sábado, 31 de agosto de 2013

Maria, Maria

Maria Miguel
Sobe ao céu
Teu habitah
Não vou chorar...
Deus te emprestou
Só para nos acompanhar
Mas agora veio te buscar
Para perto dele ficar

Maria, Maria
Irmã, mãe, tia
As saudades escorrem
Pelos olhos marejados
Escutamos a tua voz
Na brisa que o vento traz
Beijando suavemente nossas faces
Como se dissesse
"Estou aqui vos abraçando"

Maria, Maria
A morte não existe
Quem vai vira poesia
E pode ser vista
No lume das estrelas
Que enfeita a noite
Na retina de quem ama
Na rotina de quem viveu
Ao lado da tua luz

(Nane - 31/08/2013)



Vergonha na cara

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.

Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.

Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.

[Waly Salomão]

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Mambembe

Quando quebra o encanto
Quando acaba o desejo
Quando o amor vira "encosto"
Quando o nada se faz tudo
Quando o sonho é pesadelo
Quando o quando é só um quando

Brigam sentimentos contraditórios
De vazios e plenitudes
Sensações desencontradas
Certezas incertas
Verdades vindo à tona
Olhos que não não querem ver
Rejeição sentida e camuflada
Pelo imbecil rejeitado

Amou o amor eterno
Acabou o amor moderno
Situações diversas e distintas
Palhaço de um circo mambembe
Chora seus aplausos 
Apagaram-se as luzes
O sorriso estático na cara
Borrado pelas lágrimas caídas
Na máscara maquiada do palhaço

(Nane - 29/08/2013)

Interior

Sonho ou pesadelo
Realidade ou ficção
Entrei no disco e voei
Em círculos estonteantes
Subindo e descendo

Um universo vermelho
Tão amplo e quase infinito
Tantas vidas naquela vida
Citoplasmas, vírus, bactérias
Seres primários
Formadores de outros
Um amaranhado de rios
Soldados armados
Tentando me expelir

Se é noite ou dia
Tempestade ou calmaria
Perdi a noção
Preciso de ar
Respirar
O planeta vermelho
Quer me sufocar
Tenho que achar a saída

Suor escorrendo
Vermelhidão nas faces
Uma luz acende
São sete da manhã
Sinto o cheiro do sangue
Voltei de mim

(Nane - 29/08/2013)

Anormalidade

Meu normal é ser anormal
Ser normal me faz perder
O normal do meu ser

Ando e falo só
Fumo e bebo cantando
Dou vivas à morte
Enquanto ela não me ouve

Amo e desamo
Com a mesma intensidade
E na minha inquietude
Consumo a minha paz

Largo tudo o que for preciso
Se preciso for largar
Não me prendo a nada
E nada vai me prender

Falo tanto sem dizer
Prefiro escrever
Erros e acertos acontecem
E com eles vou aprender

Sou lava ensandecida
No meu marasmo incandescido
Morre o meu silêncio sufocante
Quando nasce de mim a poesia

(Nane - 29/08/2013)

Beijo da noite

Cintila o colorido
Do por do sol
Dourando o céu
De luzes mágicas
Bordando o mar
De multicores

Até a lua
Vem brincar no arco-íris
Platinando a noite
Feito uma aurora boreal
Em pleno sul do Equador

E as estrelas brincam
Piscando suas pontas
Fazendo carnaval
No espaço sideral
Onde o sol nunca se põe

Vento venta brisa
Acarinhando a despedida
De mais um dia poente
Saudando a noite linda
Que veio beijar o dia

(Nane - 29/08/2013)

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Causa mortis

Disse-me a morte na mesa de um bar
Entre um copo e outro de cerveja
Que não há de me levar ébria

Disse-me a morte que há de me embalar
Numa noite calma em que eu adormecida
Hei de despertar num outro limiar

Disse-me a morte que me faz sempre companhia
Nas noites de boemia
Sem conseguir uma só brecha para me pegar

Disse-me a morte que me aproveito
Da promessa que me fez
E embriago-me todo dia

Ameaçou-me a morte
De perder as estribeiras
E descumprir sua promessa

Ou paro de beber e morro
Ou morro de beber
Eis aí a causa mortis

(Nane - 28/08/2013)

Setembro chegando

Não sei se é lamento
O vai e vem das ondas
Quebrando na areia
Na noite fria
Sem estrelas
Sem luar

A espuma branca feito tapete
É o único sinal
Além do barulho
De que o mar está ali
Bem na minha frente
Escuro e misterioso

Maré cheia
Na madrugada angustiante
Confundindo os barulhos
Do mar e da concha
Numa mesma frequência
Da melancolia fria
Nascida numa garrafa de cerveja
Na beira do mar
Às vésperas do mês de setembro

(Nane - 28/08/2013)

Mansidão

No silêncio esse barulho
Do passado perdido
Tentando se encontrar
Num presente sem festas
Sem nenhum motivo
Para tanta balbúrdia
Do que passou sem ter sido
E acabou sem existir

E nesse momento tão instável
Onde o tempo me confunde
Sem saber se tem futuro
Miro no horizonte
O impossível tão distante
Sem entender o limiar
Da tênue teia enroscada
Entre os tempos sem sentidos
Do passado e do futuro

No espaço dos meus tempos
Vago pela superfície
Com medo da explosão
Me permito abandonada
Buscar outras dimensões
Em plena claridão
Do universo sistemático
Exposto em meu juízo
De manso desvario

(Nane - 28/08/2013)



Big big

Na noite insone
Ouvi o latir
Da pequena Big big
Ecoando no quintal

Latia feito um lamento
De pura saudades
Parecia chamar
Os companheiros perdidos

Big big sempre foi
O estopim dos três
Botava o fogo
Provocava a latição

Dai dai e Leo respondiam
E iam à luta
A danadinha então
Se divertia a distância

Na minha noite de insônia
Escutei claramente
Nos latidos da Big
Os nomes dos amigos

Ah...foi só a minha imaginação

(Nane - 28/07/2013)

Breno

Breno
Belo
Bonito

Menino levado
Criança saudável
Brincando de tudo

Espevitado moleque
Abraça o seu mundo
De pueris imaginação

Breno menino
Belo moleque
Sempre correndo
Do "cascudo" certeiro

Breno sensível
Quando abraça 
Breno bonito
Quando cansado
Adormece

Breno crescendo
Virando rapazinho
Festejando seu tempo
De ser menino

(Nane - 28/07/2013)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

O banho

Chorei
Meu choro contido
Escondido
Por não poder chorar

Chorei
Como quando criança
E deixei rolar as lágrimas
Que inundavam-me os olhos

Chorei
Com o gosto amargo do fel
Degustado na garganta
Que apenas com soluços
Denunciava o meu pranto

Chorei
Escondida do mundo
Por não poder explicar
O meu chorro irrompido
Na vermelhidão do meu olhar

Chorei
Até não mais poder
Escondida no banheiro
Protegida pelo chuveiro
Que me ajudava a chorar

Chorei
Estanquei o choro
Não choro mais
Meu banho acabou
Tenho que sorrir

(Nane - 27/08/2013)

Pleno amor

O amor dos animais
É o mais belo dos instintos
Amam e se deixam amar
Sabem se entregar

Doam-se ao máximo
Aos seus pares
As  suas crias
Aos seus donos

Amam com toda a intensidade
Se entregam sem hesitar
Mas quando é chegada a hora
Sabem que tem que desapegar

Sábios e simples
São felizes e completos
No seu modo simplório
De se dar sem reclamar

Quem tem algo a ensinar
Quem tem algo a aprender
Somos nós, os animais humanos
Ou os bichos animais

Vai saber...

(Nane - 27/08/2013)



Pragas na horta

Meus amigos são meus
E de mais ninguém
Por eles faço tudo
Sou passional

Meus amigos são irmãos
Que eu mesma pari
Nas entranhas da vida
Um por um eu escolhi

Meus amigos veem meu avesso
Exposto e sem censura
E mesmo se são poucos
Em mim eles são tudo

Mas sou passional
E meus inimigos
(se os tenho)
São as pragas da minha horta
Que dizimo sem piedade

Meus amigos são meus
Os inimigos (se os tenho)
Também

(Nane - 27/08/2013)

Caminhada

Se de nada adianta sonhar
Bobagem insistir
Vou sofrer de qualquer jeito
Melhor ficar como está
E não mais idealizar

As lembranças estão guardadas
Os momentos eternizados
O tempo vai se encarregar
De me serenizar
Deixa ele passar em paz

Plantas e flores
Pássaros e cães
Crianças brincando
É a vida continuando

Novos sonhos virão
Outras etapas hão de vir
Outras metas surgirão
Vou viver a minha vida
Do jeito que puder

Por enquanto não vou sonhar
A hora é de acordar
Caminhar nessa minha estrada
Tentar não tropeçar
Seguir em frente

(Nane - 27/08/2013)

Dia sem sol

Hoje o crepúsculo não veio
O entardecer não teve passaredo
A maioria se recolheu mais cedo
Não fizeram festa pra noite...

E o manto negro desabou
Trazendo consigo as luzes da cidade
Apartando o dia entristecido
Com saudades do sol...

Lá fora venta frio
Me encolho no meu canto
Vendo a minha solidão
No prelúdio noturno...

Resta a poesia
Sem muita inspiração
Mas é preciso rabiscar
Não posso parar...

Amanhã é outro dia
E o sol há de aparecer
Talvez na alvorada
A sabiá venha me encantar...

(Nane - 27/08/2013)




Céu e inferno

Já não sei se o céu ou o inferno
Habita no peito do poeta
Que faz da intensidade suas rimas
Alegres ou tristes

Já não sei se é ele quem habita
No céu ou no inferno
Prensando seus ossos frágeis
Nas costelas desse ambíguo universo

O fato é que a poesia
Verte do habitat dúbio
Jorrando gargalhadas
Ou lágrimas

Nasce e inunda
Em palavras e olhares
Em gestos e vontades
Parida de sentimentos

Se pobre de rimas
Se pobre de nexos
É rica da expressão
Do coração do poeta

Que fala em versos
Por vezes fingidos
E tão confusos
Quanto o seu habitat

(Nane - 27/08/2013)


O rei Davi

Pequeno menino
Corre livre
Em teus passos ligeiros
Pelo quintal aberto

Já fazem dois anos
Parece que foi ontem
Corre o tempo
Como corre você, pelo quintal

Davi é rei
O rei Davi
Que trouxe sua luz
Para nós aqui

Seja a sua infância
Brindada de alegria
De muita algazarra
De muita saúde

Sejam seus dias
De tanta inocência
Abençoados
Pelo Deus dos seus pais

Davi é rei
O rei Davi
E que reine soberano
No seu (reino) quintal

(Nane - 27/08/2013)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Plantando corações

E na hora de almoçar
Colhi e comi
Os primeiros alfaces
Que plantei
E tinha um sabor especial
Bem diferente de todos 
Os que já comi
Tinha o gosto da terra revolvida
Do mato arrancado
Da semente plantada
Da vida germinada
Gosto do meu neto regando
Me ajudando

Ah...você comprou o seu alface
Lá no supermercado
Não vai nunca entender
O doce gosto do amor
Que é plantar e colher
Para finalmente...comer

(Nane - 26/08/2013)

A visita

Hoje acordei melancólica
Diria, acordei triste
Não sonhei com nada...

Depois do café desci
Tratei da horta como todo dia
Reguei, plantei e colhi

Foi então que um passarinho
Pousou ali bem pertinho
E não tirou os olhos de mim

Pensei com meus botões
Quer comer minhas sementes
O safado sem vergonha

Não o espantei
Fiquei a observá-lo
E ele a mim

Um bom tempo se passou
E eu tive que de lá sair
Não sem antes perguntar

O que você quer aqui
E ele simplesmente respondeu
BEM-TE-VI


(Nane - 26/08/2013)


sábado, 24 de agosto de 2013

Companheiros


Repousem amigos
O sono eterno
Sob a sombra frondosa
Da mangueira florida

Adubem ela
Com a doçura de ambos
Para que seus frutos
Sejam favos de mel

Dois queridos
Num dia só
Primeiro o Leo
Com cara de intelectual

Na tristeza de Dadai
A vontade de seguir
O amigo perdido
E foi assim

Agora os companheiros
Dormem juntinhos
Sob a sombra frondosa
Da mangueira florida

(Nane - 23/08/2013)

Trevas

Sangra-me o peito
Jorram-me as lágrimas
De filha sem alma
Maltratando as entranhas
Da que me pariu

Equilíbrio me falta
Não tomo a benção
Não olho no olho
Não digo amém

Me cercam espectros
Sombrios e negros
Cavam-me a cova
Seduzem-me a alma

A noite vem
Quente e negra
Prenúncio do inferno
Dessa alma maldita

Se no amanhecer
Restar a escuridão
Que me engula a noite
Da eterna solidão

E que eu sinta o perfume
Do enxofre no ar
Daquele que aguarda
Pronto para me abraçar

(Nane - 24/08/2013)

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Morrendo

Mato-me lentamente
Quando bebo o líquido maldito
Que já matou outros meus

Mato-me sabendo
Que vou matar meus sonhos
Bebendo o fel da vida

Mato-me consciente
Que no copo me afogo
E mergulho minhas dores

Mato-me sem nenhuma importância
Com quem vai ficar
E por mim, (pode ser) chorar

Mato-me na insanidade
De ver morrer meus planos
E enterrar-me na depressão

Mato-me na urgência
Do pronto socorro vazio
Do amor ausente

Mato-me na fria vontade
De não não mais existir
E daqui, sem nenhum temor
Partir

(Nane - 22/08/2013)

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Enterro

Consternada
Joguei terra sobre a tumba
E uma dor lancinante
Revirou minha alma
Feito moinho sangrento
Devastando tudo
Dizimando meus sentidos
Arrasando comigo

Restou o vazio do luto
Enegrecendo tudo
Tenebrosa sensação
Da perda irrefutável

Voltar para casa
Sentir o vazio
Saber que não volta
Partiu sem um adeus
Morreu, acabou
A dor que não para
O luto prostrado
A vontade perdida
A cova fechada
O ar sucumbido
O peito comprimido
A dor que não para
Suspiros perdidos
Acabou...

(Nane - 21/08/2013)

Três

Um
Foi grande o meu amor
Não sei o que me deu
Quem inventou fui eu
Fiz de você o Sol
Da noite primordial
E o mundo fora nós
Se resumia a tédio e pó
Quando em você tudo se complicou

Dois
Se você quer amar
Não basta um só amor
Não sei como explicar
Um só sempre é demais
Pra seres como nós
Sujeitos a jogar
As fichas todas de uma vez
Sem temer, naufragar

Não há lugar pra lamúrias
Essas não caem bem
Não há lugar pra calunias
Mas por que não
Nos reinventar

Três
Eu quero tudo que há
O mundo e seu amor
Não quero ter que optar
Quero poder partir
Quero poder ficar
Poder fantasiar
Sem nexo e em qualquer lugar
Com seu sexo junto ao mar..


Adriana Calcanhotto

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Tiro mortal

Uma bala direcionada
Uma coragem só
Roleta russa
Que vai apertar
O gatilho fatal
O tiro mortal

Vida maldita
Me faz aleijão
Grita seu nome
No escuro de mim
Não ouço, sou surda
Só a merda do excremento
Perfuma minhas axilas

Agora não vou mais
Nem mesmo voltar
Por onde andei
Nunca estive lá
Vi o que eu quis
Ceguei o meu olhar
A retina não presta mais
Glaucoma final
Cegueira anormal
Nada mais visível

(Nane - 20/08/2013)

Lágrimas frias

Queima a lágrima que cai
Tal qual o pingo da vela
Que ilumina a pequena sala

É um choro contido
Escondido
De quem não deve chorar

Secam-lhe as lágrimas
Durante o dia
Seus deveres de esteio

Pela manhã disfarça o inchaço
Atrás dos óculos que nem sempre usa
Sua face revela a determinação

Olha a vela apagada em cima da mesa
As lágrimas agora frias e endurecidas
Escorridas pelo corpo da vela

O dia traz obrigações
O sorriso é necessário
Resoluta cumpre o seu destino

(Nane - 20/08/2013)

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Assexuada

Assexuada
Sou eu
Não homossexual
(Acabando com a dúvida de tantos)
Mas sem tesão por ninguém
Sem sexo
Não hermafrodita
Mas sem sexo definido
Nasci feminino
Mas sou masculino (também)
Sou feminina
E másculo quando preciso
Sou só espírito
Sem vontade de mais alguém
Meu sexo serve apenas
Para fazer xixi
Polêmica e sem meias palavras
Jogo na defesa, meio campo e ataque
De sexo não preciso
Vibradores existem para isso
Masculino e feminino
Depende da imaginação
Um amor eu queria sim
Mas não me entendem
E nem me aceitam
Sou assim e fim
O preconceito é seu
E o corpo é meu

(Nane - 19/08/2013)




Dane-se

Dane-se seus momentos ruins
Eu nada tenho com isso
Já me falta tempo demais
Para cuidar de mim

Dane-se o seu sofrimento
Basta-me o meu
Você é problema seu
E eu o meu

Não espere nada além de mim
Do que eu queira te dar
Não vou te enganar
Sou egoísta por natureza

Dane-se a sua solidão
Procure um psicólogo
E faça dele seu confidente
Não ganho nada para te escutar

Dane-se você e eu
Nada tenho a te falar
Nada quero te escutar
Deixa como está

(Nane - 19/08/2013)


Antologia barata

Na minha antologia
Fiz versos sem rimas
Falei de nostalgia
Tentei a filosofia
Dos bêbados da periferia
Nas noites de lua cheia
Cambaleando pelas ruas
Da cidade adormecida

Foi um pouco da minha biografia
Em letras garrafais
Desordenadas num papel
De baixa qualidade
Que vendi por uns trocados
E vi na mesma feira livre
O vendedor de ovos insensível
Embrulhando meia dúzia
Na página central

E era exatamente lá
Onde contei do meu amor
Onde falei da indiferença
Onde rasguei minhas entranhas
Onde as lágrimas regaram
Cada letra daquela página
Agora transformada
Em embalagem descartável
De simples ovos vermelhos

(Nane - 19/08/2013)



Estrelas que brincam

O justo é injusto
Quando mais eu quis
Me foi tirado tudo
E quem é que me culpa
Por não ter conseguido

As estrelas no céu
Brincam com o meu olhar
Fingem piscar pra mim
E no entanto muitas já morreram
Nem estão mais lá

Me mantenho acordada
Toda madrugada
Para não ter que sonhar
Com as coisas que se vão
E machucam
Quando eu amanheço
Sem nada

Até o mar agora
Deu de marolar
E me enrolar
Toma todas com a lua
E acorda de ressaca
Me arrotando para fora

Você pode duvidar
Mas isso um dia vai passar
E não vou mais temer sonhar

Quem é que vai me culpar
Por ainda não tentar

(Nane - 19/08/2013)

Desterro

Um pouco de atenção
É só o que quero
Nada mais além disso
Um oi ou um bom dia
Um sorriso 
Um olhar

Meu tempo é escasso
Já pressinto outros ares
Na minha tragicômica vontade

Uma só vez
Era só o que eu queria
Um só dos seus dias
Me bastaria

Mas para ser possível
Não se pode sonhar só
Meu sonho solitário
Foi enterrado na areia
De uma praia abandonada
Numa ilha desterrada

(Nane - 19/08/2013)



Bandidagem

Se é bandido esse amor
Toma-me de assalto
Que me entrego sem resistir

Se me tiras o fôlego
E me faz tremer
Ao simples som da tua voz
Então me deixo esvaecer
No sussurro da tua boca

Se me fazes pecar
Ao imaginar o inimaginável
Então me deixo sonhar
O sonho dos transloucados
Que jamais serão perdoados

Se me mandas embora
Sofro, choro, me condeno
E me deixo morrer
Na vontade de viver
A bandidagem desse amor

(Nane - 09/08/2013)

Sem perceber

Sou eu
Em instantes absolutos
Que me dou o direito
De só mais um minuto
No meu silêncio devoluto

Sou eu
Que na minha intimidade
Nego a condição de alicerce
Me apoiando em sustentáculos
Da minha insanidade

Sou eu
Que feito mulher madura
Tento voltar o tempo empedernido
Em busca do regaço
Da mãe hoje alquebrada
Que embalava a criança

Sou eu
Que vendo passar a vida
Passei sem perceber
Que o tempo não passa
E quem passa de fato
Sou eu

(Nane - 19/08/2013)

Tormentas e calmarias

Navego sem rota formada
Vou à deriva mar adentro
Enfrentando vendavais
Embalada por calmarias
Vou navegando pela vida

De noite e de dia
Meu barco é conduzido
E navega por surpresas
Nem sempre agradáveis
Por vezes magníficas

É um barco forte
Levado pela corrente
Quando as mãos de seus marujos
Cansadas de remar
Dobram-se ao mar

É um barco pequeno
Mas com espaço suficiente
Para caber o necessário
Dessa nossa travessia
Juntos nessa vida

Vamos navegando
Até onde for possível
Alguns desembarcando
No seu porto seguro
Outros embarcando
Para continuar a navegação
Pelo mar do nosso destino

Temos dias de calmaria
Temos dias de tormentas
Temos dias de harmonia
Depende de como o vento venta
Nessa nau que é a família

(Nane - 19/08/2013)





domingo, 18 de agosto de 2013

Desequilibrada

Estou na corda bamba sem sombrinha
Meus passos vacilam
Troco-os bem devagar
Posso cair a qualquer instante
Me desequilibrar

Tenho que me concentrar
O tempo inteiro focada
No equilíbrio, nos passos
Estou cansada
O pensamento confuso
Desequilibrada
Bradam à minha volta
Eu escuto e tremo
Vou cair...

Talvez uma notinha no jornal
Pelo amanhecer
Fale do meu desequilíbrio
Talvez nem publiquem
Azar o meu
Que me desequilibrei
E paguei o preço

(Nane - 18/08/2013)

sábado, 17 de agosto de 2013

Dia de finados

Pensamentos mórbidos
Estacionam na mente
Penso no que acontecerá
Quando abrir meus olhos da alma
Dentro da tumba abafada
E não mais ver a luz do sol

E onde encontrarei o ar
Para respirar
Meus suspiros de morta
Sem volta
Para a  vida estúpida interrompida

Que direi aos outros
Zumbís notívagos
Senhores da eterna noite
Na qual despertarei

Talvez encontre por lá
O parceiro que não tive

Morbidamente reflito
Como será minha tumba
Quem irá me prantear
No dia de finados

(Nane - 17/08/2013)




O leilão

Hoje me convidaram
Para ir a um leilão
Só haviam dois interessados
No objeto leiloado
Um era um senhor
De longa barba branca
O outro um sujeito
Que cheirava a enxofre
Deram os seus lances
E um cobria o outro
Numa disputa acirrada
Eu não entendia nada
E nem imaginava
O que era leiloado
O leiloeiro delirava
E eu me sentia acuada
Um calor insuportável
Eu sozinha na platéia
Não sabia o que fazer
Ou para quem torcer
Até que veio o arremate
E o chifrudo vibrou
Veio de encontro a mim
Pela cintura me enlaçou
E sentenciou
É minha a sua alma

(Nane - 17/08/2013)


Incompatibilidades

Não combina comigo
Teus desejos de liberdade
Tua alegria de viver
Teu fascínio pela vida
Teu jeito de amar

Não combina contigo
Minha tristeza no olhar
Minha carência de você
Meus desejos de te ter
Sob o jugo do meu querer

Não combinamos em nada
Já nem sei te fazer poesia
E quando teimo
Pateticamente rabisco
Lamentos ridículos

São tantos os "poetas"
Que por certo não faltarão
Quem te faça rimas em versos
De alegria e amor
Na mais pura e sublime poesia

(Nane - 17/08/2013)

Um brinde

Brindo à mim
E a cada dia de meus dias
Desde o instante primeiro
Quando soltei o brado
Por ser expelida sem pedir
Das entranhas de minha mãe

Brindo aos belos dias
Em que acreditei na felicidade
Por ser só uma criança
De mãos dadas com a esperança
Mesmo quando a adversidade
Me agasalhava e sufocava

Brindo à minha mocidade
Quando ingenuamente acreditava
Em utopias e quimeras
E cavalgava segura
Na sela do Rocinante
Resoluta e de lança em punho

Brindo à minha madureza
Por não ter ao que brindar
Brindando só por brindar
E pelo motivo de justificar
O que tenho que tomar

Brindo enfim
Ao fechamento da cortina
Quando o show terminar
E meus olhos se fecharem
Sem nada mais o que brindar
Além do meu próprio fim

(Nane - 17/08/2013)


Marasmo

Eu devia estar feliz e agradecer
Meu time ganhou
Tem comida na mesa
Uma roupa para vestir
Uma cama para dormir
Um filho para me ouvir
Um neto para brincar
E uma horta para cuidar

É...
Eu devia estar feliz
Tenho uma mãe para me olhar
Irmãos para abraçar
Sobrinhos para falar
Saúde para dar e vender
Cigarros para fumar
E cerveja para beber

Eu devia mesmo agradecer
O marasmo em que vivo
Deus me deu tudo o que preciso
O resto é supérfluo
Pura ilusão
Egoísmo da minha parte

Não preciso viajar
Nem ninguém pra namorar
Um teatro ou um cinema
É coisa sem precisão
O sábado e o domingo
Só diferem pelo nome
Tudo é segunda feira
Quem precisa disso

Eu devia ser mais humilde
E cair de joelhos
Orar, rezar, me entregar
Mas tenho que ser franca
E confessar
Acho tudo isso um porre
Por isso vou beber
E brindar com o computador
Tim, tim

(Nane - 17/08/2013)



Eufemismos

Jogada fora
Abandonada
Num sofá da sala
Sem poder sair
Condenada
Ao tudo de um nada

Chora por dentro
Fere por fora
Bendiz a Deus
Cobra da filha
Mais paciência

O fruto maduro
Passou do tempo
Murchou a casca
Aguarda no pé
A hora determinada
Para cair

Dói a ferida
Não tem unguento
Palavras duras
Para quem diz
E para quem ouve

(Nane - 17/08/2013)

Poetas

Poetas são chatos
Carentes e crianças
Donos do mundo (se acham)

Poetas só enxergam
O próprio umbigo
Quando verseja

Poetas têm o ego
Maior do que eles
E precisam alimentá-lo

Poetas escrevem
O que não sabem dizer
Olhando nos olhos

Poetas são criadores
Da doce ilusão
Que impõem nos corações

Poetas choram
Quando a realidade
Os abraça com força

Poetas são crianças
Vivendo da esperança
De serem grandes um dia

Poetas são chatos
E só por isso
Escrevem poesias

(Nane - 17/08/2013)


Terra mãe

Sorve da mãe
A seiva que te alimenta
E te dá a vida

A terra gentil
Te gesta, semente
E te pari em broto

Te nutres dela
Que te embala e acolhe
E te faz natureza

É mãe amorosa
Tal qual a mãe
Que é mãe da gente

Das suas entranhas
Te faz história
E te conta estórias

Terra é mãe
Mãe é terra
E se doam inteiras

(Nane - 17/08/2013)



sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sou vulgar


Assumo
Fracassei
Parei
Bobagem persistir
Fingir o que não sei
Sem fé não rola
Vou bater tambor
Beber marafa
Fumar charuto
Cair na encruzilhada
Até tentei
Mas não vou persistir
Meu santo é o Daime
Minha planta o cannabis
Meu delírio o tremens
Aparência que se dane
E o resto que se foda

(Nane - 16/08/2013)

Rima arrastada

Ainda que faça o melhor
Ainda que seja o maior
Ainda que fale de tudo
Ainda que rasgue a verve
Ainda que arraste a rima
Ainda que morra a escrita
Ainda assim
De nada valerá
De nada adiantará
Já que o meu drama
Lágrima nenhuma
Conseguiu hidratar
A secura fria do seu olhar
Tão lindo e penetrante
Que olha sem me ver
Choro por mim e por você
Palhaço que sou
Sorrindo de mim
Pra não chorar

(/Nane - 16/08/2013)

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O silêncio dos inocentes

E me pergunto
Se vale a pena...
A maldita cerveja
Rega a salada
Dos meus neurônios
Que mais parecem
Leguminosas
Pronto a serem degustados
No silêncio dos inocentes

Ser só me faz intacta
Não me divido e nem me dou
Meu mundo é meu
E sou mais eu
Minha loucura não mata
Meu tempo não passa
Ninguém me importa
Estou viva e morta

Agora aprendi
Misturo a cerveja
Com o energético barato
Não ganho porra nenhuma
Mas a cerveja é brahma
E faço questão
Se vou fatiar os meus neurônios
Que seja em silêncio
Ainda que indecente
Mas nada inocente

(Nane-15/08/2013)


Sou poeta


Que motivo tenho eu
Para estar tão triste
Nenhum, diria eu
Mas a merda é que sou triste
E não vou me esconder
Por detrás de uma máscara
Sou poeta (assumindo)
E não seria
Se feliz eu fosse
/
(Nane - 15/08/2013)

Resiliência de Maria

E nessa oração
Vos peço paz
Piedade e luz

Que eu possa aprender
Com os vossos exemplos
A resignação e a virtude
Da fé no sofrimento

Esteja em mim a vossa força
Quando vosso filho foi crucificado
E tivestes a dignidade
De sofrer confortada
E amparada em vossa fé

Rogo-vos um pouco só
Da vossa resiliência
Por aceitar aquele instante
Sem mácula no coração
E dando o vosso perdão
Ao acreditar na volta triunfal
Sem mais nenhum sofrer
Do fruto do vosso ventre

Limpai a minha mente
Afastai todas as dúvidas
Para que eu aceite as minhas dores
E faça delas exemplo
Da fé em vossos poderes
E proclame as vossas glórias

Voz peço a paz
Para acalmar meu coração

A piedade
Para comigo e com os meus

E vos peço a luz
Para entender e aceitar Jesus

Que assim seja

(Nane - 15/08/2013)



Oyá


Ela encanta
Se cansa
Corrói e destrói
Corações amolecidos
Venta a brisa leve
Que acaricia
Venta o furacão incontrolável
Arrebatando e devastando
No furacão
Seduz um
Dez, cem e mil
Provoca ciúmes doentio
Mas é querida
Sua espada flamejante
Abre seus caminhos
Eterna aprendiz
De curiosidade aguçada
Ao que veio nunca diz
A natureza é sua força
Está em tudo e em todos
Deusa das paixões arrebatadoras
Mulher insinuadora
Oyá dos vivos e dos mortos
Segue seu destino
Espalhando o desatino
Nos que se deixam encantar
Venta seus encantos
Sopra seus desejos
Varre os anseios
E segue majestosa
Sem olhar pra trás
Eparrê Oyá!!!!

(Nane - 15/08/2013)

Ser e estar

Ilusão ilusória
Acaba, vai embora
E se acaba
Não houve
É como ser e estar
O ser sempre será
O que está
Passará
A vida está
A alma é
Quando ama o corpo
Morre com ele o amor
Mas o amor da alma
Esse permanecerá
E mesmo que distantes
Nada com ele acabará
Posto que é amor
Não mera ilusão

(Nane - 15/08/2013)

Passaredo

Maritacas barulhentas
Sobrevoam minha horta
Fazendo algazarras
Gritando, cantando, sei lá
Pousam na mangueira
Atacam a amoreira
Miram o mamoeiro
Mas temem minha presença

A sabiá laranjeira
É bem mais atrevida
Traz a família inteira
Pra ciscar nos meus canteiros
(Pobres das minhocas)

O sanhaço é mais eletivo
Diria até metido
Gosta das goiabas
E das minhas acerolas

Mas é o bem-te-vi
O maestro da passarada
Logo no finzinho da madrugada
Convoca a orquestra
E desperta o alvorecer

Lá vem a paldalzada
Quase sem atrativos
São livres e sem preocupações
Comem de tudo 
Só temem o gavião
E na hora do crepúsculo
Parecem sempre em oração
Haja ouvido para tanta barulhada

Quando a noite chega
O silêncio denuncia
Que todos adormeceram
Mas eis que surge um pio
Lá pras bandas do pomar
É a visita solitária
Da caçadora de morcegos
Velha amiga corujinha

(Nane - 15/08/2013)


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Síndrome

Já não tem mais porque
Dar murro em ponta de faca
As mãos estão feridas
O sangue jorra
Infecciona
Gangrena

Tantos sonhos desfeitos
Tantas luas passadas
Tantos "ses" jogados fora
Tantas realidades expostas
Tantas mentiras escondidas
Tantas verdades na cara

Essa síndrome de fixação
Doença da alma
É preciso expurgar
Entender e aceitar
Que o cego de fato
É quem não quer enxergar

São tantas as evidências
Não dá mais para negar
Foi infinito e lindo
Mas como tudo um dia
Acabou, virou poesia

(Nane - 14/08/2013)

Nos braços da Mãe

Toma em vossas mãos
Meus pecados
Meus fardos
Minhas culpas
Meu desassossego
Minhas dores
Minha vida

Faça de todas as mágoas
Que carrego em mim
Combustível
Para que eu aprenda
Com vossos exemplos
A me purificar
Na seara bendita

Livrai-me da ânsia
Das dúvidas constantes
Da inquietação profana
Desse incômodo de mim
Dessa dor ao qual me crucifiquei

Tomai-me em vossos braços
Cubra-me com vosso manto
Faça de mim criança
Nos braços da Mãe

(Nane - 14/08/2013)


Minhocas

Ironia...
Compro o cocô da minhoca
Para dar força a salada
Que depois eu vou comer

E enquanto planto a salada
Cavo a terra tenra
E dezenas de minhocas
Se contorcem desesperadas

Mas o cocô delas
Tenho que comprar
Não vi plaquinha alguma
Indicando onde está
O banheiro das minhocas
(Ou dos minhocos)

Ironia...
Comprar cocô
Adubar
Colher
E comer

(Nane - 14/08/2013)

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Espaço de quimeras

Essa mutação
Tão louca
Exigindo de mim
Coisas que não sou
Me deixando aturdida
Perdida

Essa sensação
De estranha no ninho
Perdida no mundo
Quimera vencida
De medusa enforcada
Caída

Esse espaço tão grande
Comprimindo e dilacerando
Rasgando sem piedade
O peito frontal
Morada do órgão
Pulsante e sangrento

Bomba que impulsiona
O leito da vida
Artérias entupidas
Por fumaças e cervejas
Cavando a cova
De poeta depressivo

É só utopia
Barata e sem rima
De quem faz da poesia
Arrimo de vida

(Nane - 13/08/2013)






O verbo dando vida

O verbo vive
Substantivos estáticos
Dependem do verbo
Para serem adjetivos

Eu vos imploro Mãe
A paciência
Para que eu possa
A praticar

São três também
De mãos dadas
Num só
O verbo
O substantivo
E o adjetivo

Ser paciente
É fundamental
Para aguentar
Dignamente
A missão que me foi dada
Ou quem sabe, pedida

Pesa sobre mim
O desconforto da impaciência
O medo do fracasso
O cansaço da mente

Vos rogo no verbo
Em nome do Pai
Do Filho
E do Espírito Santo

Substantiva paciência
Para que seja eu
Paciente

E leve a termo
O que me é cabido

(Nane - 13/08/2013)

Heterônimos

Está em mim
A simbiose etérea
De seres diversos
Corroendo a carcaça
Cansada e já quase entregue

A força de seus pensamentos
Singulares e complexos
Me fazem heterônimo
De mim mesma
Ao assinar palavras
Que nunca quis dizer

Vermes castos
Me consomem as carnes
Enfraquecidas pelo tempo
Enquanto titãs fluídicos
Buscam a primazia
De soprarem meus versos
Na folha em branco

Raios e relâmpagos
Na tempestade cerebral
Faz sair o que presta
Ou a porcaria incompreensível
E quem assina...sou eu

(Nane - 13/08/2013)



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Sem sentido

Nada em mim faz sentido
Tudo é só o vazio
Do nada que restou
Esse cansaço delinquente
Que faz de mim demente
Na orgia da minha mente
Me deixa sem saber
Se louca ou indolente
Mas com a certeza imprudente
De quem ama loucamente
Fogem-me as forças
Falta-me o ar
Contaminado pelo tabaco
De dois maços diários
Queimados no afã
De ver dissipados
Na fumaça insinuante
Os sonhos frustrados
Em cada amanhecer

(Nane - 12/08/2013)


Calando

Esse silêncio angustiante
De quem sabe que fere
Calando a voz
Virando poeira

Palavras prolixas
Cansadas de ouvir
Obrigam ao silêncio
Não dá mais para ouvir

Sepulcro de sons
Imagens do nada
Terra batida
Suja de sangue

Amores que morrem
Matando a vida
Dos que amam e odeiam
E se ferem

Silêncio brutal
Dor sepulcral
Imagem perdida
Acabou-se a história

(Nane - 12/08/2013)

Controversa

Dualidade em mim
Faz morada
Rasgo meu verbo
Em mansidão
Reviro meus versos
No avesso de mim
Rezo pra Santa
Invoco o diabo
São meus momentos
Aflorando minha sensibilidade
Dúbia
Sou anjo e capeta
Com todos meus jeitos
De nobre e pobre
Transcendendo as regras
Do bem e do mal
Excedo limites
Pago meu preço
O certo e o errado
Sou eu que faço
Com toda a minha
E só minha...controvérsia

(Nane - 12/08/2013)

Cuida de mim

Mãe do filho
És minha também
E vos peço proteção
Ao espírito amargo
Que me corrói o coração

Dá-me a vossa paz
Tende de mim piedade
Para que eu possa acalentar
Meu próprio espírito

Vós que tudo vê
Vós que tudo sabe
Vós que tudo perdoa
Vós que a todos abençoa

Cuida de mim
Não me desampare
Ainda que eu ande
Pelo vale das sombras

Toda a vossa glória
Seja dada e proclamada
Que em vossas graças
Eu possa ser aceita

Espero, Santa Mãe
Que a Santa Trindade
Ouça a vossa voz
E livra-me de todo o mal

(Nane - 12/08/2013)

Boca fechada

Fecho minha boca
Num grito alucinante
Que ecoa aturdido
No peito combalido

Vejo fantasma
Me tirando para dançar
A dança dos desvalidos
Desgraçados, esquecidos

Esse silêncio barulhento
Faz pesar na noite escura
O ar que cheira a morte
Nas esquinas dos excluídos

Almas e espíritos
Espectros das sombras
Dançando em silêncio
Me convidando

De que adianta falar
Não consigo gritar
Fecho minha boca
Num grito alucinante

(Nane - 12/08/2013)

Saravá

Valha-me o mantra repetido
Para que eu possa acreditar
No poder do meu querer
Na força do meu ser

Valha-me a santa ladainha
Repetida em meus ouvidos
Para que eu possa entender
O que não posso ter

Valha-me o rufar dos tantãs
Nos centros de macumba
Para que eu possa pagar promessa
Num barquinho levado ao mar

Valha-me os (des)obssessores
Expulsando os maus espíritos
Jogando meu corpo ao solo
Livre das angústias

Valha-me todos os santos
Todas as rezas e todas as crenças
Contanto que me valham
Saravá

(Nane - 12/08/2013)

Continuando

Já não me faço de rogado
Extirpo meus sonhos
Adormeço meus desejos
Enquanto vou vivendo
Estampo um sorriso no rosto
Não, não finjo nada
E nem tento agradar
Sou o que sou
Mas a vida me cobra o continuar
Ainda que eu tenha que me arrastar

Não sou um suicida
O mundo é tão grande
A alma tão eterna
Ainda que pequena
Não posso exterminá-la
Tenho que viver
Que seja então da melhor forma

Liquidifico sentimentos
Confusos, doentes
O olho do furacão
Me revira, me revolta
Me embriaga, me deprime
Me enfurece, me excita
E por vezes me incita

Ouço meus próprios passos
Em direção a algum lugar
A alma precisa continuar
O corpo não pode parar
Não sou suicida
Vou continuar
Vai continuar
Vou indo

(Nane - 12/08/2013)

Sensações

Eu tentei falar
Mas você não quer mais me escutar
Não tenho que pedir perdão
E nem nada a perdoar
Então escrevo aqui
Esse amaranhado de sensações
Que eu sei, você verá

Perdi o fio da meada
Não deu para desenrolar
O labirinto estava escuro
O novelo escorregou
O minotauro ganhou
Não achei a saída...estou perdida

Lá fora não tem luz
Não sei se saí
Dentro ou fora, só a escuridão
O sol não brilha
Só a escuridão

Não tenho que pedir perdão
Nem nada a perdoar
Nesse amaranhado de sensações
Vou me deixando levar
Até ver onde vou chegar

(Nane - 12/08/2013)

sábado, 10 de agosto de 2013

De volta pra casa

Solto no mundo
Liberto de tudo
Preso às drogas
Perdido de todos
Moço bonito
Tão culto
Menino gentil
Tão bruto
Fala tão manso
Grita tão alto
Beija minha mão
Me empurra pra longe
É tanto barulho
Na noite escura
Que venta frio
E alucina
Foi só num relance
Um instante solícito
De volta pra vida
Que te tira a vida
Volta comigo
Se deixa curar
Entenda menino
Eu só quero te amar

(Nane - 10/08/2013)

O encantado

Me atrai o inatingível
Por isso busco o perdido
No horizonte além de mim
Palavras são palavras
Que se não fazem sentidos
Agrada aos ouvidos
Quando ditas pela voz
Que se quer sempre ouvir
Que poeta é normal
Quando tira poesia
Exatamente da insanidade
Em que vive mergulhado
Mesmo quando doce e alienado
Mesmo quando louco e furioso
Não ama por amar
Mas precisa de um amor
Efêmero e duradouro
Etéreo e imutável
O poeta quando escreve
Se torna possuído
Se deixa domar
Nem percebe o que escreve
E goza no seu orgasmo
As fantasias imaginadas
Encantado e sem nexo
O poeta é criança
Na espera eterna de um poema
Ainda a ser escrito

(Nane - 10/08/2013)


A lua e o poeta

Lua, luar
Poeta e musa
Quem será

Eu quero alcançar
Não posso pegar
Só posso sonhar

Luna na noite
Me traz seu brilho
Me dá seu luar

Te vejo refletida
Nas águas do rio
Mergulho fundo
Buscando seu abraço
Vou me afogar

Lua tão cálida
Nos meus sonhos de poeta
Te vejo tão perto
Te sinto distante
Inalcançável

Luna te quero tanto
Mas não te tenho
Resta seu brilho
Em meu olhar refletido

(Nane - 10/08/2013)




Mudança de status

Quero me casar
Preciso urgentemente de um noivo
Quem vai se candidatar...
Quero mudar meu
Status de relacionamento
Para receber milhares
De congratulações...
São tantos aqui
Que se casam todo dia
Que agora invejei
E quero casar também...
Preciso urgentemente de um noivo
Mesmo que eu nunca o veja
Não vou pedir pensão
Quero só viver essa emoção
De ser casada com alguém...
Estou a disposição
De quem quiser casar também
É só mandar o seu currículo
Para www.facebook.com/nanevs
E nem precisa das alianças...
Vou esperar
Se você quiser casar
Eu aceito sim

(Nane - 10/08/2013)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Simples

Deixar seguir a vida
Desapegado do passado
Olhar em frente e caminhar
Com passos resolutos...
Sábios são os conselhos
Do bem intencionado conselheiro
Pena se transformar
Em simples mortal
Quando do seu passado
Agarrado em seu peito
Não consegue se desvencilhar...
O simples é tão simples
Na visão do expectador
Que pensa realmente
Ser simples exercício
O desapego do amor
Mal sabe das saudades
Da vontade e do desejo
De só mais uma vez
Sentir a tal felicidade
Nos braços daquele amor
Que foi pra não voltar...

(Nane - 09/08/2013)





Nas vossas mãos

Hoje te agradeço Santa Mãe
Ter aplacado minha agonia
Ainda nada tenho a vos pedir
Por confiar no que virá
Peço-vos somente
A serenidade para entender
Que só mesmo o que eu merecer
Me será dado
E se o que quero não vier
Dai-me o discernimento 
E a maturidade para aceitar
Que o melhor foi feito
E que assim será
Bendita seja sempre a paz
Que busco em vosso abraço
Quando todo dia
No entardecer
Me aproximo de vós
E entrego em vossas mãos
Minha vida e meu tesouro
Que é a vida de todos nós
E que o fruto do vosso ventre
Nos faça companhia
Agora e sempre

(Nane - 09/08/2013)

Hereditário

Meu neto
Vou te ensinar
O gosto pela terra

Que teus olhos possam ver
Brotar a flor
Que com as tuas mãozinhas
Hás de plantar

E aprenderás que a semente
Embora frágil 
Se tornará a árvore
Frondosa e generosa
Se bem cuidada

E te dará em troca
Os frutos maduros
A sombra acolhedora
Ofertará ainda
O abrigo do esconderijo
Na tua meninice

Que tuas mãos não se enojem
Do revolver na plantação
E que teu coração
Se alegre como o meu
Na hora da colheita

Meu neto 
Vou te ensinar
Que plantar é cuidar
E pela terra ser cuidado

(Nane - 09/08/2013)

Refeição completa

Hora do almoço
O macarrão pede o molho
Os tomates foram colhidos
Junto com o manjericão
A salsinha e a cebolinha

A sobremesa é uma musse
Feita com o maracujá
Salpicada com o hortelã
Colhidos e fresquinhos

Entremeio com um chá das cinco
Das ervas nascidas
Na beira da cerca
Perfumando o ar

Esse prazer de colher
E comer sabendo
Que fui eu quem plantou
E cuidou
Torna o sabor maior
E melhor

(Nane - 09/08/2013)


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Uma só balada

O meu coração bandido
Não se cansa da boemia
E vai vivendo as armadilhas
Caindo em arapucas
Nos dias de chuva
Cinzentos e nebulosos
Ele finge uma pausa
E se acalma
Mas é nas noites frias
Que sai em busca de companhia
Na tentativa de escutar
O baticumbum ritmado
Quando encosta no de outro alguém
Meu coração é solitário
Bandido involuntário
Não sabe viver acompanhado
Não tem ziriguidum
Meu coração é meu
E de mais ninguém será
Pulsa numa só balada
Sem acústica escutada
Deixa ele bater
Até um dia se cansar
E calar...

(Nane - 08/08/2013)


Oração escrita

Mãe
Perdão vos peço
Não sei rezar
Só faço acompanhar
As palavras que me sopram
Repetidas nos ouvidos

Sei do vosso poder
E é por isso que nessa hora
Eu prefiro escrever
Enquanto escuto
As palavras repetidas
Que me falam nos ouvidos

Nada mais tenho a pedir
Já que vós deveis saber
O que preciso receber

Toda glória vos dou
Perdão vos peço
Sozinha escrevo
E em vós espero
O que tiver que ser

E nesse instante
De louvação a vós
Todos os dias
Vos entrego minha alma
Em pensamentos
E vos escrevo em oração

(Nane - 08/08/2013)

Um grande amor

Acreditar no amor
Ainda que eu não tenha um
Mas vibrar por saber
Que ele existe
Me faz entender
E aceitar
Que a vida vale a pena

Um amor de verdade
Vivido em toda a sua intensidade
Encontrado na maturidade
Fazendo voltar o vigor e a felicidade
Da mocidade

Viver um grande amor assim
É presente divino
E faz a gente acreditar
Que o tempo não tem tempo
Quando o verbo é amar

Inspira o poeta
Esse doar de corações
Sem medo de se entregar
Sem medo de viver
Sem medo de amar

O que então desejar
Além do êxtase...
Que seja eterno
E que perdure

(Nane - 08/08/2013)

Sem regras

Rezo
Minha reza calada
Sem ladainha
É só conversa
Sem regras

O Pai e o Filho
E o Espírito Santo
São um só
Além de mim

Não me pedem nada
Não me obrigam a nada
Não me mandam nada
Não me cobram nada

São três amigos
Incrustados em mim
Ainda que por vezes (Na maioria)
Não os sinta assim

Adormeço cansada
Libero mi'alma
Que se encontra com eles
Amanheço renovada

Rezo
Minha reza calada
Sem ladainha
É só conversa
Sem regras

(Nane - 08/08/2013)


Colhendo o que plantou

O cheiro da terra molhada
Regada sob o sol quente
Exalando seu bafo quente...
Enxada pesada nas mãos
E o fruto da terra vingando
Os calos feios e duros...
Sob as unhas a terra negra
Adubada de estrumes 
Retirada com água e sabão...
E o suor escorrendo na face
Salgando a boca com sede
Pingando nas folhas crianças...
Planta tua planta na terra
Dá-lhe de beber
Protege-a das ervas daninhas
Colhe o que merecer...

(Nane - 08/08/2013)

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Sem fôlego

Onde mais hei de navegar
Se a própria imensidão do mar
Já não aguenta mais me suportar...
Talvez no infinito das galáxias
Entre constelações desconhecidas
E novas inexistentes
Que navegam em mim...
Ou quem sabe me deixar levar
Pelo vento sem rumo
Que forma em círculos
Cones desprovidos
De qualquer compaixão...
São tantas as fúrias
E imensidões
Que já nem sei mais
Da minha pequenez
Nessa estrada turva
De tantas emoções...
Onde hei de me postar
Nessa louca vida louca
Que parece querer me sufocar
Enquanto só quero respirar...

(Nane - 07/08/2013)










É meu o sentido

Quantas palavras rabisco
Quantas rimas eu faço
E se não fazem sentido
De pouco me importa
Sou parte de tudo
Ou o nada nesse ínterim
Que tento deixar fluir
De dentro de mim
O sentido é meu
Se foi perdido
Não vou atrás
Ele mesmo me encontrará
Nas esquinas da poesia
Quando no meu psique
Meu id sossegar
E eu puder sem tristeza pensar
E minha vida continuar

(Nane - 07/08/2013)

Manto negro

Sonho acordada
Vagando meus olhos
Pelos caminhos de nebulosas
Que cintilam e fazem brilhar 
O manto da noite
Sem lua para iluminar

Vejo cometas
Estrelas cadentes
Riscando o céu
Levando consigo
Pedidos absurdos
De corações iludidos
Por amores umbráticos

Adormeço no escuro
Salpicado de reflexos
Piscantes e esplendidos
Tal qual seus olhos
Ao me olharem 
pela primeira vez
E sonho...

(Nane - 07/08/2013)



terça-feira, 6 de agosto de 2013

Seiva da vida


Corre no leito
De suas veias
A seiva da vida
Composta de tantas
Influências saudáveis

A linfa contaminada
Em seus capilares
Carrega o veneno
Por todo o seu leito
Ameaçando a vida
Que pede socorro

No final do túnel
Um ponto de luz
Em forma de cruz
Sobressai na escuridão
Iluminando um caminho
Por onde seguir

A seiva da vida
Tão complexa e vital
Pede socorro
É só uma gota
Não pedes muito

Só uma chance
De ver crescerem
Seus netos crianças
É uma esperança...

(Nane - 06/08/2013)

No tempo certo

Sol quente
Morenando a pele
Enquanto cato
Tiriricas e trevos
Que teimam em nascer
No  meio da horta...
As alfaces tenras
De um verde clarinho
Já tomam suas formas
Fechando em conchas
De folhas sobrepostas...
O quiabo e seus espinhos
Irritando a pele
Fazendo coçar
Quem o for catar...
E as borboletas
Insistem em sobrevoar
As mostardas rendadas...
É tempo de plantar
É tempo de cultivar
É tempo de esperar
O tempo certo de colher...

(Nane - 06/08/2013)

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Oração descabida

Santa mãe de Deus
Eu não sei rezar
Mas falo com as plantas
E elas parecem me escutar...
Não vou à igreja
Mas vivo no meio do mato
Em comunhão com a natureza
Que é oração de rara beleza...

Santa mãe de Deus
Perdoe se não sei rezar
E se fumo enquanto rezo
Nas poesias que escrevo...
É que minha mente viciada
Só funciona com a nicotina
Que invade o corpo doente
Ajudando a criar palavras e rimas...

Santa mãe de Deus
Perdoe se não sei deixar de pecar
Mas até as ervas daninhas
Protegem as plantinhas
Quando começam a germinar...
Meu vício irá me matar
Mas nem por isso deixo de rezar
No meio das plantas e das poesias
Que estou a lhe ofertar...

Amém!

(Nane - 05/08/2013)

Vidas na morte

Limpando meus canteiros
Vi tantas folhas mortas
E no entanto não vi morte
Mas a continuação da vida...

Espalhei-as pela terra
E serviram de adubo
Para as próximas sementes
Que estão a germinar...

Há tempo para tudo
Nascer, viver, morrer
Há servidão para tudo
No círculo contínuo...

À terra o que é da terra
Ao homem o que é do homem
O tolo toma a terra
E na terra é plantado o tolo...

Cheiro bom que vem da terra
Aguando a plantação
Se dando inteira e sem restrição
Ao plantador de amor...

Vi tantas folhas vivas
Dependentes das que morreram
Vi tanta vida germinando
Dentro das que estão se acabando...

(Nane - 05/08/2013)

Plantação

Hoje plantei sementes
De ervilhas e de quiabos
A terra é gentil
Goza ao ver penetrada a semente...
Refresco-a com a água
E ela se delicia
Vai gestando a mãe gentil
Fertilizada de carinho...
São simples sementinhas
Em mutação da vida
Logo surgirão grelinhos
Verdes de esperanças...
Vou colher ervilhas
Vou colher quiabos
Fazer um vatapá (quem sabe?)
Apimentado...
A hora é de esperar
E de cuidar
Das sementes plantadas
Com as minhas próprias mãos...
Eu e a terra gestando
Eu e ela esperando
Eu plantando
E ela me dando...

(Nane - 05/08/2013)

Um amor de poetas

E o amor se entristeceu
Nas letras de um poema
Levado pela escrita
Cúmplice de dois corações
Em rotas diferentes

A poesia foi mais forte
Transbordou melancolia
Nos sentimentos que afloraram
Em mágoas, dores, frustrações

Ainda sim é linda
Toda e qualquer poesia
Mesmo quando faz sangrar
O peito dos poetas

O amor não se acabou
Mas o destino quis assim
Um para um lado
E o outro para o outro

Calou-se a poesia
Que falava desse amor
Restou um poema
Do que por hora é dor

Mas poetas rabiscam
Sem nunca desistir
E seus corações teimosos
De novo irão se abrir

Então que seja eterno
Nas lembranças da felicidade (vivida)
E desfaçam-se as mágoas
Na sabedoria do tempo que virá

(Nane - 05/08/2013)

sábado, 3 de agosto de 2013

Corda bamba

É no meu desequilibrio que me equilibro
Quando na corda bamba me encontro
Tentando me encontrar
É perecendo que sobrevivo
Nas mazelas das chagas
Que eu mesma abri em mim
É no vazio do meu eu
Que preencho meu espaço
Transbordante de palavras
É na tristeza de mi'alma
Que busco a minha calma
Do viver no corpo meu
É na certeza do amanhã
Que vivo o meu instante
Do hoje por hora  presente
É na luz que me ilumina
Que procuro ao tatear
O meu equilibrar
É na força do meu pensar
Que tento te encontrar
Onde quer que vais estar
É na minha eternidade
Que busco a minha paz
Perdida na minha insanidade
É nessa corda bamba
Que ando passo a passo
Sem saber se vou cair...

(Nane - 03/08/2013)








sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Memórias clicadas

O que revelam as fotos?
As memórias clicadas
dos tempos passados...
As rugas expostas
e tentadas escondidas
pela maquiagem
sobrepostas...
O que revelam as fotos?
A vida vivida
no momento exato
de sentimentos assustados
e não mais sentidos...
O tempo ido
que se não fez sentido
ficou no passado
estampado na face
de um choro ou um sorriso...
O que revelam as fotos?
Nada mais além
do que se viveu
naquele instante
em que se fixou
as memórias do mundo
(o meu, o seu, o nosso)...

(Nane - 02/08/2013)

Ah...

Ah se eu pudesse te dizer
Olhando nos teus olhos
Tudo o que eu sinto...
Ah se pudesses me ver
Derramando lágrimas
Cada vez que me vem na mente...
Ah se me entendesses
Me daria um crédito
E tentaria me aceitar...
Ah se não fosse utopia
E a gente se acertasse
Que bom seria...
Ah se o universo não conspirasse
Contra essa insanidade
E não houvesse a maldita idade...
Ah se nada disso fosse verdade
E eu pudesse acordar
Sem mais nada sentir...
Ah que droga de quimera
Que se acaba no acordar
Pra dura realidade...
Ah por onde anda a felicidade
Que mudou de endereço
Com a tristeza sem fim...
Ah....(suspiro)

(Nane - 02/08/2013)