terça-feira, 27 de janeiro de 2015

IMORTAL



Gritei o mais alto que pude
Mas ninguém me ouviu
Gesticulei numa angústia suicida
Mas não me deram uma corda
Agora a queda é livre
O penhasco é alto
E o corpo no vazio na direção do nada
Se deixa cair

É certo a sua morte
Mas o espírito vagará
E sentirá de fato a agonia
Da dor de ser imortal
O magnânimo Deus
Sequer me deu o direito
De simplesmente morrer
Sem ter que continuar a viver

Gritei aos quatro cantos
Não ouviram os meus gritos
Agora, vou em direção aos gritos
Dos outros aflitos
Que como eu, não tiveram escolha
E vivem nas suas mortes

(Nane-27/01/2015)

A DOR DE UM SILÊNCIO

Morrem
na 
garganta
as
Palavras
que 
me 
sufocam.

Escrevo
balelas

sem 
sentidos
no
afã
de 
respirar.

Entubada
por 
gritos
que
teimam
em
ecoar,
mas
agonizam.

Calo,
sentindo
no
peito
a
dor
do
meu
silêncio.

(Nane-27/01/2015)




São tantas as palavras
que morrem na garganta
e me sufocam.

Escrevo balelas
as vezes sem sentidos
No afã de respirar.

Entubada pelos gritos
que teimam em acoar
Mas sedados...agonizam





EPITÁFIO II

Um dia
Quando eu já for parte do pó
De onde um dia eu vim
Talvez mereça ganhar
Um só coração

E o meu silêncio 
Enfim se fará
No epitáfio avermelhado
Em forma de um coração
Que sempre quis ganhar

E na solidão do ataúde
Em meio a minha escuridão
Ainda assim sentirei o pulsar
Daquele coração
Que sempre quis ganhar

E sobre a minha face já desfeita
Rolará, ainda quente
Uma lágrima de emoção
Por ter enfim ganhado o coração
Que sempre quis ganhar

Já não será coisa do corpo
Cujos dejetos repousam
E cuja vida foi incapaz
De ganhar o coração
Que sempre quis ganhar

Já não terá a aflição
Que causou a depressão
Na vã espera insana
De ganhar aquele coração
Que em vida sonhei ganhar

(Nane-27/01/2015)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

DESCONEXÃO

É preciso escrever.
Mesmo que eu não tenha o que dizer
é preciso...
Ouço conversas fiadas balbuciando palavras
sem fim dentro de mim. Nunca sei o que querem
dizer. As vezes falam de amor, ou de morte. Mas 
não se calam nunca.
Por vezes são suaves, brandas, e até mesmo bonitas.
Por outras me tomam de assalto, gritam, rasgam minhas
entranhas, e seguem falando feito espectros perdidos num
limbo obscuro e frio, fétido e lamentoso de almas ao léo.           
            Se é esse o meu mundo, me encaixo nele. Mutante 
que sou, vou mudando meus passos trôpegos. A primavera 
se foi, mas as flores ficaram e ainda perfumam o caminho.
Tenho um terço que achei, e rezei nele as rezas que aprendi.
Agora ele se perdeu de mim, ou eu me perdi dele. Também

não importa, Deus pareceu não me ouvir. Aliás esse cara
não vai muito com a minha cara, e isso também não importa.
          Onde estão minhas rimas, minhas métricas, meus
versos, meus poemas, minhas poesias, minhas inspiração 
desbocada e rebelde? Acho que hoje não é dia de poesia.
Rebimboou três "pipocos" aqui pertinho. Talvez sejam fogos,
mas acho que foram tiros. Alguém matando outro alguém. A
vida já não vale nenhum vintém. 
A noite chegou e eu não fiz nada. Também que se dane. Faço
amanhã, e se não der, não faço nunca. Nada pede urgência.
Ainda ouço as palavras de minha mãe me mandando arrumar

minha cama pela manhã, como se eu não fosse desarrumá-la
ao anoitecer. Bobagens tão estúpidas! Não gosto de arrumar
a cama.
          Tem gente estranha ao meu lado, dizendo coisas esquisitas.
Onde estão mesmo as poesias? Já não quero escrevê-las. Hoje
não estou poeta. Os pássaros machucaram suas asas e não con-
seguem mais voar. Seus cantos estão melancólicos, sem um
ritmo definido. A filosofia dos sentidos deram um nó e perdeu-
se na caligrafia. Vou sentar ali na esquina e esperar até que ela 
volte a fluir...feito o rio correndo sereno (quando não há a enchente)
em direção ao mar. Afinal, para escrever tanta "baboseira", 
melhor ser vulcão e cuspir palavrão.

(Nane-26/01/2015)


DRA. SÔ CHIQUE



Lá vem ela toda prosa
Tirando a viola do saco
Trocando uma dor por um sorriso
Ensinando o que é o amor

As paredes frias e brancas do hospital
Se aquecem e se colorem
Aos primeiros acordes
Que anunciam sua presença

O rosto sofrido
Sedado por analgesia
Ilumina-se de alegria
E dá-se a magia da poesia

A Dra. Sô Chique chegou
Fez da enfermaria, piquenique
Do leito, palco do seu show
Do paciente, gente contente

No vai e vem dos leitos
Só quem vive[u] (a situação) entenderá
A nobreza e a grandeza
Dessa Dra. Chiqueza

(Nane-26/01/2015)



domingo, 25 de janeiro de 2015

DÉJÀ VU

Não senti teu perfume
Mas sei do teu cheiro
Não vi os teus olhos
Mas sei do teu olhar
Não toquei no teu rosto
Mas sei dos teus traços
Não te tive em meu abraço
Mas sei do teu calor

Entre tantos
Poderia te encontrar
Palheiro nenhum impediria
Bastaria estar lá

Talvez o tempo tenha errado
Ou nós mesmos foi que erramos
O fato é consumado
A hora não apropriada
Explica isso para mim
Insanidade de um amor sem fim
Perdido em limiares
De vidas misturadas

Imagens tão impolutas
Sem deixar nenhuma dúvida
Passado, presente, futuro
Loucuras de uma mente deturpada

Então são só loucuras minhas
E nada foi de fato
Mas esse cheiro tão presente
Entorpecendo minha mente
Esse hálito tão inebriante
Não dá para negar
E nem mesmo você me fará desacreditar
É déjà vu

(Nane-25/01/2015)

CARCARÁ

Instintos de carcará
Pega, mata e come

Pouco importa a aparência
O sexo ou a idade

Carcará
Pega, mata e come

Mas num mata matado
Mata em vida mesmo

Carcará só gosta de sangue fresco
Vê, observa, se aprochega e acalenta

Joga seu feitiço na presa
E pega, mata e come

Carcará é bicho do sertão
Beliscador de coração

Nunca falta nada pro carcará
Nem sei se é águia ou se é pavão

Só sei que é carcará
E que pega, mata e come

A presa viva e indefesa
Que cai nas suas garras

Carcará não ama
Só se reproduz

Até por comer quem ama
Carcará pega, mata e come

Não vai nunca passar fome
Nem faltar à quem comer

Carcará é feito Lampião
Sangrador de coração

Carcará
Pega, mata e come.

(Nane-25/01/2015)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

MANU



Veja Dini
De onde quer que você esteja
A sementinha que plantou
E frutificou

Hoje ela aniversaria
E sei, você está em festa
Orgulhosa da netinha
A pequena Manuela

Ainda é muito criança
E guarda pouca lembrança
Mas teus traços estão nela
E para sempre vão ficar

Vou dar nela um abraço
Envolvendo-a nos teus braços
Sabendo que lá das estrelas
Você estará a abençoando

Feliz aniversário Manuela!

(Nane-23/01/2015)


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

ANGÚSTIA

Perdoe minha fraqueza
Mas já não dá mais para suportar
A angústia de te ver
E todo dia te perder

Ah, mas se eu nunca te tive
Como posso te perder
Melhor também nunca te ver
Já que é impossível te esquecer

Talvez sejas só uma ilusão
Talvez uma inspiração
Quem sabe foi a loucura
Que tomou minha cabeça

O fato é que carrego
Tatuado em minha aura

O brilho do teu olhar
Que de mim, parece zombar

Pateticamente insisto
Por um só sorriso teu
A mendicância destruiu
A auto estima que já tive

Se doença, é terminal
Se amor, eterno
Se dor, já não dói mais
Ultrapassou os meus limites

É algo além de mim
Impossível de curar
Tão sem importância para você
Tão mortal para mim

Patética e sem teor
Afogada num copo de cerveja
Escuto no teu silêncio devastador
A sentença tão óbvia

Me matar, não vou
Posto que já morri
Me entrego e caio
Faça de mim o que quiser

Só não deixe de saber
Que mesmo não presente
Estarei por perto
Eternamente

(Nane-21/01/2015)







quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

GRITO INAUDÍVEL

Lágrimas,
façam da minha face, o leito,
para que tinjam de rubro
meus olhos cansados.

Não as derramo em vão.
Só quando levada pela poesia
retratando meus dissabores
e meus fracassos.

Só quando os ruborizados olhos
se voltam para traz
e não conseguem enxergar
o sentido de tudo vivido.

Os sorrisos perdidos
quando ainda eram possíveis,
jogados na estrada escolhida
e duramente atravessada.

Opções escolhidas.
Um grito inaudível.
Um tempo perdido.
Uma poesia triste.

(Nane-21/01/2015)





SÓ É

Amor
é
amor
compartilhado
no
mais
é
suicídio

(Nane)

DIVINO DEUS

Divino Deus,
será isso uma oração?
Ou ironia da minha parte?
Posto que da tua, nem isso,
por resposta eu tenho.

Danem-se os teus preceitos
escritos por linhas tortas.
Ou o seu frio contido pelos
cobertores supostamente dados.

Dane-se a tua onipotência,
quando dela precisada, simplesmente
vem a explicação do ser preciso
demonstração da fé em ti.

Divino Deus,
será isso uma heresia?
Ou a loucura me rondando?
Por ter me achado tua filha
e merecido teu olhar.

Já não temo o fogo do inferno.
Talvez bem mais o teu tridente
que julgador me condena ao ostracismo
me fazendo diferenciada.

A tua misericórdia não me interessa
e tão pouco vou buscá-la
nas rezas e orações repetidas
que tentaram me ensinar.

Divino Deus,
Vá para o inferno!
Quem sabe se lá, em meio as lamentações

a gente não se encontra?

(Nane-21/01/2015)


VULCÃO EXTINTO

Ah, a mente fértil de palavras vãs
Insiste em escrever poesias
E rabisca desatinos 
Sem específico destino (ou não)

São como o fio da meada
Enrolada e embolada
Procurando se alinhar
E as ideias desembaraçar

São como a gota d'água
Pronta a transbordar
E aliviar a pressão 
Do tonel exacerbado

Mente vazia
Oficina do diabo
Rabiscando as demências
De um alzhaymer anunciado

A mente fértil de palavras vãs
Vive da ilusão de ser poesias
As sandices e intempéries escritas
Nas lavas de um vulcão extinto

(Nane-21/01/2015)



FICÇÃO

De que paz eu falo
De que paz almejo
De que paz vislumbro
Se paz não tenho

Talvez a do sepulcro
No silêncio de tudo
Sob o peso da terra
Na clara escuridão

De que paz procuro
Se a inquietude me abraça
E a subversão me orienta
Por sobre a terra

De que paz eu mereço
Se em vida não a tenho
E nas chamas do inferno
Não a busco

De que paz existe
Se nunca a conheci
E pra mim é tão fictícia
Quanto o dito amor.

(Nane-21/01/2015)

Simplesmente Elys

E me pedes uma poesia
Quando já és uma
Não vês que limitas o poeta
Ao toldar-lhe a visão

Deixa estar que a natureza
Te recita a cada instante
Pintando em suas cores
O retrato de Elys

É mar, é céu, é rio
Flores, campos e cidades
Por onde quer que vá
Encantas e contagias

E no teu sorriso franco
A sensibilidade do poeta
Vê nascer palavras rimadas
Em forma de poesias derramadas

Não se faça mais poesias
Basta apenas se deixar olhar
Para inspirares aos poetas
Que por ti passarem

A leveza de Elys
O frescor de Elys
Na serra de Petrópolis
A poesia de Elys

(Nane)

PONTO DE VISTA

Fiz de uma mentira
A maior de todas as minhas verdades
E minha verdade
Nunca passou de uma grande mentira

(Nane)

MERECEDORA



Sinto todas as dores nos gemidos
Que arrombam meus tímpanos
E se instalam em meus ouvidos
Dia e noite, noite e dia

Sinto todas as dores das palavras
Vociferadas na insanidade
E aplacadas na sensatez
Depois de já tatuadas

Sinto todas as dores das culpas
Que pesam sobre meus ombros
Arqueados e obstinados
Enquanto hastes do meu karma

Sinto todas as dores da solidão
Que me levou ao lodo da podridão
Transformada em pérola viva
Enclausurada na própria devassidão

Sinto todas as dores das putas
Que transam sem amores
Para se manterem vivas
E viverem por seus amores

Sinto todas as dores de quem morre
Sem conseguirem descansar
Ao perceberem que a morte
É só mais um outro recomeçar

Sinto todas as dores de quem viveu
Sem nunca ter de fato vivido
E viu passar o tempo de viver
Sem ter mais tempo e nada para fazer

Sinto todas as dores que sinto
Apenas por merecer senti-las

(Nane-21/01/2015)

ANOITECEU

Já se faz tarde 
A noite bateu à porta
O crepúsculo levou o dia
Ao oriente recém chegado

As costas das mãos enrugadas
Ao digitar letras salteadas
É o mais doloroso dos espelhos
Mesmo que eu acabe por quebrá-lo

O sol arde e brilha intensamente
Num verão louco de 50º
Mas em mim já se fez noite
Sou poesia sem sarau

No limiar das profundezas
A um passo do abismo
O caminhar trôpego e vacilante
Conduz à noite alta

A indolência indiferente
Feito chicote retalhador
Envenenando meus sentidos
Apagando os meus dias

Não aguento mais
Se já é noite em mim
Por que não o apagar das luzes
No meu ocidente

O dia já se foi...

(Nane-21/01/2015)


A DOR DE UMA POESIA

Minhas palavras são nômades
Se vestem de pétalas e de espinhos
Vagueiam pela noite e pelo dia
Tem seus escritos de alegria e de tristeza

São palavras 
desencontradas
Desequilibradas
Vociferadas

Reflexivas
Taxativas
Impulsivas
Defensivas

Mas são palavras minhas
Adaptadas ao meu eu
Ao meu melhor e ao meu pior
Reflexo escondido e bem guardado

Minhas palavras vão do céu ao inferno
No simples tocar dos meus dedos
Arrancando de mim a explosão
Ao experimentar totais sensações

Por vezes me exaurem de tal forma
Que esgotam minhas lágrimas
Ou fazem doer a barriga
No gargalhar solitário

Sou intérprete delas todas
E as sinto a todo instante
Nas vidas diversas que criam
E me fazem protagonizar

Minhas palavras são fortes
E destroem meu abrigo
Mas é só assim que sei criar
As minhas poesias rabiscadas...

(Nane-21/01/2015)




terça-feira, 20 de janeiro de 2015

ASSIM



Dançam 
palavras
na
mente 
do 
poeta.
Gesticulam-se
os 
dedos,
desfilam 
poesias

(Nane)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O MEU CÁLICE

O poeta pediu e eu bebi
O cálice da bebida amarga
Que agora corrói minhas vísceras
E me destrói

Na calada da noite
Procuro refúgio
Nos bares notívagos
Onde não falta companhia

O monstro de mim emerge
E se deixa delirar no desejo
Do corpo pedinte e em brasas
Atordoando o absurdo do silêncio

Pai, nem tenho para me aconchegar
E se tivesse, nem sei se o faria
O cálice transbordou

Pileque é coisa natural
E vem depois a sensação
Da garganta cortada e mesmo assim, engasgada

As drogas prendem e fuzilam na Indonésia
Eu trafiquei o meu próprio veneno
E apontei na minha própria direção
A bala certeira e fatal

Agora entendo o que é não ter perdão
E na agonia ver chegar o dia
Da morte anunciada e cobrada
Pelo cálice do veneno derramado na garganta

Pai, se afastou de mim
E fiquei assim...só
De cálice na mão(boca)

(Nane-19/01/2015)

RAZÃO E EMOÇÃO

Cega-me os olhos
Para que eu não veja
O que me causa a dor

Sirva de iguarias
Às aves de rapina
Para não gravar na retina

Pinga-lhes o ácido
Apagando de vez a visão
E a própria escrita 
         
Já que escrever
Não será preciso
Ao amor inciso

Se meus olhos teimosos
Insistentes e lacrimejosos
Parassem de olhar

Por certo meu coração
Pulsaria mais de leve
E de amor não morreria

Mas não se morre de amor
Diz a máxima da objetividade
Que nunca foi poeta

Deixa na escuridão o meu olhar
Para que jamais veja no seu olhar
Um outro e fatídico amar

(Nane-19/01/2015)

ROUND

Então, o que faço com o coração
Órgão impoluto em sentimentos
Mas viciado às contaminações
Da nicotina necessária

Qual o mal pior
Causa-lhe a disritmia?
Só o cérebro processa
O amor ou a fumaça...

Mas se é amor
Que mal pode fazer
Ainda que não correspondido
Amar é sempre amor

Observo a fumaça 
Atrapalhando a visão
Enquanto formulo as palavras
Me perdendo no rabisco sinuoso

Viajo na minha própria poesia
E tatuo (na imaginação)
Entre as brumas produzidas
O rosto que me hipnotiza

Mas é tão efêmero a miragem
Que se dispersa ao sopro de um vento
Me fazendo entender
Nunca estar ao meu alcance

O tabaco maléfico
Mata-me aos poucos
Tudo bem
Não se faz pressa à morte

Me questiono insistentemente
Nas brumas do meu cigarro
Será a nicotina ou a tristeza
Que irá me nocautear...

(Nane-19/01/2015)


ZUMBI



Manhã  ou tarde
Noite, madrugada
Mente atiçada
Sanidade quebrada

    Nane

SÓ PARA VOCÊ

Pra chamar sua atenção
Faço e desfaço
E acabo de joelhos
Pedindo perdão

Na ânsia do meu desespero
Grito pelos quatro cantos
Fazendo escândalos
Ecoados na poesia

Mas o seu silêncio proposital
Consome meu equilíbrio
Atiçando a insanidade
Vociferando meu inverso

Baixa uma entidade
Destrambelhada 
Segregando em meus ouvidos
Palavras que eu não sei dizer

No tremor das minhas mãos
Construo estrofes desconexas
Que se ninguém mais entende
Você compreende

E vem você,
Com um sorriso maroto no canto da boca
Me fazendo esquecer do seu silêncio,
Recomeçar o que findou (?)

(Nane-19/01/2015)

domingo, 18 de janeiro de 2015

FALSO PROTAGONISTA

Era assim que eu me sentia; um morto vivo zumbiando pelos anais da nossa história, sem ser protagonista ou ter um tema musical marcante.
Quase uma década passada, a postura ereta, por vezes fria, enigmática e imponderável permanecia estática, sob meus olhos cálidos, avermelhados pelo choro constante, virando pedante e sem brilho.
Confusa relação de sentimentos amaranhados esperneando por todos os lados, sem identificação
prática. Forçando um surrealismo inconstante, tipo quimera ou devaneio de uma mente desacordada
ou descordada do que é realidade. Esse peso imenso trazido sobre os ombros arriados, cansados e lúdicos, na espera do amparo milagroso de um mesmo querer transloucado passado pela sintonia de dois seres tão distintos e paralelos.
Agora a morte se anuncia, e nada mais se faz imprescindível.
A pressa se acalmou e o vento soprou brisa. 
O protagonista da história não era eu.
O tema musical foi feito para outra personagem.
O tempo, esse escritor de ladainhas, que não se apegas às linhas substanciais, desenrolou os pergaminhos e escreveu de forma reta a verdadeira história que eu, na minha ilusão descabida, tentei entortar e enfeitar na forma que melhor me aprazou.
Quimeras e devaneios, sonhos e visões, fantasias e imaginações...tudo perdido no solavanco estrondoso do choque da realidade nua e crua. A impossibilidade de um final feliz fez o roteiro novelesco sequer ser levado em consideração. Chegou ao fim a história que sequer começo teve.

        (Nane-18/01/2015) 

LABIRINTO

Estranho lugar tão conhecido
Vazio lugar tão cheio
Vago por seus caminhos
Tateando sem saber
Onde e como me comportar

Aquelas pedras não estavam no caminho
Quando passei por lá
Mas ainda é o mesmo caminho
Por onde um dia eu andei

Me perdi num tão estreito caminho
Feito ostra sem sua concha
Exposta ao sol estorricante
Secando...se extinguindo

Estranhas pessoas circulando
No espaço tão dantes reservado
Estranho espaço tão novo
Onde me embaraço

A ponte leva a lugar nenhum
E o viaduto é corrimão de bêbado
Atravessando o trânsito cambaleante
Tonteado pelo soco do destino

O espaço vazio e frio
Não condiz com o que foi escrito
Ah...mas quem é que leu a página virada
E arrancada do livro desprezado

Um sopro gélido me bafeja
Como o carinho de um morto
Tentando consolar e conter os meus instintos
De quem se perdeu no seu (próprio) lugar

(Nane-18/01/2015)

TROLANDO

A sobriedade
Tolha meus sentidos
Então bebo para escrever
(e fumo)

(Nane)

ENFISEMA


Não é minha essa voz
Enfisemática e rouca
Talhada e murmurante
Na fumaça tóxica

Morrem as palavras 
Antes mesmo de saírem
Da boca cinzeirenta
Com dentes enegrecidos

O pulmão
Esse galardão
Respira na marra
Rompendo as barreiras

A hipercapnia sanguínea
Rouba o ar sagrado
E o mar...se afasta
Para não me afogar

Do outro lado
A voz que me ouvia
Reclama da minha
Já desconhecida

É minha e taxativa
Mas é enfisemática
Obstruindo a poesia
Não declamada...

(Nane-18/01/2015)

TENTE OUTRA VEZ

Nasce a poesia
No fundo da alma
Percorre o perispírito
Causando dores
Escreve o poeta
Rasgando suas entranhas
Sangrando as palavras

Quanta bobagem

Três palavras bastam
Para encantar 
E fazer Haicai

Um
Dois
Três

Não deu certo
Tente
Outra vez

Ah...
Tem uma porra de regra
Parece menstruação

Um
Dois
Três

Não sei fazer
Ora pois
Conte outra vez

(Nane-18/01/2015)

ANONIMATO

Morre o poeta
Fica a poesia
Sem autoria

    (Nane)

sábado, 17 de janeiro de 2015

VÔMITO



Não tenho nada
Além da porra da verve
Escrita à 70°
E vomitada em lavas.

        Nane


DE CARONA NAS ASAS DA ANDORINHA



Eu, de palavras pesadas
Presas ao chão
Amarradas aos sortilégios
De uma alma soturna

Ela, de doce encanto
Nas palavras aladas
Voando em poesias
Da sua alma de Andorinha

E feito menina perdida
Seguro a sua mão 
Pegando carona
No seu lirismo

E feito anjo da guarda
Você, generosa
Segura a minha mão
Deixando que eu também alce seu voo

Divide comigo a autoria
Do que seria uma triste poesia
Transformando-a numa alegria
Compartilhada por nós duas

(Nane-17/01/2015)

DES/APEGOS

Morrer é consequência da vida
E quando me for, irei de bom grado
Mas serei um defunto inconformado
Se o maior dos meus sonhos não for realizado

Talvez eu vá sem me apegar
Aos laços que deixarei
Mas a tristeza sob os meus olhos fechados
Irá comigo

Levarei a certeza de que por um só instante
Toda a minha (então) vida valeu a pena
Quando se fez infinito o seu olhar
Ao pousar sobre o meu

Foi, com certeza a mais bela das poesias
Que eu, por força do destino
Não consegui transcrever
Mas vi nascer dentro de mim

E foi tão intenso e veemente
Descortinando mentiras e verdades
Lavrando sentimentos adormecidos
Abrindo sequelas eternas

Talvez, na imensidão do meu sono
Irei sonhar de novo
Com o maior dos meus sonhos
Que em vida não pude realizar

(Nane-17/01/2015)



sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

FASES DO REVERSO



Meus versos são o reverso 
Acolhendo e protegendo
Meu íntimo guardado
Acabrunhado

Neles dou vazão
Aos devaneios e ações
Contrariando a intolerância
Da minha criação

Meus versos toldam meu perfil
Expondo os amores
Desejos e saliências
Que jamais vivenciarei

Fazem de mim insana
Aos olhos dos que os leem
Enquanto eu sigo simplista
No meu anonimato

Meus versos me pagam a passagem
Para o mundo que eu sonhei
E que nunca embarcarei
Por viver a realidade

São o lado obscuro de mim
Feito a lua vivendo em fases
E enquanto eu os escrever
Por nada eu morrerei...neles

(Nane-16/01/2015)

TRAÇOS



Faço
seus 
traços
traçados
em 
todos
os 
traços 
que 
vejo
e
traço

(Nane-16/01/2015)

*Inspirado na tela: Bhuda
de Fao Carreira

NO MAR DO AMOR



Segue seu fluxo instintivo
Rumo ao destino reservado
Sem deixar que nada reprima ou represe
Seu curso natural

Vá, na sua aparente mansidão
Deixando marcas no seu leito
E flores em suas margens
Alimentando múltiplas vidas

Deságua sem ponderação
No azul do mar que te oferece
As entranhas abertas à invasão
No seu doce e derradeiro enlace

Não se assuste com as turbulências do coito
Nas núpcias primordiais
A correnteza conduziu a união
E se deitou junto à maré

Não temas o seu final
Posto que foi feito a fusão
E agora és também o mar
Onde decidistes acabar...

(Nane-16/01/2015)




TERRA DE NINGUÉM




Os genes entranhados no cromossomo
Competem pela hereditariedade
Que prevaleça o mais forte
Assim como o espermatozoide

Nasce o homem forte e conquistador
Luta a todo instante da vida
Por casa, comida, prazer e amor
É chamado de senhor

Orgulhoso de seu poderio
Ostenta suas conquistas
Advindo (ou não) do seu labor
Da sua arte de vencedor

Uma vida inteira de lutas
Divididas em batalhas perdidas e vencidas
Agora é dono de tantas terras
Carros, mansões, aviões, e etc

A estrada levou muito tempo
Para ser totalmente percorrida
E agora, finalmente a guerra está vencida
Pelo competente competidor

Nem percebeu que seu filho cresceu
Mas ele compensará com sua herança
A falta que porventura existiu
Ao abastado hereditário

Suas terras também competem
Pelo direito de te enterrar
E se estercarem com os seus genes
De bravo conquistador

Quem  aqui é de quem
A terra é sua e de mais ninguém
Ou é você, pobre rico iludido
Propriedade desta terra de ninguém

(Nane-16/01/2015)


O INQUILINO

O ataúde aguarda o inquilino
Que frio, não tem pressa
O contrato está assinado
A moradia decorada

Impassível, o inquilino espera
Quem virá saudá-lo
Na sua vivenda diminuta
Tão escura...

Não esboça qualquer sentimento
Não se importa se virão
Aguarda o ataúde que o guardará
Das aves de rapina

Se dia ou noite
Se sol ou chuva
É chegada a hora
De tomar posse

Assume o espaço
Ninguém vai despejá-lo
A casa é sua
Durma em paz

Se veio alguém
Se alguém chorou
Se alguém sorriu
Ele mudou e não disse adeus

(Nane-16/01/2015)

VEREDICTO

Rasgam minhas carnes as garras afiadas
Expondo as vísceras estropiadas
Sangrentas e com cheiro nauseabundo
Enojando sentidos de quem observa

E na calada da noite
Olhos não faltam
Para virem o que não querem
Mas fixados e perplexos, olham

Aguardam feito abutres
O desenrolar de tudo
Esperando a fatia cabida
À cada um dos cães famintos

Retalhado e mutilado
Não tenho reação
Gritar inocência não adianta
Os fatos induzem à mim

Vibram e comemoram os incautos
Vou pagar pelo que não fiz
É preciso um Judas, eis-me aqui
A pena em questão...é a morte

Melhor assim do que ter o pescoço navalhado
Em plena mídia televisiva
Matem plenos de todos os fatos
E deixem-me morrer no anonimato

E se de fato tirei a vida de alguém
Que me julguem e condenem
Mas se não o fiz...
Tende piedade de vós o dono da vida

(Nane-16/01/2015)

LÁGRIMAS DE MÃE

A cidade enlouquecida
Solta bombas ou rojões
Sem que eu saiba defini-los
Pelo som da explosão

No noticiário da manhã
Uma mãe ensandecida
Chora o filho morto
Na sua esquina, tão perto da minha

Meu filho solto na madrugada
À caminho do serviço
Os cães ladrando num agudo
Feito lobos enfeitiçados pela lua

Até o alvorecer, não sossego
E a noite teima em demorar
Fantasmas sonoros atordoam
Os pesadelos de tantas mães

(Nane-16/01/2015)





quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A LEVEZA DA LAVA



Tira o véu da carcaça
Verás o pouco que sobrou
Depois do terremoto
Que varreu tudo em mim

Um tsunami devastador
Fez reviravolta em tudo
Derrubando meus preceitos
Aniquilando raízes

Se apoderou do meu destino
Invadiu ofegante
Onde passou tudo levou
Arrasando e destruindo

Hábil fera, nem tempo tive
Para trancar o espaço
Veio devastando
Varrendo, rasgando
Queimando sem fogo

E eu
Tão vulnerável e sonhador
Nem tive tempo para entender
Que isso era amor...

(Nane/Adri Lima-15/-1/2015)

*Foto de Jane Bell

ALÉM DA CONTA

Amanhã será um novo dia
E eu, tonta, espero por ele
Debruçada na janela
Feito Carolina
Espero por ele, que não vem

Passa um
Dois
Três
Quantos mais
Anos
Décadas
Mas eu espero

Amanhã será um novo dia
E eu, acordada do sonho
Percebo enfim
Que amanhã o dia
Será tal qual o que foi ontem
Quiçá pior

Ano novo
Vida velha
Viver demais
Além da conta
Pagar o juro
De não morrer
Quando devia

Amanhã será um novo dia
Para quem sobreviver
A roleta rola russa
Na têmpora do temporal
De quem tiver coragem
De decretar o seu final

(Nane-15/01/2015)

EMBRIAGANDO

Estouram meus miolos
Numa dor lancinante
Fatiados e servidos
Ensanguentados e frios

A madrugada me cobra
O tabaco acabado
A nicotina no cérebro
Servido e desmiolado

Agita a adrenalina
Exalta a cava braquial
Na madrugada previsível
De temporal cerebral

A cerveja está quente
É meio de semana
Desequilíbrio sistemático
Da maldita nicotina

Misturam-se os assuntos
Convergem num mesmo ponto
Cerveja sem cigarros
Suicídio sem morte

Deitar é prolixo
Fingir morrer e adormecer
A droga é o pesadelo
Assombrando a noite escura

Não quero parar de escrever
São tantas as ideias
E quando deito elas se proliferam
Sem conseguir saírem

Se perdem de mim
E eu as perco
Poesias indefinidas
Em mim

A pressão subiu, é verdade
17/12 no momento
Estouram meus miolos
Numa dor lancinante

Rima com rocinante
Cavalo de um maluco
Nem sei qual foi o seu final
Mas o meu...também (ainda) não sei

(Nane-15/01/2015)




NO PISCAR DOS OLHOS

Meus olhos veem o que não deveriam ver
Ignomínios à realidade 
Cegos à verdade
Biltres à própria visão

Talvez melhor fossem arrancados
Por pássaros famintos
Feito o fígado de Prometeu
Expostos ao sol do meio dia

Meus olhos enxergam mentiras
Cravadas e fincadas em suas retinas
Deveriam servir de saladas
Às aves das apologias

As grossas lentes que os auxiliam
Trocadas de tempo em tempo
Lembram a todo instante
Que já não valem tanto

Meus olhos enxergam o que querem
E por isso ferem o coração
Mas as aves de rapina se acocoram
Esperando a hora certa

Meus olhos embaçados e cansados
Não brilham como deveriam
Querem, no máximo hoje
Fecharem e descasarem...

(Nane-15/01/2015)

PRESENTE DE GREGO

O futuro foge de mim
Em passos apressados
Como a temer a covardia
Ou a melancolia

Pudesse ele e me jogaria
Ao passado distante
Onde me viu criança
Cheia de esperança

O futuro sente pena do meu presente
E por isso me ignora
Até tenta gostar de mim
Mas sabe que nunca o terei

Esse é o seu destino
Selecionar a semente boa
Descartar os fracos e adoentados
Colher o melhor dos frutos

O futuro é um bom sujeito
Sou eu a semente apodrecida
Meu presente é de grego
Meu futuro...de merda nenhuma

Todos os dias eu espero
A surpresa de um sorriso
Mas o que inunda a alma
É o rio que não deságua no mar

Não vejo a hora dele (futuro) chegar
E cumprir com o seu destino
Apagar todas as reticências
E colocar, enfim o ponto final.

(Nane-15/01/2015)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

SOBRE MIM



Deixa cair a água sobre mim
Lava ela, meus tortos pensamentos
E as marcas impregnadas
Da vontade delirante
Do meu corpo em tuas mãos

Leva ela, mesquinhos desejos
Escorridos pelos sulcos
Escondidos sob a roupa
Molhada e refrescante
No calor escaldante

Deixa jorrar sobre mim
Lavando e levando
Amarguras e descontentamentos
Limpando meus poros empoeirados
E me fazendo limpa

Deixa molhar minha alma
Feito passarinho na chuva
Em tarde de verão
E quem sabe levanto voo
Rumo à poesia

(Nane-14/01/2015)

ENSINANDO A PESCAR




A porra toda dá errado
A visão turva e os dentes enfraquecem
A merda da terceira idade bate na porta
E os otimistas dizem ser a melhor idade

Emprego não tenho
A carteira vazia me limita
O amor passou pelo outro lado da rua e não me viu
Se Deus quis assim, é por ter algo melhor pra mim

Só não me lembro de ter pedido isso a ele
Nada do que quis ou fiz, deu certo
Incompetência minha
Deus não tem porra nenhuma com isso

Peça e te será dado
Estive ocupada demais enquanto jovem
Pedi e aguardei que fosse atendida
Me fodi e aprendi

Agora pouco posso fazer
A idade não permite
E tudo o que restou em mim
Foi o aprendizado do peixe pescado

(Nane-14/01/2015)

INDIGENTE



A sarjeta abriu suas portas
Sem pedir caução e nem reserva
Nu, não dá pra ficar
Atentaria contra o pudor
Por ter à mostra a genitália

Indigente denegrido
Tomado por indolente
Coçando piolhos na barba
Dormente da dignidade
Letárgico da saudade

Na mente diluente
Só o desejo corporal
Matado num copo de cachaça
Comprado por vinténs
Jogados na calçada

Estou bem alojado
Sem pagar o aluguel
Sem selfies e sem paus
O de comer Deus provém
Enquanto perdurar

Olham-me com nojo
E uma certa piedade
Vagabundo e andarilho
Que outrora teve casa e comida
E foi doutor letrado

A sarjeta abriu suas portas
Sem pedir caução e nem reservas
A calçada é meu leito
O papelão meu cobertor
E a borracha...meu apagador

(Nane-14/01/2015)




UMA POESIA DE AMOR




Expectativas tantas
Pesaram demais
Cobranças descabidas
Minha e sua

Persiste sim, o amor
Mas as estradas paralelas
Nos impede a aproximação
Nos afasta da paixão

Outro alguém tomou conta de você
Traição...não
Outra pessoa tomou meu corpo
Traição...não

Complicamos o que era simples
E por castigo caminhamos lado a lado
Fingindo uma felicidade
Que sabemos não existir

A vida exige isso de mim
A vida exige isso de você
Que possamos ao menos fazer felizes
Os que agora caminham aos nossos lados

A nossa poesia prosseguiu
A nossa poesia nos uniu
Virou poesia o nosso amor
E a poesia...é imortal

(Nane-14/01/2015)



terça-feira, 13 de janeiro de 2015

VAZIO

O tempo passa depressa
Parece voar...
Aquele já longínquo 13 de novembro
Levou sua presença física
Tirou nossa convivência diária
Deixou a saudade em seu lugar
E o vazio apertando os gargomilos

Onde anda você agora
Que não sabia andar sozinha
E pedia sempre a minha mão
Para atravessar as ruas que te assustavam
E as travessas que te faziam se perder
Em meio à multidão

Esse silêncio incomoda
Esse não saber machuca
A sua voz se diluindo em meus sentidos
Essa falta da sua mão na minha
E esse maldito vazio tão cheio de você
Marejando meu rosto soturno

O tempo parece se arrastar
Aumentando mais ainda a sua ausência
Levando embora seus sinais (vitais)
Falsificando a minha paz
E me privando do seu amparo
Quando eu corria pra você

Agora restou o vazio...tão vazio
Que se encheu de saudades

(Nane- 13/01/2015)

INCOERÊNCIA



Mora dentro de mim
Um ser repugnante
Que se não domado
Infla e extravasa

Cospe palavras ásperas
Vomita a sua ira
Sabedor da própria incapacidade
Morde seu próprio rabo

Arrogante e indiferente
Não se comove com outras dores
Além da dele
Em estado de ebulição

Escarra seus dejetos 
Evacuando na latrina branca
Palavras de baixo calão
Expondo despautérios

Mora dentro de mim 
Um ser repugnante
Que julguei não conhecer
E tão pouco entender

Um anjo profano e instigador
Acabrunhado pelos sapos engolidos
Mas que se liberto extrapola
Marginalizando a minha coerência

(Nane-13/01/2015)






ESTRANHO AMOR

Todo mundo tem um estranho amor
Que fica ou vai embora
Sem deixar marcas ou lembranças
Ou fazendo desabar suas ilusões

Mentiras e verdades
Amalgamadas feito um concreto
Perdidas nas medidas
Esfarinhadas pelo tempo

Madrugadas de esperas em vão
Por um sinal qualquer
Uma simples ligação
Nada...nenhum sinal

E o tempo passa sem se importar
Com ele, o próprio tempo
Mas o espelho e o corpo insistem em provar
Que o estranho amor não se acabará

E a vida sem sentido prossegue
Até a hora de findar
Fica a pergunta no ar
Esse estranho amor de fato vai passar?

(Nane-13/01/2015)

DEUSES



Meus deuses se fazem ímpares
E seus Olimpo está em cada esquina
Onde eu dobro sem saber
O que me aguarda na quebrada

Maldita ou bendita
Cruzo com seus desmandos
Instigada pelo álcool
Ou pelas dúvidas da fé

Meus deuses são profanos
Reciclados pela história
Distorcida e evasiva
Sem me dar certeza alguma

Meus deuses caminham lado a lado
Com o pecado e a impureza
Da vida humanizada e desaforada
Perdida numa mesa de bilhar

Meus deuses não me protegem
Dos karmas poliglotas
Que nem sabem o que dizem
Quando embriagados me acompanham

Meus deuses se perdem
Nos meus devaneios
De poeta sem cabrestos
Em poesias com sentidos

Meus deuses são filósofos
Preocupados com a razão
Esquecendo que quem manda
É o insensato coração...

(Nane-13/01/2015)



PICADINHO DE CORAÇÃO




Só você não vem
E me pergunto então
Por onde andará
Seu coração
Andarilho e sem raízes

Te dei o meu
Mas faz dele picadinho
Servido na mesa dos bares
Aos poetas da madrugada
Que mais do que eu, te fazem poesias

E o imbecil continua batendo forte
No ritmo do seu nome
Arritmado para a vida
Distante de você
Sem mais interesse algum

Meus versos não fazem rimas
Se não soletrar esse amor
Que só encontra na dor
Da tristeza do desprezo
No desencontro de valores

São poesias doloridas
Escrita com as lágrimas
Do meu não poder te ter
Misturadas ao sangue do idiota
Que insiste em te querer

(Nane-13/01/2015)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ODE AO LEITOR





De que valeria os meus escritos
Se não fosse por você
Que doa parte do seu tempo
Para me prestigiar

É para você que eu escrevo
É a minha forma de dizer
O quanto agradeço
O tempo dedicado

Seu rosto e seu sexo
São parte do contexto
De cada um dos meus textos
Expostos nas estrelinhas

Conflitos e pendências
Amores e desamores
Vidas e mortes
Vitórias e derrotas

Sensibilidades e sensualidades
 Encontros e desencontros
 Sorrisos e lágrimas
Cavas de cervejas e vinhos

São meus escritos
Dedicados e partilhados com você
Que orgulhosamente nomeio
De meu leitor

(Nane-12/01/2015)


*O dia do leitor é 07 de janeiro, a homenagem,
apesar do atraso é sincera. O meu muito
obrigada a cada um de vocês!

AMOR DE CORPO E ALMA



Seduz-me o teu corpo sinuoso
A tua boca entreaberta
As tuas mãos macias
O teu carinho tendencioso

Encanta-me a tua meiguiçe
Teu jeito criança
Tua risada escancarada
Teu cantar desafinado

Fascina-me o teu olhar conquistador
Inquerindo e subjugando
Cada poro do meu corpo
Incendiado por teu pouso

Enternece-me a sonoridade da tua voz
O afago quando precisado
A candura  do teu abraço
O aconchego do teu peito

Enlouquece-me o teu prazer
Quando cisma em me dar prazer
E me revira pelo avesso
Até a explosão do nosso orgasmo

Emociona-me a tua paz
Quando serenado os momentos
Adormece pueril
Inocente e angelical

(Nane- 12/01/2015)






NÃO É PRECISO




É preciso mudar o foco
Quando a meta está perdida
É preciso remar contra a maré
Quando o redemoinho puxa o barco

É preciso redescobrir a si mesmo
Quando as brumas teimam em ofuscar
A luz divina e própria de todo ser

É preciso deixar viver
Quando a vontade quer morrer
É preciso persistir
Quando na verdade, o que se quer é desistir

É preciso não cair em tentação
Quando  qualquer tipo de paixão
Cegar e induzir ao chão

É preciso reconhecer
Quando a batalha se perder
É preciso levantar e lutar mesmo
Quando a guerra mutilar

É preciso tanta coisa
Quando se está vivo
Que só morrer não é preciso

(Nane-12/01/2015)


*Imagem de:  Hugo Espíritu Escobar

sábado, 10 de janeiro de 2015

ESCREVENDO



Escrevo pra mim
Pra ti
E pra quem mais vier
Gosto de desafios
De temas
E escrevo
Sem valia
Sem pretensão
Só por diversão
Peça e te sirvo
Na mesa a poesia
Sem distinção
Amor
Ódio
Clemência
Injúria
Palpite
Sexo
Loucura
Melodia
Peça e te sirvo
Na mesa a poesia
Exclusiva
Abusiva
Primitiva
Ou pelo menos
Tentativa
De escrever
Poesia

(Nane-10/01/2015)

INSTRUMENTO




Toca
Com suas mãos
Em meu corpo
A música do amor
Composta no exato instante
Em que o seu olhar
Cruzou com o meu
E me fez cativa
Bailarina
Dos seus sons
Encantada e dominada
Pela magia
Vivendo a ilusão
Da dança lírica
Tocada por suas mãos 
Em meu corpo caliente
Hipnotizado e entregue
Aos seus caprichos 
De encantador
E eu vou
Sem olhar para trás
Dançando
E me encantando
Dançando 
E me apaixonando
Dançando 
E me entregando
Eu vou...

(Nane-10/01/2015)



BORRA DE CERVEJA




Onde é e o que é não importa
Se tenho que ir...caminho
E vou seguindo a direção
Determinada pela inspiração
Do momento (etílico) ou não

Vendas e burcas limitando
As subidas e descidas na contramão
Fazendo perder a direção
Do caminho certo à seguir
No redemoinho em turbilhão

As palavras se confundem 
E saem sem que eu possa ordená-las
Não sei se são minhas
Ou se eu é que sou delas

O copo não esvazia
Pingado de energético
Me mantém acesa na madrugada
E acelera o coração

Larga mão de tanta confusão
Por um nada que te faz tudo
Ou um tudo que te reduz à nada
Na borra da cerveja

É só um desenho no fundo da tulipa
No final de mais uma noite de insônia
No raiar de mais um dia
Provavelmente não lembrarei de nada mais

(Nane-10/01/2015)

VADIANDO

Cancelo meus sonhos
Foco a realidade
Passo por obstáculos
Tratorando a estrada




Lá fora a selva é fria
Gente fingindo ser gente
E gente sendo presa fácil
Para gente predadora

O mar se faz bravio
Na ressaca natural
Eu chafurdo a noite
Na ressaca moral ( e alcoólica)

As calçadas fedem à urina
De cães e homens vadios
Perambulando sem destino
Na madrugada desenfreada

Se a carne pede, me entrego
Ao primeiro que me faz sorrir
O sexo é só um complemento
Necessidade...

O amor está perdido por aí
Em algum lugar
E a desgraçada da câimbra
Me lembra da falta do potássio

Caminhar na cidade sem destino
Sem mãos dadas com alguém
Faz de mim puta marginalizada
Na visão social da comunidade

Dane-se os pensadores
Os profetas e os censores
Esta noite sou profana
Solta na cidade...

(Nane-10/01/2015)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

HORIZONTE

Tão tênue a linha.
E no entanto me faz sonhar
com o lado de lá...

O tempo para e a mágica acontece
transportando pensamentos,
levitando meu corpo inerte
em direção ao horizonte.

Busco sem sucesso
o final da linha
que se afasta cada vez mais
dando vazão à imaginação

Lá,
onde adormece o sol
e o céu encontra o mar,
descanso o meu olhar!

(Nane-09/01/2015)

KIKI

Ainda te vejo bebê
Que tanto, no colo carreguei
E batizei...
Dona das suas vontades
Virou mulher (ão)
Linda!
Mansa e bravia
Feito o vento e a brisa
Chora sorrindo 
E sorri chorando.

Ainda te sinto criança
Que eu assustava com um lençol
Quando na noite misteriosa
Dava asas à sua imaginação
E brincava de fantasmas
Em meio à criançada
Te deixando apavorada.

Ainda sinto o cheiro dos cremes
Que roubavas do meu banheiro
E "hidratava" os pelos dos meus gatos
Pobres, que te "odiavam"
E fugiam, ao te ver, apavorados.

Mas agora és mulher(ão)
Dona das tuas vontades
Mansa quando quer
Brava quando ferem
Deixando-se conduzir
Ao sabor do vento que te sopra
Mas sabendo sempre...onde pisa.

Abra suas cortinas
Viva teu destino
Começa (sem medos) tua jornada
De bela e sábia Balzaquiana!

(Nane-09/01/2015)

ASSASSINOS




Angústia
A pressão é física
Ar rarefeito
Respiração pesada
Corpo cansado
Mente do diabo
Que mente pra me agradar
Ou mesmo sufocar

Mataram covardemente
Quatro dos meus gatos
Achados na rua da amargura

Então misturo as sensações
Do fracasso e da impotência
E rasgo o verbo em poemas
Que se não dizem nada
Alivia a insanidade
Da minha mente perturbada
E carente de atenção

Mataram covardemente meus gatinhos
Que me faziam carinhos
Em troca de ração

Me perco em maluquices
Que me passam pela cabeça
Uma vontade louca de sumir
Arrancar os cabelos com as mãos
Surtar e me deixar prender
Estourar meus miolos ensandecidos
E correr sem paradeiro

Mataram covardemente meus bichanos
Por motivos desconhecidos
Ou apenas por serem notívagos

Uso suas mortes
Para esquecer dos meus problemas
Foco nesse infortúnio
Empurrando com a barriga o meu
O ar ainda está rarefeito
E o diabo pronto para atacar
Me envenenando como aos meus gatos

Mataram covardemente meus gatinhos...

(Nane-09/01/2015)

REVIRADA




Você tem o poder
De revirar minha cabeça
Me ensurdecer com o teu silêncio
E me cegar com  o teu olhar

Todas as minhas vontades
Se alinham e se curvam
Sem nenhuma resistência
Num simples gesto teu

Eu tento ir embora
Dispersar meus pensamentos
Desfazer o seu feitiço
Mas tudo é em vão

A vida me condena a solidão
E passo por ela sem reclamar
Tentar pôr outro alguém em teu lugar
Não adianta nem tentar

Revira minha cabeça e minha vida
Sem pedir licença
Sai da mesma forma que entrou
E me deixa à "ver navios"

(Nane-09/01/2015)
















quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

CHARLIE HEBDO




Ah! Tola santidade pecadora
De um deus cego e justiceiro
A ponto de distinguir o bem do mal 
E cobrar justiça com as próprias mãos

Tolas criaturas
Aficionadas em seu criador
Dispostos a matarem ou morrerem
Pelo bem(?) da criação

Insanas verdades
De uma terra prometida
Mal interpretadas
Ceifando vidas

O deus onipotente
Exige a perfeição
Extermina a sub-raça
Explode os renegados

Deus!
Tamanha ignorância

Exaltada (e praticada) em teu nome
Tende deles piedade...

(Nane-07/01/2015)


POETA ROUXINOL




Pássaro noturno
Sou eu e minha poesia
Escondido na timidez do meu trinado ( rimas)
Por vezes desencontrado

Companheira e amiga, a madrugada
Dá guarida aos meus devaneios
Arrancados das profundas do meu ser
E adormecidos ao amanhecer

Rouxinol esquecido da sua rota
Sobrevoo num círculo sem pouso
Numa mesma e sistemática retórica
Sem nenhuma consistência

Cantar na madrugada
Não sou ave de mau agouro
É que a solidão me inspira
E escrevo (trino) melhor

Sou ave solitária
Sem ninho e sem livro
O meu canto é uma missão
Que depena a minha alma

Escrevo meus trinados
Solitários e doloridos
Se um dia outra ave ouvir
Quem sabe me fará sorrir

Pássaro soturno
Escondido na madrugada
Trinando palavras vomitadas
Do cume do meu âmago

(Nane-07/01/2015)



terça-feira, 6 de janeiro de 2015

KITY

Mulher,
aproveita do teu brilho o sol
e finge refletir a sua luz
na tua aura dourada!

Mulher,
poesia te queria fazer
mas, se és tu a própria,
calo e te contemplo!

Mulher, 
tens de mim
o mais puro dos sentimentos
(possível) de uma alma irmã!

Mulher,
fiel companheira,
mineira guerreira,
teu nome é beleza!

Mulher,
faz do teu mundo posse
e da tua vida, liberdade
plena vivida!

(Nane-05/012015)





O CANTO DA COTOVIA

Nasceu cotovia cantora
de belas e invejada plumagens.
Cantou e encantou
pelos ares em que planou.

O belo caçador a seduziu
e ela a ele se entregou.
Numa gaiola dourada foi morar
por acreditar ser a segurança de um lar.

Encantada e segura viu passar o tempo e desdenhava, Os pardais sem berço que na alvorada, vinham alvoroçados em busca 
das migalhas caídas.

Remotas lembranças de liberdade
vinham então perturbar a sua paz, quando
os "plebeus" satisfeitos, batiam em retirada
na barulhenta revoada.

Fixou a ideia de voar (novamente),
mas seu pouco espaço não permitia.
Até tentava bater suas asinhas, que 
atrofiadas, só fazia sentir dor.

E cada vez que a passarada
vinham beliscar a farelada,
a tristeza se instalava e a 
cotovia não mais cantava.

A segurança não mais a seduzia.
Queria de volta a liberdade
de cantar e voar por qualquer lugar.
Mas isso a cotovia não mais podia...

Um belo dia o caçador, ao perceber
sua tristeza, decidiu e a porta da gaiola
abriu. A cotovia sorriu feliz! Cantou 
no mais alto tom que conseguiu!

Estava enfim de volta à liberdade
e agora voaria sem ter limites à prendê-la!
Aprumou-se e estufou o peito, em
posição de decolagem.

Bateu suas asas atrofiadas, mas não saiu
do seu lugar. A pobre cotovia, voar,
não mais sabia...

(Nane- 06/01/2015)



segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

EFÊMERO AMOR



O vento sopra a  terra
E levanta a poeira
Mas o pó é o pó
E finca raízes

O vento sopra
Na direção que quer
E vai embora
Levantar outra poeira

A terra aguarda
Saudosa do frescor
Que o vento proporciona
Com seu carinho efêmero

Sabe que ele virá
Mas seu destino é esperar
Alimentando as raízes
Fincadas em seu chão

O vento corre mundo
Sem parada ou direção
Beijando outras terras
Vivendo outros amores

Ele sabe que encontrará
A terra pronta para ele
E quando quiser soprar
Ela irá o abraçar

Então todas as amarguras
Todas as saudades
Todas as vontades dela
O vento acalentará...

(Nane-05/01/2015)

CICLICIDADE




Aprendi com minha mãe a cuidar da terra
Observava num cantinho enquanto ela plantava
Flores e verduras desabrochavam para ela
E escutavam-lhe as conversas fiadas

Hoje planto e converso
Enquanto meu neto observa
Vez por outra me pergunta
O que eu falo com elas

Eu pensava ser maluquice
Os bate papos de minha mãe
Agora me divirto com o espanto
Do menino Frederico

Nas voltas que a vida dá
Voltamos sempre ao mesmo lugar
A semente que plantamos lá
É a flor que colheremos cá

A ciranda da vida rodando
No incontestável ir e vir
Mudando as peças de um jogo
 Permeado pelo destino predestinado

(Nane-05/01/2015)

domingo, 4 de janeiro de 2015

INSPIRAÇÃO DIVINA




E hoje, você aniversaria!
Presente, não tenho.
Abraço, não posso dar (por enquanto).
Um beijo, na imaginação.
Uma amizade...fincada no coração...
É amor maior que o mundo
e talvez até, mais um pouquinho.
Amor de amiga de tanto tempo
que me faz ter orgulho poder sentir.
Baiana "retada" e sem medidas.
Sem meias palavras e meias vontades,
e meia de  porra nenhuma.
Baiana inteira e orgulhosa
das suas origens e suas raízes...
 O calor do teu abraço,
ainda que distante,
me aquece e me conforta
nos momentos em que te chamo
e vens correndo ao meu encontro.
Mesmo que seja para me dar uns "cascudos"
quando passo dos limites...
E saber dos teus cuidados
é presente divino!
O aniversário é teu, de fato.
Mas a agraciada sou eu
por ter você assim...pertinho de mim.
Sabe Si, como diz o Armandinho:
Quando Deus te desenhou
ele tava namorando e perdidamente...
apaixonado!

(Nane- 05/01/2015)