quarta-feira, 30 de novembro de 2016

TÁ DOMINADO


Chafurda na lama tua honra
Seres de boa vontade
Teu cálice sujo de sangue
Mata a tua sede de poder

Vagueia o povo humilhado
Pelas vielas de um país
Que quer ser nação
Mas pensa com o coração

A ralé solta no Coliseu

Se empurra, repuxa, dominada
Não tem para onde correr
Entregue às garras dos leões

Nada mais há para fazer
Nada mais há que lastimar
Nada mais há que temer

Nada mais há que pensar

Explode o coração
Num jato arterial
Incontido e furioso
Num último suspiro

Povo pacífico e controlado/avel
Estouro de boiada

Esmagam os leões
Bebendo (em seus cálices) o sangue derramado

Nada mais resta a esse povo
Nada mais se espera desses seres
Que na insaciável sede de poder
Faz do povo arma de matar

(Nane-30/11/2016)


terça-feira, 29 de novembro de 2016

MARITACAS

Vou em busca da fruta
Para o suco do almoço
Mangas maduras e doces
Amoras vermelhas e suculentas


Estridentes gritos me assustam
São elas demarcando a área
Então paro para olhar
Esquecendo do almoço e do suco

Gritam alto e forte

Como a agradecer
O "pão de cada dia"
Que a natureza oferece

Na geladeira tem suco de caixinha
Depois eu faço um

O almoço está servido
No alto da mangueira

A graviola também se oferece

Como sobremesa
Deixa que elas se refestelem
Com o sabor da fruta fresca

Dou meia volta para casa
Amanhã volto ao pomar
E se elas permitirem
Colho frutas para o suco

(Nane-29/11/2016)


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

UM BRINDE



Embebedei-me hoje
E bêbada, digo o que penso
Feito o "Nezinho do jegue"
Lá no Bem Amado

Amanhã estarei sóbria
Envergonhando-me dessa postura
Ou quem sabe, beberei mais um pouco
Para que o final da semana seja ébria

A cova está aberta
E o prefeito quer inaugurar
O álcool embaralha as palavras
Enquanto eu tonteio

Você!
Visão embaralhada

Mantida em minha retina
Esculturada e sem saída

Escarrar você de mim
Feito uma gripe em final de estação
Sem que não venham me desejar saúde
No espirro de você

Visão nova ou de tempos atras
Tanto faz
Não te tenho e tu me tens
Isso, para mim...é demais

Brindemos!

(Nane-25/11/2016)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

PARADIGMAS



Esperam de mim
O que não tenho para dar
No entanto eu dou
O que resta em mim

Vontade não falta
De uma íntima revolução
Mas os que esperam de mim
Ainda precisam de mim

Santa não sou
Puta, não posso ser
Não disponho do tempo
Nem do corpo desejável

Paradigmas de vida
Perseguidos, mas não vividos
Me levam ao topo
Das minhas heresias

Talvez só me resta ser eu
Na mais pura de minhas origens
Poeta que rabisca o dia a dia
Tentando fazer poesias

Nada comparado aos imortais
Nem Drummond, nem De Barros, nem Meireles
São apenas versos acidentais
De Nane, apenas Nane

Paradigmas de uma vida
Dividida entre o ser e o estar
Entre o sonho e o feijão
Semeados no céu e no inferno

Espero para mim
O cumprir da missão
Do que esperam de mim
Até o fim...

(Nane-23/11/2016)



segunda-feira, 14 de novembro de 2016

TÚNEL DO TEMPO



Olhos que veem o que não existe
E tornam real o inexistente
Voz que ritmada declama o amor
Sonhado, imaginado, rendido

Mentira subjugada à verdade
De sentimentos revirados pelo avesso
Onde o certo e o errado se misturam
Apagando um antes e um depois

Ícone de vidas paralelas
Moldando um jeito de ser
Deixando para trás um alguém
Que já não existe mais

Na verdade imperante e suprema
Restou a piedade sob a pena
Da exclusão da mentira insana
De um sentimento pleno e verdadeiro

Falar, falar e não dizer
Palavras jogadas ao vento
Onde os ouvidos são túneis 
Passando de um lado paro o outro

Escutam, mas não ouvem
Como os olhos que veem sem enxergarem
Que o real se extingue na quimera
Enquanto a vida passa sem volta...

(Nane-14/11/2016)

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

MONOTONIA


Não, não sei o que fazer
Além de ver passar o tempo
Acomodada em minha sina
Prisioneira de minhas escolhas

Lastimar já não me seduz
Gritar despropérios fez enrouquecer
Ainda mais a minha voz
Agora emudecida

Restam-me os dedos
Que rabiscam (ainda) ligeiros
Sentimentos contidos e escondidos
Guardados, lacerados

Gritos, só no meu íntimo
Que conhece minha fragilidade
Socorrendo a menina perdida
Em sua armadura de fortaleza

Tempo há de vir o descanso
No encontro do ser e do estar
Quando finalmente a menina se encontrar
Com seu direito de sonhar

Por enquanto resta a batalha
Que sou obrigada a lutar
Arregaçando as mangas da armadura
Esquecendo minhas amarguras

Na poesia, meu oásis
Refresco dos meus dias
Escaldantes ou frios
Determinantes, iguais...

(Nane-11/11/2016)

terça-feira, 8 de novembro de 2016

A VIDA CONTINUA



Ah...meus olhos de verem
Não vislumbram mais
O ouro no final do arco-íris
Onde adormece a quimera
Embalada pela realidade

O tempo
Esse mero espectador
Olha sem interferência
Coisas certas e erradas
Passando impoluto
Sem nenhuma ansiedade

Na terra molhada pela chuva
Germina a semente incrustada
Pronta a eclodir para a vida
Sendo flor, fruto, e morte
No ciclo que lhe foi determinado

Sou eu formada no tempo
De um passado, um futuro (talvez)
Mas presente no meu presente
Enquanto ciclicamente vou vivendo
A parte que me toca

A chuva e o sol
Se fazem necessários
Em fotossínteses e fertilizantes
No círculo desse circo
Que é nascer, viver e morrer

Deixa chover
Que o sol logo virá
A noite sempre dará lugar ao dia
Morra eu, morra você
A vida continua

(Nane-08/11/2016)