que faz de suas vidas poesias
no ato de se dar e amar sem limites
até o infinito do seu finito
e por isso são chamadas simplesmente de...
MULHER(ES)

(Nane - 08/03/2014)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Brincando de poeta

Poetas brincam com as palavras
Jogam "amarelinha" soletrando
Põem em xeque-mate situações
Em frases metodicamente rimadas

Poetas são crianças
Que escrevem sem pensar
Quando deixam fluir a emoção
Ditada pelo coração

Poetas quando apaixonados
Escancara seus sentimentos
Jorrando poesias
Pelos olhos marejados

Poetas não gostam de amores correspondidos
Precisam de amores proibidos
Para dar vazão ao sentimentalismo
Que é a essência da sua criação

Poetas são ridículos
E por isso são poetas
Desavergonhadamente sofrem
Apenas para escrever

(Nane - 07/03/2014)


Replantio

E no quintal de casa um universo inteiro
espalhado pelo chão...hoje molhado.

Onde havia flores e verduras (legumes)
há rachaduras expostas feito feridas
provocadas pelo sol e pela seca.

Agora as chuvas se aproximam, lentamente
e eu me preparo para o replantio.

Ver de novo o renascer das sementes
plantadas e cuidadas no dia a dia.

Paralela ao renascer da minha horta,
segue a vida revivendo a todo instante
independente das feridas impostas...na alma

Em dias de sol e chuva,
calmaria e tempestade.

Fundem-se os universos num só
enquanto a vida segue seus preceitos
transformando ações e reações
numa única forma e fórmula de viver.

Feridas da terra curadas pela chuva
se fecham e cicatrizam.

Feridas impostas na alma
Cicatrizam e adormecem

É chegado o tempo afinal, de replantar
a terra e a alma cicatrizados.
E aguardar os frutos que por certo virão
Na colheita abençoada...

(Nane - 07/03/2014)







Migalhas

Migalhas de ti
Foi o que restou pra mim
Conta-gotas de um amor
Que teimas em alimentar

Homeopatia ao inverso
Que não faz curar
O sentimento e nem meus versos
Melhor seria matar

Doença incurável
Estraçalhando o coração
Persistente e imutável
Em seu vício de ilusão

Sorri e se sente curado
Quando as migalhas são jogadas
De caso pensado
Prenúncio de lágrimas

Quando for desenganado
Morrerá infartado
Mas baterá até o último instante
Por seu único ser amado

(Nane - 07/03/2014)




quinta-feira, 6 de março de 2014

Espumantes

Toda a tristeza que tenho em mim
Transformo em poesias
E jogo no vento
Na brisa do mar
Sabendo que vão se dissipar
Ao sabor da maré

São palavras que voam
E pousam na areia
Levadas pelas águas
Que beijam cada letra
Por mim articulada
Em meus devaneios

E é assim que sem apagar
É feita a minha poesia
Na beira mar
Onde eu posso escutar
A voz que me chama
De amor, eterno amor

Quando vem a ressaca
Do mar e a minha
Brindamos com espumas
Em plena madrugada
Compondo canções
Que só nós ouvimos
O mar...e eu

(Nane - 06/03/2014)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Espelho da alma

Quando a morte ronda o amor
Ameaçando matar ou morrer
O amor por certo deixou de existir
Ficando a doença em seu lugar

O cheiro do sangue exalando
Donde antes existia fragrâncias
De corpos suados e apaixonados
Nauseando as narinas escorridas

A força que te fazia homem
Exaurida nas lágrimas quentes
Apiedadas desavergonhadamente
Por quem te tem apreço

Olha nos olhos do teu filho
Espelho da própria alma dele
Será que seguirá o destino
Que friamente pensas em escolher

Olha nos olhos de tua mãe
Cansados e tão vibrantes
Apesar das tantas dores
Sorriem na sua fé

Quando a morte ameaça a vida
O amor deixou de existir
E a alma precisa respirar
Para que o amor consiga renascer

Quando o amor rima com a dor
A poesia rima com melancolia
A vida morre em vida
E o homem destrói sua família

(Nane - 05/03/2014)






Minha mãe

Quantos sins
E quantos nãos
Quantos sorrisos
E quantas lágrimas
Tantas portas que se abriram
E tantas outras que se fecharam...

Ah, quantas estórias nesse enredo
Desfilaram em alas do tempo
Contaram as alegrias e as tristezas
Sem harmonia ou conjunto
Da guerreira menina
Transformada em matriarca

As marcas em tua face
De cada dia bem vivido
Das oitenta e nove primaveras
Em pleno verão
Sem jamais maldizer
As mazelas (que não são poucas) do teu viver

Menina, mulher e mãe
Parabéns para você
Que venha os noventa
Com a mesma dignidade
Que apesar as tuas impossibilidades
Carregas com a altivez de campeã

(Nane -03/03/2014)