terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Pelas ruas

O último copo de cerveja
Borbulha em minha frente
É madrugada
Os bares fechando
Me pedem delicadamente
Para que me retire
Sem mais nada pedir
Saio a contra gosto
Desejando mais uma
Ouvir mais uma nota
De um cavaquinho qualquer
Ou quem sabe de um surdo
Lamentando a partida
De um enredo perdido
No lumiar da esquina
A lâmpada piscando tosca
Talvez sejam meus olhos
Inundados de cerveja
Na madrugada aflita
Lacrimejando saudades
De um tempo ido
Em que eu era eu

(Nane - 31/12/2013)

Um instante só

Essa fissura me consome
Cobrando seu carinho
Um olhar
Um afago
Coisas que naturalmente
Outros tem de você
E eu...espero em vão

Sinto o seu carinho
E a sua mão pesada
Que me acusa de coisas
Que nem sempre eu fiz
E me calo cabisbaixo
Para não te perder
Sabendo que nunca te tive

Embaralham as entrelinhas
Quando tento rabiscar
Esse desespero que dá
Cada vez que seu chicote
Estala no ar
Pronto a proibir
O meu direito de te olhar

Pedir ou implorar
Pouca valia tem
Teu sangue quente transborda
E cozinha o meu querer
Sempre pronto a implorar
Por um só instante do seu olhar

(Nane - 31/12/2013)




segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Galinheiro

Pouco há o que fazer
No chão estorricado
Espero passar a lua
Para recomeçar

Agora o que me encanta
Se atém a um cercado
Onde o cacarejar do galo
Anuncia a alvorada

Levantar cedinho
Distribuir o milho
Oferecer a água fresca
E os ovos recolher

As pequenas codorninhas
Generosas como o que
Bagunceiras também
Precisam de pouco espaço

Vou plantando aos poucos
E criando o galináceo
Há o tempo de plantar
E o tempo de cuidar

(Nane - 30/12/2013)

Tempo quente

O mato floresceu
Posto que também é vida
Na horta subjugada
Aos despautérios do tempo

É hora do descanso
Da terra batida
Por tantos frutos
Oferecidos

O sol forte do verão
Misturado aos temporais
Cansa o generoso torrão
Que se abriga sob o mato

Eu insisto em arar
Muitas coisas não dá mais para plantar
É preciso saber das safras
Que hão de germinar

Enquanto a horta se prepara
As árvores dão seus frutos
Acerola, maracujá e manga
Tangerina, goiaba e limão

O mato tomou conta
Mas só por enquanto
Logo estará domado
E a horta renovada

(Nane- 30/12/2013)



domingo, 29 de dezembro de 2013

Vício

Sem noção nenhuma
Sou eu
Que me perco em palavras
E na vida

Amotinado em meu peito
Adormece
Sob o efeito narcótico
Do álcool

Todo o sentimento sentido
Camuflado
No sorriso tosco que insisto
Em sorrir

No final, sem pedir
Uma lágrima
Esquenta a face
E cai

Noção nenhuma
Tantas tentativas
Recomeço sem futuro
Vício puro

(Nane - 29/12/2013)

sábado, 28 de dezembro de 2013

Navegando

Da janela do quarto 
Em meio a penumbra
Observo lá, distante
A luz fosca
Piscando incansável
Feito farol no mar

Navego em meus alheios
Deixando os pensamentos
Ao sabor das ondas
Que na minha maré
Sob a penumbra silenciosa
Tenta se tranquilizar

(Nane - 28/12/2013)

Podridão

Dou minha cara para bater
Sem me importar
Com o que vão dizer
Ou pensar

Falo tudo o que penso
Escuto o que não quero
Sou besta repreendida
Repreendendo a besta alheia

Meus olhos pouco veem
Além do que querem ver
Rezo meu terço sem esquecer
Do umbigo na minha barriga

Rezo à Santa julgada pecadora
Por mim e por quem mais vier
Não sou santa e nem herege
Só alguém sem paz

Dou minha cara a tapa
E mando à merda os demais
Que fingem ser o que não são
Camuflados em podridão

(Nane - 28/12/2013)






Desdenhando

Não delimito meus sonhos
Aos passos que posso dar
Sempre vou além do que minhas pernas
Conseguem traçar
E por vezes isso me custa caro
Mas insisto em viajar
Nos sonhos dos quais não consigo acordar

Os que convivem comigo
Me acham (mas não falam) insana
Olham-me atravessados
Como se eu fosse- num surto qualquer- lhes atacar
Então fingem me aceitar
E eu insisto em viajar
No meu altismo deliberado

Por vezes a solidão
Consome todo o meu humor
E extravaso sem censura
Nos versos que insisto em rabiscar
Feito poeta fingidor
Que não percebe a própria dor
Quando escreve alcoolizado

Meus sonhos povoam minha imaginação
E são tão e só meus
Que mais ninguém consegue entender
Quando num sorriso sem rir
Eu desdenho de mim mesma
Por saber que sonho em vão
Com as viagens que nunca irei fazer

(Nane - 28/12/2013)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Harehama

Então é Natal
Quando os ricos comem
E bebem também
E os pobres se endividam
Para aos filhos presentear

Então é Natal
A festa cristã
Onde o novo faz escárnio
Do velho que sobrevive
Até seu último dia

Então é Natal
Pro enfermo do SUS
Na maca exposto
Enquanto o rico
Transplanta seu mal
Sem entrar na fila

Então bom Natal
E um ano novo também
Que seja feliz
Quem puder comprar seu bem
De tantos valores
No bolso e no banco

Harehama
Fiz o que pude
Hare se não paguei
Hama não pude
Harehama
Viva o recomeço

(Nane - 27/12/2013)



quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Maquininhas

Sombras na multidão
Silenciosa
Que segue em frente
Robotizada
Olhando suas maquininhas
Conversando com fantasmas
Gente de tão longe
Sem mais precisar
Do calor do abraço
Do olho no olho
Gente esquecendo
O sabor do beijo
O gosto da lágrima
Compartilhada
Na dor ou na alegria
E mesmo dentro de casa
As maquininhas são prioridades
Fala a mãe com o filho
O pai com o tio
Sem se recordarem
Do timbre de uma voz
Até o assaltante
Agora se informatizou
Já não porta um revólver
Rouba com o mouse
Ou com o WhatsApp
Sombras na multidão
Silenciosa e solitária
Que segue em frente

(Nane - 26/12/2013)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Festas

Repenso meus sentidos
Sentidos em meu sensor
Que alcoolizado
Presente a acepção
Da falta de sentido

Um grito lancinante
Emudece a garganta
Um pedido de socorro
Que mais ninguém escuta
O Natal se aproxima

É farta a barba branca
É falta de quem fui
Na mesa a rabanada
Adocica as bocas
E os abraços de confraternização

É preciso me conter
O Natal diz tanto...
A noite do ano bom já vai chegar
E aí sim, vou me acabar
Deixando sem sentidos
Todos os meus sentidos

(Nane - 18/12/2013)

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

NENSE

Lá no fim do arco íris
Havia um pote
Mas ninguém o alcançava
E choravam o ouro perdido

O arco íris colorido
Tantas cores e tanto ouro
Neguim trepando um em cima do outro
Mas ninguém o alcançou

Então veio o velho feiticeiro
Surgido lá do além
Sentado num tapetão luzido
Vindo das mil e uma noites

Mago de toda a safadeza
Poeta da dramaturgia
Anunciando o chororô
Do arco íris desvirginado

Um só time Tricolor
Tomou de assalto o pote de ouro
Agora tremem as outras cores
Do mal fadado arco íris

Falem bem ou falem mal
O importante é ser feliz
Divisão por divisão
Sou Tricolor de coração

(Nane - 17/12/2013)





domingo, 15 de dezembro de 2013

Meu neto, meu filho e minha mãe


Vértice de nós
Em noite de Natal
Começo, meio e fim
Da pirâmide familiar

O neto
O filho
A mãe
Quatro gerações

Unidos na mesma ceia
Tão santa quanto a outra
Agregados num mesmo enredo
Festejando a união

Juntos abençoados
Ao badalar dos sinos
Que anunciam o nascimento
Do menino Deus

Vertentes criadas
Rumos traçados
Estradas paralelas
Se unindo nessa noite

Abraços e beijos
Promessas e desejos
Noite feliz
É Natal

(Nane - 15/12/2013)


Aninhando

Hoje sou passarinho
Sobrevoando ao teu redor
Ao sabor do verão
Que me tráz até você

Canto meu canto de migração
No entorno do teu coração
Enquanto alada busco
Pousar no teu abraço

Beijar o teu sorriso
Ao afagar os teus cabelos
Quando em revoada
À ti eu retornar

Abraça minhas asas
Aninha-te em meu colo
Voa comigo sem pressa
Pelos ares da imaginação

Quando pousarmos na realidade
Adormeça em meu regaço
E deixa que os teus sonhos
Eu embala nos meus braços

(Nane - 15/12/2013)




sábado, 14 de dezembro de 2013

Voando sem rota

São tantas as faltas que sinto
Que me perco sem saber
Em que direção vou seguir
Nesse voo destrambelhado
Rumo a lugar nenhum

Norte, sul, leste ou oeste
Bato as asas à deriva
Mergulho num rasante
De um mar nebuloso
E revolto

Você partiu
Não deixou o endereço
Meu rumo se perdeu
Sem o código postal
De onde chegar

Gaivota solitária
Rumo a um horizonte
Inatingível
Em vertical
Dopada

Mas de todas as faltas
A que mais me faz
Aporta num porto
Que se não seguro
É só onde eu quero...pousar

(Nane - 14/12/2013)

Pé de serra

Dane-se o mundo
Que não vive em mim
Embora me cobre
O tempo inteiro
A vida em mim

Danem-se as pessoas
Que se escandalizam
Com o meu jeito de ser
Ou de dizer - o que penso
Sem meias palavras

Louca ou insana
Dou minha cara à tapa
Refletida nas palavras
Que jorram de mim
Em linhas tortas

Sou cristalina
Feito água de rio
No pé de serra
Nascente em fio
Transbordando em curvas

E morro sem força
Quando imolada
Em plena cidade
Por detritos expostos
Nas valas da vida

(Nane - 14/12/2013)



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Reflexão

Reflito
Refletida
No espelho 
Embaçado
Pela fumaça
Do cigarro
Enquanto
O tempo
Passa
E leva
Embora
O reflexo
Do que fui
Sem a fumaça
Embaçando
O espelho

(Nane - 13/12/2013)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sem mais

O quê desejar a essa altura da vida
Se de tudo tive um pouco
E ainda que só nos sonhos
Fui além do que podia - e devia

Fiz da vida poesia
Por vezes triste
Por outras de euforia
Quimeras e magia

Atravessei mares
Voei por continentes
Me fiz presente
Por onde nunca estive

E tive em minhas mãos
O que nunca pude tocar
Errei e acertei
Amei e fui amada

Ainda sonho sim
Ainda tenho expectativas
Que se não se realizaram
De alguma forma as vivi

Tenho sim uma melancolia
Que me inspira e serve de combustível
Para esse monte de "abobrinhas"
Que insisto em "rabiscar"

Mas sei que disso tudo
Algo se aproveita
Rabisquei amor, dor e flor
Cão vadio, homem e mulher

Estive em cada palavra
Cada frase, vírgula e reticência
Por onde andei eu escrevi
Quem leu e não entendeu...me perdeu
De vista

(Nane - 10/12/2013)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Estações

Hoje as minhas flores
Se abriram e sorriram
Como a me lembrar
Que ainda é primavera
Em pleno verão

A orquídea rainha
Abriu temporã
Sem se importar com o tempo
Nem com o vento
Floriu tão linda

Em vários ângulos
Se deixou fotografar
Posando para a vida
Fazendo do verão
a sua estação

Primavera passando
As flores se despedindo
As praias se enchendo
O mar se agitando
E a orquídea se abrindo

Não faz sentido
Mas é a falta de sentido
Que faz a beleza existir
Na insana loucura
De um grande amor

(Nane - 09/12/2013)

domingo, 8 de dezembro de 2013

Odoyá

Mãe de todos
Rainha do mar
Não julga seus filhos
Ama por amar

Morena faceira
Dos negros cabelos
Me farto em teus seios
Do alimento vital

Deusa da compaixão
Senhora divina
Odoyá Afrodite
Beleza suprema

Generosa senhora
Compadece de mim
Abençoa a rota
Não me deixe à deriva

Toma nas tuas
As minhas mãos
Mãe abençoada
Sou filha tua

A minha tristeza
Afoga no mar
Odoyá Iemanjá
Me livre de chorar

Mãe de todos
Rainha do mar
Morena das águas
Odoyá Iemanjá

(Nane - 08/12/2013)

Desatando nós

Feliz por ti
Feliz por mim
Feliz por nós
Desatando nós

No peito uma incerteza
Meio que tristeza
Por saber que o tempo
Nos marcou e nos mudou

Mas é tão bom
Que mesmo assim vale a pena
Te perder de vista
Faz mal pra minha vida

Com a ansiedade da criança
Em noite de Natal
Aguardei tua presença
E vibrei com tua chegada

Não saia mais de mim
Fica aqui
Sou tua morada
És minha alvorada

Feliz por ti
Feliz por mim
Feliz por nós
Desatando nós

(Nane - 08/12/2013)








sábado, 7 de dezembro de 2013

Mais uma

Desce gelada a cerveja
Refrescando a garganta
Entorpecendo a cabeça
Ditando as palavras

Houve um tempo em que eu bebia
Com os amigos que eu tinha
E virava a noite
Na boemia

Hoje a cerveja
Loira e gelada
É a única companhia
Nas minhas noites vazias

Dos amigos abri mão
Das noitadas
Troquei o lugar
Mas da cerveja...essa vai comigo

Desce gelada a cerveja
Refrescando a garganta
Entorpecendo a cabeça
E ditando as palavras...

(Nane - 07/12/2013)


...- Feiras

Se odeias a rotina
De toda a semana
Levantar e sair para trabalhar
E encarar o trânsito
Seu chefe mal humorado
Os dias inteiros iguais
As noites menos tensas
Ainda assim iguais
Segunda
Terça
Quarta
Quinta
Sexta
São todos feiras
Te resta o frisson
Da chegada tão aguardada
Do final de semana
Que passa voando
Sem que o vejas

Se odeias essa rotina
Não conheces a minha
De caminhar do quarto
Até a sala
Ou ao banheiro
Com tanta dificuldade
E a ajuda forçada
De quem um dia
Eu pus no mundo
E hoje me serve
De bengala ambulante

Mas hoje é sábado
Não tem a feira
A tua rotina
Até amanhã
É divertida
Então aproveita
Enquanto podes
Pois as feiras
Logo virão
Com o tédio que sentes
Na rotina maldita
Que tanto odeias
Enquanto a minha
São sempre feiras

(Nane - 07/12/2013)


Ponto de vista

Deus e o diabo na terra
Quem é quem
O bem e o mal
Um ponto de vista
Da verdade e da mentira
Ilusão e realidade
Tristeza e felicidade

Orgulho ferido
Castigo sentido
Não faz sentido
Sorriso aberto
Música no ar
O que importa
É a vontade que dá

O que foi, passou
Recomeçar
Sentir o sentido
Do sangue pulsar
Num simples piscar
Mandar tudo a merda
Sorrir sem parar

Augusto sorriso
Altivo e escrachado
De tolo apaixonado
Dos anjos flechado
Vendo poesia
No sol escaldante
Do oásis desértico

Então que assim seja
Promessa feita
De um recomeço
Sem o fantasma de Otelo
O bem é o bem
Não importa mais ninguém
Desdêmona é eterna

(Nane - 07/12/2013)



quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O sonho de Ogum

Ogum sonhou
Com a filha de Nanã
Sem saber que seu encanto
Era o fio da navalha
Forjado na própria espada
Que deu a ela

Iansã feriu seus brios
De guerreiro lutador
Quando se tornou rainha
Da corôa de Xangô

Ogum guerreiro
Se deixou levar
Pelos olhos feiticeiros
Que julgava serem estrelas
E no mar os foi buscar

Ogum sonhou
E se desencantou
Iansã, tão bela
O desdenhou
Fazendo nascer a ira
Do guerreiro lutador
Que perdeu seu grande amor
Para o deus que era de paz


(Nane - 05/12/2013)



Sodoma & Gomorra

Em torno
Revisto
Um dia a mais
Talvez um de menos
Ou nem mais dias hajam
São segundos e horas
Que se arrastam e seguem
Enquanto vida há
No pulso que pulsa

Lá fora cai uma tormenta
Gotas ácidas que perfuram
A superfície em que tocam
Deixando cicatrizes profundas
Feito lavas de um vulcão
Petrificando tudo o que tocam
Transformando em gelo o calor
De quem um dia amou

Nada mais resta a fazer
Ou mesmo a lamentar
Nem Sodoma e nem Gomorra
Apenas cinzas restaram
Sem sal ou sem açúcar
A estátua era de areia
Que na maré se desmanchou
E nunca mais...voltou

(Nane - 05/12/2013)


quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Carnaval - ilusão sabida

Ah...esse vento frio que sopra
Levando embora meus sonhos
Deixando arrepios de incertezas
Onde antes haviam desejos

Calafrios sinistros restaram
Da ansiedade que outrora vibrava
Pelo dia vindouro de surpresas
Feito presente a ser desembrulhado

Já não há mais perspectiva
Do sorriso e da alegria
De presentes ou de poesias
Nem mesmo de um novo dia

O calafrio domina
O vento sopra estridente
A noite nunca acaba
A vida não passa

O Natal se aproxima
Sem presente e sem pacote
Sem fita e sem laço
Só um vento gelado

Papai Noel não existe
Meus sonhos também não
São meras ilusões
Prefiro o carnaval

(Nane - 04/12/2013)

Ao sabor do vento


Velejo por todos os mares
À deriva,
Buscando em cada porto, a segurança
Inexistente
Na rota definida...
Afogo,
Nessas águas turbulentas,
Toda e qualquer reticência
Da esperança em calmaria...

Na verdade busco sua presença

Em cada porto que sei, não é seguro.
E me deixo levar pela maré
Sem ter forças para remar,
Na direção que ela quiser me levar...
Navego,
Num veleiro predestinado,
De bandeira com sua face
Hasteada e altiva
Tremulando ao sabor do vento.

(Nane - 04/12/2013)


Seu codinome

A bela senhora
Sedutora e misteriosa
Abraçou todo o corpo
Se apossou
Não tem mais espaço
É inteiro dela
Que se glorifica
E toma de assalto
Sem nenhuma brecha
Para mais nada
A bela senhora
Dona de tudo
Já não se preocupa
Se a morte virá
Por sua culpa
Importa é dominar
A mente demente
Que fragiliza o corpo
Ao se entregar
À Dama de codinome
Tristeza

(Nane - 04/12/2013)


Choro livre

A noite está quente
Escura
Convidando ao acaso
De passos na rua
Onde lágrimas livres
Rolam sem vergonha
No rosto de olhos vermelhos

Essa dor incauta
Já tomou conta do ser
Que de tanto ser forte
Tornou-se fraco
E desaba na noite
Em rios de lágrimas
Por hora  - na escuridão - livres

Vão-se as luzes
Do dia denso
Trocado por refletores
Da noite generosa
Que acolhe as lágrimas
Sem perguntas indiscretas
Num silêncio gritante

Torrentes
Inundam
Feito rio
Transbordante
Nas cheias
Do verão
Os olhos vermelhos

(Nane - 04/12/2013)

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Incondicionalmente Tricolor


Honra-me com tuas cores
Que impregna-me a alma
Orgulhosa e apaixonada
E por ti, eternamente encantada

Chora essa alma desencantada
Com os homens que te estão (mas não são)
E fecha contigo o pacto eterno
De mais do que estar, eternamente ser

Deixa que o escárnio se faça
Mi'alma chora, não por ti
Que se fez fruto desse amor incondicional
Seja onde e como for

Chora pela incompetência
De quem não soube te representar
Com toda a grandeza que tuas cores
Traduzem 

Chora sim mi'alma
Mas ama com maior intensidade
Posto que sabe da precisão
Do amor por ti dedicado

E donde quer que tu vaias
Contigo hei de estar
E mostrar ao mundo orgulhosa
Teu escudo tatuado em minha pele - corpo - casa de mi'alma
Que hoje chora...

(Nane - 02/12/2013)

Platão

Amor platônico
Sem direito ao toque
Ou ao olhar nos olhos
Sem cheiro nenhum

Ainda assim amor
Dizimando a realidade
Fervendo a imaginação
Doendo feito dor real

Infeliz do amor
Que nunca viu ou sentiu
O calor e o suor
Do outro a que se quis

Amor tão intenso
Que de tão real
É incompreensível
Para quem nunca o teve

Amor que se faz eterno
Vivendo na sombra
Da vida passada a limpo
Rascunho da morte

Na teoria da morte
A vida se desfaz
Quando finge nascer
E pensamos viver

E eu que amo sem ter
Sei que vou te encontrar
No platonismo dos meus sonhos
Tal qual ao Cristo redentor

(Nane - 02/12/2013)

domingo, 1 de dezembro de 2013

Calada da noite

Nessa calada da noite
Em  nada se faz bom
O time que se enterra
A cerveja me aquieta

Dopa e entorpece meus sentidos
Apaga as lamúrias escondidas
Solta meu verbo mentiroso
Falo pelos cotovelos

O giro que gira na demência
Entontece e faz balançar
Os passos trôpegos
Trocados numa esquina qualquer

Teor do quê
Do tudo e do nada
Alcool ou cacaína
Embalo de  ilusões

Uma caveira ao meu lado
Se expõe sorrindo
Não sabe escrever
Estala os dedos

Sorriso estridente
Num rosto cadavérico
A brisa da noite
Sopra fria

Faz tua escolha
No balcão do bar
Um chopp gelado
Ainda dá para (pagar) tomar

(Nane - 01/12/2013)