quinta-feira, 28 de novembro de 2013

L'Amour

Decifra-me ou devoro-te
L'amour sou eu
Ouro de tolo
Coisa de bobo

L'amour por mim
E por meu sexo
Que arde e pede
Satisfação

Ninguém é de ninguém
Amar soberbamente
Doença maligna
Câncer da alma

O próprio amor
É o amor próprio
E gozo comigo
Me comendo 

Sou macho e fêmea
Me basto
L'amour sou eu
Me amo

Me transo
De corpo e alma
Sem juízo nenhum
Me dou

Gostosa
Sei que sou
Ainda que para mim
Que provo de mim

Masturbo
Meu corpo 
Meus genes
Meus ideais

L'amour
Imbecilidade congênita
Da raça humana
Que só ama a si mesma

Troco
Meus sentidos tolos
Pela sábia filosofia
Do viver por viver

L'amour
É só uma maneira
De dourar uma pílula
Placebo de vida...

(Nane - 28/11/2013)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Esfinge

Trevas assolam o dia
Névoas assombram os rochedos
Águas turvas enfeiam o mar
Algas embaraçadas sujam a areia

O marinheiro à deriva
Na "branquidão" velejante
Perde a mão do timão
E o rumo no mar

Por onde andará Iemanjá
A deusa do mar
Em terreiros da Bahia
Em letras de melodias

Que certeza dará
Seu canto de feiticeira
Afogando sem piedade
O tolo apaixonado

Trevas assolam o dia
De quem se deixou levar
Pelas mazelas dos fortes
Pelos prazeres da sorte

Tumba aberta na noite
Aguarda seu triunfo
Corpo esticado no terno
Fina estampa da morte

(Nane - 27/11/2013)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Sem sentidos


Só o que restou

Dois prazeres na vida me restaram:
o cigarro e a cerveja.
O resto é imposição do destino
- ou de mim mesma, vai saber...

Família é a base (mas não é tudo de bom),
e se a escolhi, não me recordo.
Aceito-a como uma escola
onde é preciso aprender a convivência.

Morreria sem pestanejar
por cada um dos componentes.
Mas não, necessariamente, 
me dão prazer.

A cerveja, essa sim,
me faz sorrir, me encoraja,
me faz chorar, me dita poesias,
me faz cantar, e me dá prazer...

O cigarro, esse sim,
Me alivia, me inspira, 
atiça minha imaginação
enquanto sua fumaça dança -sinuante- no ar

Escrever, deixou de ser prazer.
Virou apenas hábito adquirido
feito o cachimbo que fez a boca torta,
de tanto ser usado.


Dois prazeres na vida me restaram
e ambos fazem parte do meu viver (ainda).
Fumo e bebo sem nenhuma culpa,
e morro pelos prazeres (que restaram).

(Nane - 26/11/2013)



domingo, 24 de novembro de 2013

Leitor ferrado

Cabeça pesada
Cheia de cerveja
Não pensa direito
Ou pensa demais
Visão turva
Coração acelerado
Energético demais
Álcool de menos...

A fumaça fedida
Impregnada nos cabelos
Um, dois, três (ou quase) maços
Paladar perdido
Cabo de guarda chuva
Tempero degustado
Língua plastificada
Beijo artificial...

As merdas das teclas
Se confundem e se misturam
Vistas cansadas
Idade avançada
Rins fudidos
Dores lombares
Cerveja esquentando
Cigarro queimando...

A grana se esvaindo
A cabeça girando
Acho que estou de porre
O livro maldito
Não conta porra nenhuma
Melhor assim
Natimorto escondendo
Meu grande segredo...

Estico as palavras
para dar preguiça
Em quem se atreva
A ler o que escrevo
Ai, que tédio
Só sai porcaria
Se chegou até aqui...
Azar seu

(Nane - 24/11/2013)




quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Embarque

As dores de minha mãe
Me fizaram adoecer
Dói vê-la definhar
Nas dores que a maltratam

As dores de minha mãe
Afetaram nossos  juízos
Ou quem sabe até mesmo
Avivaram-nos

As dores de minha mãe
Revelaram a desconhecida
Que frágil, esperneia
E me olha com desconfiança

As dores de minha mãe
Afastou-a de mim
Embora cada dia mais
Se agarre a mim

As dores de minha mãe
Tornou-me amarga e fria
A ela agressiva
E a nós duas, depressivas

As dores de minha mãe
Estão  matando aos poucos
Toda a alegria e a garra
Que um dia nos uniu

As dores de minha mãe
É só mais uma das provas
Que Deus, na sua "sapiência"
Permitiu que ela passasse

As dores de minha mãe
São regadas de muitas lágrimas
Tanto pelas do corpo
Quanto pelas da alma

As dores de minha mãe
Estão comprando as passagens
Com destinos assegurados
Para o céu e o inferno

(Nane - 21/11/2013)







terça-feira, 19 de novembro de 2013

O inferno

Abrir mão da poesia
Em favor da melancolia
Abrir mão do lúdico
E trocar pelo lúgubre

Os fantasmas que rondam
Nas noites perpétuas
O sol que esfria
A lua que não brilha

A culpa que corrói
A carcaça já apodrecida
A lágrima ácida que fere
A tez enrugada pelo tempo

A menina se matou
O tempo foi cruel
A mulher é sombra
E a vida...morte

Faltou a rima do poeta
Amor e dor não dá mais
Vida e morte são uma só
Quarto e tumba num quadrante

Brilha o sol sem calor
40° sem definição
Suor que escorre no frio
Nada faz sentido

Chama que queima no inferno
Grito que ecoa sem barulho
Dor que dói sem sentir
Vida que acaba sem morrer

(Nane - 19/11/2013)



domingo, 10 de novembro de 2013

Suicídio

Sombras sombrias me abraçam
Teimam em me arrastar
Não quero ir
Esses gritos dispersos
Ferindo meus ouvidos
Me chamam o tempo inteiro
Não quero ir
Mas dizem que eu devo
Um calafrio escaldante
Se apossa de mim
Maldita que sou
Julgada e condenada
Por essa voz que me acompanha
E diz ser minha

Já não sei de mais nada
Nem mesmo sinto
Umbigo por umbigo
O meu não é meu
O lúgubre me reveste
Nos badalos da hora
Que se faz e adianta
Sem mais atrasos
Nas vozes das sombras
Nefastas e hediondas
Que me cercam e me querem
Já quase me arrastam
Sem ligarem para os meus gritos
Eu vou...

(Nane - 10/11/2013)

sábado, 9 de novembro de 2013

E se...

E se o amanhã não vier
Como será o meu amanhecer

E se meus olhos não se abrirem
E se eu não respirar

E se tudo em mim se apagar
E nada mais restar
Para onde eu irei
O que acontecerá

E se você me perder
Será que vai chorar
Um pouquinho, talvez
Mas logo passará

E se nada mais houver
Além dessa malfadada vida
Onde nunca fui feliz
E nunca ninguém me quis

E se o amanhã se acabar
E de mim nada mais restar
Então saiba que vou levar
Você dentro de mim

Para onde quer que eu vá...
(Se é que vou lembrar)

(Nane - 09/11/20132)

Mundão di Deus

Caí nesse mundão di meu Deus
Sem sabê qui rumo tomá
Eu, minina no corpo di mulé
Assanhando a cubiça dus home
Sem sabê que ía mintregar

Um fumo retrucido
O moço bunito bem sabia
Que gostava de fumá
E veio logo cuma talagada
Da danada da cachaça
Que já levou di mim
Um pai e dois irmão

Aceitei o fumo retrucido
Mas bebê...bebo não
Só cerveja que é chic
Mas isso ele num paga não
Num tem dinheiro pra tanto

Aceitei di bom grado o fumo
Moço de barba cerrada
Arranhando meu cangote
Mi fazendo arrepiá
E tremê nu corpo todo
Fizemo saliênça até o sol nacê

Foi assim que eu minina
Nu corpo de mulé
Caí nesse mundão di meu Deus
E pra casamento, dô mais não

(Nane - 09/11/2013)




Mão à palmatória

Quem é você,
Pra me tirar o sono assim,
Quando o que quero é dormir...

Quem é você,
Que grita meu nome o tempo todo,
E no entanto não diz nada...

Quem é você,
Que faz de mim passarela,
Enquanto samba na avenida...

Quem é você,
Que brinca com meus sentimentos,
Fingindo o que não sente...

Quem é você,
Que abre um cerveja gelada,
E derrama por minha goela abaixo...

Quem é você,
Que entorpece meus sentidos,
E some sem deixar rastros...

Quem sou eu,
Que me submeto a isso tudo,
E não tenho vergonha na cara...

(Nane - 09/11/2013)

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Alienação

Dei tanto murro
Em ponta de faca
Idealizei utopias
Acreditei
Nos homens de preto
Comedores da carniça
De seus eleitores

Saí nas ruas
Aos brados de protestos
Derrubando o maioral
E abrindo espaço
Para o próximo da fila
Comer o meu fígado
Sem tempero nenhum

O sangue ferveu
Não é alienação
É mesmo desilusão
Não voto em ninguém 
Nem em Jesus Cristo
Nem em minha mãe
Que nunca me pediram voto

Deixa pra molecada
Essa valente missão
De mudar o mundo
Já não tenho mais forças (nem vontade)
Cansei dessa luta inglória
Mudei a mim mesma
Isso me basta

(Nane - 08/10/2013)

Desassossego

É preciso explicar
O que não sei dizer
Mas sinto o tempo inteiro

Esse desassossego
Que parece consumir
E oprimir
Toda a estrutura
Que ainda resta

Mar em fúria
Dentro de mim
Querendo desaguar
Em tsunami
Bestial

Não é preciso explicar
Isso que sinto o tempo inteiro
Mas não sei dizer

Implode e acalma
Mas não explode
Acorda e aquece
O sangue nascente
Manancial de fúria

(Nane - 07/11/2013)

O inferno é aqui

Vozes agudas
Estridentes gritos
Agonia insistente
Essa falta de ar
Esse cheiro de abutres
Barulhos estranhos
Pedidos de ajuda
Inferno de calor
Suores fétidos
Não sei onde estou

Gente disformes
Em fila indiana
Desembocando na porta
Fechada
Que leva a algum lugar
Onde têm pressa de chegarem
Mas não podem passar
E se digladiam
Arrancando pedaços apodrecidos
Na tentativa vã dessa passagem

O breu desse lugar maldito
Dá descanso aos meus olhos
E evita que eu veja mais a podridão
Nauseante que me cerca
E da qual faço parte
Nauseando os demais
Incomodados com os gritos
Lancinantes em coro
De todos nós

(Nane - 07/11/2013)


Sem reserva

Se hoje
Fechassem meus olhos - de vez
Viajaria sorrindo
E levaria comigo
Para muito além daqui
A doce lembrança
Do amor que vive em mim

Do outro lado
Não sei como seria
Mas lateja a vontade
De saber se eu poderia
Ao menos te olhar
E mesmo (você) não querendo
Zelar por você

Eu
No meu silêncio revelador
Te amo sem reservas
E vou levar por onde eu for
A certeza desse amor
Que se em você, acabou
Em mim, é bem mais que o mundo
E mais um pouquinho...

(Nane - 08/11/2013)

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Macumba

Macumba no mato
Cruzado na encruzilhada
Lá pelas bandas da vendinha
Onde compro sementinhas

Tinha farofa e sangue pisado
Não sei se de frango ou de cabrito
Tava tudo espalhado
Parecia chutado

Ebó todo traçado
Exu, Oxum, Ogum
Oxalá tenha sido um deles
Pois acho que é coisa de cachorro vadio

As velas se apagaram
Molhadas pela chuva
Macumba mal feita
No mato cruzado

Despacho na encruzilhada
Pedi licença e passei
Fui comprar na vendinha
E pra casa voltei aliviada

Saravá

(Nane - 07/11/201)

O pensamento

Chamam-me de louca
Por insistir em amar
Quem já não me quer
E com um sorriso discreto
Desdenhado no canto
Da boca que outrora
Dizia me amar
Me afastou, me repeliu

Mas não posso evitar
A razão me diz acabado
O coração grita saudades
Espalha recordações
Que a mente não consegue apagar
Fazendo à noite, sonhar
Tirando a razão da razão
Colocando em seu lugar
Fantasias e poesias

Não importa o desprezo
Meu amor é eterno
Não importa não se concretizar
Ele é meu e de mais ninguém
E no pensamento
Que também é razão - minha
E também é coração - meu
O orgulho foi trocado
Por esse amor incontestado

(Nane - 07/10/2013)

Artista

Sem falsa modéstia
Sei que sou boa - no que faço
Misturo sentimentos
Gostos e desgostos
Doces e salgados
E até mesmo lágrimas

Faço, nas entrelinhas
Manjares dos deuses
Que apreciam e se fartam
Com a minha arte
Que sei, é tão boa
Diria mesmo, irresistível

E por falar nela
Me despeço da poesia
Vou já para a cozinha
Que meus deuses reclamam
A arte de hoje atrasada
O fogão me aguarda...

(Nane - 07/11/2013)




Frio

A chuva fina infinita por já três dias
Parece querer me derreter a alma
De tanto que lava e leva de mim
Os acúmulos grudentos de dentro

O frio trazido por ela - chuva
Encarcerou-se nela - alma
Fazendo-a tiritante e macambúzia
Tão parecida com a sua morada

Ela - alma - parece não caber
Querer se esparramar
Em busca do sol - calor
Uma outra moradia

Ele - corpo - franzino
Já sem vaidade e nem cuidado
Desagrada seu inquilino
Espírito de tantas moradas

E enquanto cai a chuva
Infinita por três dias
Se contenta somente
Com a leitura de livros

Ela - alma - viçosa
Não gosta da chuva - infinita por três dias
Ele - corpo franzino
Se delicia

Conflito nas cinzas
Sopradas pelo vento
Avivando as brasas
Que essa chuva - infinita - não apaga

(Nane - 07/11/2013)

Disritmia

Foda-se você
Com seu olhar inebriante
Tem a bebida mais poder
De me extasiar
Embora a maldita
Acabe sempre por me lembrar
Da beleza fatal desse olhar

Mas o depois é o depois
E agora você na escala
Está em segundo lugar

Bebo e brindo
Ao esquecer momentâneo
Que entorpece meus sentidos
E me faz esquecer
Dessa sina doentia
Que assassina o meu eu
Implodido e esquecido

Dane-se o amanhã
Viva o agora
Repleto de coragem

Não quero pensar além
Se houver um despertar
Um (re)abrir de olhos
Um acordar
Será mais uma disritmia
Que com toda a certeza
Virará mais uma - depois de outro porre -poesia

(Nane - 07/11/2013)

Sufoco

Um nó na garganta
Não desce
Não sobe
Refluxo
Engasgo
Tusso
Vomito

Lágrima furtiva
Fugitiva
Do côncavo cavado
Na face esculpida
E no barro moldada
Pelas mãos divinas
Do dito Criador

Veemência nos atos
Insanos e descabidos
No grito ecoado
Da alma aflita
Em busca da paz
Perdida na inocência
Da própria verdade

Um nó em desatino
Apertando e matando
No sufoco as vontades
Perdidas em desalentos
Tirando o ar sagrado
Que faz respirar
E viver

(Nane - 07/11/2013)


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Refrão

Ah quem me dera
Eu tivesse uma viola
E soubesse tocá-la

Comporia uma toada
Bem pequenina
Onde só teria um refrão

"Meu amor foi uma ilusão
Que o mar levou embora
Numa embarcação"

Não tenho uma viola
Nem mesmo um violão
E tocar...não sei não

(Nane - 06/11/2013)



Soberania

Rasga-me as entranhas essa dor lacerante.  
Clamo sem nenhuma vergonha:
Deus! Deus! Meu Deus!
Não ouço resposta nenhuma.
Disseram-me: Peça e te será dado.

Pedi, implorei, clamei,
e no entanto, não me foi dado.
Acaso pedi demais?
Pode ser que sim.
A visão cega é a minha.

Me diz uma voz lá no fundo:
Atemporal o seu pedido
não urge por agora.
Espera que te será dado
quando for chegada a hora.

Sou gaivota solitária
cruzando os mares distantes.
Ele - Deus - soberano,
por vezes estranho
sorri do voo solo que tento alçar

Feito sarça apodrecida por esterco úmidos
cozinho meu cérebro em banho maria
e renovo a tentativa de brotar
na fé desse estranho ser iluminado
a quem denominam Deus

(Nane - 06/11/2013)





Bromoprida

No céu da minha boca
Não brilham estrelas
E as palavras nem sempre
Saem sonoras

A lua não se fez presente
No céu da minha boca
Que vocifera palavrões
Chulos, sem nexos

No céu da minha boca
A acidez predomina
E alguém me manda tomar
Bromoprida

Hoje, do céu da minha boca
Nada mais além do que a fumaça do cigarro
E o gelado
Da cerveja

Repasto de poesias
No céu da minha boca -hoje-
Restou o azedume do vômito
Contido pela bromoprida

(Nane - 06/11/2013)

domingo, 3 de novembro de 2013

Pensando

Encho meus pulmões enegrecidos
Com a fumaça do cigarro
Amigo que me abraça
Seu abraço fatal

Certo que me matará
Mas meu prazer é matá-lo
Trinta ou quarenta vezes ao dia
Me ajuda a pensar...

Idiota viciada
Não luto contra o vício
Ao contrário, gosto dele
Faz parte de mim

Temo só a covardia
De uma morte dolorida
Mas a morte em si própria
Essa não me assusta

A certeza que me resta
É a de morrer um dia
Então que seja fumando
E tomando uma cerveja

(Nane 03/11/2013)


Gaiola

Pássaro preso
Tratado e alimentado
Cantando seu canto
Por tantos admirados

Sina enfadonha
De passos contados
Pela gaiola dourada
Seu habitat

Só o verbo cantar
Sabe conjugar
Viver, amar, procriar
Desconhece o que seja

O tempo é claridade e escuridão
Não se conta mais nada
Dia, semana e ano
É o claro e o escuro

Já nem sente pesar
Ou mesmo alegria
Vive o que é permitido
Na prisão da sua vida

Liberdade é desconhecida
Felicidade nunca teve
A morte não teme
Talvez por querê-la

Pássaro preso
Tratado e alimentado...

(Nane - 03/11/2013)

Objetiva

Um dia me disseram
que eu tinha "pena" de mim.
Parei para pensar
e vi que estavam certo.
Decidi mudar e mudei.
Já não me sinto coitadinha,
e pena, nem de mim ou de ninguém,
eu sinto mais.
As vezes assusto
com a minha própria frieza.
Já não choro pelos cantos,
e não me comovo com quem chora.
Meus sentidos se racionalizaram
e hoje sentem o que devem sentir.
A vida é uma escola
onde você precisa aprender
que viver é seguir em frente.
Se parar, por certo vai morrer.
Joguem as pedras que jogarem,
agora estou de carapaça,
não vai me atingir.
Venha o vento que vier,

me preparei para encarar,
A vida me fez assim
e é assim que eu sou.

(Nane - 03/11/2013)

sábado, 2 de novembro de 2013

Finados

O dia é dos mortos
E eles ganham flores
Sentem-se nauseabundeados
Com o cheiro do próprio enterro
Relembrado pelos seus

A corrente dos sentimentos
Os arrastam aos cemitérios
A contragosto
Mas vão assim mesmo
Por amor aos vivos

Quando foi a última vez
Que uma flor foi te ofertada

Não se desespere
O seu dia vai chegar
E então, todo ano
No dia de finados
Você vai ganhar

O dia é dos mortos
Que mais do que nunca
Vivem
Enquanto os vivos
Aos poucos...morrem

(Nane - 02/10/2013)

Bipolar

Tal qual um relâmpago
Vou de um extremo ao outro
Vento sem rumo
Direção à deriva
Nau fantasmagórica
Perdida num mar
De espumas e areia
Que acaricia e fere
Sem se importar

Bipolar insana
Vago por dois meios
Sem compreender 
A hora de parar
Mudar a direção
Deixar em paz
Ficar em paz
Saber o que é paz
Me acalmar

Dois polos diversos
Positivo e negativo
Contra e a favor
Preto no branco
Loucura sã
Da insana perfeição
Na busca dúbia
Do ser que sou
Perdido em dúvidas
De ser só eu

(Nane - 02/10/2013)

Serenidade

Cérebro e coração.
Vísceras corroídas por sentimentos
conflitantes.
A dor da culpa machuca
pensamentos racionais -num quase nazismo-
que impele à libertação
da matriz sofrida
pelas dores físicas.

O coração dói ao imaginar
a sensação de vazio,
sem saber se é egoísmo
ou o amor natural de gerações
que clama pela longevidade
do ser primaz tão amado
que já reclama do peso de sua cruz.

Faça-se a sua vontade
Criador das criaturas.
Só nos dê serenidade para
tentar entender e aceitar.

(Nane - 02/10/2013)



sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O Pastor


Hoje,
sem muito o que fazer,
parei para pensar:
Em outros tempos
estaria, com certeza,
na boemia da Lapa,
ou em Vila Isabel,
quem sabe em Madureira?

Santa não sou,
o que me falta é a "ocasião",
mas ainda assim, parei para pensar:
Porque não posso?
É sexta feira!
A mulher ao meu lado,
sentada e olhando para a televisão
sem entender nada do que assiste
(mas que não se ouse mudar de canal),
é a mesma que a tempos atras
me ensinou a escrever.
Ah...essa tal liberdade!
Hoje sei que o preço a pagar
não cabe no meu bolso,
e tão pouco na minha retidão.
O "Cara" lá de cima está comigo
e eu com ele.
Sou sim rebelde, e peco
por meus excessos.
Mas volto à minha sanidade
quando olho naqueles olhos,
que de verde não tem mais nada
além de cataratas descoradas.
Eu passo e ele -o tempo - não.
Resta-me deitar nos verdes pastos
e aguardar mansamente que ele 
me guie.

(Nane - 01/11/2013)