Noite de pandemia
Ninguém à minha volta
Uivos lamentosos
Cães, libertos e vadios
Parecem zombar de mim
Sorriem da minha clausura
Coleira em forma de vírus
Observo-os por detrás das grades
Talvez eu seja louca
Ou então estou ficando
A rua vazia me amedronta
O silêncio me atordoa
Até o mar silencia
Acomodado na sua calmaria
Numa noite estranha e fria
Que se tem feito rotina
Um pássaro notívago e escandaloso
Solta um grito estridente
Em plena madrugada silenciosa
Fazendo trilha de terror
Um corvo talvez
Mas não são comuns aqui
Não me arrisco à janela
Escondo com a coberta, a cabeça
Minha mãe, onde estás
Que não vem me acudir
Um só cafuné me faria adormecer
E desse estresse me esquecer
Agora tenho certeza
É o piado de uma coruja
O sono que não chega nunca
Deliro acordada
Entre sombras e ruídos
Não é noite de boemia
O psicológico me remete
Ao terror de uma noite escura
Escrevo na tentativa
De uma concentração fugidia
Quem sabe uma poesia
Ajude no nascer de um novo dia...
(Nane - 30/06/20)
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