Eu, primeira pessoa do singular,
Aprendi que não há poema sem paixão.
Percebi a importância do ousar.
Entendi a necessidade de ser simples.
Pratiquei aquilo que não dizia.
Falei tudo o quanto não fazia.
Brindei com água.
Brinquei com mágoas.
Falsifiquei sorrisos de palhaço triste.
Entristeci com os lábios cortados.
Senti tanto o sangue das veias quanto o ar dos pulmões.
Fiz minhas próprias biópsias.
Cortei cebolas, entornei desculpas.
Compreendi que lidar com a culpa é inevitável.
Enfileirei versos, encadeei palavras.
Perdi tantas vezes a hora quanto a cabeça.
Fiz-me de vítima, vitimei a mim mesma.
Contei histórias inventadas.
Imaginei histórias reais.
Imitei a arte, intimidei a vida.
Plantei inumeráveis sonhos.
Sonhei fantásticos enredos.
Descobri na presença o remédio da dor.
Remediei até o que preveni.
Transformei quimeras em missões.
Fracassei sem medo, venci sem glória.
Honrei o meu nome.
Naveguei mares impossíveis.
Voei por ares improváveis.
Preservei florestas de esperanças.
Esperei promessas vãs.
Salvei vilões, virei mocinha.
Tenho amigos como arte.
Viajei sozinha, sonhei junto.
Dormi junto, acordei sozinha.
Entornei lágrimas, bebi vinho.
Tomei a mais ácida das águas.
Comi o menos puro dos pães.
Despistei meus próprios dias.
Ensaiei um único ato.
Fui cinema, fui teatro.
Pratiquei haraquiri, escrevi hai-kais.
Rezei em todas as fés.
Acreditei em poucas pessoas.
Segui um número ainda menor de homens.
Encantei-me com o futuro.
Lembrei do meu próprio passado.
Descrevi o desejo, expliquei as vontades.
Agradeci as inverdades.
Cantei cânticos de louvor.
Mandei cartas pelo correio.
Enviei mensagens por garrafas.
Dei sinais de sanidade.
Cultivei muitas dúvidas.
Duvidei de tantas lições.
Perguntei por incertezas.
Ganhei respostas, nem sempre prontas.
Aprontei um inventário.
Inventei um itinerário.
Cansei.
(Neguinha da Bahia)
Não é que eu durma mal:
é que eu prefiro reticências
a um ponto final...
“Sabes o que precisa fazer para viver no mundo das sereias? Deves descer no fundo do mar, muito longe, tão longe que o azul não existe mais, lá onde o céu não é nada mais que uma lembrança. E lá, no silêncio, fique parado, e se decidir que quer morrer por elas e ficar com elas para sempre, então as sereias virão ao teu encontro, a imaginar o amor que oferecestes. Se este amor for sincero e puro. Elas te amarão para sempre”
ResponderExcluirJacques Mayol
Bjs Velinha, Pepeu
Fica com Deus