Sentei na beira da praia e fiquei a olhar o mar revolto pela ressaca...deixei fluir os pensamentos e minha ressaca revolta se misturou a dele e tornamo-nos um só por instantes...Ondas que vinham na minha direção como se fossem me atacar, mas reconheciam-me pedaço delas e se acalmavam ao tocarem em mim....acariciando-me os pés nus. E elas, se por solidariedade não sei, falavam comigo de alguma maneira...perguntavam-me o porque de tanta revolta...o porque de tanta solidão. Eu me deixava levar por suas carícias e abri meu coração...falei da vontade de me integrar a elas no mar...de ir e voltar sem pressa de passar...de observar pessoas a passar...de frustrações que a vida me reservou...falei enfim, um pouco de mim. Mas elas (ondas) foram taxativas e responderam com altivez que não era ali o meu lugar...que apenas se enterneceram e me deixaram ficar...me falaram então dos clamores que a natureza faz aos prantos todos os dias e que não ouvimos...falou de desgraças que são obrigadas a fazer por culpa da nossa insensatez...de corpos e casas que se veem obrigadas a carregar sem vontade de engolir...falaram das lágrimas que derramam abundante e que nós não entendemos. Tentaram me mostrar as vidas que o mar abriga entrando em extinção e ele, desesperado, gritando por socorro. Enquanto eu falava do meu mundo em preto e branco, por falta de anseios meus...o mar, atravez das ondas me falou dos anseios que ele tem de apenas sobreviver.
A escuridão da noite abraçou-nos totalmente e levantei-me...caminhei um pouco mais por sobre as ondas e num toque suave com meus lábios, as beijei. Agradeci a hospitalidade e integração e me fui...ouvindo atrás de mim a fúria da ressaca do mar bravio e revolto.
(Nane - 27/02/2010)
Nenhum comentário:
Postar um comentário