terça-feira, 3 de março de 2015

LEVADA PELA MARÉ

Noventa são os anos
passados ligeiros
ou não.
Talvez arrastados
em toscas lembranças
de tempos tão idos.

O negrume dos cabelos
contrastando com o verdume
dos olhos tão vivos
num corpo longilíneo,
delgado, tão belo,
e desejado.

Ah se soubesses menina
o que te reservava a vida,
talvez mudasse o rumo
do barco em que embarcastes
num rio disfarçado de mansidão
e terminado em corredeiras.

Desaguado num mar de tormentas
bravamente remados pelas mãos
que enquanto duas, tiveram forças.
Cepada uma delas pelo destino,
embora presente e sem valia,
à deriva da boa vontade da maré.

Ah menina das Minas Gerais
perdida num Rio de Janeiro
eclodida em sementes várias
germinadas dos teus sonhos
de faz de conta que o teu escolhido
era um príncipe.

Ah senhora dos cabelos brancos,
prostrada na tua cama
sem brilho nos teus olhos
que vagueiam para o nada
ou mesmo para o tudo
do que possas enxergar.

Talvez seja eu a pior das sementes
que ao invés de te parabenizar
lamento o teu fardo
de carregar em tuas raízes
árvore de frutos fecundados
sem o devido adubo.

(Nane-03/03/2015)








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