quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

ÂNCORA



É só um sonho
De liberdade
Um sonho da minha imaginação
Sair em busca do nada
Sem qualquer direção...

Romper os meus grilhões
E voar ao sabor do vento
Pra lugar nenhum
Só voar...

Agora o ano vai embora
Eu vou ficar...

O tempo sabe passar
Eu só sei ficar
Mas só queria sonhar
E romper todas as amarras
Sonhar com a liberdade
De poder voar
Sem tempo para voltar

O ano vai embora
E eu vou ficar
Velha no ano novo
Estagnada sob o peso
De uma âncora enferrujada
Enquanto o ano vai passar

Quando eu finalmente passar
O ano, então ficará
Fazendo outra vítima ciente
De que ficará
E ele (o ano) passará...

(Nane-31/12/2014)

STRESS




O convívio com a dor
O choro, o lamento
As entranhas incandescentes
Queimando a vida viva

A paz interrompida
A impotência de uma cura
A insanidade borbulhando
Saltando na carótida

Ameniza na madrugada
Mas volta a incomodar
O vai e vem sem descanso
O surto pela manhã

O sofrimento incontido
As lágrimas misturadas
O grito por socorro
O pranto que não se estanca

A prece perdida
Não respondida
Não há silêncio
Só gemidos...

(Nane-31/12/2014)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VIDA POST MORTEM




Terá valido a vida
Se depois de mim
Alguém (quem quer que seja) recitar
Uma escrita minha

É sim, pura vaidade
E mais forte ainda, vontade
De ficar aqui
Depois da morte

Não preciso de um livro capa dura
Nem fazer parte de alguma academia
Só quero minha palavra ao vento
Sem repousar na sepultura 

Não morrerei por um bom tempo
Enquanto um só leitor
Despejar na memória as palavras
Que um dia ousei rabiscar

(Nane-30/12/2014)



SONHANDO ACORDADA




Seu olhar quase sempre alheio
ao tempo, parece tristonho.
A memória, do agora pouco
lembra, e no entanto é tão 
pródiga do passado.

A vida parece ter ficado
guardada num cantinho
onde só ela vê...e (re)vive.

O esquecimento tornou-se escudo
protegendo-a das amarguras,
das dores e decepções.
Ela sonha acordada
e  adormece para a vida.

Resigna-se com seu destino
enclausurada em seu aleijão.
Mantida na horizontal o tempo
(quase) inteiro, faz do quarto
seu mundo imenso.

Quando flagro uma lágrima acocorada
no fundo dos olhos encovados, diz
na maior displicência ser o "soro"
jogado para refrescá-los.

Já há muito não anda.
Vocifera quando fala.

Se entristece quando falam.

Abnegação e paciência, há muito
a deixaram. Forças para lutar, não
mais as tem. Melhor adormecer
enquanto a vida não se extingue
e continuar sonhando (solitária)
acordada.

(Nane-30/12/2014)

PALMAS PARA O SOL

Deita-se silencioso
Bordando de ouro o céu do Rio
Deixando abismados os olhos de todos
No ritual de (quase) todo dia

Na pedra majestosa se reunem
Homens, mulheres e crianças
Hipnotizados com a pintura viva
De cores sobrepujantes

Logo o manto negro envaidecido
Cobrirá o mesmo céu dourado
Deixando na lembrança de quem viu
A certeza da beleza da natureza

Merece todos os aplausos
Na despedida triunfal
O astro rei encantador
Na pedra do Arpoador

(Nane-30/12/2014)

REVEILLON




Planos não fiz
Há muito não os faço
Tento apenas seguir
Os traçados para mim

Quem os traçou, não sei
Se eu ou se Deus
Mas sigo-os
Sem tantas expectativas

O ano termina
E foi um tanto quanto pesado
Mas é só questão de datas
Tudo aconteceria em qualquer uma delas

Não virá um novo tempo
Não terá um "ano novo"
Datas são datas
Nada mais que isso

Viva a euforia das crianças
Tão cheias de esperanças
Na alegria quase incontida da virada
Dos anos que se esbarram

Viva a euforia da sociedade
Que gosta e se deixa enganar
Por uma ou duas (no máximo) semanas
De um espírito gozador

Que venha o ano novo (?)
Planos não fiz
Vou continuar meu caminho
Enquanto puder...andar

(Nane-30/12/2014)


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

UM BRINDE




Bebo
Ao meu desalento
Ao meu desencanto
Ao meu destempero

Brindo
Ao meu pai que se foi
Ao irmão que se perdeu
E aos amantes de Baco

Embriago-me
De etílicas poesias
Nas noites vazias
Em que não quero dormir

Escuto
A voz da consciência
Gritando baixinho
Num debate infindo
Com a voz do capiroto

Choro
Em cada palavra
Arrancada de mim
Tentando virar poesia
Na minha heresia

Adormeço
Forçada pelas circunstâncias
Quando finda a cerveja
Adormecem as palavras
E eu...me calo

(Nane-29/12/2014)


ENTRE DOIS AMORES



Um vento que sopra
Em redemoinho
Levanta poeira
Arranha a face

O mar bravio
Cava buracos
Na areia fina
Sem reflexos de estrelas

A noite fechada
Escuta os lamentos
Das ondas quebradas
Nas pedras moldadas

O pescador aportou
Jogou sua âncora
Amarrou seu barco
E foi se deitar

A bela morena
Que não esperava
Por seu homem
Sorri dengosa

Sussurra gemidos
Ao pé do ouvido
Que se deixam levar
No vento uivante

O mar bravio
Embevecido se acalma
Deixando a ver navios
A bela Iemanjá

(Nane-29/12/2014)

ESCUTA O CORAÇÃO



Escuta meu coração
Nos versos que faço
Rimados ou ritmados
Numa só direção

Se compor eu soubesse
Faria deles (meus versos) canção
Se cantar eu soubesse
Cantaria-os bem baixinho

Resta-me a escrita
Que se não primaz
Determina a direção
Eterna do (meu) coração

Versos rotos e tortos
Mas meus (e de mais ninguém)
Dignos de uma poesia
Só  a quem se destinam

Tome-os com carinho
Leia-os com paciência
E escuta meu coração
Batendo em sua direção

(Nane-29/12/2014)

BURACO NEGRO




Vesti-me de negro
Em luto fechado
Por mim e por outros
Que passam por mim

Não pelos que se vão
Por crer ser destino
Mas pelos que ficam
Já tendo partido

Inconsequentes pensantes
Tal qual eu mesma
Que matam a esperança
E mergulham no limbo

Invejo os fiéis
Que creem no Éden
E esperam em fila
A recompensa prometida

Também não creio
Ser ponto pacífico
Sem reticências
A vida aqui

Para onde eu vou
Por onde eu fico
Ser ou não ter
Heis a questão...

(Nane-29/12/2014)

domingo, 28 de dezembro de 2014

UM SONHO ETÍLICO




Rasguei o véu do tempo
Ousei olhar em frente
Procurei em vão
O rosto de quem não estava lá

Sonho ou devaneio
Pesadelo ou embriaguez
O que era tão real
Desfez-se no despertar

Talvez eu volte a delirar
Na febre que me consome
E consiga, no presente encontrar
O rosto que vivo a procurar

E se não for possível
Meu sono etílico apagará
Toda essa vontade transloucada
De um dia, nesse rosto tocar

(Nane-28/12/2014)

sábado, 27 de dezembro de 2014

PERDIÇÃO

É...pouco tenho o que fazer
Além de não cuidar de mim
E nesse intermeio
Insisto em cuidar de você

São tantas as horas vazias
Tanto o tempo desperdiçado
Preenchido apenas por vontades
Impedidas pela razão

Desconhece meu coração
Essa tal razão
E bate descompassado 
O imbecil

Entregue aos devaneios
Busco os finais felizes
Dos roteiros reprovados
Na tela do meu cinema

No meu tempo desperdiçado
Só tenho tempo pra você
Mas são tempos tão diversos
Que eu perco todos dois

(Nane-27/12/2014)

NOITE DE VERÃO




Mais um dia termina
E eu morro com ele
Para renascer no abrir dos olhos
Do dia que vem vindo

O mesmo sol se levantará
E brilhará impune
Às mazelas e tropeços
Que por certo, virão

Por hora só o brilho da lua
Ilumina a calmaria da noite escura
Que vela meu corpo deposto
Na cama vazia e acalorada

Direi quando acordar
No intuito de me convencer
Que será um dia diferente
De todos os outros que vivi

Esse barulho infernal (do ventilador)
Vem lembrar meus limites (financeiros)
O bar fechou, a cerveja acabou
Não dá mais para rabiscar

É noite de verão
Quente e sem inspiração
Sem amor e sem cerveja
Resta no canto da boca...um cigarro

(Nane-27/12/2014)

DESGASTES



De mim o que será
Quando não mais tiver
Que te olhar (cuidar)

Na cabeça tantos amalgamas
Por certos irão cimentar
E pesar...em mim

Te olho e me comovo
Me gritas e me irritas
Almas afim

E a cada dia a mesma coisa
As ofensas verbalizam
E ferem as almas

Desgastes contundentes
Falta do que fazer
Diálogos extirpados

M e põe de novo no colo
A faga meus cabelos
E me me faça adormecer

(Nane-27/12/2014)

VOCÊ E EU




Deixa que me vá sem tristezas
E observe de onde eu estiver
Teu caminhar e conquistas
Abençoados por mim

Direi então aos quatro ventos
Que ajudei a te criar
E tenho culpa na formação
Do caráter que te coube

Se reservares um instante só
Dedicado à poesia
Terá valido cada um dos meus segundos
Passados ao lado teu

Talvez nem guarde mais minhas feições
Mas isso pouco importa
Se tiveres dentro de ti
Um pouquinho (mínimo que seja) de mim

Um amor assim tão completo
Não se extingue com a ausência
Pouco importa a distância
Se juntos seremos perene

(Nane-27/12/2014)


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

NUM DIA DE NOVEMBRO




Num mesmo dia
Triste (treze) de novembro
A morte brincou comigo
E levou embora
Dois dos mais queridos

O poeta do Barros
Abriu seu chão
E se encantou
Num lastro de luz
De um céu de estrelas

A pequena senhora
De tantas queixas
Já tão calada
Deixou-se levar
No mesmo facho

Zombaram de mim
Os dois queridos
Em sorrisos marotos
E de mãos dadas
Seguiram adiante

São agora dupla de dois
O poeta e a senhora
Brincando galácticos
Entre uma estrela e outra
No céu da minha imaginação

(Nane-26/12/2014)

INFINITO



Tô indo embora
Na direção do nada
Querendo ficar
Mas tendo que ir

Calafrios constantes
Indicam a plataforma
Do trem sem volta
Que vou embarcar

A hora indeterminada
Te faz adiar...a despedida
Privando-me do toque
Que sei...não vou sentir

A surpresa te fará
Lastimar a partida
Sem aviso prévio
De quem só fez te amar

Don't cry for me
Se choro por ti
É por não ter a grandeza
E a força que tu tens

A morte é mera passagem
Incógnita sem correio
Mas o amor jamais perecerá
Diante dela (irá comigo) 

(Nane-26/12/2014)

SORVETE




Derreto-me
Feito sorvete de ameixa
No verão escaldante
Diante do teu sorriso

E percebo a efemeridade
Do prazer infinito
Desse frescor delicioso
Numa só bocada

(Nane-26/12/2014)

ÓBITO



Pesa sobre o icebergue inerte
A terra quente e úmida
Num silêncio tão aterrador
Que ecoa por sob os sete palmos

Enxertada por vermes vorazes
Assusta a escuridão
Do condomínio sepulcral
Enquanto não se define um destino

Para onde e quando
O que virá
Tantas perguntas em meio as dúvidas
E o sono desgraçado que não vem

O paraíso prometido
Os vermes corroendo a podridão
O asco do cheiro estagnado
O apagar de todas as luzes

Solidão na penumbra constante
Sem eco para o grito abafado
Morri e sobrevivo
Na angústia do meu óbito

(Nane-26/12/2014)

MÃE BANTU




Faça teu dia sem expectativas
Viva cada instante feito criança
Desligue teus sensores
Esqueça as censuras

O paraíba é rio grande
Não presta pra navegar
Veleje por outros mares
Nunca dantes navegados

A arte imita a vida
Que finge a imitar
Apenas por precaução
Da sua pobre exposição

A negritude de tua tez
Te faz rainha banto
Fortaleza agregada
À alma iluminada

Missão encravada no coração
Karma de tantas emoções
Vacila no teu físico fragilizado
Carente de atenção

Teus súditos aguardam apreensivos
A força que te determina
Calada e em aparente modorna
Leva adiante tua missão

Sacode toda a poeira
Deixada por larápios da energia
O brilho do teu halo é forte
O resto é flor de laranjeira...

(Nane-26/12/2014)

DA JANELA




As luzes da cidade, quase todas já se apagaram
Restaram os postes e os neons dos edifícios
Os bêbados e os vagabundos proliferam
Pelas esquinas fedidas da periferia

Os poetas sonham seus sonhos palavriados
Em delírios e devaneios ensandecidos
Entre um cigarro e uma cerveja (já quente)
Na mesa de um bar qualquer

A lua, nova e afogueada
Clareia as ruas vazias
E as ideias que parecem vagar
Em quimeras e ilusões

Da janela observo a vida na madrugada
Tão bem mais calma, sem alardes
Amores e amigos passeiam e se despedem
Enquanto eu...apenas observo

O frescor da noite é generoso
Atiça os desejos dos cães e gatos vadios
Que transitam em meio as poucas pessoas
E transam sem nenhum preconceito

Altas horas da madrugada
Sem mais viva vida nos arredores
Só Pearl Jam ( Vedder)solta seu vozeirão baixinho
Perguntando: -Por que não no meu céu...

(Nane-26/12/2014)


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

RODA CONTRÁRIA

Amanhã não sei de mim
Hoje, faço meu viver
O que vai ser
Deixa acontecer

Virado no ontem
Que já passou
E nem saudades deixou
Fudeu-se. Acabou

Amanhã, talvez não viva eu
Louco quem deixa de viver
A tumba pesa mais do que parece
Por sobre a face de quem enlouquece

Valham-me todos meus orixás
Perdidos e desconectados
Já não encontro oferendas que lhes bastam
Na selva das redes sociais

Pombagira se fez homosexual
E gira na roda contrária
Contrariando a sociedade
Da macumba socializada

Amanhã não sei de mim
Hoje faço meu viver
No ontem já morri
Agora sou mais eu

(Nane-25/12/2014)
 
 
 

INCONDICIONAL

De tudo o que eu digo
Pouco eu faço
Mas cumpro o que prometo
E me perco nisso

Se falo: Vou fazer
Faço e pronto
Doa a quem doer
Que se dane eu

Amanhã não sei
Do hoje, cuido eu
Os olhos esbugalhados
São meu cartão postal

A vermelhidão escorre
Por sobre a face escarnecida
Ou você vem comigo
Ou eu vou com você

Depois de tudo
Dane-se o mundo
Estamos juntos
E isso é o que importa

Seja onde for
Ou como for
Você e eu
Eu e você

(Nane-25/12/2014)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

É NATAL

Invadi teu espaço
Vazio...
Onde anda você
Que não vem me ajudar

Os comes e bebes
Preciso de ajuda
Você não vem
Erro a mão

Então é Natal
Na sua casa vazia
É Natal
Feliz Natal

(Nane-24/12/2014)

A TAL LIBERDADE




Chamam liberdade
O prazer de voar
De sentir na face
O vento a soprar

O ir e vir sem restrição
Sem hora ou dia de chegar
O voo solo no horizonte
A lua de encontro a imaginação

Chamam liberdade
A paz interior
Que inunda o peito
Sem dar explicação

Um sorriso frouxo
Num rosto bobo
Sem o peso da cobrança
Sem grilhões

Chamam liberdade
A alegria de um reencontro
A festa sem motivos
A luz de um olhar

A vontade satisfeita
De um sonho realizado
Um prazer escancarado
Um amor compartilhado

Chamam liberdade
Uma vida de aventuras
Plena e sem culpas
De mentiras ou verdades

Além de todos os limites
Vive essa tal liberdade
Que tão caro custa
E tão distante...está

(Nane-24/12/2014)

SENTIDOS




Faço e desfaço
Caio e levanto
Num mesmo instante
Sem muito refletir

Procuro em vão
Um porto seguro
Perdido nas sombras
Da névoa espessa

Vago na noite escura
Sem referência
De direção
Por opção

É tanta vida
Em cada sentido
Que duvido
Se vou morrer

A dor me consome
Mas é sentido
É vida também
Me faz reagir

A lua brilha
E eu vejo
Também é sentido
Me dizendo que é vida

A morte chega
Sem mais aviso
Trazendo a tristeza
Da vida que continua

São tantas perguntas
Tão poucas respostas
A vida é morte
E a morte é vida

Se o preto é branco
O certo é errado
Eu acordo e vivo
E se durmo...eu morro

Já não tenho pressa
Cansei de correr
Caminho sem me preocupar
Onde vou chegar

Lá fora venta frio
Aqui dentro faz calor
Sou eu e meu interior
Refazendo ( a todo instante ) meus sentidos

(Nane-24/12/2014)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

DE BEM COM A VIDA




De bem com a vida
Independente de tudo
Das "pancadas" absorvidas
Dos carinhos recebidos
Da vontade de Deus(?)
Dos desejos do "Demo"
Dos meus acertos
Dos meus enganos...

De bem com a vida
Independente se ela
Trocou de mal comigo

De bem com a vida
Por ter que continuar
Vivendo a vida

De bem com a vida
Por perceber que ela
Do seu jeito, as vezes estúpido
Só quer de mim a coragem
Que o destino teima em me tirar
Nos momentos de fraqueza
E ela (a vida)...surpreendentemente
Me presenteia e incentiva
Com o meu amor maior

(Nane-23/12/2014)

O ENCANTO DO MAR




Encanta-me tuas águas
E teus mistérios
Encanta-me a sedução
Que provocas

Encanta-me o olhar de "poetinha"
Que vi no olhar do meu neto
Buscando no horizonte
Uma resposta sem explicação

Encanta-me sabê-lo apaixonado
Pelas águas salgadas
Que olha admirado...encantado
Sentindo-se parte

Encanta-me o seu encantamento
E a simplicidade desse amor
Que parece vindoura inspiração
De um poeta em formação

Encanta-me enfim
Perceber que eu e ele
Somos parte desse mar
Que sabe como nunca, nos encantar

(Nane-23/12/2014)

POETA EM CHAMAS




Pouco me importa a exposição
Mostro sem reservas minhas vísceras
Sangrentas, apodrecidas ou à mostras
Prontas para fotografarem minhas feições

Ao inferno os pudores
Dos que passam maquiagem
São meras imagens bonitas
Nas fotos para a posteridade

Meus fantasmas e minhas rugas
Caminham em minha face
Fazendo dela, morada
Esculpida e escarrada

Sou branda, e sem espartilho
Respiro sem pressão
Mas se me tiram o ar
Explodem todas as minhas vísceras

Quanto mais eu "causo"
Melhor me sinto
Quanto mais entendem
Mais vomito

Tenho as unhas dos pés encravadas
E quando pisam nelas...esparramo
Doem dentro dos sapatos
Resta-me rugir...feito fera (ferida)

(Nane-23/12/2014)

*Imagem e título gentilmente cedido(?) pelo
meu amigo querido Antenor Emerich.

O FILHO É MEU




O menino frágil virou homem
Cresceu e criou barba
Perfeição não há
Mas honra as calças que veste

Fez um filho e se tornou pai
Na acepção da palavra
Tenho orgulho do meu filho
Tenho orgulho de ser mãe dele

Meu filho virou homem
E com "H" maiúsculo
Seus defeitos são normais
Os meus...bem piores

Meu filho é de leão (julho)
E eu sou leoa (embora de setembro)
Por ele vou ao limbo
E mando pro inferno o capeta

Meu filho é meu tesouro
E eu...cofre intransponível
A cria é minha (e de mais ninguém)
Lambo o quanto eu quiser

Meu filho é meu
E dele cuido eu
Eu sou a sua mãe
E de mim cuida ele

(Nane-23/12/2014)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

REFLETINDO




Se joga poeta
Em teus versos simples
Sem medo de semideuses
Literatos

Deixa fluir teus sentimentos
Ainda que sem rimas
Mas tão dançantes nas palavras
Expondo tua vida

Escreve poeta
Sem preocupação nenhuma
Já que a poesia está em ti
Sem nunca ter sido tua

E se te faltar inspiração
Deixa em branco a tua folha
Pois refletes  poesia
Na tua alma de poeta...

(Nane-19/12/02014)



O ANALFABETO QUE ESCREVE




"Sou tão visceral
Que não presto atenção em molduras"
Talvez dentre tantos dos teus monólogos
Seja este o que mais me tocou

E heis que a vida imita a arte
E a criatura se confunde com o criador
Ou a personagem encarna no ator
Nos fazendo retroceder

Eis que passa o tempo insólito
E a gente nem percebe que fomos juntos
Ao nos depararmos com o "Carneirinho"
Que pastou magicamente na nossa infância

E te ouvir todo dia
Em mínimos (e tão intensos) monólogos
Virou hábito e quase obrigação
Quando no afã...venho a ti

Verdades homeopáticas
Viagens em quimeras
Simplicidades refinadas
Vidas de verdades

Na veia, a arte
De ser artista
E fazer arte
Pra quem te assiste

Nada mais a ser dito
Reverencio os teus ditos
Acompanhando todo os dias
Essa tua maravilhosa magia

(Nane- 19/12/2014)




POR CERTO




Se te sentires só...pensa em mim
Por certo irei a ti
Atendendo ao chamado do amor

Se te sentires triste...chama por mim
Que por certo te contarei uma piada
E te arrancarei um sorriso (mínimo que seja)

Se te sentires infeliz...segure a minha mão
Que por certo é e será sempre tua
Posto que a muito a te entreguei

E se te sentires em opressão...afasta-te de mim
Que por certo estarei na espera
Para quando, de novo tu voltares

(Nane-19/12/2014)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

DESCABIMENTO




Bate um tum tum descompassado
Sem ritmo
Sem tesão
Batendo só por bater

Incomoda os pulmões seu batido
Sem ritmo nenhum
Sem um passo de dança
Entristecido

Pensa ter sido traído
Retalhado e dilacerado
Por uma falsa ilusão
Descabida

Parar não vai resolver
Posto que continuará perdido
Ainda que apodrecido
E calado

Já não sente nada
Bate por pura obrigação
Do sustento da vida
De um corpo cansado

(Nane-18/12/2014)

DEUS, MEU DEUS




Deus, meu Deus
Se me dás o cobertor conforme o frio
Porque pareço morrer de hipotermia...

Olha minhas mãos
Calejadas e envelhecidas
Da labuta tão constante

Meus dentes há muito perderam a força
Já não mastigam a carne engolida
Que apodrece no estômago

Minhas pernas não mais me obedecem
Se curvam e me derrubam
Cada vez que insisto em andar

Meus olhos não enxergam
Os rostos dos que me rodeiam
Quando me rodeiam

E eu blasfemo todo dia
Te implorando por me levar
Para onde eu possa ser eu

Alzheimer é o cacete
O que tenho é pressa
De não ser tão dependente

Meus filhos não são meus
O mundo os abraçou
Em prioridades dos seus cursos

Vem ouvir as minhas preces
Deus, meu Deus
Que eu falo para as paredes

A irritabilidade dos meus
Me magoa e me fere
Eu...só respondo

Que sina a minha, meu Deus
Acabar prisioneira de mim mesma
Depois de tanta luta

Soberba, nunca fui
Serva fiel, sempre te fui
E no entanto, a coberta não me basta

Eu tive os olhos verdes
Agora são opacos
Deus, meu Deus

Dei para falar bobagens
E confundir pessoas
Mas lembro de mim menina

Alzheimer é o cacete
O que eu tenho é pressa
De não ser tão dependente

(Nane-18/12/2014)

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

UMA ÚNICA CERTEZA


Há muito flerto com ela
Podendo até mesmo senti-la
E olhar dentro dos seus olhos sem cor (definida)

Há muito ela me seduz
Num chamamento silencioso
Que só minh'alma escuta

Há muito que espero por ela
Sentindo o descompasso mitral
Num refluxo cardíaco

Há muito aguardo sentida
O sentido desse sentimento
Sem sentido

Há muito ela finge vir
Brincando com meus sentimentos
Por querer com ela ir

Há muito tirei meu passaporte
E aguardo na estação
A hora do embarque

Há muito tenho a certeza
De que ela chegará
E me levará...enfim

(Nane-17/12/2014)

SONS DA MADRUGADA



Já não há barulho na cidade adormecida
Apenas os uivos dos cães vadios
E o roncar distante de algum carro

As luzes ofuscam a lua
Que timidamente se expõe
Por sobre as brumas espessas

Estrelas não há (visíveis)
As constelações foram se deitar
Num outro céu

O murmúrio das ondas se debatendo
Feito um lamento
Ecoa bem longe

E o ruído contínuo de um motor
Me faz pensar num pescador
Singrando a escuridão do mar

O minuano sopra seu gelo
Trazendo a brisa notívaga
E os sons da madrugada

Entre quatro paredes
Viro e reviro na cama
Sonhando acordada e calada

Deixo fluir a imaginação
Enquanto o sono não vem
E vou "fazendo"  poesia

Talvez amanhã não as publique
Por não ver nenhum sentido
Mas por hora...é o que sinto

(Nane-17/12/2014)

TARDE DE VERÃO (NA PRIMAVERA)



Rola na lama o menino
Chutando a bola na poça
Que teimosa, não sai do lugar
E o faz cansar

Sorri molhado na chuva
Numa tarde primaveril
Sob o céu azul de anil
Num clima bem de Brasil

Faz da avó...pó
Arfante e esbugalhada
Na tentativa vã de acompanhá-lo
Numa tarde de brincadeiras

Ridiculamente rola com ele
Atrás de uma bola imunda
Caindo de bunda no chão
E sujando os fundilhos na lama

É tão completa a distração
Tão intensa a desobrigação
Tão natural a relação
Que o mundo (inteiro) cabe na palma da mão

Vai embora a chuva
Brilha forte o sol
Vem o arco-íris
Efêmera ilusão

E o menino cansado se banha
Tirando do corpo toda a lama
Sem nenhuma cerimônia se aninha
Nos braços da avó e...adormece

(Nane-17/12/2014)

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O SILÊNCIO DO POETA




Balbúrdia incontrolável
Ecos ensurdecedores
Neurônios eletrizando
A tempestade cerebral

Ninguém mais escuta
Sou louco ou demente
Que raio de raios
São esses em minha mente

E vem a claridade
No fechar dos olhos
Mas ninguém pode ver (ou escutar)
Além de mim 


Dentro de mim
Em ebulição
Palavras dançam na mente
Querendo a liberdade

Disperso dos outros
Calo e incomodo
Entendendo enfim
Meu silêncio ensurdecedor

(Nane-16/12/2014)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

[DES]MASCARADA




Caíram todos os meus arquétipos
Me vi nua e com frio
Sozinha, perdida sem meus estereótipos
Tão já enraizados em mim

Falsas identidades
No subterrâneo da cidade
Entre o esgoto e os ratos
Levadas no leito de concreto

A mãe, a filha, a irmã
A amiga, a bela, a fera
A louca, a puta, a insana
A santa, a moça, a criança

Restou a mulher nua
Sem máscara nenhuma
E se sem vergonha
Também sem direção

Fui tantas em uma só
Acreditei ter sido
Caiu sem aviso nenhum
A máscara de proteção

O rosto nu e sem maquiagem
Experimenta a liberdade(?)
Franqueada e nonsense
De uma realidade súbita

Por onde ir, não sei
Para onde olhar
O que fazer
Como viver

Cairam todos os meus arquétipos...

(Nane-15/12/2014)

Um coito



Vago nas horas insólitas
Em busca de Morfeu
Para me aninhar em seus braços
E adormecer serena
Mas Odin grita meu nome
Me dita palavras, por vezes desconhecidas
Me faz rimar, imaginar, escrever

Mitologias
Quimeras

Lendas
Fantasias
Realidades
Pantomimas
Loucuras

Me deixo possuir
Mergulho na imaginação
Não sou poeta
Rabisco meus devaneios
Nascidos de um coito
Com o deus da insônia
Sempre pronto a me tirar
Dos braços de Morfeu

Sou o que sou
Mera criatura
Que faz da solidão
Campo fértil semeado
De palavras  recheadas
Irrompidas sem limites
Germinando poesias
Na seara da escrita

(Nane-15/122014)



É só poesia


De que poesia falo eu
Quando escrevo meu silêncio
Escoado em palavras
Não ditas...
Talvez dos céleres poemas
Fugazes e indecentes
Que vagueiam pela mente
E morrem ao despertar

De que poesia falo eu
Quando espero na madrugada
O encontro com ela (a inspiração)
E a vejo num limiar
Entre a vida e a morte
Entre o céu e o inferno
Entre o lúdico e o nefasto
E me perco nas palavras
Tentando decifrar

De que poesia falo eu
Que me cobra e me obriga
Sem nunca me oprimir
Sem ditar regras ou me policiar
Quando sopra seus espectros
E eu transformo em emoção
Gerando lágrimas ou suspiros
Dos mais loucos do que eu
Que perdem seu tempo ao (me) lerem

De que poesia falo eu...

(Nane-15/12/2012)


sábado, 13 de dezembro de 2014

Aparições



Meus fantasmas me rondam
Cada vez mais concretos
Todas as noites me assustam
No afã de me drogarem

Aflitos e perdidos
Gritam em meus ouvidos
Palavras desconexas
Que me assustam

Tentam influenciar
Meus instintos entorpecidos
Distraem minhas vontades
Destroem os meus sonhos

Medonha a noite
Custa a passar
Ardem meus olhos
Dói minha cabeça

Sombras insinuantes
Dançam em meu quarto
No escuro refletido
Das minhas retinas

Sombrios sonhos me aguardam
Não quero adormecer
Mas eles me embalam
Num balanço infernal

Sem alternativa
Fecho meus olhos
E vou pro inferno
Junto com eles...

(Nane-13/12/2014)





sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Minha vizinha



Cada suspiro meu
Leva consigo
Em nuvens criadas
A saudade

O peito infla feito balão
E os olhos transbordam
Sem que eu possa deter
O sentimento dolorido

A porta aberta pela manhã
A ausência da tua presença 
O grito do teu nome estancado
Está vazio o teu lugar

O som da vassoura no quintal
Varrendo as folhas da aceroleira
Que também já não existe mais
Cantam nas minhas manhãs

Ah...o quanto tu falavas
E agora emudeceu
Teu olhar por último, já te silenciava
Na tristeza de alguma (instintiva) certeza

Uma "bola" comprime a respiração
Feito um pênalti decisivo
O peito parece querer explodir
Mas a dor...precisa implodir

Sopro o ar que me oprime
Ofega a respiração
Contraio sem querer a musculatura
Doi demais o coração

Fecho a porta da cozinha
Já não grito o teu nome
Não és mais minha vizinha
Por enquanto...

(Nane-12/12/2014)


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Tigresa



Tigre enjaulado
Encarcerado e limitado
Ruge bem alto
Tentando provar
Que ainda vive

Deita e dorme
Sobre o cimento aquecido
Acomodado por seu destino
De fera presa

Presa que namora
No piscar dos olhos 
Correndo livre
Tão fora do alcance

A brisa orvalhada
De outros tempos e cheiro
Agora se assemelha a sauna
Fedendo à desinfetante

Tigre enjaulado
No centro da cidade
Exposto à curiosidade
Sem mais nenhum propósito

(Nane-11/12/2014)



Lava-da alma




Não tenho a passividade dos que tem fé
Nem a conformidade dos que creem
Não tenho a aceitação dos que esperam
O prêmio de consolação

Por vezes até tento ter
Mas fala alto meus instintos
Explosivos e repentinos
Que me fazem blasfemar (ou cobrar)

O que a vida fez de mim
Ou o que eu fiz da vida
São paralelas tão minhas
Tenho que encarar

No despertar de todo dia
As cobranças em brasas ditas
Queimando o leito facial
Feito lavas salgadas da alma

Que tantas dívidas a serem pagas
Por estranhas criaturas
Colocadas num mesmo espaço
Confinadas num abraço

O amor é latente
As brigas presentes
A morte indigente
Os corpos...pressentem

(Nane-11/12/2014)


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Masturbação

Brinda a alma à luxúria
Entorpecida num corpo
Hoje esquálido e envelhecido
Resistindo ao tempo que lhe cabe

Vibram cada um dos neurônios sob a pele
Desejosos do prazer do sexo
Feito a puta de aluguel subentendida
E revestida do véu da devotada

A velha enxerga no espelho embaçado
A fogosa mulher fatal de outros tempos
Goza dos desfrutes pecaminosos
Escondida em seu próprio disfarce

Pisca a vulva delirante sob o pano úmido
Como se penetrada fosse 
Espasmos de um prazer alucinógeno
Contorcem os músculos já flácidos

A vergonha embriagante e melancólica
Faz do prazer, culpa pecaminosa
Transformando o orgasmo alcançado
Em mera e puta pieguice

(Nane-10/12/2014)



No meu interior



E me ofereceram de Natal uma viagem
Até para que eu relaxe um pouco
Recusei...
Maranhão, Fortaleza, Salvador
Um lugar bonito qualquer
Recusei...
Quiseram saber o porquê da recusa
Não entendem que a minha viagem é diária
E o destino...meu infinito

Passagem para lá não há
Nem de ônibus ou de navio
Muito menos de avião...
Vou no pensamento
E é bastante cansativo (a viagem)

Me ofereceram um presente
Um "refresco" pra cabeça
Mas não posso aceitar
Viajo na poesia que mora no meu interior
E vou pra onde eu quiser
Na hora em que eu quiser
Pro céu ou pro inferno
Sem bagagem nenhuma
Agradeci de coração e...
Recusei

(Nane-10/12/2014)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Saudosismo

Posso ser estranha por não gostar da vida,
por me sentir enclausurada,
Por não ter expectativas...
Vi tantas lutas por ela (vida)!
Pessoas começando a viver e já batendo

na porta do céu (?).
Gente querendo sobreviver (e não "viver") a qualquer preço
num corredor gélido que mais parece matadouro.
Vi crianças esfaceladas, sorrindo e chorando.
Mães inconformadas e até uma índia rezando
para que Tupã a livrasse do filho doente e "estragado".
Não vejo a morte como o fim, mas uma volta
ao seu verdadeiro lar.
Sofro sim a falta dos meus que me antecederam
nessa viagem repleta de mistérios, mas aguardo,
sem pressa a minha hora de também ir (de preferência
sem despedidas). Sei também e tento me preparar
(mesmo sabendo que de nada adianta) para o dia
que minha mãe se for (e torço muito para que seja
antes de mim).
Posso ser estranha por não gostar dessa vida aqui,
mas não me tomem por louca.
Sou apenas alguém que sente saudades de casa...

Não necessariamente sou triste por não gostar
da vida aqui.

(Nane-09/12/2014)


Sem promessas

Não te prometo uma poesia
Por não poder te "escrever"
Com a mesma intensidade
Desse olhar tão expressivo

Não te prometo uma poesia
Por não ser capaz
De fazê-la tão bela
Quanto a tua beleza

Não te prometo uma poesia
Por não ser poeta
Que te tem como musa
Mas se encanta quando surges

Não te prometo uma poesia
Por só saber (um pouco) rabiscar
Quando deparo com a beleza
Estampada em teu olhar

Não te prometo mais nada
Além deste rabisco
Que se não é obra prima
Está enxertado do meu mais profundo...carinho

(Nane-09/12/2014)





Me despindo pra você(s)

Desnuda-me todinha nas entrelinhas
E saberás quem sou

Passe tua mão em todo o meu corpo
Bem devagarinho, eu permito

Sinta nas minhas curvas
Cada desejo meu

Me abro inteira para você
Se assim o desejares

Suga todos os meus líquidos
Delirados e delirantes

Beba todas as doses de fantasias
Embriague-se de mim

Ah...estou completamente nua no teu abraço
Entregue de corpo e alma

De muita coisa você corre o risco de não gostar
Mas vale a pena experimentar

Basta você querer, clicar e ler:
http://blog-nanevs.blogspot.com.br/

(Nane-09/12/2014)

Os meus pés de frutas



Lembro da minha casa de varanda
lá pelas terras do Conforto,
onde eu brincava na rua
e minha maior preocupação
era me livrar das "correadas"
(que naquela época eram permitidas),
que minha mãe, por certo me daria
depois de mais uma traquinagem.

Era uma casa bem grande e com quintal,
onde um pé de manga e um abacateiro
também faziam morada. Mas a goiabeira...
essa morava no quintal da vizinha
e me obrigava a "trepar" no muro
para roubá-las.

Um dia...
depois de ler "O meu pé de laranja lima",
quis ser seu protagonista (amei a ideia dele)
e amarrei uma cobra(de brinquedo) no cordão.
Me julgava mais esperta que o Zezé,
só não sabia que minha mãe também o era.
Os vergões das lambadas (e não era a dança)
ornamentaram meus "gravetos" e meu bumbum
por um bom e dolorido tempo.

São tempos idos e encantadores
que de vez em quando me puxam pro passado
e me levam de volta para a minha casa de varanda
lá pelas terras do Conforto...

(Nane-09/12/2014)

Placar final

É hora de voltar
Respirar fundo e voltar
É hora de mandar às favas
Todos os percalços
E construir com as pedras...um abrigo

Chorei todas as lágrimas
Senti todas as dores
Que ainda estão em mim
Mas é hora de voltar
E lutar...

Vencer ou perder faz parte do jogo
Que Deus escala e escolhe
Partir pro ataque é o que resta
Enquanto a partida durar
É preciso fazer gol

É hora de voltar
E esperar com paciência
O apito final
Desse jogo involuntário
Sem vencedor (ou perdedor)

(Nane-09/12/2014)


Stand by


Amor, estou aqui
Aguardando você voltar
Porque sei que vai voltar
Quando cansar de brincar de amar

É meu o seu amor
Ainda que você não saiba
Estou de prontidão
Na minha solidão

Vá sim, viver seus amores
Divirta-se a valer
E quando voltar
Aninhe-se em meus braços

Sou eu quem te espera
Por toda a vida
Não tenha pressa de chegar
Eu vou te esperar

Até mesmo por não ter outra opção
Sou seu stand by
Um dia você vai perceber e entender
Que só eu eu amo você

Então, finalmente virá
E eu torcerei como nunca
Para que nesse dia
Você possa...me encontrar

(Nane-09/12/2014)


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Medos

Meus medos afloram
Quando mais me sinto forte
Vasculham minhas gavetas
Em busca da minha fragilidade

Busco na luz de meus parâmetros
A identidade da coragem
Que sou forçada a ter
Para sobreviver

A escuridão se faz
Em pleno sol do dia
Mas a lanterna do destino
Clareia meu caminho

Finjo não sentí-los (os medos)
Enquanto eles teimam em me assombrar
É preciso ignorá-los
Cubro a cabeça...

Mas a noite escura e quente
Me faz sentir calafrios
Tento respirar bem devagar
Para eles (os medos) não me encontrarem

Meus medos afloram
Quando mais preciso ser forte
Eu finjo...finjo...finjo
E sobrevivo

(Nane-08/12/2014)






Contradições

Na minha loucura me sinto normal
Faço planos, vivo a vida e ...sonho
Sou livre, sou passarinho em pleno voo
Brinco de sorrir e de sentir

No meu juízo mais perfeito, me sinto perdida
Vivo a realidade nua e crua e ...sofro
Presa em preceitos e éticas
Sou fera ferida e trancafiada

Em meus delírios sigo minhas vontades
Sem "mea culpa" a me importunar
Sem fantasmas a me assustar
Sem dogmas a me frear

Em minha lucidez, desfaleço
Cada vez que deito o corpo cansado
Marcado por cicatrizes da luta diária
Ameaçada pelo fio da navalha

Ah...meus devaneios me dão asas
Para cruzar oceanos bravios
Num surrealismo característico dos loucos
Que fazem de quimeras...vidas

Ah...a vida faz de mim escrava
De um sistema esfomeado e tão louco
Que suga toda a energia
Do meu, do seu e do nosso dia a dia

(Nane-08/12/2014)