sexta-feira, 31 de maio de 2013

Pousada


E virá um tempo
Em que te olharei nos olhos
E só flores verei
Então terá passado a dor
E serei tão somente amor

E não mais haverá tristeza
E poderemos caminhar
De mãos dadas
Rumo a eternidade
De um amor sem fim

E virá um tempo
Em que serei teu ombro amigo
E os braços que te abraçam
Cada vez que teu porvir
Gritar por mim

E não mais serei grilhões
Da liberdade explícita
Que exala do teu ser
De ser sem pertencer

E virá um tempo
Em que aprenderei a te amar
Como ama a flor ao beija-flor
Sabendo que no final do seu voo
Será nela que irá pousar

E esse tempo
Ainda que tardio
Chegará...

(Nane-31/05/2013)

Poesia calada

Virás me abraçar
Inevitavelmente, virás

Talvez seja na noite
Ou mesmo no dia
Mas ainda que sem aviso
Chegarás 
E me tomarás em teus braços
Num aconchego fatal
Sem lástimas ou soluços
Deixando fluir apenas
Uma lágrima sorriso
Do partir silencioso

Virás resoluta
Sabendo me encontrar
E para onde levar
Toda a poesia calada
Que de mim não saiu
As palavras guardadas

As tantas que fiz
Ressoarão no ar
E se perpetuarão
Nos olhos que as lerem
Quando mais não me virem
No abraço que virá

Serei então eu
A poesia calada
Por vezes declamada
Certa da hora chegada
De noite ou de dia

(Nane-31/05/2013)

Mergulho

Mergulho
No mais profundo dos mares
Sondando o insondável escuro
Cintilado em repentes
De platelmintos multiformes

O ar é escasso
Não divido com mais ninguém
É o suficiente
Para o mergulho solitário
Nas profundezas

Pouca coisa vejo
Muita coisa sinto
Pressão, tontura, força
Salgada a água
Quente e fria
Vazia, sem mais ninguém
Mergulho, sozinha
Mais e mais profundo


Tudo tão óbvio e constante
Mas esse escuro sem som
O medo não se faz presente
Partiu de mãos dadas com a criança
Nada significa tudo
No escuro desse mar revolto
Que mergulho em busca de resolução
Sem muito ar, sem luz nenhuma

Perguntas demais
Respostas de menos
Me deixo levar
Ao sabor do mar (escuro)
À deriva 
Sem pressa
Sem medo de naufragar
Nas profundezas de mim

(Nane-31/05/2013)



Plantada

Que tanto tempo é esse
Que os dias tão lentamente passam
E o tédio parece morar em mim

E falta a paciência
E sobra a ansiedade
Por não ver passar o tempo
E germinar somente

Tal qual semente plantada
Espero o desabrochar 
Entre as ervas daninhas
Que talvez seja (uma) eu mesma

Vem a chuva
Vem o sol
O frio
O calor
Passam dias
Meses
Anos
E eu ali
Esperando
O tempo
Incólume

Onde estão os frutos
Os amores
Os amigos
As danças
As ruas
A vida

O espelho na parede
O reflexo impávido
Um assombro sem reflexão
Uma certeza
O fato
Percepção tardia

Esse tempo que não passa
Voa 
E não volta mais

(Nane-31/05/2013)


sábado, 25 de maio de 2013

The end

Sofro
Não por ti
Mas por mim
Que insisto em querer
O que nunca hei de ter

Sinto
Não por mim
Mas por ti
Que vai sofrer
Sem nada eu poder fazer

Choro
Por nós
Que não vivemos
O que tivemos
E deixamos ir
Por covardia

Lamento
O seu silêncio
Contido
Nem tão sentido
Talvez divertido
De quem brincou
De amar
Sem nunca se dar

Findo
O que me mata
Antes que morra
E nada mais
Eu tenha a rabiscar

(Nane-25/05/2013)

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Além do mar

De que verdade falamos
Se minto eu
Mente você
Sem saber o que é real
Ou fantasia...
Sabemos só
Que é amor
Diferente
Mas amor
Do jeito que for...
E onde foi que erramos
Não sei dizer
Amei você
E você me amou
De um jeito só nosso
Mas acabou...
Ninguém mata as lembranças
São perpétuas
Vivem em nós
E isso
De certa forma
Basta
No coração...
Vou guardar a essência
Ainda que o concreto
Se desfaça no tempo
De chuva e sol
Eu vou te amar...
Agora é hora
De buscar no horizonte
Outra linha para olhar
Bem além do mar
E quem sabe
Encontrar...

(Nane-24/05/2013)


POETA NA CHUVA



A orla chuvosa...fria
E ele ali
Sentado
Calado
Solitário
De pernas cruzadas...

Sentei ao seu lado
Me olhou de soslaio
Sem virar seu rosto
Sorriu um sorriso maroto
Nada disse
Contemplou apenas...

Juro ter ouvido
Um lamento
Talvez do mar
De ressaca
Ou será meu
Esse estado etílico...

Resmungou um palavrão
Ninguém o perguntou
Se queria sentar ali
De costas para o mar...

A brisa sopra forte
Sinto frio
Ele não...

Seus óculos molhados
Embaçados
Sem nada para olhar
Além dos prédios...

Falou comigo
Eu juro
Escutei
"O amor é grande
E nem uma janela eu tenho
Para caber o mar
Que me condenaram
O não olhar"...

Sorri chorando
Me levantei
Disse adeus
E fui...

(Nane-24/11/2013)







Rio vermelho

Bomba mortal
Bate no peito
Sem ritmo certo
Com sujas artérias
De falsas promessas

Deslizando o sangue
Em gorduras incrustadas
Fechando o canal
Da vida que se esvai
Nas curvas do rio
Vermelho 

Respira o ar letal
No vai e vem 
Que faz inflar
Enquanto forças tem
No afã do respirar

O copo cheio
A fumaça subindo
O drink perfeito
As palavras fluindo
O poeta se entregando

E se estragando

E se tragando

E se esvaindo

Nas curvas do rio
Vermelho

Indo...

(Nane-24/05/2013)

Coração bandido

Coração imaturo
Não sofra por outro
Mais imaturo ainda
Que não sabe amar
E pensa amar demais

No fundo coração
O outro que te faz sofrer
Sofre bem mais do que você

É coração bandido
Volúvel e efêmero
Que ama, ama, ama
Mas se sente sempre na lama
Solitário e em chamas

Eu sei coração
Você tem muito que aprender
Mas não sofra tanto assim
Espera com fé
A sua dor há de passar
Você há sorrir
Da sua própria dor
Nos braços de um outro amor

Espera com fé
Hoje vai chover
Machucar é normal
Deixa a chuva lavar suas feridas
De noite as estrelas virão
Trazer luz e amenizar
A sua dor...coração

(Nane-24/05/2013)




quinta-feira, 23 de maio de 2013

COM A BÊNÇÃO DOS POETAS


Peço permissão
Para escrever em meus versos
Um pouco de todos
Que por mim passaram (e ficaram)

Sem pretensão
De ser quem são
Quero só rabiscar
As marcas que deixaram

O enigma nas entrelinhas
Das tantas faces
De Fernando e Pessoas
Álvaro,Alberto,  Ricardo, Bernardo

O modernismo de Drummond
Que rompeu com as métricas
Simplesmente por querer
Liberdade de expressão
No falar (tão bem) do coração

A doçura da Cecília
Que já no colo da avó
Entre santos e crianças
Virava poesia

A decisão da Lispector
Que foi à luta sem fugir
E amou sem medir
Seu feitiço de bruxa

O lirismo do Manoel
Que levantou Bandeira
E foi para Pasárgada
Tratar seus pulmões com o rei

A genialidade de Leminski
Que teve bossa nova
Nos haikais objetivos
E divinos

Na boêmia de Vinícios
Pelas madrugadas do Rio
Em meio à mulherada
Com Tom, Toquinho e Chico

Mas não tenho como negar
Uma certa preferência
Pelo Augusto que de tão Anjo
Virou alma penada

Se de todos eu falasse
Meu poema não findaria
E isso aqui então
Não viraria poesia

A todos, meus respeitos
E de quebra, peço perdão
Por ter tido a intenção
De um pouquinho só 
Dessa vasta erudição

(Nane-23/05/2013)








Peça sem ribalta

A lua me olhou séria
Sem seu brilho costumeiro
Embaçado pelas nuvens
Dando à noite a aparência
De peça sem ribalta

Fachos de  seus raios
Destacavam as brumas
Envoltas no frio
Do orvalho caindo
Sem ser percebido

Cenário de sombras
Sem estrela nenhuma
Só ela ( a lua)
Me olhando séria
Escondida por sob as nuvens
Densas, misteriosas

Não era lua nova
Não era lua cheia

Não era lua crescente
Era minguada...a lua

(Nane-23/05/2013)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Corpo fechado

Hoje senti medo
Medo de mim
Rasguei minhas entranhas
Expeli meus anseios
Entristeci
Mas te tirei de mim

Natural a mágoa
Que o esforço provocou
Ainda sangra as entranhas
Feridas e doloridas
Mas logo as cicatrizes
Se formarão

E mais que a dor
Maltrata a tristeza
De saber que você
Não mora mais em mim

Lágrimas jorraram
Mas se acabaram
Secaram
Restou a frieza
E a dureza

Fechei meu corpo
Tranquei minha alma
Sorri meu sorriso
Engoli a saudade
E te pari de mim...

(Nane-22/05/2013)


Coisas novas

E nada deu certo
Perdi o emprego
Um amor, não tenho
Se tinha, foi embora

E nada me prende
Sou vento solto
Em nada me prendo
Vou embora

São tantos os caminhos
A serem percorridos
Que o tempo se faz pouco
Para a longa caminhada

E vou de fato
Ganhar o mundo
Sem para trás olhar
Devagar...

O tempo de mudanças
É chegado
O bafio da clausura
Foi trocado
Sopra a brisa fresca
De novos ares

Vou no vento...

(Nane-22/05/2013)





Tragando

Trago em silêncio
Fazendo estrago
No respirar
O mal que trago

Entre os dedos
Levado à boca
Sôfrega
Do desejo de um trago
Que queima em brasas
Virando cinzas
Transformando em piche
A bomba de ar
Que já rateia

Mas faz tanta falta
O trago do estrago
Esfumaçado ou líquido

Trago o trago
Nas mãos e na boca
Enquanto busco
Inspiração
Para mais uma poesia
Que tal qual o esbaforido do trago
É mera ilusão

(Nane-22/05/2013)





Fique em mim

Poesia, me abrace
Não me deixe só
Sopre em meus ouvidos
Suas rimas, seus sentidos
Finca em mim suas raízes
Para que não sucumba
Meus versos vazios
Sem inspiração

Poesia, me faça
Não perder o dom
De tudo escrever

Ah poesia...
Seja sempre companhia
De quem por opção
Ficou sozinha

Faz de mim seu instrumento
Ocupa-me a cabeça
Dedilha no teclado
Palavras encantadas
Rimas formadas

Poesia, não se vá
Pois que assim, me matarás
Poeta sem poesia
De vida... não precisa

(Nane-22/05/2013)



Maestria

A orquestra tocou
Sinfonia do adeus
Em atos de árias
Pausadas
Aplausos do público
Tocado de emoção
Ovacionando de pé
O grande maestro
Que se curva
Agradece
Enquanto no íntimo
Chora

(Nane-22/05/2013)

terça-feira, 21 de maio de 2013

Vertigem

E quando mais precisei
Te fostes de mim

Ensinou a rezar
E até a cantar
Mas te fostes de mim

Ruiu o chão
Abriu o buraco
Um ar pesado
E quente na face
Enquanto caindo

Não chega o final
Do poço sem fundo
Vertigem na alma
Caindo, caindo...

(Nane-21/05/2013






Aos incautos

Meus sonhos se perderam
Na teimosia da vida
Em endurecer objetivos
No fio da navalha
Cortando-me a carne

Sou força agora
Rompendo obstáculos
Também teimando
Em viver arrastando
A vida teimosa
E dura...

Não sonho
Faço
O que pode ser feito
E deixo aos incautos
A ilusão de sonhar
Com os olhos abertos

Restaram
Os sonhos sonhados
Ao adormecer
Confusos e incertos

Mais não permito
É preciso viver

(Nane-21/05/2013)


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Olhares furtivos

Nada mais se fala
O silêncio impera
Embora haja tanto
O que dizer

Seu olhar furtivo
Cruza com o meu
Furtivo também
Buscando pensamentos
Possíveis

Emudecemos na rotina
Invisíveis na presença
Sem saber porque

Os olhos esbranquiçados
Tem tão pouco do verde
Que brilhava intenso
Confundindo com o campo
Onde um dia plantou
As flores já murchas
E mortas na maioria

Sua força é tanta
Que limita a fraqueza
De velha senhora
Teimosa e determinada
De carregar com galhardia
O peso da cruz
Pesada e farpada
Fazendo sangrar
Os ombros arqueados
E cansados

Perdão não peço
Não há necessidade
Mãe não perdoa
Apenas ama
No seu silêncio...triste

(Nane-20/05/2013)




sábado, 18 de maio de 2013

Só saudades

Saudades de mim
De quando sorria
Sem motivo algum
Pelo simples gostar
De gargalhar


Saudades de zombar
Do tropeço dos meus pés
No entortar do salto
Nas pedras portuguesas

E de correr na praia
Quando um pipa perdida
Voava sem rumo
Perseguida por meninos

Saudade das broncas
Da mãe no fim do dia
Quando largava tudo
Só para escrever poesia

Saudade do meu rosto
Sem nenhuma ruga
De preocupação ou depressão
Sem qualquer piração

Saudades da menina
Que dentro de mim adormeceu
E que agora no grito
Tento acordar...


(Nane-17/05/2013)

Amor sem fim

Não é desamor
Mas amor por mim
Não quero amar
Além desse amor
Que divido com todos
Sem exclusividade
Para ou de ninguém

Quero o amor que acaricia
De família e de amigos
De homens e mulheres
De velhos e crianças
Bichos e flores
Céu e mares
Lua e estrelas
Amor assim
Sem fim

Do outro amor
Não faço questão
Sexo se faz
Na pedida e na pegada
Do corpo voraz

Não é desamor
Só não tenho a intenção
De prender no coração
Um outro 

(Nane-17/05/2013)




Casa em desalinho

Minha casa
Desarrumada
Sem móveis
Espaços vazios
Com ecos
Entre as paredes
Não parece um lar
Mas sem pressa
Vou arrumando
Uma mesa aqui
Outra cadeira ali
Fogão e geladeira
Vai pegando jeito
Preenchendo espaços
Exorcizando fantasmas
Perdendo a dureza
De paredes frias
Ganhando stato
De moradia
Da alma inquieta
Mas sempre disposta
A fazer poesia
De que jeito for

(Nane-17/05/2013)







Morada de mim

Amiga
Morada de mim
Te dou meu abrigo
Perpetuando assim
Esse amor maior

Sou a onda que te abraça
Quando, já cansada das braçadas
Se entrega em meus braços
Que te afagam e te conduzem
Por águas calmas
De volta à praia

Enquanto tu és
O ouvido que me ouve
Quando em prantos
Derramo dissabores
Te falo de minhas dores
E me afagas com palavras
Que me fazem forte

Somos nós o horizonte
Para onde nosso olhar
Procura se fixar
Quando bate a necessidade
Das nossas verdades
Só faladas e ouvidas
Por nós

Amiga
Sou a tua irmã
Filha, mãe e companheira
Para sempre com a certeza
De que és minha também
Amiga...

(Nane-17/05/2013)

Conluio de poetas

Às duas da manhã
De uma noite fria
Dois poetas de conluio
Via celular
Um lá e outro cá
Procuram inspiração
Nos campos, nas partidas
Falam e falam
Sem perceberem
Que o tempo voa
E o relógio anda

Meu velho camarada
Me conta da sua amada
Eu falo dos meus medos
Meus desesperos
E rimos de nós mesmos
Enquanto degustamos
Um vinho e uma cerveja
Altas horas da madrugada

Ele é bem mais forte
E ainda fez poesia
Eu, já meio caída
Me despeço da falatória
E caio, vencida
Na cama macia
Já total adormecida

(Nane-17/05/2013)

Ode do adeus

Te faço uma ode
Sem lira
Sem mentira

No dia de hoje

Te peço perdão
Com toda sinceridade
Te desejo felicidade
De coração

Me livro e me liberto
Da dor e do ciúme
Desfaço o azedume
Deixo o peito aberto

E cada momento seu
Agradeço e guardo
Lembranças do passado
Presente meu

Sua força e sua fé
Te guiem os caminhos
Leve o meu carinho
E siga em paz...na maré

(Nane-17/05/2013)




Chuva fina

Hoje a chuva fina cai mansa
Limpando o ar 
Clareando as ideias

O tempo
Senhor de tudo
Muda ao sabor do vento
Senhor do tempo

Inútil enveredar
Por onde há tempestade
A chuva fina cai mansa
Melhor dançar
Conforme a música
Que toca

Sem agonia
A vida convida
À novos caminhos
Dançando na chuva
Que cai mansamente
Em mais um dia

Águas que lavam e levam
De volta para a fonte
No eterno ciclo
De rios e mares
E chuvas...tempestades e mansas

Hoje a chuva fina cai de mansinho

(Nane-17/05/2013)

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O sol do amanhã

Aceito meu destino
Calo-me
Não me iludo mais
É hora do final
Já não me faço de rogada
Restou-me um pouco de orgulho
E sigo meu caminho
Derrotada, estraçalhada
Mas sabendo que amanhã
Por força do instinto
A estrada me aguarda
Para a marcha contínua
Da vida 
Hoje derramo minhas lágrimas
Para lavar minha alma
E encontrar forças 
No mais profundo de mim

Amanhã sigo em frente
Sem me deixar derrotar
De óculos escuros ainda
Por temer a luz do sol
Que por certo há de ferir
Os olhos acostumados 
À escuridão imposta
Por minhas decisões
Embasadas nos erros
Dos quais não me arrependo
Posto que errei
Por amar... demais

(Nane-16/05/2013)

Deslizando

Vou navegar na noite escura
Sem lua
Mar aberto
Sem ondas
Me deixando levar
Para qualquer lugar
Sem hora de voltar

A brisa vai soprar a vela
E me empurrar
Rumo a lugar nenhum
Na escuridão do mar
Pela minha imensidão
Eu vou navegar

Deixa o barco ir
Sem pressa de chegar
Sem porto para aportar
Apenas deslizar
Nas águas mansas do mar
Que para algum lugar
Vai me levar

Não temo naufragar
Só preciso navegar
Por essa imensidão
Bem devagar
Rumo para onde o mar
Quiser me levar
Vou navegar...

(Nane-16/05/2013)

Maquiagem

E esse silêncio absurdo
estourando-me os tímpanos
Calado num grito estridente
De carências mal resolvidas
E vidas não vividas

São traços que carrego
Na carcaça surrada
Enquanto no espelho
Procuro por imperfeições
Corrigidas por cosméticos
E um sorriso falso, deslavado

A vida caminha
Empurrando problemas
Escondendo frustrações
Acordando um vulcão
Que se em erupção
Transformará em cinzas
Anseios de sonhos
Apenas... sonhados

(Nane-16/05/2013)


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Tarja preta

Sou responsável por mim
Por tudo o que faço e digo
Pela ausência de sentimentos
E a frieza que me assola
Fiz da dureza a minha vida
E da candura, idiotice
Colho o que plantei
Na seara que cultivei
Nhem, nhem, nhem 
Me causam alergias
Sou tarja preta 
Para quem se aproxima
No entanto, ainda assim
De tudo faço poesia
Se do lodo nascem pérolas
Posso sim vociferar
Grunhidos descabidos
Amalgamando palavras
Dourando pílulas
E me fazendo de poeta

(Nane-15/05/2013)


Raias da loucura

Ronda-me a loucura
Faíscam-me os olhos
Baba minha boca
Salivas incontroláveis
Ácidas, sulfúricas

A noite me camufla
Na minha solidão
Não gosto de companhia
Prefiro estar sozinha
Na minha loucura

Quando o dia clarear
Pode ser que no final do túnel
Aja alguma luz para mim
Cesse essa febre de loucura
E estanque essa baba louca
Ácida e sulfúrica

Babar, babar, babar...
Poderia ser baba ovo
Como tantos por aí
Mas é baba de loucura
Insana e desprezível

Amanhã é outro dia
Certamente o sol virá
Deixa acontecer
O que tiver que vir, virá
A noite vai me levar
De mãos dadas com um anjo
Tão louco como eu
Para passear...

(Nane-15/05/2013)

Mudança de foco

Mudo meu foco
Volúvel feito o vento
Que ora venta lá
E ora venta cá
Sem em nada 
Ou em ninguém se fixar
A busca intensa da conquista
É o que fascina
Coisa conquistada
É coisa descartada
Novos horizontes
Desafios
Mudo meu foco
E vou adiante
Numa inquietude perturbadora
Em busca de algo
Que como por castigo
Não encontro

(Nane-15/05/2013)

A minha casa não é minha
Dentro dela mora um monstro
Pronto para explodir
E dilacerar seus alicerces
Sustentados por areia
Sem visgo nenhum

Não me atenho a ela
Não me atenho a nada
Sou efêmera gente
Com destino traçado
Em outra história
À ser contada ou gravada
Além dessas paredes
Sem vigas

Sou da terra
Mas não tenho terra nenhuma
Consumos trocados e deturpados
Pois que ela vai me traçar
E me transformar
Em adubo pobre de alguma coisa
Pronta a ser consumida
E daqui...sumir

Minha casa não é minha
Só a soberba me pertence
Por me achar proprietária
Desse ou de qualquer lugar
Que (penso) o vil metal
Possa pagar

E encrustados em mim
Os vermes zombam e sorriem
Sabendo serem donos de mim
Quando chegar, enfim
O dito fim...

(Nane-15/05/2013)





terça-feira, 14 de maio de 2013

Incompatibilidade zodíaca

Teu signo e o meu
Não combinam entre si
Então te afastas de mim
Influenciado pela lua
Que se derrama sobre o mar
Sem sequer se importar
Se com ele vai combinar

Meus versos serão seus
Enquanto eu rabiscar
Mas te encantas por outros
Que te falam ao pé do ouvido
E podem te tocar
Além do rabiscar

O universo não conspira
Só eu teimo em não ver
Mas vivo desse amor
Sem ele vou morrer
E meus (teus) versos perecer

A tua fé na astrologia
Serve de consolo
Para a minha poesia
Que teima em acreditar
Que só por isso não podes me amar

(Nane-14/05/2013)

Vivendo em mim

Serei eu meus versos
Quando não for mais eu
E ficará de mim
Sonhos e anseios
Memórias e estórias
Da minha história
Que no tempo se apagará
Mas meus versos reviverá
Minha vida em poesia
Sempre que alguém os recitar

(Nane-14/05/2013)

Meu amigo andarilho (Ju)

Ah, meu amigo andarilho
Vem fazer parada em mim
Tenho tanto a te dizer...

Sinto a falta do teu ombro
Camarada e acolhedor
Aconchegando-me a cabeça
No roçar das tuas mãos...

Que enxuga-me as lágrimas
Com polegares determinados
Mas suaves
Passeando em minha face...

E me convida para um chopp
Na noite fria e sem luar
Com a desculpa de passear
Só para me escutar...

Ah, meu amigo andarilho
Preciso tanto do teu abraço
Vem me visitar
Eu preciso te encontrar...

(Nane-14/05/2013)

Brincadeira

Carência

Você não faz ideia
Da imensidão do meu amor
Não imagina
O quanto choro
Com a sua indiferença
Não sei te amar com limites
Tento, tento, tento
Mas não tenho intento
Resta-me  o vazio
Do seu querer tão pouco para mim
Perceber que invado o seu espaço
Me sentir, as vezes, indesejada
Mergulhar num copo meus anseios
Ridicularizar meus sentimentos
Rabiscar minhas frustrações
Sem nenhum orgulho
Ou amor próprio

Amanhã meus sentidos
Envergonhados, se acalmam
Até o anoitecer
Quando os gatos pardos
Se amarem nos telhados
E me lembrarem em seus gemidos
Que você não passa de mera ilusão
Inventada pela imaginação
De poeta carente...da sua atenção

(Nane-14/05/2013)


segunda-feira, 13 de maio de 2013

Força do olhar

O mistério de teus olhos
Não consigo desvendar
Mas faz ser insegura

Mergulho nesse brilho
Sem me importar
Se vou me afogar

Me perco e não sei voltar
Mas é vício
Paraliso

Difícil entender
A confusão de sensações
Que sinto

Medo e coragem
Vontade de fitar
As vezes de fugir

Fulmina minha vida
Desnuda minha alma
Calor e calafrio
Calafrio de calor

Seu brilho tão intenso
Por vezes puro vidro
Confundo suas cores

Fato é que sem ele (olhar)
Não consigo respirar
Me falta o ar

Mas se desviam de mim (olhos)
Olham em outra direção
Mergulho na inanição
Da minha solidão

(Nane-1305/2013)






Casa velha

Minha casa
Lá no fim de uma chácara
Até ponte tem
Sobre um riacho (sujo)
Onde outrora tinha peixes

Foi lá
Que eu cresci
E finquei raízes

Vi nascer 
E vi morrer
Gente que foi
E gente que veio
Na minha casa

Vi
Minha mãe envelhecer
Depois de cultivar
Na terra provedora
O pão que com seu suor me alimentou

Foi lá
Que nas noites de lua cheia
Assustei sobrinhos curuminhos
Escondida pelos caminhos
Em um vasto arvoredo
De árvores frutíferas
Travestida de "mulher de branco"

Minha casa
Tão pobre, mas tão minha
Já não serve de morada
Talvez seja só estórias do passado
De adultos com saudades
Da velha casa...desmontada

(Nane-13/05/2013)







Borbulhas

A loura gelada borbulha no meu copo
Enquanto a fumaça do cigarro sobe
E por vezes me arde nos olhos
Que embaçados, vacila na escrita
E faz das letras, visão
Desenhos que só eu, na minha embriaguez
Permito me inebriar, num quase êxtase

Quisera ser pintora nesse instante
E te prender na tela em cores vivas
Mas a fumaça volátil se dissipa
E você vai embora...

Outro gole de cerveja
Para quem sabe, de novo, me embriagar
E conseguir mais um pouquinho de você
Pertinho de mim...

Sobe à cabeça o líquido borbulhante
E me faz rabiscar sem sentido
Palavras desconexas 
Que me deixam perplexa
Quando sóbria, leio
O que ébria rabisco sem receio

(Nane-13/05/2013)


Poema sem tema

Meu poema sem tema
Sem pé nem cabeça
Não fala de nada
Não rima com tudo

Não é repelido
Mas não está num livro
E se estivesse, não venderia
Posto que ainda vivo

Meu poema sem tema
Sem pé nem cabeça
Seria vendido
Se nas graças da mídia
Depois da morte, eu caísse

Choveria interesses
Me prestariam homenagens
Talvez uma estátua
Na minha cidade
Que de mim, nem sabe

Mas meu poema sem tema
Sem pé nem cabeça
Não passa de palavras
Mau ajuntadas
Que não dizem nada

(Nane-13/05/2013)



Agora

Volto
Meus olhos num tempo
Onde o acalanto embalou
Teu corpo em meus braços
E velei teu sono

Vejo
Teus olhos que me olhavam
Confiantes e confiando
Nas mãos que te guiavam
E ao mundo te apresentava

Ouço
Ainda a tua voz
Me contando novidades
Das tuas peripécias
Nas escolas da vida

Sinto
Teus braços nos abraços
Que sempre me enlaçavam
Na procura do abrigo
Que em mim encontrava

Recordo
O tempo ido
Vivo a saudade
E volto à realidade
Das nossas verdades

(Nane-13/05/2013)

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe Maria

Mãe
Que como Maria
Entregou seu filho(a)
Nos braços de Deus
E hoje chora
O vazio do dia
É para você
A minha poesia

Fecha teus olhos
E sinta no coração
O calor do abraço
Do filho amado(a)
Que nos braços do Pai
Vela por ti

Mãe
Que como Maria
Faz da sua fé
O bálsamo bendito
Na ausência da carne
Que à alma alivia

Te rendo homenagem
Te faço rainha
Te beijo a mão
Com essas simples palavras
Que me saem do coração

Teu filho (a) vive!

(Nane-12/05/2013)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Parto poético

Escreve a mão
Dita o cérebro
Sente o coração...
Por vezes a poesia
É escrita com sangue
Juntado às lágrimas
Que escorrem livres
Na face do poeta...
Mas poetar é preciso
E nas palavras precisas
Nasce a poesia
Ainda que por isso
Pereça o poeta

(Nane-10/05/2013)


O editor

Edite teus sonhos de poesia
Sem desistir da luta
Que árdua, assusta
Mas teus sonhos são mais fortes
Ideal de versador
Que enfrenta o sistema
E encara o moinho
Com a lança do amor
Não, não se entregue
Que a vitória é dolorida
Mas compensadora
Luta até o final
Que teu sangue é de poeta
E a tua utopia
É pura poesia
Faz dela realidade
Com sua força de vontade
E da tua coragem
Combustível 
Faz da tua mão
A verve dos teus sonhos
Espalhando fragmentos de emoção
E exemplo de solução
Não, não desista nunca
Posto que um trovador
Tem por sina ser lutador
Quando se torna divulgador
Da palavra (em poesia) amor

(Nane-10/05/2013)

Amor, eterno amor

O corpo em mutação
Perde tuas formas de Vênus
Teus seios e teu ventre
Morada do milagre...

Sorri na tua dor
Pari o teu maior amor
Já não tens vida própria
Em função do teu rebento...

Velas o seu sono
Na certeza do respirar
Enquanto sem perceber
O ciclo se completa...

A creche, o jardim
O diploma, o orgulho
Preocupa um amor
Acende um alerta...

Segura a sua mão
Não mais tão segura assim
Esquece que soltou
As que um dia te segurou...

O susto no espelho
Teu rosto não é teu
Teu filho é do mundo
Tua imagem, a tua mãe...

Palavras hoje ditas
Foram ouvidas no passado
Serão ditas no futuro
No reflexo de um espelho...

É começo, meio e fim
Conflitos de gerações
É amor, eterno amor
Embalando corações...

Teu dia está cravado
No calendário do seu peito
Segue teus passos teu rebento
De mãos dadas com o seu...

(Nane-10/05/2013)


Vida que segue

Um suspiro profundo
Um frio no estômago
Um vento frio no coração
Estranhas sensações
Indefinidas, mas sentidas
Lembranças revividas...
A luta da labuta
O sonho de um futuro
Talvez não seu, mas meu
A realidade nua e crua
Estranha sensação...
Projetos traçados
Rumos modificados
Escolhas feitas
Vida que segue
Caminhos diversos
Distâncias criadas
Abraços desfeitos
Mãos que se soltam
Vidas que vivem
Direções distintas...
Amores eternos
Lágrimas contidas
Apoio incondicional
Passos que seguem
Em direções opostas
Um indo e outro vindo
O ciclo da vida
É vida que segue...

(Nane-10/05/2013)

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Noite fria

Ouço a canção que vem do mar
O vento sibilando manso
Lá fora a brisa sopra frio
Me falta coragem para ir lá
Me debruço na janela
Observo o Cristo aceso
Revestido pelas brumas da noite
Belo e impávido no Corcovado
Observando a Guanabara...
As ondas se agitam de ressaca
Provocada pelo frio inebriante
Que faz o mar virar cantor
Embriagado num eterno vai e vem
Que embriaga quem vem o escutar...
Pessoas diminutas pela altura
Do andar no prédio acinzentado
Cruzam a rua sem perceberem
Que estão sendo observadas
Sequer ouvem a balada
Que o mar entoa na madrugada...
O frio me faz desejar companhia
A solidão me faz sonhar
A voz do mar não se cala nunca
Daqui a pouco a voz do dia
Vai abafar (mas não calar)
Qual será a imagem que você vê
Ou o sonho que te permeia
Nessa noite tão fria
Que eu te queria fazer poesia...

(Nane-09/05/2013)


Insana criação

E diante de mim
Meus olhos veem
As formas que se formam
Os olhos que me olham...
Figura que criei
E por quem
Insanamente me apaixonei
Agora é tarde
Criou raízes
Se instalou na retina
Me toma de assalto
Se apossou de mim...
Estranhamente me domina
E não me acho louca
Pela loucura desse amor
Que nasceu da criação
Da forma que eu criei
E...amei

(Nane-09/05/2013)

A noite dos meus dias

Na noite dos meus dias
Não hei de ser triste
Meus olhos se abrirão
No fechar de minhas pálpebras
E não direi adeus
Aos meus
Posto que deixarei
Em cada um deles
Um pouquinho de mim
E ainda que não saibam
Perto deles permanecerei

No dia da minha noite
Partirei sorrindo
E versando a travessia
Que se pudesse contaria
Nas rimas que eu faria
E com cerveja brindaria
Mas eles não deixariam
Então brindem por mim
Pois que nessa noite
Para mim se fará dia
De rabiscar outra poesia

(Nane-09/05/2013)

Sem limites de poesias

Abra tuas asas
E voa sem limites
Teus sentidos te levam
Na direção exata
Do teu sonhar

Leva nesse teu voar
As sementes de poesia
Que em ti germina
E floresce todo dia

Deixa o vento te levar
Plana suave na imensidão
Deixa fluir tua emoção
Na poesia da tua canção

Voa linda Andorinha
Pelos céus da imaginação
Pouse sempre em boa companhia
No aconchego do escolhido coração

Que teu canto seja repleto
De beleza e sentimento em flor
E o teu voar completo
De alegria e muito amor

*Parabéns A(ndorinha)driane Lima!
(Nane-09/05/2013)







quarta-feira, 8 de maio de 2013

Redoma azul

Lá...pra bem além do mar
Onde a terra se arredonda
E com o céu se mistura
Fazendo tonteira na gente
Que nunca sabe onde segurar
Pra não cair no vazio
E flutuar sem saber voar
É onde eu quero chegar...

Mas vou levar um paraquedas
Que é pra pousar de mansinho
Assim que ver um novo chão
Se encontrar um caminho
Depois dessa junção
Da linha tênue que arredonda
E faz ser só um o azul
Do céu e do mar
Pra onde eu vou viajar...

É tanta curiosidade
De saber o que tem lá
Que nem eu vou ligar
Se não conseguir chegar
Mas que eu vou tentar
Ah...isso eu vou

Quero porque quero
Ver além dessa redoma
Que mais parece viveiro
De passarinho aprisionado
Sem saber que é mantido
Num espaço limitado...

O que será que tem lá...

(Nane-08/05/2013)

Um momento só

Por um momento surto
Me assusto
E assusto

Percebo o quanto me furto
E luto
No momento do surto

Insanamente cogito
Penso, reflito
Direitos, conflitos

Ferve-me o sangue
Queimando as veias
Derramando-se no mangue

Grito o grito dos loucos
Por um momento tão pouco
Que só faz me deixar rouco

Mente insana em corpo são
Paga o preço da prisão
Por manter irrestrita a postura
Que mente a mente sã

Por um momento de surto
Voei nas asas da loucura
E vi tantas verdades
Num instante de insanidade...(?)

(Nane-08/05/2013)


terça-feira, 7 de maio de 2013

Meu neto

E segurou na minha mão
E deu-me força
Mais do que eu a ti

E o seu sorriso
Iluminando o meu dia

E o seu choro
Despertando meus sentidos

E o seu caminhar
Ainda cambaleante
arrancando-me preocupações

E a sua voz
Me faz ouvir canção
Vinda do coração

E o seu olhar matreiro
De quem sabe fazer arte
 Provocando-me sorrisos
Na braveza fingida
Que te faz correr de mim

E no teu jeito determinado
Traços que reconheço
E emocionam

E no seu tempo (ainda tão pequeno)
Um amor tão intenso
Tão imenso
Tão extenso

E em você
A minha vida inserida
Na vida que te deu vida
Fazendo de você...a minha vida

(Nane[avó]-07/05/2013)

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Vagando

Alma insana e perturbada
Vagando no vale das sombras
Tentada à prostituição
Dos seus princípios tortos
Perdidos no limo da lama
Por onde, pesada, vagueia

Alma sem descanso 
Queimando nas chamas da vida
Que frequenta arrastada
Pretensa e soberba
De poder um dia descansar
Sem o peso da culpa que carrega
Nos ombros arqueados

Alma que pensa ter vida
Enquanto afunda sem perceber
Nos labirintos lodosos
Escorregando e afundando
Nos passos incertos e torpes
Que teima em seguir
Sem saber por onde ir

Alma repugnante e vazia
Escura e sem decência
Enxerga a tua mediocridade
E volta aos teus confins
Num pedido de clemência
De um outro recomeçar
Antes que a lama te afogue
No limbo eterno do asco

(Nane-06/05/2013)




sábado, 4 de maio de 2013

Terra de ninguém

Enterrada viva
Sem terra por cima
Sem vermes me roendo
Sem Deus para me ouvir
Sem o diabo para me atentar

Terra de ninguém
Nem roxa, nem vermelha
Grileira de alma
Ou de corpo
Sem vínculo com nada
Sem terra santa
Sem ar nos pulmões

Vida sem vida
Sem tesão nenhum
De nada e de ninguém
Chorar é perda de tempo
E tempo é coisa eterna
Vale tanto quanto eu
Tudo e nada
É ponto de vista

A terra é leve
Pesado é a falta do ar
Que falta nos pulmões
Enfraquecidos pelo tabaco
Amigo e companheiro
Que mato a toda hora
Antes que ele me faça
Adormecer...

(Nane-04/05/2013)

Madeira de lei

O vento levou a chuva embora
Secaram todas as flores
Morreram sem seiva, sem água
Não vão florir mais
Sementes ficaram por sobre a terra
Mas tórridas, sem vigor
Talvez não brotem jamais

A cruz é de madeira
Madeira de lei
Lei dos fortes
Carrega a tua cruz
Quem tem os ombros largos
Arrio a minha aqui
Ninguém pode ajudar

Pedir perdão a quem
Se a culpa trouxe de longe
Lá dos confins do inferno
De onde saí para melhorar
Mas a luz cegou meus olhos
Não preciso de perdão
Volto outra vez
Quando a força me abraçar

A semente podre não vai germinar
Meu filho, não te pari
Sementes são genéticas
Sem chuvas elas morrem
E mesmo a flor do cactus
Morre ressecada e quebradiça
Sem deixar sementes

Hoje não tem sol
Só o eclipse da escuridão
O frio não pede blusa
A dor não tem remédio
A alma vaga na penumbra
Do corpo que serve de prisão
Não vou pedir perdão
Só quero abrir a porta
Só quero abrir a porta...

(Nane-04/05/2013)


quarta-feira, 1 de maio de 2013

ID

Falo no meu silêncio
O que a voz teima em calar
Ouço da voz timbrada e desejada
O que preferia a surdez

Teima a mente doentia
Pensamentos mórbidos
Desejos desfeitos
Cristais quebrados

Luta desesperada
Do ID, do Ego, Superego
Demência sã
Satânica lucidez

Dois seres num espaço
Rompendo limites
Levando a morte
O corpo pequeno

Vazio de tudo
Sem vísceras nenhuma
Sem pulso latente
Tão cheio na mente

Não ver é solução
Cegueira santa
Perfura meus olhos
Já sem fulgor

Escrevendo com sangue
A mão decepada
Num último gesto
Rabisca o silêncio...sepulcral

(Nane-01/04/2013)

Mutação poética

Quando cala um poeta
A poesia se entristece
Mas como que por encanto
Tira do corpo inerte
O adubo necessário
Criador de novos
Tal qual a nebulosa
Numa explosão de versadores
Nascidos dos fragmentos
Do poeta que calou

E assim será por toda a eternidade
A poesia jamais perecerá
Posto que é feita da chama
Que arde e alimenta o amor
No peito de todo versador

Poeta morto é promessa
De muitos outros gerados
Pela força desse encanto que contagia
E denomina...poesia

(Nane-01/05/2013)


Interior

Arrumei as malas e embarquei
Sem bilhete, passagem, documentos
Viajei feito andarilho do mundo
Em busca de aventuras
Passei por vendavais e calmarias
Me vi na escuridão e perdida
Mas também andei por caminhos de flores
Onde o sol brilhava intenso
Vi  rastros de sangue gerando dores
E ouvi gargalhadas de uma quase felicidade
Andei sem data programada
Num vale de total assombro
Onde a vida e a morte andam de mãos dadas
Vi, por diversas vezes o homem de barba
Que andava sempre atrás de mim
A sua luz, por vezes me iluminava
Mas ele nunca se aproximava o suficiente de mim
Na solidão da minha caminhada
Percorri uma longa estrada
Sem deixar rastros de pegadas
Para não saber voltar
Estive só o tempo inteiro
Sem saber em que lugar
Cansei, deitei e adormeci
No meu despertar eu entendi
Que o caminho que percorri
Estava dentro de mim

(Nane-01/05/2013)