Onde estão todos
Os que habitavam aqui
Nos tempos em que andávamos juntos
Sem filhos, netos, ou mais ninguém
Escutem a voz e minha mãe
Chamando para o almoço
Vejam a horta adubada
Amanhã, logo na primeira hora
Ela há de nos acordar
Nas cestas de bambu
As verduras serão ajeitadas
Três ou quatro de nós sairá
Pelas vielas do bairro à gritar
Anunciando o frescor dessas folhagens
Quando a tarde se anunciar
Voltaremos com as cestas vazias
Dividiremos com ela (mãe) os lucros
Depois do almoço que comeremos com a voracidade
De quem acorda cedo pra labuta
Uns guardarão os seus proventos
Outros torrarão em doces e brinquedos (eu)
Minha mãe guardará o seu quinhão
Para que não nos falte a alimentação
Herdei dela o gosto pelo plantio
Embora seja pequena a minha horta
Também não tenho quem as venda
Nem as cestas de bambus
E nem mesmo à quem alimentar
No silêncio da labuta agrária
Vejo o sorriso de minha mãe
Zombando do meu jeito tão sem jeito
No cuidado das hortaliças plantadas
Por ela, tantas vezes ensinadas
Já não as vendo mais
Planto-as pelo simples prazer
De vê-las crescer e as colher
Escutando em meus devaneios
Os rumores da infância já tão distante
Onde estão todos
Os que habitavam aqui
Nos tempos em que andávamos juntos
Sem filhos, netos, ou mais ninguém...
(Nane - 14/08/20)
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