Fazem seis dias que estou "internada" no INCA (Instituto Nacional do Câncer) da Cruz Vermelha, no centro do Rio de Janeiro, acompanhando minha irmã, que está com um linfoma no sistema linfático. E claro que é desgastante, e mesmo trágico, mas, como não poderia deixar de ser, me peguei "juntando" histórias pelos corredores dessa "casa" improvisada pelas circustâncias que a vida me impôs.
Logo na nossa chegada, numa quinta-feira à noite, deparei com um médico meio louco, perdido, sem saber o que fazer com seus pacientes. Minha irmã (Dini) chegou fazendo muito vômito e constipada (havia mais de uma semana que não evacuava). Como consequência, sentia muitas dores abdominais. E como o paciente do INCA não pode ser "mexido" por outros profissionais, nos debandamos de Volta Redonda, a 120 kilometros do Rio para que ela fosse atendida aqui. O doido, quer dizer, o médico tacou alguns paliativos e me deu um "clister" para que eu mesma fizesse em casa, uma lavagem intestinal nela (sou técnica de enfermagem), e nos mandou de volta para casa. Eu, claro o questionei: Vai mesmo nos mandar para casa? Ela não está bem. Então Dini ainda teve tempo de pedir a ele um "remedinho" para dormir, já que as dores tiravam seu sono. E o louco receitou um diazepam imediatamente para ela. Mas assim que cruzamos a porta da emergência, em direção a saída, Dini começou um concerto abdominal tão escandaloso que o lou...médico veio correndo atrás de nós e a internou. Era o começo da maratona pelos corredores de um grande hospital onde as histórias se misturam e se confundem numa só tragédia, que as vezes ganha ares cômicos, e as vezes faz chorar.
Internaram Dini no sexto andar por falta de vaga no oitavo, que é onde está a clínica adequada para a sua patologia, e lá passamos três longos dias...
Pessoas estranhas umas as outras, dividindo um mesmo quarto com quatro camas, um banheiro (só para uso dos pacientes), uma só televisão, quatro cadeiras, onde os acompanhantes passam a noite sentados, sem coberta, lençol, travisseiro ou outros apetrechos tão necessários ao sono.
Foi lá que conheci as outras três companheiras de patologias cancerígenas e suas acompanhantes: Yara e sua irmã se revesavam nos cuidados com a mãe, portadora de um tumor na garganta. É um plantão de 24 horas para cada uma delas. Carla e sua irmã (Andressa ou Vanessa) também se dividiam nos cuidados com a mãe, que estava traqueostomizada, mas confesso que não sei qual a patologia dela. E havia uma senhora que o câncer a fez perder o olho
esquerdo. Ela estava internada para ser operada e ser preparada para uma plástica reparadora total, colocando inclusive o olho perdido (prótese, lógico). E essa senhora era acompanhada pelo marido, sujeito dedicado e carinhoso com ela (embora feio e relaxado), mas era bastante estranho o ter por bendito ao fruto na enfermaria feminina. O cara tomava banho no banheiro das pacientes, usava o vaso sanitário e não abaixava a tampa, molhava o banheiro todo com seus pingos de xixi, e o pior, a noite roncava feito uma serra elétrica.
Acabamos nos aproximando e gostando uns dos outros, e trocamos histórias de vida e infortúnios também. Carla me deu seu telefone, e pegou o meu. E me contou boa parte de sua história nesses três dias d sexto andar. Até num sarau musical e voluntário nos fomos, e foi bastante engraçado tentarmos acompanhar o pobre cantor com nossas vozes lindas que nos deixavam uma única certeza: Que bom que não optamos pela bela profissão de cantoras. hahahaha
Quero contar isso aos poucos, em crônicas fragmentadas e com muita veracidade. Por isso vou parar por aqui e continuar amanhã...com histórias que ouvi e vivi no INCA.
Não sei o motivo pelo qual vivenciamos determinadas situações. Mas sei que tudo nessa vida tem um propósito e que os fios da nossa cabeça são conhecidos por Deus! E Ele te fará ainda mais humana e melhor vivente, através dessas experiencias... força e fé!
ResponderExcluirLer esssa partilha me inspirou "as dores do mundo"... senti tb! bjs
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