quinta-feira, 24 de setembro de 2020

SÓ POR HOJE

 

Recolho meus cacos

Refaço meus moldes

Argilo minhas formas

Ressurjo de minhas cinzas


A cada novo amanhecer

A vida me presenteia

Com mais (ou menos) um dia

Que vivo à minha maneira


Me afogo em lágrimas
Me desfaço em gargalhadas

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A VOZ QUE EU OUÇO

 
A voz que não escuto
Mas ouço dentro de mim
Me diz palavras
Que nem sempre quero ouvir

Mas me é imprescindível 
Então a ouço
Em meu íntimo
Ainda que emudecida

E posto que a ouço
Por vezes diz
Tudo aquilo que eu quero
Mas que nunca escutei

A voz que não escuto
Tem o poder de me enternecer
Quando o que eu quero é enfurecer
E dizer o que não falo

Vomitar meus despautérios
Por não ser o que eu queria
Dentro do seu ser que me domina
E não me deixa ser quem sou

Mas basta que eu ouça
A voz que me domina
Para que a minha fúria se aplaque
E eu me entregue aos seus encantos

Deixa que eu escute
A voz que sempre ouço
Mas que nunca me diz
O que eu quero (de fato) ouvir

(Nane - 17/09/20)

terça-feira, 1 de setembro de 2020

O SILÊNCIO DA NOITE

Olho em volta de mim

Sem enxergar ninguém

Talvez até estejam

Etéreos, cuidando de mim


Em cada cômodo vazio

A presença concreta de outros tempos

Preenche cada espaço definido

Por vivos e mortos que se foram


A casa, outrora tão pequena

Agora se agiganta

No eco de seus cantos

Das palavras que levitam


Vozes ímpares

Por vezes em algazarras

Brigas ou brincadeiras

Canções ou orações


Alguém me chama

Me deseja boa noite

Minhas vozes se calam

Não há mais eco pelos cantos


Escuto vozes agora

Vindas da televisão

Nem mesmo sei o que dizem

Mas escuto-as por opção


Nunca a desligo

Gosto de ouvir vozes

Ainda que de desconhecidos

Ainda que de uma televisão


O silêncio da noite me incomoda...

(Nane - 01/09/20)