quarta-feira, 26 de agosto de 2020

(SÉRIE): LEMBRANÇAS DE MIM

 


Hoje, à tardinha, fui até o açougue comprar um pacotinho de 1 kg de fígado de galinha para fazer um patê e misturar na ração de meus cães. Entrei, pedi o fígado e me pus a observar o açougueiro limpando os cortes da carne fresca que acabara de chegar. Vi que ao lado da bancada ele acumulava as nervuras (pelancas) que retirava das carnes nobres, e sem saber porquê, perguntei ao dono do açougue se ele me vendia um pouco daquela pelanca para eu cozinhar para os meus cachorros, ao que ele disse: _ Pode levar, é de graça, eu não vendo pelanca. Leve sempre que quiser.
O primeiro pensamento que me veio à mente foi: "melhor que pagar R$5,00 no fígado de galinha". Pedi ao açougueiro que me desse um pouco da pelanca, paguei minha conta e saí. Já em casa, com uma faca afiada na mão e uma tábua de carne sobre a mesa, a magia aconteceu.
           Minha mãe, do nada apareceu, linda! Tão mais moça, com seus olhos verdes e brilhantes, seu sorriso de quem enfrenta a vida de peito e braços abertos! 
Ela picava as pelancas bem pequenininhas e ía separando as rebarbas das carnes que restavam nelas. 
Me vi em nossa cozinha, lá no bairro do "Conforto", onde morávamos. Pelo menos umas duas vezes na semana, minha mãe ía na rua 208 (comércio), ao armazém comprar um quilinho de arroz, outro de feijão, e se possível um quilinho de batatas (tudo pesado no saquinho de papel), ou uma dúzia de ovos embrulhados no jornal de dias anteriores. Então, depois das compras ela entrava no açougue e pedia pelancas ao açougueiro, era de graça, e os cães, naquela época, não comiam ração, só os restos das comidas de seus donos, e lá em casa não era de sobrar muita coisa para eles (eram dois: Chita e Perigoso).
                Depois de tudo picadinho, as rebarbas das carnes restantes nas pelancas, já estavam bem separadinhas, e de um saco de mais ou menos 3/4 kg da iguaria canina, ela retirava uns 350/400 gramas de carne pura e limpa. Então temperava com alho e sal, refogava e era a proteína que servia sorrindo e feliz aos seus 13 rebentos, dividindo igualmente em porções, que se não tão generosas, eram extremamente amorosas.
               Voltei à minha casa, às minhas pelancas, minha mãe já havia se retirado... os cães me aguardam servi-los.

                                               (Nane - 26/08/20)

Um comentário:

  1. Oi Nane,

    Sua história me fez viajar no tempo agora... Sou do interior de Minas Gerais, e me lembro de quando criança ver minha mãe cozinhar as pelancas da carne para os cachorros. Junto tinha uma papa feita tipo angu. Vi um filme passar aqui agora. Saudade que deu.

    Um abraço!

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