segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O pateta

Era uma tarde...já perto do crepúsculo. O mar estava avermelhado, com raios que douravam as poucas núvens que se formavam. Um Grupos de jovens, que tocavam violão e conversavam animadamente, sentados nas pedras do dique que separa as praias do Flamengo e Botafogo, tendo ao fundo o belo Pão de Açucar. Ele chegou então, com cara de pedinte, só queria amizades...,só queria se enturmar. As meninas logo deixaram claro que não etavam dispostas a conversar, apenas escutavam a voz melancólica do cantador..., enquanto os rapazes, que falavam das noitadas, ondas, pegação geral, papos de jovens enfim, o aceitaram aparentemente e desataram a fazer-lhe perguntas.
Tão encantado ele ficou com a recepção recebida, que não percebeu que era o alvo de chacotas. As meninas arredias, foram se achegando e derrepente, o pobre era o centro da atenção geral. Ele contou das suas dificuldades na vida, sua criação num orfanato, seu orgulho por não virar bandido...Acreditou na amizade dos moços e abriu geral o coração, falou do amor que sentia por uma das meninas que ali se encontrava, mas que não falaria o nome dela por questão de privacidade. A turma então o encorajou a se declarar no por do sol, que eles fariam sinfonia. As meninas disseram se sentirem orgulhosas se fosse uma delas a escolhida. O pobre se encheu de coragem, improvisou poema de dantes já pensado e imponente, no alto da pedra se declarou.
Risos geral. Maldade e decepção. A moça escolhida...sorria com gosto da ingenuidade do pobre pateta que nada entendia. Os rapazes se cansaram dele, a brincadeira terminara. Ele entendeu e sua ficha finalmente caiu. Fora alvo de brincadeiras de mal gosto. Logo ele, que nunca teve amigos...e que por segundos se sentiu entre eles. O que fazer agora? Que sentido dar a vida? Jogaram pedras nele para que se afastasse. Suas roupas, embora limpas, eram pobres e remendadas, não poderia estar entre os de grife...como fora burro o pateta!
A noite fechou....luzes, só do outro lado da pista. As árvores frondosas do Aterro escuro...um jovem amargurado...que caminha sem rumo. Estrelas no céu do Aterro...avião pousando no Santos Dumont...o mar agitado arrebentando nas pedras agora vazias...O dia amanheceu sorrindo! O sol, protagonista do espetáculo dourado da natureza exuberante...já vai alto. Na areia da praia, o carrinho da limpeza nas areias para bruscamente...algas, ramos, restos de redes, um corpo tombado...um pateta apaixonado morreu.

(Nane - 22/02/2010)

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