quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O último Natal


Era 1976...
Meu irmão Mazinho havia contraído meningite após cair num riacho sujo e de ter sido arrastado pela correnteza por mais de um kilometro. Já tinha até sido dado como morto. É um desses canais que cortam as cidades e que nas chuvas de verão enchem e transbordam. Ele foi internado nas vésperas do Natal, e na tarde do dia 24 ele fugiu do isolamento do hospital e veio para casa. A alegria de vê-lo chegando foi tanta que custamos a entender que ele estava fugido e doente...Minha mãe logo se preocupou e perguntou o que fazia em casa, ele então, na sua inocência de criança, disse que só queria passar o Natal com a família toda reunida, e que depois voltaria para o hospital.
Lembro da cena até hoje. Estávamos todos na sala, minha mãe contávanos histórias sentada no sofá e nós estávamos tristes, porque pela primeira vez em nossas vidas passaríamos um Natal sem um dos membros da nossa família. Leleco,  mais novo do que eu um ano, quando viu o irmão querido chegando ficou numa alegria tão grande que correu para encontrá-lo.
Mas nossa alegria durou pouco. Passado menos de uma hora, a ambulância encostou na porta de casa e os enfermeiros, com a ajuda de minha preocupada mãe, levou Mazinho para o hospital novamente. Mas isso não importava mais...ele veio nos ver e passou conosco, de certa forma, o último Natal com a presença de todos os membros da família reunida.
Em março de 1977, Leleco, aquele mesmo que foi abraçá-lo correndo, faleceu de forma trágica. Hoje, nesse Natal de 2010, relembrei esse episódio e me dei conta que daquelas pessoas presentes naquele Natal de 1976, já não consta o Leleco, meu pai, e meu irmão caçula (dos homens) Didinho.
Mazinho estava certo, é preciso estar junto da família enquanto se pode, e o Natal é isso...

(Nane-29/12/2010)

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