quarta-feira, 18 de novembro de 2015

METÁFORA DA MATURAÇÃO



É chegada a hora
Do tempo
Fechar o círculo
No degredo da casta

Apodrecem os frutos
E fermentam além da conta
Avinagrando seu sumo
Já não mais tão apreciado

Caro, só aos vermes
Que rondam e desejam
Na podridão azeda
Da casta perdida

O tempo se faz tempo
Da retirada do aroma
Deixando em seu lugar
O odor nauseabundo

O fruto apodreceu
Antes mesmo de secar
Despojado da videira
Sem nenhum cuidado

Suas sementes azedadas
Germinam e proliferam
Mas a casta está perdida
E servirão apenas de vinagre

O que seria vinho
Azedou, vinagrou
Castra a casta apodrecida
Sem um brinde sequer

Do cacho antes vistoso
Nada se salvou
Nem mesmo suas sementes prestou
E o vinho...avinagrou

(Nane-18/11/2015)




segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A avidez do mundo

                                           
       
                                           À poeta Elian Vieira da Silva


Ela costumava me chamar de passarinho
mas nunca parara para pensar,
sobre o porquê de tal nome

Até que me descobri uma Andorinha,
sempre livre em meus voos
buscando meus iguais, para fazer verão

Em bando era mais feliz
rodopiava em balés a céu aberto
nas pistas escorregadias da vida
dobrava minhas asas e pausava
antes de novamente acreditar em novos voos

Pairava sempre em lugares diferentes,
pouco almejava além de voar

Construí ninhos, fiz ovos chocarem
e eclodirem duas belas aves
de puro amor maternal
dei colo, dei asas e permiti que cada um
fosse dono de seus próprios voos

Como passarinho tive tudo
e dei tudo, em delicadezas e fragilidades
abrigo e imensidão era o que eu mais
guardava sob minhas asas

Poucos homens entendem de pássaros
nasceram egoístas e com sede de chão
aprenderam que pássaros merecem gaiolas
pois a liberdade os ofende

Não nasceram com o coração desarmado
nem instintivamente pássaros
não sabem e não querem mudar a direção
necessitam bússolas como proteção

Ela me entendeu Andorinha,
de fome ampliada, com euforia de ar

Perfumada em penas, da mais híbrida,
flor de poemas, onde juntas seguimos a mergulhar
num imenso silêncio de afetos
me mostrando que sou pássaro, e eu, a confirmar


             Adriane Lima



sexta-feira, 13 de novembro de 2015

PARABÉNS PRA VOCÊ

Parabéns Baixinha
Faz hoje um ano

E apesar da incontestável saudade
As dores não mais te atingem

Agora o seu sorriso é constante
E Deus é contigo o tempo inteiro
Mas não se iluda, minha irmã
Nos precedeu, mas de nós, não se livrou

A tua voz ainda ecoa em meus ouvidos
Cada vez que "invento" um prato novo
Eu te gritava a plenos pulmões
E você refutava num: "O que foi maluca?"

Mesmo sabendo do que se tratava
Adentrava em minha cozinha
E surpresa com meus dotes culinários
Comia (o que quer que fosse) e se fartava

Ah, parabéns Baixinha
Não quero e nem vou me lamentar
Você seguiu o seu destino
E eu sigo o meu

A gente viveu o nosso tempo
Determinado e cronometrado
E fomos (sim) felizes
Enquanto juntas numa mesma estrada

Agora, por vezes te imagino
Me olhando e me sabendo
Até mais do que eu queria
Mas com a certeza de não me julgando

Você foi minha amiga
Além de minha irmã
Mas não é justo lamentar
A falta que me faz

Siga o teu destino
Livre, leve e solta
Ao lado do seu Chico
E até um dia...Baixinha

( Nane - 13/05/2015)



quarta-feira, 11 de novembro de 2015

DOCE ILUSÃO



Busco palavras
Nas teclas 
Saltitando meus dedos
No teclado já carcomido

Dedos que tremem
E nem sempre me obedecem
Me obrigando a revisar
Palavra por palavra

E na minha poesia
Me transformo e me renovo
Passando um vigor
Que a muito me deixou

Ledo engano
Dos que leem meus escritos
E me veem em suas mentes
Forte, jovem, decidida

Faço de mim mesma
Ave migradora
Vivendo da ilusão
Que faz bater e alegrar meu coração

E me tomam por louca
Por não ter os pés no chão
Mas mi'alma vive de ilusão
E voa sem asas

Nela (ilusão), o tempo para
E eu vivo o quê e como quero
É nos meus dedos trêmulos
Que vivo no falsete da minha poesia

Tão louca...e tão minha

(Nane-11/11/2015)




terça-feira, 10 de novembro de 2015

SENTIDOS AFLORADOS



Extirpa de mim
Essa angústia entorpecente
Que me faz sinônimo
De uma ânsia desembestada

Refresca meus miolos
E acalma meus sentidos
Que se multiplicam em sinapses
De cinco vezes cinquenta

Surgindo plenitudes
Onde mora o vazio
De um pensamento fixo
Que faz subir a temperatura


Asfixiando sem estrangular
A entrada do meu ar
E fazendo pulsar desritmado
O órgão já demente

Reduzindo os neurônios pensantes
A receptores de quimeras
Numa utopia sem limites
De um futuro sem presente

Descarta de vez esse magnetismo
Que me puxa e me atrai
Sem deixar que eu siga
Em busca da minha paz

Desvincula do meu copo
O equilíbrio no meu caminhar
Que trôpego cambaleia
Diante do eminente perigo

Limita meus sentidos
Aos cinco vezes nada
Defecando a poeta
Na latrina descartável

Abro mão da verve
E abandono a cave
Salvando o que restou de mim
Enquanto ainda é tempo

Só não sei a quem dirigir
Essa oração desesperada
Já estando embriagada
Da minha poesia desequilibrada

(Nane - 10/11/2015)







quarta-feira, 4 de novembro de 2015

POR UM INSTANTE

E um minuto
Tão tênue
E intenso
Se eternizou
No abraço
De uma Andorinha
Em uma Gaivota
Em plena estrada
Sob as asas ocultas
De uma borboleta

E foi assim
Que tirei da tela
E saí dela
Num encontro de almas
Afins e amigas
Depois de tanto tempo
Tridimensional
Que embora real
Era apenas virtual

E de mãos (asas) dadas
Voamos juntas
De encontro a alegria
Eu, a Gaivota
E você, Andorinha
Sob as bênçãos ocultas
No voo da borboleta

(Nane- 04/11/2015)