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terça-feira, 10 de março de 2015
SAUDADES APENAS
Hoje senti saudades
Do cheiro da bala de coco
Que fervia na panela
Enquanto minha mãe limpava
A pedra de mármore
Onde seria esticada
Senti saudades
Dos meus tantos irmãos
Brincando e brigando
Nos quartos e no quintal
Onde vivíamos embolados
Sem perceber que era ali
A nossa raiz
Hoje senti saudades
De quando o maior dos meus problemas
Era esconder da minha mãe
A traquinagem que aprontei
E o medo do "coro"
Que por certo viria
Ao ser descoberto
Senti saudades dos bichos
Que cresceram comigo
E se foram tão cedo
Me fazendo chorrar em cada enterro
No jardim tão bem cuidado
Pelas mãos de minha mãe
Hoje senti saudades
Da comida e do tempero
Disputada quando se ouvia
A voz de minha mãe
Dizendo estar pronto
Chamando para almoçar
Senti saudades da união
Pela faixa etária dos irmãos
Que se agrupavam naturalmente
E de outros se distanciavam
Sem noção ou preocupação
Do que era o certo e o errado
Sendo só o natural
Hoje senti saudades
Dos dedos de minha mãe
"Tamborilando" minha cabeça
À procura dos piolhos
Trazidos do Grupo Escolar
E arrancados sem piedade
E num "tic' dos polegares esmagados
Senti saudades do banho bem dado
Quando os joelhos permaneciam encardidos
E minha mãe ameaçava lavá-los
Com um caco de telha
E eu saía "branquinha" do chuveiro
Banhada por minha mãe
Hoje senti saudades
Da ansiedade pueril
De querer ser gente grande
Sem saber que eu já era
E que toda essa saudade
Vem só agora me dizer
Que a felicidade morou ali
E me abraçou com os braços da minha mãe
(Nane-10/03/2015)
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