sexta-feira, 14 de agosto de 2020

OLHA AS VERDURAS

Onde estão todos

Os que habitavam aqui

Nos tempos em que andávamos juntos

Sem filhos, netos, ou mais ninguém


Escutem a voz e minha mãe

Chamando para o almoço

Vejam  a horta adubada

Amanhã, logo na primeira hora

Ela há de nos acordar


Nas cestas de bambu

As verduras serão ajeitadas

Três ou quatro de nós sairá

Pelas vielas do bairro à gritar

Anunciando o frescor dessas folhagens


Quando a tarde se anunciar

Voltaremos com as cestas vazias

Dividiremos com ela (mãe) os lucros

Depois do almoço que comeremos com a voracidade

De quem acorda cedo pra labuta


Uns guardarão os seus proventos

Outros torrarão em doces e brinquedos (eu)

Minha mãe guardará o seu quinhão

Para que não nos falte a alimentação


Herdei dela o gosto pelo plantio

Embora seja pequena a minha horta

Também não tenho quem as venda

Nem as cestas de bambus

E nem mesmo à quem alimentar


No silêncio da labuta agrária

Vejo o sorriso de minha mãe

Zombando do meu jeito tão sem jeito

No cuidado das hortaliças plantadas

Por ela, tantas vezes ensinadas


Já não as vendo mais

Planto-as pelo simples prazer

De vê-las crescer e as colher

Escutando em meus devaneios

Os rumores da infância já tão distante


 Onde estão todos

Os que habitavam aqui

Nos tempos em que andávamos juntos

Sem filhos, netos, ou mais ninguém...


(Nane - 14/08/20)




   

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