segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

DESCONEXÃO

É preciso escrever.
Mesmo que eu não tenha o que dizer
é preciso...
Ouço conversas fiadas balbuciando palavras
sem fim dentro de mim. Nunca sei o que querem
dizer. As vezes falam de amor, ou de morte. Mas 
não se calam nunca.
Por vezes são suaves, brandas, e até mesmo bonitas.
Por outras me tomam de assalto, gritam, rasgam minhas
entranhas, e seguem falando feito espectros perdidos num
limbo obscuro e frio, fétido e lamentoso de almas ao léo.           
            Se é esse o meu mundo, me encaixo nele. Mutante 
que sou, vou mudando meus passos trôpegos. A primavera 
se foi, mas as flores ficaram e ainda perfumam o caminho.
Tenho um terço que achei, e rezei nele as rezas que aprendi.
Agora ele se perdeu de mim, ou eu me perdi dele. Também

não importa, Deus pareceu não me ouvir. Aliás esse cara
não vai muito com a minha cara, e isso também não importa.
          Onde estão minhas rimas, minhas métricas, meus
versos, meus poemas, minhas poesias, minhas inspiração 
desbocada e rebelde? Acho que hoje não é dia de poesia.
Rebimboou três "pipocos" aqui pertinho. Talvez sejam fogos,
mas acho que foram tiros. Alguém matando outro alguém. A
vida já não vale nenhum vintém. 
A noite chegou e eu não fiz nada. Também que se dane. Faço
amanhã, e se não der, não faço nunca. Nada pede urgência.
Ainda ouço as palavras de minha mãe me mandando arrumar

minha cama pela manhã, como se eu não fosse desarrumá-la
ao anoitecer. Bobagens tão estúpidas! Não gosto de arrumar
a cama.
          Tem gente estranha ao meu lado, dizendo coisas esquisitas.
Onde estão mesmo as poesias? Já não quero escrevê-las. Hoje
não estou poeta. Os pássaros machucaram suas asas e não con-
seguem mais voar. Seus cantos estão melancólicos, sem um
ritmo definido. A filosofia dos sentidos deram um nó e perdeu-
se na caligrafia. Vou sentar ali na esquina e esperar até que ela 
volte a fluir...feito o rio correndo sereno (quando não há a enchente)
em direção ao mar. Afinal, para escrever tanta "baboseira", 
melhor ser vulcão e cuspir palavrão.

(Nane-26/01/2015)


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