sábado, 17 de julho de 2010

Histórias de minha mãe


Hoje,
enquanto comia uma mandioca cozida que minha irmã me trouxe,
me lembrei da minha infância.
Éramos muitos os irmãos e minha mãe cortava uma volta para
nos alimentar. Carne, nem pensar! Se a víssemos uma vêz ao
mês era por obra e graça de alguém que nos mandava, talvez
com pena da criançada...
Mas mamãe sempre foi muito criativa, e num dia em que só tínhamos
os bons arroz e feijão para comer, ela ganhou algumas mandiocas
de um vizinho, que as colhera no sítio dele. Mamãe as cozinhou
e antes de nos servir o almoço, nos chamou e contou-nos a lenda
de Mani. Era mais ou menos assim:

"Nasceu uma indiazinha linda e a mãe e o pai tupis espantaram-se:
- Como é branquinha esta criança!
Chamaram-na de Mani. Comia pouco e pouco bebia.
Mani parecia esconder um mistério. Uma bela manhã, Mani não se
levantou da rede.
O Pajé deu ervas e bebidas à menina. Mani sorria, muito doente,
mas sem dores.
E sorrindo Mani morreu.
Os pais enterraram-na dentro da própria oca e regaram a sua cova
com água, como era costume dos índios tupis, mas também com muitas
lágrimas de saudade.
Um dia, perceberam que do túmulo de Mani rompia uma plantinha verde
e viçosa. A plantinha desconhecida crescia depressa.
Poucas luas se passaram e ela estava alta, com um caule forte que até
fazia a terra rachar ao redor.
- Vamos cavar? - comentou a mãe de Mani.
Cavaram um pouco e, à flor da terra, viram umas raízes grossas e
morenas, quase da cor dos curumins, nome que dão aos indiozinhos. Mas,
sob a casquinha marrom, lá estava a polpa branquinha, quase da cor de
Mani.
- Vamos chamá-la de Mani-oca. - resolveram os índios.
Transformaram a planta em alimento.
E até hoje, entre os índios do norte e do centro do Brasil, este é um
alimento muito importante."

Mamãe então nos disse que a mandioca é um tipo de carne, carne de Mani...
E nós comemos a mandioca com gosto! Claro que não nos passava pelas cabeças
inocentes a possibilidade de carne humana, mas posso assegurar que naquele
dia eu comi mandioca com gosto de um belo bife acebolado!

(Nane-16/07/2010)

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