terça-feira, 30 de abril de 2013

Despejado

Grita teu grito de prazer
No ouvido que te escuta
Geme teu gemido de loucura
No ouvido que te goza
Aperta com tua força fingida
As carnes que te molha de suor
A cada investida
Faz do seu vai e vem descontrolado
O ritmo alucinado da luxúria
Beija a boca sôfrega
Que saliva por teu beijo
Bebe com tua sede de animal
Todo o líquido derramado
Da vulva que te abrigou
E depois te expulsou
Quando usado e flexível
Não podias mais pagar
O aluguel cobrado

(Nane-30/04/2013)

Orquestra da vida

Escuta seus sentidos
Tem música no ar
No chão, no mar
Por onde a gente passar
Tem uma música a tocar

Escuta a sinfonia
Que vem das águas
Correndo ligeiras sem parar
De encontro ao velho mar

E a passarada desgovernada
Entoando suas toadas
Numa prece antes do adormecer
Noutra prece no alvorecer

Mesmo no atropelo da cidade
O som da melodia
Do sapateado corrido nas calçadas
Nos apitos e buzinas sem harmonia

A vida é uma canção
Transbordante de emoção
E só quem sabe ouvir
Espanta os males do porvir

Canta forte o coração
No batuque pulsante
O ritmo fica a cargo do maestro
E a orquestra...é sua

(Nane-30/04/2013)

Frases vãs

A vida não me surpreendeu
Desde pequenina eu já sabia
O fardo que carregaria

Maldita seja a minha fraqueza
Essa sim me pegou de calças curtas
Não esperava vacilar
Achei que aguentaria a minha cruz

Hoje me arrasto
E já nem sei se sou eu quem a carrega
Ou se é ela que me sustenta (de pé)

Jogo nas palavras meus lamentos
Entupo os olhos de quem os lê
Mas de nada me arrependo
É assim que tem que ser

Faço o que posso
O que não posso, vou empurrando
Até o dia em que surto
E minha alma veste luto

Rasgo meu verbo pobre e já quase senil
Em frases desconexas e vis
Rasgo como se rasgasse minhas entranhas
Já fétidas e apodrecidas

A vida não me surpreendeu

(Nane-30/04/2013)

Delícia

Dá-me um pudim de leite condensado
E me sentirei amado
Dá-me um pudim de leite condensado
E por ti me declararei apaixonado

Dá-me essa guloseima
E mata essa vontade que teima
Em desvirtuar-me os pensamentos
No abocanhar de doces momentos

Dá-me um pudim de leite condensado
Te peço por favor
Estou sem crédito no fiado
Em troca te dou o meu amor

Dá-me logo esse pudim
Para que essa droga de rabisco chegue ao fim
E eu me entupa de glicose
Por culpa de uma overdose

Dá-me um pudim de leite condensado
Que ficarei aqui, confinado
Até que seja chegado o seu fim
E te prometo não rabiscar mais nada

(Nane-30/04/2013)



No aprisco

O que quer de mim a vida
Além do que eu posso dar
Já não tenho mais idade
Nem vontade
Não vou fazer estrepolias
Não peça nada além do que eu posso dar

Houve um tempo
Em que eu iria à lua
E voltaria com um sorriso nos lábios
Só para agradar uma outra vida

A esquina me parece tão longe
Não tenho vontade de ir lá
Não peça nada além do que eu posso dar
E isso é quase nada, ou tudo

Meu tempo do impossível se perdeu
Em fragmentos de tesão
Já não vou por onde eu fui
Nada mais me atrai naquele lugar
Ouvir o choro de crianças
O resmungar dos velhos
A empáfia dos jovens
Me tiraram a vontade
Não vou sair daqui
Não peça o que não vou buscar

O que quer de mim a vida
Além do que eu posso dar
Um calhamaço de meros rabiscos
Trouxe de volta meu aprisco
Sair daqui...não me arrisco
O que quer de mim a vida...

(Nane-30/04/2013)



Vingança

A morte que me cabe, me ronda
Virá no meu anoitecer
Ainda que se faça dia

Não sei como virá
Se de negro ou de branco
Silenciosa ou com estardalhaço
Assintomática ou dolorosa
Mas virá me levar para outro lugar

Sua forma me intriga
A mulher da foice
O anjo com asas
Quem será que virá me buscar...

Ela virá, isso é fato
Brinca com meu tempo
E eu, para me vingar
Queria mais uma noitada
Assim como o berro d'Água
Pelas ruas da Lapa
Em plena madrugada

Depois sim
Estaria pronta para o fim
Mas quem dentre os malucos
Me faria esse favor
Depois de morta...

(Nane-30/04/2013)

Abalo sísmico

Veio a tempestade
Varreu, assolou, destruiu
Agora a calmaria
Sopra a brisa refrescante
As marcas estão em todo canto
O estrago foi feito
O furacão destruiu
Arrebentou, arruinou
A hora é de reconstrução
Recolher o que se pode aproveitar
O que se dá para reciclar
Se desfazer do que não presta
Tentar recomeçar...

Mas a tempestade ainda está no ar
Seu cheiro forte permanece
A calmaria não é tão calma
O vento nem tão brisa
O abalo não teve seu epicentro
É preciso ter cuidado
É preciso precaver
Ou tudo, tudo vai se perder
É preciso...é preciso

(Nane-30/04/2013)

Tudo de mim

Te dei meu tudo
O melhor e o pior de mim
Enganei, menti, magoei
Mas depois me apaixonei
Me entreguei, voei, errei

Quanto tempo faz...
Uma eternidade
Ou um instante talvez
Não importa saber
Foi o tempo que me fez viver

Agora é justo 
Vou ficar com as lembranças
Também é uma forma de amar

O céu não tem limites
Tem noites sem estrelas
Sem lua e sem romance
Mas não limites
E elas estão por ali
Guardadas...
Esperando a hora de brilhar

Quando a saudade apertar
A dor doer demais
O céu vai se enfeitar de brilhos
E eu...por certo vou te achar
Se chover...deixa molhar
Eu vou te achar ainda assim

Te dei o meu melhor
Te dei o meu pior

(Nane-30/04/2013)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Moldura

Faça de mim instrumento
Toque a canção que quiser
Um prelúdio do atrevimento
De um pensar num querer

Faça de mim poesia
Que te arranque sorrisos
Ao ler palavras de alegria
No papel da minha carne

Faça de mim aura de luz
E me associe à Jesus
Iluminando seus caminhos
Te livrando dos espinhos

Faça de mim o que quiser
Ainda que eu não corresponda
A imaginação é sua
Faça tudo o que quiser

Faça de mim mulher madura
Imortalizada em moldura
Pois que serei apenas isso
Na parede do seu quarto

Faça de mim sua presa
Infame e tesa
Pois só te resta isso
Tolo submisso

Já que na realidade
Não passo de mera verdade
Obscena e imoral
No dia a dia...brutal

(Nane-29/04/2013)


Nosso lar

Dois seres diversos
Habitam em mim
Lutam titanicamente
Se perdem e se ofendem
Enquanto um vai
O outro vem
Um quer viver
O outro quer morrer

São seres inoportunos
Infringindo meus sentidos
Enfraquecidos e perdidos

Um reza o tempo inteiro
Enquanto o outro blasfema e sorri

Preciso ter fé
Clamar por Deus
Preciso ter fé
Clamar por mim

Dois seres diversos 
Habitam em mim
Um é piedoso
O outro perverso
Um é amigo
O outro isolado
Um que fala
E outro que não escuta

Dois seres diversos
habitam em mim
Quem ficará...
Não sei
Mas não se fundirão
Jamais

(Nane-29/04/2013)

Escarros

Verbalizei meus fantasmas
Cuspi-os com o sangue talhado
Que sufocava a respiração
Sujando o oxigênio da mente

Verbalizei com violência
Expulsando e atirando
Fantasmas para todos os lados
Assustando e assustada
Com suas formas feias e hostis

Verbalizei num momento de explosão
Para não implodir
Foi mero instinto de sobrevivência
De humano desumanizado
Num grito por socorro
Ecoando aos quatro ventos

Ouviu quem não queria
Ouviu quem não devia
Os fantasmas expelidos
Estão no ar
Sujos, ensanguentados, nojentos
Não houve alívio
Nem meu, nem deles
Que insistem em voltar
Para me assombrar

(Nane-29/04/2013)

domingo, 28 de abril de 2013

Um menino

No beco da noite
Na noite do beco
Teu membro ereto
Desejo, loucura
Delírio de imagens
Imagens que deliram
Tento apagar
Mente insana
Corpo pidão
Te quer
Sem poder
Vem...me ter
Por um momento só
Depois...deixa acontecer
Teu rosto
Desenho de Deus
Menino tão meu
Teus braços
Tão fortes e viris
Teu abraço
Tão doce e elétrico
Tua r........
Ahhh menino
Não vou concluir
Fica entre nós
Você sabe
Eu também
O resto...
Imagina

(Nane-28/04/2013)


sábado, 27 de abril de 2013

Lembranças no coração

Não fale mal do seu amor
Apenas porque acabou
Se não era para ter sido
Deixa seguir em frente
Não o queira mal
Antes, guarde as lembranças
Dos momentos que o fizeram
Sonhar todos os sonhos
Beijar todos os beijos
Viver todas as vidas
Guarde a ternura
Da felicidade infinita
Desde a conquista
Até o apagar da chama
Que durou uma eternidade
Não desdenhe a sua dor
Deixe doer até passar
(pois vai passar)
E quando acontecer
Agradeça tê-lo vivido
Não jogue fora o seu amor
Reserve um pedacinho no seu coração
E guarde-o com muito carinho
O tempo vai te ensinar
A relembrar sem mágoa
Do amor que um dia você amou
E só assim, ele ( o tempo) te abrirá as portas
Para um novo amor, que por certo
Virá...

(Nane-27/04/2013)

A dama da noite

Não sou flor que se cheire
E nunca quis o ser
A dama da noite é enjoativa
Com sua falsa alvura
Inebria e embriaga com seu cheiro
Prefiro ser cacto inodoro
Com seus espinhos e rubor

Gosto da noite e seus mistérios
Que encantam nas vielas e becos
Sem a certeza de encontros ou fugas
Fugazes ou intensos
Sem saber se é medo...ou tesão

Não faço questão do dia
Poderia dormi-lo inteiro
Mas o vil metal desperta meus sentidos
Que se unem à sociedade vã
Em busca da sobrevivência
No circo capitalista sem ribalta

Não sou flor que se cheire
Embora cheire o cheiro da flor
Que inebria e embriaga
Simplesmente por germinar
No mesmo espaço meu

(Nane-27/04/2013)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Despedida

Despeço-me de ti
Sem mágoa nenhuma
Antes grata
Pelas tantas sensações
Se de prazer ou sofrer
Tanto faz
Importa que as vivi
E em mim se eternizaram

Despeço-me de ti
No afã de novas ondas
Que me lavem a alma
E te embasa o inesquecível
Dos momentos propícios
Que a mim dedicou
E por aqui...ficaram

Despeço-me de ti
Admirando teu estilo
Sempre sóbrio e envolvente
E levando comigo
O que de bom me ensinou
E portanto...deixou

Despeço-me de ti
Sabendo que amanhã
Outro dia virá
Independente da presença
Tão abrangente
Que enche de vazio
Mas que esvazia aos poucos
Essa ausência torturante

Despeço-me de ti
Na certeza de que o tempo
Sábio e implacável
Apagará todas as mágoas
Que fez doer no coração
O que julguei ser imutável
Mas no fundo...era apenas o fruto da minha solidão

Despeço-me de ti...assim
Sem mais

(Nane-26/04/2013)




Linguagem corporal

Fala meu corpo por mim
Quando se arrepia tal qual poesia
Recitada por seu toque
Que toca a minha pele

Fala meu corpo por mim
Tal qual poema versador
Quando a sua indiferença
Faz verter lágrimas de dor

Fala meu corpo por mim
Quando vibra de alegria
E escancara em sorrisos
Fazendo versos de ousadia

Fala meu corpo por mim
Retratando e expondo
Em cada interstício de poros
A faísca do estopim

Fala meu corpo por mim
Intenso e obsceno
Cândido e pudico
Libertando meu sexo

Fala enfim, por mim
Meu corpo inteiro
Que quando sem sentido
Adormece cansado

(Nane-26/04/2013)

Prolixos

Volvo meus pensamentos
Enquanto caminho, sem destino
Pelas ruas da cidade
Já adormecida
Num silêncio sufocante
Refaço imagens
Que a retina teima em manter
Mas já distorcidas pelo tempo
Pensamentos confusos
Guiam meus passos 
Pelas ruas, agora nuas
Luzes que me olham
Como seus olhos outrora
Faziam...
Sombras no asfalto
Cruzando calçadas
Não é você
Mas poderia ser...
Lá adiante 
O mar murmura sua eternidade
Que a noite é lamento
De dia alegria
Ouço o que não escuto
Vejo o que não olho
Seus olhos me seguem
Madrugada a fora
Em meu turbilhão
De pensamentos difusos

(Nane-26/04/2013)

Simplesmente vida

Nas brumas do campo
O sol, como num estupro
Força a passagem e pinta de luzes
Coloridas
A relva ainda molhada
Pelo sereno da madrugada...

Rompe o silêncio a passarada
Em gorjeios estridentes
E debandadas confusas e assimétricas
Mas com a exatidão da direção
Que só eles compreendem...

Respira o ar puro e ainda fri
E tonteia o pulmão acostumado
Ao ar rarefeito da cidade
De concreto armado e acinzentado...

O campo de tantas belezas
Se revela aos olhos cansados
Que vertem do seu leito
Lágrimas de emoção
Misturadas às outras águas
Do riacho que corre sem pressa...

E as flores do campo
Semeadas pelo amor
Dos pássaros cantores
Perfumam e enfeitam
O deslumbrante cenário
Da vida simples...

(Nane-26/04/2013)




terça-feira, 23 de abril de 2013

Um querer

Ah, queria ser
Como a luz do alvorecer
Em conluio com o orvalho
Colorindo e desvirginando
Com seus raios multicores
O amanhecer...

Ter a desfaçatez da estrela da manhã
Que insiste em permanecer
Por só mais um instante
Antes de se esconder
Até o próximo anoitecer...

Queria a resignação do sol
Que nasce sabendo ter que morrer
E ainda assim aquece
Sem nenhuma distinção
Sem nenhuma morbidez...

Um pouquinho só da persistência
Do mar que vai e vem
Sem nunca sair do seu lugar
E mesmo assim, com seus mistérios
Encantar...

Ah...queria ser sim
Como a gaivota solitária
Que voa sem nenhuma rota
Guiada pelo mar
Com a certeza que voltará...

Queria a simplicidade das crianças
Que fazem da vida, brincadeira
E vivem com intensidade cada dia
Sem nunca se preocuparem com o amanhã
Que eu, hoje, nem sei se irá chegar

Queria sim
Que a minha poesia
Só falasse de alegria
E voasse bem além da minha imaginação
Sem ter nunca, nem a ninguém
Que pedir...perdão

(Nane-23/04/2013)

Recomeço

E nesse vai e volta
Quantas voltas eu dei
Quantas voltas você voltou
E ficamos assim
Sem saber onde parar
Sem saber com quem ficar
Tantas vezes fui eu
Outras tantas fui ninguém
Nas minhas entregas insanas
Nos seus sorrisos de escárnio
Mas sem culpas
Se as houve
Foram minhas
Que menti, fingi, e depois...caí
Nas teias que teci
E sem perceber, me entreguei
Me fiz marionete
Me deixei conduzir
Agora estou vazia
Sem teor nenhum
Sem valor nenhum
Me perdi de mim
Salva-me o fim das lágrimas
Que secaram todas
É hora da virada
Se chorei ou se sofri
O importante é... recomeçar

(Nane-23/04/2013)

Mistérios e mistérios

Sobre metafísica, poesia e HQ

Tantos, por toda a história
Se esgueiraram pelas brumas densas do mistério
Do único mistério
O verdadeiro mistério
E dele se pode saber apenas
Que é “O Mistério”
Se intitulam filósofos e cientistas
Mas, do mistério, nada sabem
Só quem pode entender do mistério
São os poetas e escritores de quadrinhos.
E, o maior bem que a ciência fez pra humanidade
Foi inventar remédio pra dor.
(Foto: thanos-reportedly-confirmed-for-avengers-2-and-guardians-of-the-galaxy - MARVEL Comics)








Dizem os cientistas
Que a lua é um satélite
Frio...sem luz

Dizem os poetas
Que a lua tem o mistério
Que encanta os amantes

Procuram nas estrelas os cientistas
Respostas de certezas incertas
Procuram nas estrelas os poetas
A inspiração...

Rasgam os céus os cientistas
Em astronaves poluidoras

Rasgam os céus os poetas
Voando em férteis imaginações

Tentam decifrar sem sucesso
Os cientistas sempre certos

Tentam manter o mistério sedutor
Os poetas sem mistérios

Diferem seus mistérios
Cientistas e Poetas
Enquanto um tenta entender
O outro se contenta em ser

Estrelas, luas, planetas...
Um universo de mistérios
Poetas...
Um mistério de universos

Um cientista só será bom
Na visão de um poeta
Quando inventar um remédio
Que aplaque a sua dor...de amor

(Nane-23/04/2013)
[Com participação fundamental de Antenor Emerich]

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Náuseas

Laceram-me as carnes
Apodrecidas e fétidas
Provoco náuseas
Em quem ousa se aproximar
Vomito sangue enegrecido
Choco olhares estupefatos
Piedade, nojo, não sei dizer

Vermes fervilham e se multiplicam
Em cavernas no meu corpo
Esquálido e imundo

Não clamo por nada, nem por ninguém
Meu destino, fui eu quem fiz
Os vermes me sustentam o esqueleto
Me permitem andar ainda
Sem de muletas precisar

Nada tenho a reclamar
Minha sorte, minha morte, minha vida
Está tudo em seu lugar
Fui eu quem plantou as sementes
É justo a colheita, sem flores 
É justo os olhares...de ascos, repugnâncias
Não rogo companhia, não rogo nada
Bastam os vermes
Que laceram-me as carnes...
Apodrecidas

(Nane-22/04/2013)

Tempo perdido

Tal qual Carolina, debruçou-se na janela
Enquanto o tempo, resoluto, fazia o seu papel
E passava por ela sem empáfia.
Ela o olhava, admirada...
Corriam crianças, que voltavam adultas
Corriam adultos, que nem sempre voltavam
Corriam meninas, que voltavam mães
Corriam meninos, que voltavam pais
Corria o tempo em forma de vento
Varrendo a poeira e levando tudo
Segundos, minutos, horas e dias
Mas ela, permanecia ali, debruçada na janela
Sem ter para onde ir...
Lá vem alguém correndo
Ela fixa o olhar
Não consegue ver quem é
Seus olhos estão cansados
Os braços com marcas de calos
Apanha seus óculos
E volta a olhar a silhueta a se aproximar
Agora sim, reconhece "seu Zé"
Vendendo tapioca
O viu menino um dia...
Responde ao cumprimento
E volta a esperar...
O tempo, resoluto e implacável
Segue seu rumo
Enquanto ela aguarda
Debruçada na janela
Sua vez de passar...

(Nane-22/04/2013)

Universo interior

Eis o milagre da vida
Que se renova a cada amanhecer
Quando os olhos se abrem
No despertar de um novo dia

Eis a benção concedida
Pelo grande criador
Um universo interior
Tão imenso e diminuto

Eis a minha sina
Obra de arte do grande arquiteto
Perdida entre tantas
No infinito do grande universo

Eis aqui a tua cria
Toma-a então nas tuas mãos
E seja feita a tua vontade
Até o fim dos meus dias

(Nane-22/04/2013)0

Canção do mar

A dor que doeu, já não dói mais
O couro curtiu, e a chibatada 
Já não causa estragos 
O mar está calmo, apesar do frio
Parece cansado...é só marolas 
Que tapeteiam a areia, esburacando-a
A luz do dia está se pondo no horizonte
Logo não haverá mais claridade
Não é noite de luar, e nem de estrelas
Sinto o gosto doce da água do coco
E deixo o pensamento navegar...para onde quiser
Quase no nada, tão difícil de chegar
Confundo a linha do horizonte
Com a dos meus pensamentos
No vazio...que eu quero alcançar
Nada agora faz sentido
Um vento brando seca minhas pernas
Salpicadas pelas águas salgadas
Fogem as imagens de meus olhos
O mar adormeceu tranquilo
Sob o manto da noite escura...
Anestesiada, retorno ao meu lugar
Bem mais leve, sem nada a me incomodar
Escutando a canção que vem do mar...

(Nane-22/04/2013)

sábado, 20 de abril de 2013

Por ti

Por ti
Hei de aprender
E amar sem possessão

Por ti
Hei de aprender
O valor da liberdade

Por ti
Hei de aprender
A amar sem pretensão

Por ti
Hei de aprender
A eternizar segundos

Por ti
Hei de aprender
A compor canções

Por ti
Hei de aprender
A gozar (na) a vida

Por ti
Hei de aprender
A escrever poesia

Por ti
Hei de aprender
A sorrir da (na) vida


Por ti
Hei de aprender
A levitar no pensamento

Por ti
Hei de aprender
A dar prazer

Por ti
Hei de aprender
A amar sem desespero

Por ti
Hei de aprender
A me amar...primeiro

(Nane-20/04/2013)

Vestido


Menina mãe

Moça, menina,
Mãe, mulher
Ensina teu filho
Aprenda com ele
Presente divino
Teu e dele
Caminhos estendidos
Para de mãos dadas
Serem percorridos
Em pleno outono
A tua primavera
Te faz desabrochar
Em flor maior
De mulher em mãe
Mas guarda na essência
Tuas raízes
De menina sapeca
Na doce infância
Faz do teu dia
Toda a alegria
Com muita harmonia
E peço à Deus
Por ti, mãe do meu neto
Paz, saúde e sabedoria
Para torná-lo
Um homem digno

(Nane-20/04/2013)

*Parabéns Thaynah!!!

Vontade de você

Eu acreditei que fosse real
Me deixei envolver
Não percebi
Que era só brincadeira
Enquanto você se divertia
Eu te amava...

Mas não me arrependo
Por que te dei o meu melhor
E nada vai mudar o meu amor
Nada vai tirar de mim
Essa vontade de você...

E se tem que ser assim
Que seja então
Mas pode passar o tempo que passar
E se isso te faz bem
Saiba que eu vou te amar
Enquanto a vida em mim...durar

Então deixa como está
Bebo aos dissabores
Bebo aos meus amores
Bebo até cair
E por essa noite
Fico aqui...

(Nane- agora)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Liberdade

Liberta
Meu povo, meu fogo, Mi'alma
E deixe que sintam na face
O ar da verdadeira liberdade

Meu povo
Sofrido e preso
Às convenções e inverdades
Dessa gente sem valor
Que dilapida seus valores
E o faz prisioneiro
Do suor que lhe escorre pela face
Enquanto o colarinho
Permanece alvo e engomado...

Meu fogo
Mantido sob as cinzas
Esfriado e escondido
Como os homens sem direito
Aos desejos pecaminosos
Pelo bem da sacristia
Escondendo pedofilias
E condenados pela sociedade
Que lhes cobra a virgindade...

Mi'alma
Prisioneira do meu corpo
Espera seu entorpecer
No sono necessário
Para numa metafísica
Passear semi liberta
Querendo não voltar...

Liberdade, vinde
Para o meu povo
Para o meu fogo
E para mi'alma...

(Nane-19/04/2013)




Por hora

Vinde à mim a orgia
Já que o amor
Essa coisa cheia de dor
Não faz parte dos meus planos

Deixa transbordar meu calor
De sexo, de malícia, de tesão
Não plantei uma flor roxa
Decididamente, não sou trouxa

Deixa vir à mim
A vontade de gozar
Amar...nem pensar
Resta-me gozar...sem jamais amar

Fisiologia
É só o que quero para viver
Amor
É só do quero esquecer

E se eu viajar
E morrer
Sem problemas...
Deixa acontecer

Se acaso, seu endereço
Não for onde eu chegar
Pouco importa
Ainda assim, hás de saber...

Por hora basta
Cansei
O amanhã
Vai acontecer...

(Nane-19/04/2013)


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Meu ar

De todos os meus sonhos
Fostes meu pior pesadelo
De todos os meus amores
O maior...
E não sei como parar
Essa loucura que parece dizimar
A pouca sanidade
Que ainda guardo em mim...
Posto que de todos os meus pesadelos
Fostes o sonho mais maravilhoso
Que me fez vibrar de amor
Assim como chorar na dor...
Mas é como o respirar
Se tiver que acordar
Vai paralisar em mim
Os pulmões enegrecidos de tabaco
E sem o ar...

(Nane-18/04/2013)

Reticências

O verbo se fez homem
E o homem usou o verbo
Por vezes corretamente
Mas na sua maioria
Errando totalmente
Na sua conjugação...

Fez dele (verbo)
Ferramenta nefasta
Enganosa
Mentirosa...

Donde semeou a vírgula
Brotou dúvidas, sofrimentos,
Miséria e fome...

Exclamou seus iguais
Estupefatos e senis
Na inocência do entender
E confundir
As palavras adornadas
Os rótulos dourados
A verdade...incólume...

Interroga seus direitos
Esquecido dos deveres
Promessas vãs
No intuito do somar
Sem limites seus limites
Sem nunca aceitar
A interrogação...

E ele (o homem)
Fez do verbo seu ponto final
Sem notar que o Verbo
Silenciosamente aguarda
As suas reticências...eternas

(Nane-18/04/2013)


Moinho

Nostalgia
Incômoda
Passeio
D'alma
Tentativa
Do perdido
Ido
Vivido
Sonhado
Desejado
Acabado...

Retorno
Volta
Realidade
Cidade
Idade
Estrada
Rodada
Vida
Atordoada
Rotina
Sem poesia
Amanhã
Será de novo
Nostalgia...

(Nane-18/04/2013)


Gaiola de carne

Alma rebelde
Se cala e sofre
Tua gaiola de carne
Abafa os teus lamentos
Que sufocados...emudecem

Eu te queria livre
Mas é preciso crescer
Evoluir...

Te acalma mi'alma
Que a gaiola, um dia se abrirá
E tu...voará
Liberta de tudo
Sem mais rebeldia
E virarás, por fim,
Poesia

(Nane-18/04/2013)

Pilar do mundo

Ah...a lentidão de minha mãe
Causada pelo desgaste do seu corpo
Pelo tempo...implacável

E suas dores...que rangem seus ossos
Enfraquecidos pelo tempo
Implacável...

Ah...o olhar de minha mãe
Perdido...no tempo
Que ficou para trás

E seu pensamento viajando num tempo
Que não volta...mais

Ah...a força de minha mãe
Que aceita suas limitações
Sem lamentar...seu presente

Ah...a fé de minha mãe
Que remove as montanhas
Interpostas pelo tempo

Tão frágil e tão forte
Tão pura e tão sábia
Tão menina e tão mulher
Tão pecadora e tão santa

Ah...o amor de minha mãe
Pela vida tão madrasta
Resiliência admirável
Da sua altiva resistência

Minha mãe...
Escola viva
Pilar do mundo
O meu, o dela, o nosso...

(Nane-18/04/2013)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O olhar de Solange

Capta
Na lente potente
Todo o seu expoente
De um sol...poente

E por sobre as nuvens
Gotículas minúsculas
Capta viagens
Da sensibilidade maiúscula

O sereno olhar de Solange
Faz magia
Em tudo o que tange
Transformando em poesia

Um instante infinito
Clicado no seu tempo
Um momento ínclito
Nas asas do vento

O olhar de Solange
É arte sublime
E nada suprime
E tudo...abrange

É doce o olhar de Solange

(Nane-17/04/2013)



Mulher de fé

Guerreira mulher
Invejo tua fé
Quando na necessária tristeza
Que advém e fragiliza
Te tornas ainda mais...guerreira
E me ensina...
Todo dia me ensina
Nos gestos simples
Nas palavras (por vezes duras, mas precisas)
Na vida
Me ensina...
Eu
Mulher de pouca fé
Aprendo
Devagar
Bem devagar
Mas aprendo
Te vendo...
Mulher de tantas dores
Faz do teu canto encanto
Sem nenhum lamento
Viva teus amores
Pela vida
Pela música
Pela poesia
Por mais um dia
E me ensina...vivendo

(Nane-17/04/2013)


Oração de uma mãe

Filho,
Bateu saudade doída
De um tempo atrás
Quando te carreguei em mim
Sem saber que eras anjo.
Teu sorriso pueril,
Minha fortaleza
Mantido na retina
Da certeza de te ter (de novo).

Anjo
Tão querido por mim
E reclamado nas alturas.
Quem sou eu para impedir
A liberdade do teu espírito
Puro, imaculado,
De voltar ao alto
Nos braços de Maria.

Filho,
Diga a ela que te entreguei
Com as mesmas lágrimas
Que um dia derramou
Pelo filho santo
Que seu sangue derramou
Por aqueles a quem amou.

Anjo,
Peça a ela o meu conforto
E a dádiva no reencontro.
De sentir no teu abraço
O abraço do meu filho
Que tão cedo me deixou
Mas de mim, nunca se afastou.

Filho,
Diga a nossa mãe
Que te entrego em seus braços.
Mas que permita, ela,
Te sentir à minha volta
Cada vez que minhas lágrimas
Rolarem em minha face
Com saudades de você.

Anjo,
Aproveite e peça o meu perdão
Por, às vezes, fraquejar.
Diga que a tua ausência
É o que me faz chorar.
Sei que ela entenderá,
Pois é mãe, e sempre se lembrará
Do filho que na cruz
Se deixou crucificar...

(Nane-17/04/2013)



terça-feira, 16 de abril de 2013

Confusão

Tola ilusão
Acreditar em palavras
Palavras ditas em instantes
Do desejo  na cama
E se perdem no ar
Enforcando o tolo
Que ousou acreditar
Ilusão de um momento
Em que se faz rei
Soberbo e cego
Aceitando o presente de grego
Cavalo alado 
Instante acabado
Sela solta
Coroa perdida
Rei morto
Pasto orvalhado
Cavalo, bode, burro
Cervantes cria
A ilusão maior
Palavras ao vento
Um bode na Caatinga
Cervantes, cerrado
Norte, sul
Nordeste, sudeste
Idas e vindas
Ou findas
Dor de ilusão
Perdão

(Nane-16/04/2013)



Bola fora

Rola a bola do jogo
Que passa de pé em pé
E escancara a cara
Na cara do gol
Vibra a torcida já certa
Do gol que está na cara
Não dá para impedir
O gol vai sair
Mas falha o artilheiro
E chuta para fora
Cala o estádio estático
Num slow motion infinito
Que vê a bola subir...e não entar
O jogo que estava vencido
Agora está perdido
Foi-se a faixa no peito
Acabou-se a ilusão
Não tem mais o campeão
Bastava só uma vitória
Era só mais esse jogo
Acabou-se a história
Apagaram-se os refletores
Acabou a partida
É hora da partida
Da torcida vencida

(Nane-16/04/2013)



Morte

Morte
Azar ou sorte
Depende da vida
Estúpida
Feliz
Completa
Vazia
Nem sempre ela é feia
Ou mesmo indesejada
É só a absoluta certeza
De que a vida é passageira
E deveria então
Ser vivida plena
Sem dores ou frustrações
Para que quando chegasse a morte
Partíssemos exaustos
E felizes
Mas a vida complica
Machuca e faz doer
Joga na cara as chagas
Rasga vertentes sangrentas
Matando em vida a vida
E tornando o egoísmo fiel
Fazendo olhar o pior
Para poder seguir sem reclamar
Morte
Azar ou sorte
De quem nasce escolhido
Para ter sorte ou azar
Morte
Que a minha venha em paz
E me pegue adormecida
E me feche os olhos cansados
Sem alarde nenhum

(Elian-16/04/2013)


Fases

Nas fases que passo
Faço meu laço
Em percalços
Que ando descalço
Mas vou em frente
Parando somente
Num qualquer repente
Que se faça urgente
Respiro fundo
Meu coração vagabundo
Parado por um segundo
Desperta pro mundo
Em ritmo alucinado
De um amor não declarado
Bate acelerado
Perdido, assustado
Querendo gritar
E aos quatro cantos contar
Mas é obrigado a calar
Num peito a o sufocar
Canto uma canção
Rezo uma oração
Vivo toda a minha emoção
Sem ter que dar (a ninguém) explicação
São fases que passo...

(Nane-16/04/2013)