quinta-feira, 25 de março de 2010

A Guerreira - VIII (A História de Lívia)


Linda, a espevitada


Na 241 haviam várias turmas que se separavam pelas
respectivas faixas etárias. Dos filhos de Lívia,
só os dois mais velhos, Luís e Léia, que traba-
lhavam fora, é que não andavam com a turma da rua.
Luís trabalhava na mesma usina que o pai, e não
gostava muito de andar com turmas. Era sujeito sé-
rio, estava noivo e parecia ser o próximo a casar.
Léia, tinha a turma dela da loja em que trabalhava
e a da igreja, respectivamente. E depois de casada,
pouco aparecia na 241. Mas havia a Linda! Moça ati-
rada e espevitada! Logo começou de namoro com o ra-
pazinho da casa 18, o Lindson, que além do nome com
a mesma inicial, também aniversariava no mesmo dia
que ela! Lindson estava no quartel e Linda achava a
farda dele o máximo! Mas eles brigavam muito. Linda
era bastante volúvel e não levava desaforo para casa.
Brigava com as moças e rapazes da casa 16 direto, e se
o Lindson tentasse interferir, ela soltava os cachorros
em cima do pobre, dizendo que ele preferia defender os
amigos dele à namorada.
Não foram poucas as vezes que eles terminaram por causa
do gênio forte de Linda. Mas se amavam, e acabavam fa-
zendo as pases.
O pai do Lindson, seu Jerônimo, era uma figura ímpar!
Todo carnaval ele se vestia de "Nega Maluca" e brincava
na rua com a gurizada! Era um festeiro de marca maior!
Na copa de 70, ele colocou uma televisão na varanda da
casa dele, e a turma toda da rua assistiu a final juntos.
Quando o Brasil sagrou-se campeão, foi uma festa coletiva!
Alguns falavam de uma tal política, que empanava o brilho
da festa, mas as crianças queriam mais é gritar e pular o
carnaval fora de época que explodira na cidade!
Foram de carreata para a Vila, um bairro que era o point
da cidade, e Linda era a responsável pela clã dos Silveiras.
Lívia confiava na filha para tomar conta da pirralhada, mal
sabia ela que Linda pouco se lixava para a segurança dos ir-
mãos, que se esbaldavam com a sua turma num canto e Linda
com a dela em outro canto. Mas havia entre eles um pacto, e
Lívia ficava sossegada em relação a eles.
A festa rolou a noite inteira! E quando a carreata voltou a
rua, os primeiros raios de sol já os esperava...
Havia uma Floresta ( uma reserva florestal ) bem no centro da
cidade, e Linda, de vez em quando levava os irmãos menores
( era a condição de Lívia para deixá-la ir ) nas cachoeiras
que tinham lá dentro. Geralmente íam no carro do Lindson ou
então de bicicleta. E numa dessas vezes, o Lucas, um dos me-
nores, viu Laura pular de cima de uma pedra, dentro d'água
e quis fazer o mesmo, só que ela pulou em pé, e ele bateu a
cabeça (sorte que na areia) no fundo. Desmaiou e todos saíram
correndo apavorados para o hospital. Lívia xingou até ficar
rouca a pobre da Linda...mas o menino ficara bem. Foi apenas
um susto grande. Porém, as cachoeiras estavam proibidas para
eles. também, logo depois o exército tomou para si a reserva
florestal e fechou-a ao público. Estavam em plena ditadura...
Lívia, certa noite quase morre do coração ao atender a porta
e receber a notícia que seu filho Lúcio, havia sido preso junto
com o amigo Vicente. Só porque estavam na rua após o horário
determinado pelas autoridades locais ( Volta Redonda era consi-
derada Área de Segurança Nacional ). Foi o Luís, o mais velho,
quem foi a delegacia buscar o irmão menor. A ditadura era rígida
com todos.
Mas voltando a Linda, ela era vista por Laura, como uma heroína
das histórias em quadrinhos! Bastava um de seus irmãos menores
brigarem na rua para ela se meter e tomar as dores deles. Laura
então...vivia ameaçando os desafetos com a presença da irmã bri-
gona.
Linda era o espelho dela e dos outros pequenos pestinhas...


(Nane-25/03/2010)

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