quinta-feira, 30 de maio de 2024

ANA


 A década era a de 60.
Eu, chegando num bairro novo

Onde o povo, todo estranho

Nos olhavam de olhos tortos

Uma criançada barulhenta

Tal qual eu e meus irmãos

Mas a escolhida para amiga

Foi a mais quietinha e retraída

Ana, eu me lembro com saudades

Do nosso tempo de tantas "reinações"

Quando só nos preocupávamos

De quê nós brincaríamos 

O aprender juntas

Do andar de bicicleta

Os segredos inconfessáveis

Do que pensávamos ser os primeiros namorados

As férias juntas na casa da avó (sua)

Os passeios lá no sitio do seu pai

As brigas por ciúmes de outras amigas

A certeza de que éramos irmãs

A tristeza da separação 

Quando outra vez eu me mudei

Outro bairro com gente estranha

Quantas décadas de passaram

O engraçado é que ainda

Te vejo aquela menina

Quietinha e já nem tanto retraída

Eu sigo aqui

Num outro bairro tão distante

Mas, para sempre perto de você

Ana, 

Eu me lembro com saudades...


(Nane - 30/05/24)





sábado, 25 de maio de 2024

ESSA TAL LIBERDADE

 


De que liberdade te falo

Se mi'alma aprisionada

Se cala sem voz ativa

No corpo que fala sem dizer


Em que cave minha gaiola se abriu

Se o vinho fermentado inebriante

Fez perder o rumo da inspiração

Transformando devaneios em metáforas


De que tempo falo eu

Quando o meu finge parar

Num instante que a muito se passou

Refletido num espelho que se quebrou


E meus voos, dantes tão certeiros

Se perderam em rotas sem bússolas

Desgastando minhas asas cansadas

Na busca dessa tal liberdade


O mar, hoje tão revolto

Sem nenhum porto seguro

Me olha sério e desafiador

Como cama que espera o meu deitar


O frio me enrijece os ossos

O sol desponta no horizonte

A cave... gaiola aberta

A tal liberdade me confunde


Se poeta ou gaivota

O tempo não importa

A vida segue em frente

E a gente... vai embora ser livre


(Nane 25/05/24)




sábado, 4 de maio de 2024

QUE ASSIM SEJA



Que se cale a minha voz

Se não for para falar de amor

Que silencie meus anseios

Se não passarem de meros desejos


Que se resguardem em mim todas as lembranças

De momentos que se tornaram infinitos

Ainda que só em mim

Ainda que em mais ninguém


Que viva eu a minha vida

Na infinitude do meu viver

Que se finito morrerá

Quando findo, meu tempo chegar


Que seja eu, dona de mim

Sem nada de ninguém exigir

Que a vida me seja leve

E que a morte me suporte...


(Nane - 04/05/24)