sábado, 30 de maio de 2020

CICLOS ALTERNADOS



A caminhada
Tão longa e complexa
Nos permite tantas coisas
Que sequer percebemos

A dor
Essa companheira necessária
Nos permite o crescimento

Durante a caminhada

O amor
Esse sublime designador
Que guia nossos passos
De encontros perpetuados

Você e eu
Formamos nós
Com mais dois
Em uma de nossas etapas

Te cobriu a face
A névoa momentânea
Enquanto aguardas
A nossa chegada

Teus filhos, meus filhos
De mãos dadas comigo
Me amparam e me guiam
Na tua direção

Efêmero tempo
Que nos separa
Sem força para impedir
Sua presença em mim

Teu caminho
É o meu caminho
Nossos filhos
Pedaços de nós

Tua casa é minha casa
Nossa casa nos aguarda
Ajeite-a com carinho
Posto que é a nossa morada

Quando for chegada a hora
O ciclo se fechará
No reencontro de nós todos
Num só único lugar...

(Nane - 30/05/2020)

TEMPESTADE CEREBRAL



Frases que vêm
Em total desalinho
Poluindo minha mente
Já tão pervertida

Palavras desconexas
Não ouço vozes
Assopros que arrepiam

E me fazem escrever

A madrugada fria
Convida ao ostracismo
A cama me chama
A palavra me encarcera

O chuveiro quente
Me encanta
As teclas me seduzem

A coberta, não cobre

O desassossego me faz elétrica
A lua me chama
O frio me espanta
A noite passa

A frase pronta
Se apresenta
Escreva...ela diz
Eu obedeço

Não quero mais
Estou cansada
Pensar não posso
Preciso deitar

Mas ela insiste
Assopra em meus ouvidos
O computador desligado
Levanto e religo

Não posso dormir
O limbo é isso aqui
Obedeço e escrevo
O que há de vir


A tempestade se aplaca
Já consigo até sorrir
Um sorriso cansado
Já posso ir dormir...

(Nane - 30/05/2020)

ESTRANHO SENTIMENTO



Estranho sentimento
De um vazio tão completo
Invadindo a essência
Destilado no ar


Uma vontade de saber
O que não me é permitido
E no entanto instiga
Mesmo sem poder, o meu querer


Esvazia todas as minhas certezas
Entranhadas e evasivas
Mutilando o objetivo
Ao qual me dispus

Salada revirada
Sem sal ou sem açúcar
Embolorando os neurônios
Desconectados das sinapses

Me pergunto até quando
Vou me deixar levar
Nessa pororoca desgovernada
Que afoga minhas pretensões

Vontade de cuspir todo o ácido
Que vocifera na garganta
Feito plasta que corrói
No deságue do sangue

Mas não resolveria
O estranho sentimento
Nem preencheria o vazio
Destilado no ar

Nada mais resta
Além do aceitar
Que a vida à ser vivida
Tem que continuar

(Nane - 30/05/2020)

sexta-feira, 29 de maio de 2020

O INFINITO CONFUSO


Nada do que escrevo
É o bastante para dizer
O que está em mim

Quando se refere à você

Até tento me expressar
Mas palavra alguma

Alcançará a imensidão
Do sentimento em mim contido

De tão contido e imerso
Ele grita e me implode
Devastando por inteiro
Qualquer outro querer

É um infinito confuso
Onde me perco e me acho
Mas que decididamente
Não abro mão

É só meu e de mais ninguém
Nem mesmo seu
Então escrevo
No desejo insano de te ter

É feito um orgasmo
Que explode em delírios
Quando essa imensidão
Aflora em palavras

Vou tentando todo dia
Sabendo não conseguir
Fazendo de um poema a poesia
Que é eternamente te amar...

(Nane - 29/05/2020)

quinta-feira, 28 de maio de 2020

QUANTAS SAUDADES

E lá se vão três anos
Da sua ausência física
As lembranças que ficaram
Doem, mas também confortam

A sagacidade nas palavras
O seu humor requintado
A ironia nos comentários
A sabedoria no viver

Hilária nas suas cantorias
Dos hinos da sua igreja
Que eu escutava embevecida
Por te saber tão lúcida

Saudades eu tenho das flores
Que sempre enfeitavam os seus jardins
Desde os meus tempos de criança
Que plantavas, mas não colhias

Saudades eu tenho das balas
Que fazias para vender
Quando quase nada havia para comer
Mas você, fazia aparecer

Saudades eu sinto do seu cheiro
Quando me aninhava no teu colo
Num cafuné até o adormecer
Coberta e protegida

Saudades eu sinto do café
Com aroma das manhãs
Em que eu tinha que sair
De encontro ao aprender

Saudades eu sinto de tudo isso
Que deixastes por legado
E hoje, tento repetir
Tudo o que me ensinastes

De você Mãe
Não sinto saudades
Guardo comigo todas as lembranças
E essas sim, fazem doer

(Nane - 28/05/2020)


VOCÊ É LINDA

Te chamei de linda
Me respondestes
- Já fui
Tola, é o que fostes

Tua aura, tua luz
Resplandece em teu sorriso
Digno de Narciso
Por isso tua alma reluz

Não, não fostes feita da costela de Adão
Mas brotastes lá, em São Salvador
Terra de um povo encantador
Que tem na essência a sedução

Também não és do Agreste
Mas sabes que provocas a lua
Com o brilho estelar
Tão seu que puxa a gente

Não, não és Tieta
Mas é Rosany
E teu nome...Tieta
Soa com quem ame

Então vou confirmar
Você é linda
Passe o tempo que passar
Nosso papo aqui se finda

(Nane - 28/05/2020)





quarta-feira, 27 de maio de 2020

DE UM OUTRO TEMPO




Numa mesa de bar
Eu transbordo
Em palavras profícuas
Que não dizem nada


Espero o garçom
Me trazer a cerveja gelada
Enquanto amasso o cigarro
No cinzeiro fedido

Me sento no orvalho
Lá dentro é proibido
Politicamente correto
Mando todo mundo à merda


A boemia me consome
Me fazendo perceber
Que não sou dessa época
Tão cheia de "chiliques"

Vinícius era um pulha
Genial e sem medidas
Que "papava" as meninas
Encantadas com suas poesias

Sabia dos seus intentos
Mas fingia que era "o cara"
Importava seu gozo explodindo
Na cara da casta escolhida


Eu, mulher, não posso
Sou piranha, louca, depravada
Resta-me a cerveja gelada
No fundo desse poço

Comprei na padaria
Um litro de cerveja
Só para ver se consigo
Escrever uma poesia

Fingindo estar numa mesa de bar
Rabiscando sem pensar
No amanhã que virá
Quando eu acordar

Vinícius, sou do seu tempo
Mas nunca te encontrei
Que bom que você se foi
Aqui, nada mais lembra você...

(Nane - 27/05/2020)


terça-feira, 26 de maio de 2020

SÓ UMA SAUDADE


Choram meus olhos
Vertendo lágrimas compulsivas
Disfarçadas pelas lentes
Embaçadas...

A rotina intensa
Me cobra agilidade e decisão
Enquanto as lembranças
Teimam em voltar

O som da sua voz
Ecoa dentro de mim
Feito uma brisa que sopra
Indo embora...

Tropeço em meus apetrechos
Me dando conta
Do foco exigido à total precisão
Sossega coração

Verbera meu verbo
Silenciado e dolorido
Por lembranças saudosas
De um tempo ido

Guardado em estrofes
Para mais tarde dançarem
Feito bailarinos
Ao som de uma sinfonia/poesia

Agora não é a hora
De lágrimas nem saudades
O foco se faz presente
Retomando a minha mente

(Nane - 26/05/2020)









o que dói não é a saudade, mas as lembranças

segunda-feira, 25 de maio de 2020

DESTILANDO AMARGURA


Hoje não tem poesia
Só amargura
Gente mal amada
Indisposta e fria

Enquanto isso, lá fora
A vida vai se esvaindo

Uns querendo ficar
Outros pagando para perturbar

Põem palavras na boca dos outros
Como se dono fossem da razão
Quanta especulação
Quanta gente sem noção

Não basta o confinamento real
A exclusão também é virtual
Se não carregas a famosidade do artista
Tua obra é banal

Eu queria falar de flores
Mas a porta se fechou
Não sou Vinicius de Moraes
Então o meu show já terminou

Hoje não estou para a poesia
Nem na mesa de um bar posso sentar
Melhor mais nada comentar
Que se dane por hoje a poesia

(Nane - 25/05/2020)







A VÓ DO MEU NETO

Te conheci
Em plena madrugada
Em que eu rabiscava
E fui por ti, interrompida

O olhar preocupado
Me cobrando explicação
Confesso que "meu santo"

Com o teu não se entendeu

Mas o tempo foi passando
As coisas mudando
A gente se conhecendo
A admiração se instalando

O ciúme algumas vezes
Teimava em me afastar
Mas o tempo, este senhor
Nos ensina o que é valor

E eu aprendi
Com uma criança
E como uma criança
À gostar e te respeitar

Hoje, só quero te homenagear
Nesse dia tão especial
Em que posso afirmar
Você é essencial

Obrigada por cuidar
Com todo o seu amor
Do meu neto que também é seu
Com a doçura de um beija-flor

(Nane - 25/05/2020)

sábado, 23 de maio de 2020

MEU CARO AMIGO BUARQUE

Me acostumei
A te ver passar
Na timeline
Que rabisco...

Amigo querido
De tanto tempo ido
Da paixão dividida

De um amor para toda vida

Buarque Tricolor
Não é Chico, mas é Lenyr
Que de portas abertas recebeu

Amigos queridos e eu

Lenyr das arquibancadas
Entoando o horto amado

Brindando à amizade
Com a nossa voz da torcida

Meu caro amigo Tricolor
Sequer um abraço posso te dar
Mas te reverencio com louvor

Só o que posso é te homenagear

Quando passar a pandemia
Num dia de jogo do Flusão
A gente faz uma folia
E extravasa toda a nossa emoção
(quem sabe, com o Flu campeão)

(Nane - 23/05/2020)





quarta-feira, 20 de maio de 2020

UMA NAU À DERIVA

No mar revolto
O povo mareado
Sem colete salva-vidas
Tentando não se afogar


O timoneiro
Louco de pedra
Com sua prole

Resguardada na cabine

Divaga sobre as ondas
Se deixando levar
Arrastando seus embarcados
Em seus próprios devaneios

Um outro timoneiro
Se apresenta com só quatro dedos

Tentando com todas as forças
Conduzir a nau à deriva

Dois lados, duas forças
Numa batalha quase perdida

O mar não está pra peixe
Deixa as ondas nos levar

Para onde? Não sei

O tempo vai dizer
Se o barco vai aportar
Ou inevitavelmente...naufragar

(Nane - 20/05/2020)


terça-feira, 19 de maio de 2020

VERVE QUE SUFOCA



Falam-me meus ritos
O que eu não sei dizer
A verve me sufoca
Então a escrita grita meus versos

Transcrito de mim mesma
Grito em meu silêncio
Sem que ouçam a minha voz
O que canso de dizer

A vida obscura
Dos desejos contidos
Abstido da puta
Sepultada em meu ser

Das poucas palavras
Que saem de mim
A sensatez me invade
Na fala do que esperam

Nas noites embriagantes
Despejo despautérios
Em linhas tracejadas
Do meu diário virtual

Tantos sins e tantos nãos

Paralelos sem se encontrarem
Unidos num só destino
Recolhido...

Meus ritos me impelem
À voz que me intimida
Nas entrelinhas de meus rabiscos
Ao gritar pelo teu nome

Meus desejos se libertam
Meus sonhos se completam
Te rabisco e te possuo
Enquanto quem me lê...me escuta

(Nane - 19/05/2020)


segunda-feira, 18 de maio de 2020

MATANDO A SAUDADE

Meu "Peixe" chega junto
Puxa lá uma cadeira
Toma aqui um "garotinho"
Bem geladinho...

Se prepara prá falar
Que a noite é uma criança
A gente tá enferrujado

Muito papo à ser despejado

Tu fostes me buscar
Agora vai ter que aguentar
É tanto blá, blá, blá
A gente vai se embriagar

Por onde anda a Fatinha
A Amália Boaventura
Cadê a Florzinha

A Lu, essa virou tabu

Lembra do Will
Meu eterno e grande amor

Se perdeu nas Alterosas
Ou quem sabe, se achou

A Dri, essa ainda eu sei
Anda pela cozinha

Fazendo petiscos saborosos
Pro degustes dos amigos


Lembra da Naíde
A loura do olho azul
Ela era boazinha
Mas dizia que eu era mazinha


Saudades da Raquel
Que ouvia tudo caladinha
Junto com a Bernadete
Sempre sentadinhas

Saudades disso tudo "Peixe"...

(Nane - 18/05/2020)

A HORA É ESSA



Aplausos nas janelas
Bênçãos inúmeras
Homenagens e agradecimentos
Nas redes sociais

O Cristo Redentor
Travestido de doutor
O orgulho enfraquecendo o medo
Do vírus transmissor

O filme na memória
Das dificuldades enfrentadas
A falta da verba freando
A aquisição da sabedoria

Valha-me Nossa Senhora
Consegui o meu canudo
Agora limpa meu caminho
Na batalha por um emprego

Seja eu apenas um técnico
Ou mesmo um enfermeiro
Vai que sou doutor
Dei ao ensino o meu melhor

O emprego ta complicado
Muita gente no mercado
O salário desatualizado
Força o trabalho triplicado

Ironia do destino
Confinamento no hospital
Para garantir o sustento
Da família para qual não tenho tempo

De volta à realidade
Me sentindo super-herói
Poderoso e valorizado
Enquanto durar a pandemia

Depois tudo volta ao normal
O cansaço da luta desigual
Aos olhos dos pacientes e famílias
Me transformando em vilão

(Nane - 18/05/2020)

domingo, 17 de maio de 2020

DE VOLTA PRA VINÍCIUS (COMUNIDADE)



Lembra teu copo

Na mesa ao lado da minha
Já quase vazio
Anunciando a tua saída...

Num gesto transloucado
Ergui a garrafa quase cheia

Na sua direção
Num convite à ficar

Sequer seu nome eu sabia
Mas gostava do que via
Seu sorriso sem jeito me tocou
E você, de mim se aproximou

Dito, de um jeito maroto
Te trouxe um copo limpo
Você se sentou ao meu lado
E a amizade começou

Outros amigos se aproximaram
Sem nenhuma cerimônia
Juntaram-se as mesas

E a família se formou

Poetas e bebedores
Notívagos boêmios
Tocadores de violão

Cantores de vozes duvidosas

Noite e noites afins
De conversas jogadas fora
Onde a classe não contava
Importava a irmandade

Entre vinhos e cervejas
Conhaques e champagne
Tulipas ou taça de cristal
A noite foi sempre uma criança

A cava...ah, essa era sagrada
Os poetas, em sua maioria fumantes
Se recolhiam no cantinho
E traziam seus rabiscos

A conta era dividida
Quem não tinha grana
Pagava com rabisco
Deus! Como eu escrevia

Por onde andará o Dito
Meu velho amigo companheiro
Que aqui, nesse lugar
Com a gente...merece estar

Feliz por estar de volta
De onde nunca deveria ter saído
Feliz por ver todos vocês
Meus queridos e velhos amigos

(Nane - 17/05/2020)

sexta-feira, 15 de maio de 2020

PÉTALAS AO VENTO

Vou escrever poesia
Enquanto durar a pandemia
Quem sabe assim
Eu espalhe a alegria

Não tenho a cloroquina
Apenas palavras sublimadas
levadas ao vento
Ecoando em qualquer esquina

Doso-as nos leitos
Onde a morte insiste
Querer se instaurar
E a alguém levar

Por vezes uma lágrima
Escorre furtiva
Será adeus ou emoção
Pétalas de flores ao vento

Na frieza das salas brancas
Um silêncio de vozes
Quebrado pelo arfar
Mecânico da respiração

Talvez nem me ouçam
Mas insisto na leitura
Enquanto eu mesma escrevo
Palavras ditadas pelo coração

Quem sabe no amanhecer
Renasça alguma voz
Ainda que para reclamar
Da minha pobre inspiração...

(Nane - 15/05/2020)




quinta-feira, 14 de maio de 2020

É MUITO TALVEZ...



Do lado de dentro
As coisas não fluem
A vida não vinga
O caos se instala

A falta do sopro
Apaga a chama
No oposto sentido
Que não faz sentido

Do lado de fora
A loucura se espalha
No terror desorganizado
Do dinheiro mal contado

Homens enternados (mulheres também)
Gente internada

Saúde ou fome
Fome ou saúde

Do lado de dentro
O herói ou heroína
Estão contaminados
Serão afastados

Mas falta-lhes o sopro
Que sopra-lhes a vida
Por ironia não são salvos
Pelos que ainda estão intactos (?)

Faltam subsídios
Nas salas adaptadas
Talvez esse aqui resolva
Talvez seja aquele

Enquanto um se engasga
O outro não resiste
Seu fôlego acabou
Talvez se viesse mais cedo

Do lado de fora
O que fazer com as finanças
Como vai tocar o barco
Sem força para remar

Talvez seja passageiro
Talvez tenha vindo para ficar
Ou até para dizimar

Todo esse talvez

Do lado de fora
É muito talvez

Do lado de dentro
Certeza nenhuma

(Nane - 14/05/2020)


MEU PEQUENO GRANDE HOMEM

Use máscara
Não saia de casa
Que mundo é esse
Que me afasta de você

Não me abrace
Não me beije
Pois o vírus é fatal
Mas nosso amor é imortal

Passe o tempo que passar
Você estará comigo
Onde quer que eu vá
E sei que contigo vou estar

Meu pequeno grande homem
Tão perto e tão distante
Dos meus braços tão carentes
De te enlaçar no meu abraço

A saudade aperta e dói
Aplacada pela tua voz
E o teu sorriso enquadrado
Na tela de um celular

Lá fora ronda o perigo
Fica em casa, meu menino
Há de voltar o tempo
Da gente se reencontrar

Deus sabe o que faz...

(Nane - 14/05/2020)




domingo, 10 de maio de 2020

É SÓ A MINHA POESIA

Minha poesia
Nada a ver com nada
São apenas palavras
Guardadas em mim

Se verdades, não sei
Depende de quem lê
Se mentiras...talvez
Depende de você

Leia e escute
A voz que vem de dentro
Não a minha
Mas a sua

Minha poesia
Não se limita
Às regras da literatura
De métricas e rimas

Também não faz questão
De aconchegar o coração
E dar um final feliz
À uma escrita que é de giz

Minha poesia é assim
Muita dor e muito amor
Muito recomeço e muito fim
Muitas palavras sem teor

Você pode ou não gostar
Eu, continuo a escrever
Você pode (aqui) não voltar
Mas minha poesia vai sobreviver

Se não por você
Por mim
Se ela perecer
Então...será o (meu) fim.

(Nane - 10/05/2020)





quinta-feira, 7 de maio de 2020

#FICAEMCASA



Onde vai você
Em plena pandemia
Em que o vírus te espreita
Em qualquer uma das vias

Olha no olho daquele que vela
Pelo sono do que não respira
Talvez você o confunda
Com um zumbi na rua à vagar

As marcas da máscara enraizada
Sulcando seu rosto deformado
Pesando em seu semblante sonâmbulo
Carente de sono e do aconchego

Seus filhos, seus pais, seu amor
Distantes do toque sentido
Visíveis numa tela mínima
De um quadrante de bolso

Caminha tão só pelas ruas
Enquanto só o que queria
Era estar confinado nos braços
Dos entes forçados à distância

Amanhã cedo esquecerá
Ao retomar sua labuta
Tempo não terá para sonhar
Só precisa mesmo, um pouco descansar

Onde mesmo vai você
Em plena pandemia
Em que o vírus te espreita
Em qualquer uma das vias...

(Nane - 07/05/2020)



 

segunda-feira, 4 de maio de 2020

PANDEMIA



Perdida em mim mesma
Procuro um norte
Em meio à pandemia
Que rima com a morte

Tanta gente indo
Com a sensação se ser tão cedo
Janelas abertas
Horizontes perdidos

Um limbo na terra
Gritos de horrores
A sensação de impotência
A sensação da prepotência

Um juramento feito
Hipócrates hipócrita
Nada mais a fazer
Moeda jogada pro alto

Famílias desfeitas
Saudades sentidas
Abraços guardados
Um colo desejado

São tantas incoerências
No ir e no vir
A fome que assola
Valores que implodem

Energúmenos seres
Espalhados ao vento
Contaminando geral
Sem escolher suas vítimas

Será um vírus
Ou a própria besta
Disseminada pela fé
De um falso profeta

À quem sobreviver
Fica a certeza
De uma nova era
Que está para nascer

Ser ou não ser
Heis a questão

O veneno foi lançado
Toma quem quiser...

(Nane-04/05/2020)