sexta-feira, 20 de março de 2015

HISTÓRIAS DE MINHA MÃE III (TRAQUINAGENS)



Dos livros que li na minha infância, 
dois foram os que mais me chamaram 
a atenção: O meu pé de laranja lima
e O feijão e o sonho. Respectivamente
de autorias de José M. de Vasconcelos e
Orígenes Lessa. 
O problema era que nessa época eu lia
e mergulhava de tal maneira nos livros
que assumia as personalidades dos
personagens dos quais gostava.
Pobre da minha mãe...vivia de cinta
na mão correndo atras de mim. Pobre
das minhas pernas...viviam marcadas
de correadas.
Eu era meio que líder da molecada na 
rua, e vivia convencendo-os a me ajudarem
nas minhas traquinagens. Verdade seja dita,
apanhávamos unidos, cada um na sua casa
e da sua mãe.
Eu via minha mãe como a Maria Rosa, do 
"Feijão e o sonho". Aquela mulher prática,
sempre tendo uma solução para os problemas
que apareciam, sem saber o que isso custava à ela.
E me punha no lugar do "Lara". Um homem bom,
sonhador e sem limites. Esquecendo das responsa-
bilidades que tinha.
Desde bem pequena que minha cabeça vivia nas
nuvens (como dizia e temia minha mãe).
Mas era o Zezé o meu personagem preferido!
Eu não tinha um pé de laranja lima para chamar de
meu. Mas tinha uma "castanheira"na frente da 
minha casa, árvore frondosa e alta, que eu tomei
posse e chamei de minha.
A princípio eu subia e não sabia descer. Chorava
até que alguém me retirasse de lá. Mas depois, com
a teimosia que sempre me foi peculiar, aprendi a
subir e a descer. Na verdade eram duas árvores,
mas eu tinha a minha preferida.
Até casinha na árvore nós (eu e meu irmão)
fizemos. E uma vez, ele sumiu e deixou a mãe
e os irmãos mais velhos doidos de preocupação.
Até que eu disse que ele estava dormindo na casinha
da árvore.
Mas de todas as traquinagens do Zezé, a que mais
martelava na minha cabeçam era a da cobra morta e
amarrada pela cabeça para assustar os transeuntes.
Um dia (ou melhor, uma noite), pus em prática a idéia
e amarrei um barbante numa cobra de brinquedo.
Aguardei por detrás da árvore. Nem me lembro de quem
eu assustei, mas lembro da minha mãe gritando por meu
nome com a correia na mão, sabendo de antemão a autoria
da traquinagem.
De uma outra vez, eu aguardava meu cunhado (que estava
trabalhando) para que ele me levasse, de carro, para casa.
Então achei que podia "faturar" um pouquinho, e desandei

a contar para as pessoas que havia perdido meu dinheiro
de passagem (eu havia saído da aula). Piedosamente
várias pessoas me deram dinheiro para que eu pagasse
o ônibus. Eu ía até o carrinho de churrasquinho e comia
quantos pudesse comprar. Até que um senhor, piedoso
e sem maldade alguma, me deu um bocado de moedas.
Eu, num momento de precipitação, fui guardar e deixei cair
um punhado de outras moedas que já havia "arrecadado".
Ele me olhou muito sério, me pegou pelo braço e disse:
_Quem é o seu responsável mocinha? Justo no momento

em que meu cunhado apareceu.
Resumindo: Minha mãe ficou sabendo e eu...levei mais 
uma surra homérica.
Será que ler na infância faz bem?

(Nane-20/03/2015)

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