sábado, 14 de fevereiro de 2015

ALMA PERDIDA

O inferno se fez em mim
Reneguei o Deus onipotente
Banquei todos os seus castigos
Literalmente, mandei-o se fuder

A cabeça é quengo quente
As têmporas latejam e pulsam
A luz, tridente nos olhos
O coração, músculo sem importância

Os sonhos destilados no bourbon
Já não embriagam mais
Arroxeando a cirrose abdominal
Que sequer chega a doer

E onde foi parar a menina
Que um dia viveu em mim
E creu nos contos de fadas
Que lhe encantou na infância

Perdeu-se na velhacaria
De todos os princípios
Que um dia aprendeu
E renegou

A igualdade desigual
Fez dela a bruxa má
Sua crença descreu
E seu Deus se perdeu

O lado negro a matou
E eis-me aqui envelhecendo
Com as têmporas estourando
E os pulmões fudidos

Um cigarro aceso no outro
Pela falta do isqueiro perdido
Pela culpa da cabeça quente
E do quengo estourando

(Nane-14/02/2015)


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