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sexta-feira, 18 de junho de 2010
Plenitude
Fui criança encapetada, daquelas que deixava a mãe
com os cabelos caindo de tanta preocupação.
Roubei legumes e frutas nas feiras livres, briguei
na rua com outras crianças, me achava invencível e
que podia tudo. As surras que levava eram de varas,
que se não de marmelo, de amoreiras, que mamãe des-
fiava-me nas pernas finas e longas. E mesmo assim, mal
saía de uma surra, já entrava na fila da próxima.
Pulei muro de escola para fugir da aula, e quando
chegava em casa, a fichinha de ocorrência já estava
assinada e a vara me aguardando. Roubei manga no pé no
quintal do vizinho e rasguei as costas no arrame farpado
ao fugir do tiro de sal que ele enfurecido, tentava(?)
acertar.
E como era bom nadar no rio escondido dos meus pais, e
depois encontrar uma desculpa esfarrapada para justificar
a roupa e os cabelos molhados.
Já fiz cópia da chave do carro do meu pai, para passear
enquanto ele trabalhava, sem me lembrar que só tinha 10
aninhos.
É, eu já fui feliz intensamente, mesmo sem saber que estava
sendo. Não que eu seja infeliz, mas ser criança é ter o poder
de ser feliz sem ter obrigação de ser. É estar bem próximo da
completa felicidade.
Pena que a gente só entenda isso depois da infância perdida...
(Nane-18/06/2010)
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